Especial
O risco de pagar
para ver
No
ritmo atual, a devastação mudará
o ciclo de chuvas e logo poderá ser
tarde
demais para salvar a Floresta Amazônica
Ruth Costas
A
Floresta Amazônica está sendo devastada
como se nunca fosse acabar. Já não é
possível continuar nesse ritmo, pois
estamos nos aproximando do ponto em
que não haverá mais volta. Simulações
feitas em computador pelo meteorologista
Carlos Nobre, do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais, de São José
dos Campos, indicam que a floresta desaparecerá
quando a perda atingir entre 40% e 60%
da cobertura vegetal. Não falta muito,
pois nos últimos quarenta anos a mata
encolheu 17%. A razão disso é o delicado
equilíbrio do sistema de chuvas na região.
Metade da precipitação pluviométrica
é formada pelas massas de ar úmido provenientes
do Oceano Atlântico, uma fonte inesgotável
de umidade. O restante é alimentado
pela transpiração das plantas e pela
evaporação da água dos rios, do solo
e da superfície das folhas. Essa fonte
é destruída com a vegetação. No ritmo
atual de devastação, a maior floresta
tropical do planeta será substituída
por uma vegetação típica de cerrado
em apenas cinqüenta anos. Ou em trinta,
de acordo com o prognóstico mais pessimista,
que levou em conta a possível aceleração
no ritmo de desmatamento.
"Como
metade da chuva na Amazônia é criada
pela própria floresta, a destruição
será muito mais rápida e irreversível
do que foi a da Mata Atlântica, onde
a chuva depende sobretudo da umidade
vinda do mar", diz o engenheiro agrônomo
Enéas Salati, diretor da Fundação Brasileira
para o Desenvolvimento Sustentável,
do Rio de Janeiro, e autor do estudo
que desvendou o ciclo hidrológico da
Amazônia. A redução do volume das chuvas
seria apenas uma das conseqüências do
rompimento do ciclo das águas na Amazônia.
O calor que antes era amenizado pela
evaporação da água retida na mata passaria
a se concentrar no ar, provocando o
aumento da temperatura. O clima da região
ficaria mais quente e seco, o que dificultaria
a sobrevivência de plantas e animais
habituados ao ambiente úmido atual.
Uma simulação em computador do que aconteceria
com o ambiente da Floresta Amazônica
indica que alterações significativas
devem começar a ocorrer quando a perda
de cobertura vegetal chegar a 20% –
ou seja, um índice que estamos próximos
de atingir. "Se o ritmo da devastação
não for contido, em poucas décadas toda
essa biodiversidade desaparecerá da
superfície terrestre sem que o homem
tenha sequer sido capaz de conhecer
toda a sua riqueza", diz o biólogo americano
Thomas Lovejoy, presidente do Centro
H. John Heinz III para Ciência, Economia
e Meio Ambiente, dos Estados Unidos.
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