Aula 2 - Como desenvolver habilidades e competências (1/4)

|1. Aprender a Aprender | 2. Aprendizagem Autônoma | 3. Buscar e Avaliar | 4. Atividade Prática|

Aprender a Aprender

"Aprender? Certamente mas, primeiro, viver e aprender pela vida, na vida." (John Dewey)


Continuando com o tema Educação do final do primeiro módulo, veremos agora que aprender é circunstancial ao ser humano já que seu êxito como espécie depende de sua capacidade de aprender e inovar. A curiosidade é uma de suas características mais surpreendentes. Em nossa sociedade atual, inserida em um processo de intercambio intercultural - globalizada - e de acelerada troca social pelo impacto do desenvolvimento científico e tecnológico, aprender é algo mais do que um impulso humano. É uma sofisticada necessidade cultural que permite aos indivíduos adaptarem-se e sobreviverem em um círculo que troca continuadamente, assim como preservar sua identidade. Neste contexto, aprender deixa de ser a atividade própria de uma época da vida - a criança e o jovem - para converter-se em um processo de aprendizagem permanente. Por outro lado, graças aos avanços da Psicologia, da Sociologia e da Pedagogia, assim como das aplicações das novas tecnologias no ensino e na aprendizagem, hoje é possível aprender melhor, cientificamente. É possível aprender a aprender.

Este é um tema que tem angustiado muitos educadores nos últimos tempos: “como aprender a aprender?”. Parece estranho tal argumento, mas na verdade essa é uma habilidade que não é treinada nas escolas. Não lembro ninguém ter me ensinado em toda minha carreira estudantil e profissional como eu deveria aprender.


O QUE É APRENDER E COMO SE APRENDE

Aprender supõe desenvolver novas respostas aos desafios e oportunidades da vida. A aprendizagem é própria de todos os organismos biológicos, que são capazes de moldar suas respostas diante da presença de determinados condicionamentos - estímulos - aos que não estão condicionados geneticamente. A esta modalidade de aprendizagem os psicólogos denominam "aprendizagem clássica".
Os organismos mais evoluídos são capazes de modificar seu comportamento a partir das conseqüências de seus atos, sejam positivos (recompensas) ou negativos (castigos) Esta modalidade é chamada de "reforço" ou "aprendizagem instrumental".
Graças ao espaço de nossa mente, nós como seres humanos realizamos aprendizagem não somente em presença dos estímulos e em conseqüência de nossos atos, mas também a partir da observação do que ocorre a outras pessoas - aprendizagem social - e da comunicação desses aspectos com outras pessoas com as quais temos relações de confiança, de modelo e de autoridade - aprendizagem simbólica.

Graças as peculiaridades de sua maturidade neural, o ser humano permanece curioso grande parte de sua vida, atuando sobre o meio em busca de novas experiências. Estas qualidades - a plasticidade neural e o comportamento em jogo convertem-no em um ser investigativo, orientado a aprendizagem.

Finalmente, através da reflexão, o ser humano pode converter seu próprio processo de aprendizagem em objeto de investigação, aprendendo a aprender. É, por exemplo, o que ocorre quando nos damos conta que aprendemos melhor o material estudado a determinada hora do dia. A essa capacidade de aprender sobre os mecanismos de aprendizagem é denominado de "metacognição".

APRENDER NA SOCIEDADE ATUAL

Aprender na sociedade atual supõe aprender ao longo de toda a vida, porque nossa sociedade está em permanente evolução e transformação, por isso é necessário atualizar nossos conhecimentos. Novas técnicas, novos resultados, novos produtos entram em nossas vidas todos os dias e é necessário aprender a utilizá-los. A revolução da Informática, dos automóveis e dos espetáculos podem servir de exemplos para esses dias.

A atual situação de aprender a aprender se torna tão importante como o próprio conteúdo das disciplinas, e, cada vez mais, se espera que a estadia das crianças e jovens no sistema educativo sirva precisamente para isso e não tanto para memorizar conhecimentos e repetir técnicas. Para ajudar na aprendizagem permanente temos a contribuição dos avanços da Psicologia e das Ciências Sociais, e também dos buscadores e as telecomunicações, autenticas ferramentas para aprender a aprender.

O QUE APRENDER: OS CONTEÚDOS DA APRENDIZAGEM

Os conteúdos que necessitamos aprender ao longo de nossas vidas se dividem em dois grandes grupos:

Gerais: cultura geral, manuseio de ferramentas de busca, como o Yahoo, Google, boleanos; conhecimento de idiomas; pensar por si próprio, etc.
Especializados: os conteúdos próprios da profissão e das funções que estamos desempenhando. Por sua vez esses conhecimentos tratam das seguintes facetas:
1. Valores e princípios: (aprender a ser)
2. Códigos de representação e Comunicação: linguagem verbal e gráfica, teorias e modelos especializados, etc. (aprender a pensar e falar.)
3. Habilidades: esquemas de conduta motora, verbal e social. (aprender a fazer, aprender a conviver).

O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

A aprendizagem se produz quando a pessoa atende a um fenômeno externo. A atenção está determinada por processos inatos - como a percepção do movimento - e pelo conteúdo da memória - quando estamos buscando uma senhora de casaco verde, por exemplo.
Uma vez que um fenômeno é atendido passa para a memória sensorial, onde permanece escassos segundos. Se a atenção persistir, passará a memória de trabalho a "curto prazo", de onde podem residir até sete idéias ou um conjunto de idéias para facilitar as relações e o processamento da informação. Seguindo o exemplo da senhora de casaco verde, se essa senhora for mais velha, recordamos que buscamos uma senhora de meia idade, e mediante essa relação a eliminamos da memória a curto prazo. Quando uma informação é muito relevante passa para a memória de longo prazo, onde ficará disponível para ser processada no futuro.

A PSICOLOGIA COGNITIVA

A aquisição, armazenamento e recuperação das recordações - memórias ou representações mentais - é o objeto de estudo da Psicologia Cognitiva. As recordações tendem a formar um sistema, a relacionar-se entre eles e integrar-se, formando junto com os processos que os suportam o que os psicólogos denominam sistema cognitivo. A relação de uma informação nova com os conteúdos do sistema cognitivo é decisiva no processo de aprendizagem, aspecto que foi estudado com muito interesse pelos psicólogos e filósofos construtivistas.

Efetivamente, as representações mentais que nós fazemos da realidade não são representações "objetivas" ou "fiéis" do mundo exterior e sim determinada pelas necessidades e conhecimentos anteriores dos sujeitos que aprendem. Não aprendemos conteúdos só pela exposição aos mesmos ou pelo simples esforço por compreender, mas sim porque os relacionamos com nossas motivações, objetivos e conhecimentos anteriores.

De certa maneira, para os construtivistas, o processo mesmo o de aquisição de informação se assimila aos processos de "digestão" - assimilação - e adaptação mecânica - acomodação - como os dos organismos vivos que se adaptam a seu ambiente. É todo o organismo que aprende, como é todo o organismo que come, se alimenta. Deste ponto de vista, a aquisição do conhecimento intervém não só ao pensamento, e sim às motivações, aos afetos, etc.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

Segundo David Ausubel, criador da Teoria da Aprendizagem Significativa, “Para que ocorra a aprendizagem, é necessário partir daquilo que o aluno já sabe, e os professores deveriam criar situações didáticas com a finalidade de descobrir esse conhecimento — definido por ele como conhecimento prévio —, que serve de suporte para os novos conhecimentos que serão adquiridos e construídos”.
A assimilação é o ponto central da aprendizagem significativa. A aprendizagem consiste em uma troca das estruturas cognitivas, que podem ser produzidas por três vias:
A APRENDIZAGEM SUBORDINADA: Que se produz mediante a diferenciação progressiva dos conceitos existentes em vários de nível inferior. A estrutura cognitiva ganha em potência analítica e em precisão.
A APRENDIZAGEM SUPRAORDENADA: que se produz debaixo para cima mediante a conciliação integradora de vários conceitos em um novo de nível superior. A estrutura cognitiva consegue maior integração e sistematização. Os conceitos mais gerais permitem uma maior economia cognitiva e uma navegação mais eficaz por esse mapa de conceitos.
A APRENDIZAGEM COMBINATÓRIA: pela qual se gera uma nova relação entre dois ou mais conceitos sem que se produza inclusão de um conceito no outro. Em qualquer caso, uma aprendizagem só pode ser significativa se ela se relaciona com os conhecimentos, motivações e objetivos prévios da pessoa que aprende. Se não, só serão dados que cairão prontos e esquecidos.

COMO CRIAR CONCEITOS

Ao processo de criar conceitos se denomina "definir".
Os conceitos podem ser definidos por sua intenção, suas propriedades distintas e por sua extensão - conjunto de referências do conceito.
Dentro de uma estrutura cognitiva cada conceito se define pelas oposições que mantêm com as demais a partir de uma série de propriedades, que os semânticos denominam semas. Portanto, um conceito não é senão um agregado de pedaços distintos que resultam em relevância para "simular" a realidade.
O processo de conceitualização é um processo de identificação em que uma parte da realidade é destacada do resto - um processo de distinção fundo/forma, e assim sucessivamente, basta criar mosaicos que representam e simulam a realidade. Conhecer é, em definitivo, apreender regularidades, redundâncias na estrutura e da realidade que nos ajudam a formarmos imagens simplificadas, modelos que nos permitem reproduzir até certo ponto essa estrutura e realizar simulações que logo guiam nossa atuação.
Como é experiência cotidiana, os conceitos se realizam mediante enunciados. Uma análise global dos enunciados expressos sobre um tema permite descobrir como as proposições formam várias redes que relacionam entre si os conceitos, e que se estendem tanto hierarquicamente como horizontalmente.
A relação hierárquica se baseia no critério de inclusividade formalizada na teoria de conjuntos e gera uma relação de ordem no conjunto de conceitos pelo qual todo conceito está incluído em outro conceito de nível superior, excluindo o que dá nome ao conjunto, que pertence a uma ordem superior.

COMO RECORDAR

Para recordar informações temos que utilizar as leis da memória a longo prazo. Podemos utilizar as seguintes técnicas:
UTILIZAR A MOTIVAÇÃO: Verificar como os novos conteúdos se encaixam com nossos objetivos e necessidades; demonstrar para nós e para outras pessoas próximas que esses conteúdos são úteis.
UTILIZAR A SURPRESA: Buscar aspectos surpreendentes e relacionar a informação com coisas surpreendentes e chocantes, inclusive utilizando o humor.
RELACIONAR A INFORMAÇÃO COM CONHECIMENTOS ANTERIORES: Quanto mais a relacionarmos, melhor recordaremos.
UTILIZAR A INFORMACÃO NOVA: Quanto mais profundo seja o procedimento do processo, melhor recordaremos. Um exemplo muito simples é unir as primeiras letras de uma lista de conceitos em um acrônico. Outro exemplo, esse complexo e profundo, podemos tentar ver em que se diferenciavam os quadros de Goya dos outros contemporâneos. Organizar e sistematizar a informação é uma forma especialmente poderosa para utilizá-la.
UTILIZAR A REPETIÇÃO: Repetir a informação até que se grave, não produz a compreensão, mas ao menos os conteúdos estão disponíveis na memória a longo prazo. Se só precisamos reter a informação que estamos aprendendo, bastará recorrer a truques relacionados com a surpresa e com a repetição, assim como a processamentos alimentares, como classificar por grupos e estabelecer relações sensíveis. Se necessitamos uma aprendizagem profunda, temos de compreender claramente para que nos serve essa informação, utilizá-la em todas as direções e casos possíveis, sistematizá-la e organizá-la, e conectá-la em profundidade com nossos conhecimentos anteriores.

Portanto, revendo o que já estudamos podemos dizer que é através da reflexão, que o ser humano pode converter seu próprio processo de aprendizagem em objeto de investigação, aprendendo a aprender. É, por exemplo, o que ocorre quando nos damos conta que aprendemos melhor o material estudado a determinada hora do dia, ou até mesmo de forma autônoma. Tema que veremos em nossa próxima aula.


É assim que se aprende
 

"É essencial saber como o aluno aprende" Artigo de Juan Delval pela Revista Nossa Escola Online - FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Clique no computador ao lado para ler o texto.



O aluno após essa aula deverá:

• COMPREENDER o que é aprender e quais são os mecanismos gerais da aprendizagem.
• COMPREENDER o que é a educação permanente e porque ela é necessária na atualidade.
• SABER quais são os tipos mais importantes de conteúdos de aprendizagem.
• CONHECER o processo por meio do qual a aprendizagem se fixa na memória e se converte em "conhecimento".
• COMPRENDER que a aprendizagem eficaz sempre se produz pela integração e assimilação de conhecimentos novos dentro de um corpo de conhecimentos já conhecidos.


|1. Aprender a Aprender | 2. Aprendizagem Autônoma | 3. Buscar e Avaliar | 4. Atividade Prática|