Aprender
a Aprender
"Aprender?
Certamente mas, primeiro, viver e aprender pela vida, na
vida." (John Dewey)
Continuando
com o tema Educação do final do primeiro módulo,
veremos agora que aprender é circunstancial ao ser
humano já que seu êxito como espécie
depende de sua capacidade de aprender e inovar. A curiosidade
é uma de suas características mais surpreendentes.
Em nossa sociedade atual, inserida em um processo de intercambio
intercultural - globalizada - e de acelerada troca social
pelo impacto do desenvolvimento científico e tecnológico,
aprender é algo mais do que um impulso humano. É
uma sofisticada necessidade cultural que permite aos indivíduos
adaptarem-se e sobreviverem em um círculo que troca
continuadamente, assim como preservar sua identidade. Neste
contexto, aprender deixa de ser a atividade própria
de uma época da vida - a criança e o jovem
- para converter-se em um processo de aprendizagem permanente.
Por outro lado, graças aos avanços da Psicologia,
da Sociologia e da Pedagogia, assim como das aplicações
das novas tecnologias no ensino e na aprendizagem, hoje
é possível aprender melhor, cientificamente.
É possível aprender a aprender.
Este é um tema que tem angustiado
muitos educadores nos últimos tempos: “como
aprender a aprender?”. Parece estranho tal
argumento, mas na verdade essa é uma habilidade que
não é treinada nas escolas. Não lembro
ninguém ter me ensinado em toda minha carreira estudantil
e profissional como eu deveria aprender.
O QUE É APRENDER E COMO SE APRENDE
Aprender
supõe desenvolver novas respostas aos desafios e
oportunidades da vida. A aprendizagem é própria
de todos os organismos biológicos, que são
capazes de moldar suas respostas diante da presença
de determinados condicionamentos - estímulos - aos
que não estão condicionados geneticamente.
A esta modalidade de aprendizagem os psicólogos denominam
"aprendizagem clássica".
Os organismos mais evoluídos são capazes de
modificar seu comportamento a partir das conseqüências
de seus atos, sejam positivos (recompensas) ou negativos
(castigos) Esta modalidade é chamada de "reforço"
ou "aprendizagem instrumental".
Graças ao espaço de nossa mente, nós
como seres humanos realizamos aprendizagem não somente
em presença dos estímulos e em conseqüência
de nossos atos, mas também a partir da observação
do que ocorre a outras pessoas - aprendizagem social - e
da comunicação desses aspectos com outras
pessoas com as quais temos relações de confiança,
de modelo e de autoridade - aprendizagem simbólica.
Graças
as peculiaridades de sua maturidade neural, o ser humano
permanece curioso grande parte de sua vida, atuando sobre
o meio em busca de novas experiências. Estas qualidades
- a plasticidade neural e o comportamento em jogo convertem-no
em um ser investigativo, orientado a aprendizagem.
Finalmente, através da reflexão, o ser humano
pode converter seu próprio processo de aprendizagem
em objeto de investigação, aprendendo a aprender.
É, por exemplo, o que ocorre quando nos damos conta
que aprendemos melhor o material estudado a determinada
hora do dia. A essa capacidade de aprender sobre os mecanismos
de aprendizagem é denominado de "metacognição".
APRENDER NA SOCIEDADE ATUAL
Aprender na sociedade atual supõe
aprender ao longo de toda a vida, porque nossa sociedade
está em permanente evolução e transformação,
por isso é necessário atualizar nossos conhecimentos.
Novas técnicas, novos resultados, novos produtos
entram em nossas vidas todos os dias e é necessário
aprender a utilizá-los. A revolução
da Informática, dos automóveis e dos espetáculos
podem servir de exemplos para esses dias.
A atual situação de aprender
a aprender se torna tão importante como o próprio
conteúdo das disciplinas, e, cada vez mais, se espera
que a estadia das crianças e jovens no sistema educativo
sirva precisamente para isso e não tanto para memorizar
conhecimentos e repetir técnicas. Para ajudar na
aprendizagem permanente temos a contribuição
dos avanços da Psicologia e das Ciências Sociais,
e também dos buscadores e as telecomunicações,
autenticas ferramentas para aprender a aprender.
O
QUE APRENDER: OS CONTEÚDOS DA APRENDIZAGEM
Os
conteúdos que necessitamos aprender ao longo de nossas
vidas se dividem em dois grandes grupos:
Gerais:
cultura geral, manuseio de ferramentas de busca, como o
Yahoo, Google, boleanos; conhecimento de idiomas; pensar
por si próprio, etc.
Especializados: os conteúdos próprios
da profissão e das funções que estamos
desempenhando. Por sua vez esses conhecimentos tratam das
seguintes facetas:
1. Valores e princípios: (aprender a ser)
2. Códigos de representação e Comunicação:
linguagem verbal e gráfica, teorias e modelos especializados,
etc. (aprender a pensar e falar.)
3. Habilidades: esquemas de conduta motora, verbal e social.
(aprender a fazer, aprender a conviver).
O
PROCESSO DE APRENDIZAGEM
A
aprendizagem se produz quando a pessoa atende a um fenômeno
externo. A atenção está determinada
por processos inatos - como a percepção do
movimento - e pelo conteúdo da memória - quando
estamos buscando uma senhora de casaco verde, por exemplo.
Uma vez que um fenômeno é atendido passa para
a memória sensorial, onde permanece escassos segundos.
Se a atenção persistir, passará a memória
de trabalho a "curto prazo", de onde podem residir
até sete idéias ou um conjunto de idéias
para facilitar as relações e o processamento
da informação. Seguindo o exemplo da senhora
de casaco verde, se essa senhora for mais velha, recordamos
que buscamos uma senhora de meia idade, e mediante essa
relação a eliminamos da memória a curto
prazo. Quando uma informação é muito
relevante passa para a memória de longo prazo, onde
ficará disponível para ser processada no futuro.
A
PSICOLOGIA COGNITIVA
A
aquisição, armazenamento e recuperação
das recordações - memórias ou representações
mentais - é o objeto de estudo da Psicologia Cognitiva.
As recordações tendem a formar um sistema,
a relacionar-se entre eles e integrar-se, formando junto
com os processos que os suportam o que os psicólogos
denominam sistema cognitivo. A relação de
uma informação nova com os conteúdos
do sistema cognitivo é decisiva no processo de aprendizagem,
aspecto que foi estudado com muito interesse pelos psicólogos
e filósofos construtivistas.
Efetivamente,
as representações mentais que nós fazemos
da realidade não são representações
"objetivas" ou "fiéis" do mundo
exterior e sim determinada pelas necessidades e conhecimentos
anteriores dos sujeitos que aprendem. Não aprendemos
conteúdos só pela exposição
aos mesmos ou pelo simples esforço por compreender,
mas sim porque os relacionamos com nossas motivações,
objetivos e conhecimentos anteriores.
De
certa maneira, para os construtivistas, o processo mesmo
o de aquisição de informação
se assimila aos processos de "digestão"
- assimilação - e adaptação
mecânica - acomodação - como os dos
organismos vivos que se adaptam a seu ambiente. É
todo o organismo que aprende, como é todo o organismo
que come, se alimenta. Deste ponto de vista, a aquisição
do conhecimento intervém não só ao
pensamento, e sim às motivações, aos
afetos, etc.
APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA
Segundo
David Ausubel, criador da Teoria da Aprendizagem Significativa,
“Para que ocorra a aprendizagem, é necessário
partir daquilo que o aluno já sabe, e os professores
deveriam criar situações didáticas
com a finalidade de descobrir esse conhecimento —
definido por ele como conhecimento prévio —,
que serve de suporte para os novos conhecimentos que serão
adquiridos e construídos”.
A assimilação é o ponto central da
aprendizagem
significativa. A aprendizagem consiste em uma troca
das estruturas cognitivas, que podem ser produzidas por
três vias:
A APRENDIZAGEM SUBORDINADA: Que se produz
mediante a diferenciação progressiva dos conceitos
existentes em vários de nível inferior. A
estrutura cognitiva ganha em potência analítica
e em precisão.
A APRENDIZAGEM SUPRAORDENADA: que se produz
debaixo para cima mediante a conciliação integradora
de vários conceitos em um novo de nível superior.
A estrutura cognitiva consegue maior integração
e sistematização. Os conceitos mais gerais
permitem uma maior economia cognitiva e uma navegação
mais eficaz por esse mapa de conceitos.
A APRENDIZAGEM COMBINATÓRIA: pela
qual se gera uma nova relação entre dois ou
mais conceitos sem que se produza inclusão de um
conceito no outro. Em qualquer caso, uma aprendizagem só
pode ser significativa se ela se relaciona com os conhecimentos,
motivações e objetivos prévios da pessoa
que aprende. Se não, só serão dados
que cairão prontos e esquecidos.
COMO
CRIAR CONCEITOS
Ao
processo de criar conceitos se denomina "definir".
Os conceitos podem ser definidos por sua intenção,
suas propriedades distintas e por sua extensão -
conjunto de referências do conceito.
Dentro de uma estrutura cognitiva cada conceito se define
pelas oposições que mantêm com as demais
a partir de uma série de propriedades, que os semânticos
denominam semas. Portanto, um conceito não é
senão um agregado de pedaços distintos que
resultam em relevância para "simular" a
realidade.
O processo de conceitualização é um
processo de identificação em que uma parte
da realidade é destacada do resto - um processo de
distinção fundo/forma, e assim sucessivamente,
basta criar mosaicos que representam e simulam a realidade.
Conhecer é, em definitivo, apreender regularidades,
redundâncias na estrutura e da realidade que nos ajudam
a formarmos imagens simplificadas, modelos que nos permitem
reproduzir até certo ponto essa estrutura e realizar
simulações que logo guiam nossa atuação.
Como é experiência cotidiana, os conceitos
se realizam mediante enunciados. Uma análise global
dos enunciados expressos sobre um tema permite descobrir
como as proposições formam várias redes
que relacionam entre si os conceitos, e que se estendem
tanto hierarquicamente como horizontalmente.
A relação hierárquica se baseia no
critério de inclusividade formalizada na teoria de
conjuntos e gera uma relação de ordem no conjunto
de conceitos pelo qual todo conceito está incluído
em outro conceito de nível superior, excluindo o
que dá nome ao conjunto, que pertence a uma ordem
superior.
COMO
RECORDAR
Para
recordar informações temos que utilizar as
leis da memória a longo prazo. Podemos utilizar as
seguintes técnicas:
UTILIZAR A MOTIVAÇÃO: Verificar
como os novos conteúdos se encaixam com nossos objetivos
e necessidades; demonstrar para nós e para outras
pessoas próximas que esses conteúdos são
úteis.
UTILIZAR A SURPRESA: Buscar aspectos surpreendentes
e relacionar a informação com coisas surpreendentes
e chocantes, inclusive utilizando o humor.
RELACIONAR A INFORMAÇÃO COM CONHECIMENTOS
ANTERIORES: Quanto mais a relacionarmos, melhor
recordaremos.
UTILIZAR A INFORMACÃO NOVA: Quanto
mais profundo seja o procedimento do processo, melhor recordaremos.
Um exemplo muito simples é unir as primeiras letras
de uma lista de conceitos em um acrônico. Outro exemplo,
esse complexo e profundo, podemos tentar ver em que se diferenciavam
os quadros de Goya dos outros contemporâneos. Organizar
e sistematizar a informação é uma forma
especialmente poderosa para utilizá-la.
UTILIZAR A REPETIÇÃO: Repetir
a informação até que se grave, não
produz a compreensão, mas ao menos os conteúdos
estão disponíveis na memória a longo
prazo. Se só precisamos reter a informação
que estamos aprendendo, bastará recorrer a truques
relacionados com a surpresa e com a repetição,
assim como a processamentos alimentares, como classificar
por grupos e estabelecer relações sensíveis.
Se necessitamos uma aprendizagem profunda, temos de compreender
claramente para que nos serve essa informação,
utilizá-la em todas as direções e casos
possíveis, sistematizá-la e organizá-la,
e conectá-la em profundidade com nossos conhecimentos
anteriores.
Portanto,
revendo o que já estudamos podemos dizer que é
através da reflexão, que o ser humano pode
converter seu próprio processo de aprendizagem em
objeto de investigação, aprendendo a aprender.
É, por exemplo, o que ocorre quando nos damos conta
que aprendemos melhor o material estudado a determinada
hora do dia, ou até mesmo de forma autônoma.
Tema que veremos em nossa próxima aula.
É
assim que se aprende
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"É
essencial saber como o aluno aprende"
Artigo de Juan Delval pela
Revista Nossa Escola Online - FUNDAÇÃO
VICTOR CIVITA. Clique no computador ao lado
para ler o texto.
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O
aluno após essa aula deverá:
•
COMPREENDER o que é aprender e quais são
os mecanismos gerais da aprendizagem.
• COMPREENDER o que é a educação
permanente e porque ela é necessária
na atualidade.
• SABER quais são os tipos mais importantes
de conteúdos de aprendizagem.
• CONHECER o processo por meio do qual a
aprendizagem se fixa na memória e se converte
em "conhecimento".
• COMPRENDER que a aprendizagem eficaz sempre
se produz pela integração e assimilação
de conhecimentos novos dentro de um corpo de conhecimentos
já conhecidos.
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|1.
Aprender a Aprender | 2. Aprendizagem
Autônoma | 3.
Buscar e Avaliar | 4.
Atividade Prática|
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