Estamos
chegando ao fim desse nosso curso.
Já
mapeamos o que entendemos por EAD, já
procuramos "sentir" o que é um aluno
online, já mostramos o novo cenário
onde o professor é colocado e, agora,
vamos levantar algumas das competências
que o professor precisa desenvolver
para colocar-se neste cenário.
Para
começo de conversa, vejamos o que Gilberto
Dimenstein diz sobre o que ele chama
de "O
Professor do Futuro",
crônica escrita por ele na Folha de
São Paulo de 5 de agosto de 2001, a
cerca de uma pesquisa de opinião com
alunos da USP sobre o futuro do ensino
superior, feita pela Escola do Futuro.
É
um equívoco imaginar que a universidade
do futuro será aquela que melhor lidar
com as máquinas. Bobagem. A boa escola
será aquela que submeter seus alunos
à maior quantidade possível de experimentações
e pesquisas, nas quais o professor desempenhe
o papel de facilitador. Aulas expositivas,
de fato, podem perfeitamente estar em
um arquivo na Internet, acessíveis a
qualquer um. O professor, portanto,
passa a ser ainda mais importante na
seleção das informações essenciais".
Para
que o professor desempenhe este papel,
porém, ele precisa se preparar desenvolvendo
algumas competências básicas. É o que
vamos apontar agora.
Logicamente,
conforme já foi dito, está listagem
não tem a pretensão de ser completa.
Ela é o recorte da realidade que estamos
fazendo neste momento....
1
- Competência / capacidade de ser um
facilitador da aprendizagem:
Na
função de facilitador, o professor ultrapassa
a idéia de monitoramento da aprendizagem
e passa a ser o profissional que ajuda
a construção da aprendizagem daquele
aluno que, por concepção, é o sujeito
da sua própria aprendizagem. Para isso,
ele precisa entender a aprendizagem
como uma relação complementar entre
o professor e o aluno; trabalhar com
temas defragadores de processo e deixando
ao aluno um espaço de pesquisa própria,
possibilitando sempre o aprender a aprender
e não a oferta de verdades absolutas.
Em síntese, o professor deve se transformar
num orientador, deixando que o aluno
construa seu próprio entendimento da
realidade a partir de uma série de possibilidades
de análise.
2
- Competência / Capacidade técnica:
-Ou
seja, aquele domínio mínimo necessário
para poder discutir as questões tecnológicas
a partir da necessidade pedagógica e
metodológica. É a questão do "interlocutor
inteligente" para entender a tecnologia
e sua influência no processo pedagógico.
E, também, para poder otimizar os recursos
disponíveis na Rede de forma a melhorar
o encaminhamento da aprendizagem de
seus alunos.
3
- Competência / Capacidade de comunicação:
Toda
educação é um processo de comunicação.
Na EAD está comunicação acontece mediada
por uma interface tecnológica e pela
capacidade do professor de ver "para
além" do texto e do computador. Comunicação
é um ato intencional de troca de idéias,
desejos e emoções de uma forma clara,
atraente e direta. Na educação presencial,
esta troca acontece face-a-face. Na
educação a distância, ela acontece mediatizada
pela tecnologia. Tanto num caso com
em outro cuidados devem ser tomados
para que não hajam ruídos nessa comunicação.
Estes cuidados passam pela clareza e
sistematização dos conceitos mas, também,
pela clareza no uso do canal de comunicação.
No caso da educação online, na clareza
e no bom uso do texto.
Lembremo-nos
do que fala P. Lévy, (no texto já visto:
Tecnologias intelectuais e modos de
conhecer: nós somos o texto): "As passagens
do texto estabelecem virtualmente uma
correspondência, quase uma atividade
epistolar que nós, bem ou mal, atualizamos,
seguindo ou não, aliás, as instruções
do autor. Produtores do texto, viajamos
de um lado a outro do espaço de sentido,
apoiando-nos no sistema de referência
e de pontos, os quais o autor, o editor,
o tipógrafo balizaram. Podemos, entretanto,
desobedecer às instruções, tomar caminhos
transversais, produzir dobras interditas,
nós de redes secretos, clandestinos,
fazer emergir outras geografias semânticas".
Para
o professor e, principalmente para o
professor online, essa afirmação deve
funcionar como um lembrete da importância
que ele deve dar ao texto e à sua capacidade
de comunicação com o aluno.
Além
disso, não se pode esquecer, também,
a comunicação entre os elementos do
grupo. Na EAD o professor se coloca
como mais um do grupo, o que leva a
uma comunicação intra-grupal que precisa
ser entendida, estimulada e incentivada
pelo professor. Desse modo, o professor
sai da sua solidão e passa a ter que
trabalhar em equipe, utilizando toda
sua capacidade de comunicação interpessoal.
A
questão da comunicação é tão importante
que tornou-se um tópico de análise quando
se fala em
indicadores
de qualidade
de cursos a distância.
4
- Competência / Capacidade de planejar
e de trabalhar com método:
"Um
dos momentos mais importantes da produção
de um curso a distância, seja qual for
sua característica, é, sem dúvida, o
planejamento, incluindo aí todas as
possibilidades, desvios, avaliações,
alternativas. É o momento do design
de toda a operação, a visualização do
projeto como um todo e a análise detalhada
de cada parte do processo. A avaliação
deve estar presente em todas as etapas
[do planejamento], incluindo a seleção
de meios, a validação dos materiais,
a adequação da introdução de determinados
conteúdos, a descrição das tarefas a
serem cumpridas e o perfil final do
profissional que se deseja formar .
Quanto mais detalhada e criteriosa a
realização do planejamento, maiores
serão as possibilidades de acerto" (Niskier).
E
para que isso seja alcançado, o professor
precisa desenvolver o hábito de trabalhar
com método, organizando, sistematizando
e formalizando todas as etapas do processo,
tanto no que diz respeito ao seu trabalho
dentro da equipe, como no seu contato
com os alunos e com a tentativa de alcançar
os objetivos desejados.
É esse planejamento bem feito que irá
dar ao professor a segurança de que
seus padrões de qualidade e de produtividade
serão alcançados.
Observação:
É bom lembrar que planejamento bem feito
significa possibilidade de flexibilização
diante da realidade que se apresentar
durante a execução do projeto. É um
grande erro ver no planejamento um documento
fechado e completo. Planejamento educacional
está sempre inserido em um processo
dinâmico que precisa estar sendo constantemente
avaliado e, se necessário, modificado.
5
- Competência / Capacidade de capitalizar:
Este item, apesar de pouco discutido,
pode ser considerado como um diferenciador
muito importante do trabalho do professor
online. Esse conceito está explicitado,
a partir de uma idéia de Blandin, no
livro de Belloni:
"A capacidade de capitalizar [significa]
traduzir a apresentar seus saberes e
experiências de modo que os outros possam
aproveitá-los e, em retorno, saber aproveitar
e adequar às sua necessidades os saberes
dos outros formadores, competência importantíssima
para evitar a tendência, muito comum
no campo educacional, de 'reinventar
constantemente a roda'." Esta idéia
está ligado a outra questão muito importante
que é a da capilarização dos saberes
e a criação de uma inteligência coletiva,
proposta por Pierre Lévy.
"As
hierarquias burocráticas (fundadas na
escrita estática), as monarquias midiáticas
( 'surfanfo' na televisão e no sistema
de mídias) e as redes internacionais
de economia (utilizando o telefone e
as tecnologias do tempo real) só mobilizam
e coordenam parcialmente a inteligência,
a experiência, o savoir-faire, a sabedoria
e a imaginação dos seres humanos. É
por isso que a invenção de novos procedimentos
de pensamento e negociação que possam
fazer emergir verdadeiras inteligências
coletivas se faz urgente. (...) Os instrumentos
da comunicação e do pensamento coletivo
não serão reinventados sem que se reinvente
a democracia, uma democracia distribuída
por toda parte, ativa, molecular. Neste
ponto perigoso de virada ou de encerramento,
a humanidade poderia reapoderar-se de
seu futuro. Não entregando seu destino
nas mãos de algum mecanismos supostamente
inteligente, mas produzindo sistematicamente
as ferramentas que lhe permitirão constituir-se
em coletivos inteligentes, capazes de
se orientar entre os mares tempestuosos
da mutação. (...)
[Inteligência coletiva] é [pois] uma
inteligência distribuída por toda a
parte, incessantemente valorizada, coordenada
em tempo real, que resulta em uma mobilização
efetiva das competências (...) a
base e o objetivo da inteligência coletiva
são o reconhecimento e o enriquecimento
mútuos das pessoas, e não o culto de
comunidades feitichizadas ou hipostasiadas".
6
-Competência / Capacidade de ensinar
na era da informação:
Finalmente, e fechando este breve apanhado,
o professor precisa estar preparado
para atuar na era da informação. "
A
informação sempre foi a ingrediente
principal na educação. O uso de redes
de alta velocidade, com fibras óticas
ou conexões via satélite para acessar
rapidamente as grandes bibliotecas eletrônicas
expansíveis e bases de dados fornece
a base para uma potencial revolução
no aprendizado. A combinação destes
recursos com um computador pessoal dá
aos estudantes acesso a grandes quantidades
de informações, e moverá o locus do
poder do professor para o aprendiz.
As comunicações via computador, por
exemplo, a conexão de computadores pessoais
a servidores "mainframe" via redes de
dados, pode criar ambientes educacionais
altamente interativos.
Para entender como esta questão interfere
na ação do professor e como ele precisa
desenvolver competências que até agora
não lhes eram pedidas, entrem no endereço
http://www.edutecnet.com.br/Textos/Alia/PROINFO/prf_txtie03.htm
e leiam a resenha do livro de Norman
Coombs: Teaching in the Information
Age.
Grandes
são os desafios do professor online
mas, grandes também são suas possibilidades
de crescimento e de colaboração para
com o crescimento de toda uma comunidade:
a comunidade virtual de conhecimento.
Juntem-se
a nós!...
PARA PENSAR:
"A
Educação
do Futuro deverá
ser o ensino primeiro
e universal. Estamos na
era planetária;
uma aventura comum conduz
os seres humanos, onde
quer que se encontre.
Eles devem reconhecer-se
em sua humanidade comum
e ao mesmo tempo reconhecer
a diversidade cultural
inerente a tudo oque é
humano".
Edgar
Morin |
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICADO MÓDULO:
BELLONI, Maria
Luiza. Educação a distância. Campinas
: Autores Associados, 1999.
BLANDIN,
B. "Formateurs et Formation Multimédia",
in Les Éditions d'Organisation. Paris,
1999.
LÉVY,
Pierre. A inteligência coletiva: por
uma antropologia do ciberespaço. 2.
ed. São Paulo : Loyola, 1999.
MARSDEN,
R. "Time, space and distance education"
in Distance education, vol. 17, n.º
2, 1996.
MINISTÉRIO
DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação
a Distância. Indicadores de qualidade
para cursos de graduação a distância
in: http://www.mec.gov.br/seed/indicadores/PADRÕES%20DE%20QUALIDADE.doc
MORIN,
Edgar. Os sete saberes necessários à
Educação do Futuro. 4. ed. São Paulo
: Cortez; Brasília, DF : UNESCO, 2001
NISKIER, Arnaldo. Educação à
Distância: a tecnologia da esperança.
2.ed. São Paulo : Loyola, 2000.
Sociedade
da Informação no Brasil: Livro Verde.
Org. Tadao Takahashi. Brasília : Ministério
da Ciência e Tecnologia, 2000.
STRUCHINER,
Míriam e GIANELLA. Taís Rabetti. Educação
a distância: reflexões para a prática
nas universidades brasileiras. Brasília
: CRUB, 2001.
SUGESTÃO
DE LEITURA: Tavares, Kátia C. A.
A auto percepção do Professor Virtual:
um estudo-piloto in: http://www.lingnet.pro.br/papers/eadprof.htm
Se
você preferir faça o download
para o seu micro do:
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Livro
Verde.
Org. Tadao Takahashi. Brasília
: Ministério da Ciência e Tecnologia,
2000. |
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a distância.
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