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Eu posso interagir com uma planta se eu quiser? (...) Qual a diferença entre interagir com uma planta e com um livro? Sou eu que imprimo os significados e, dependendo deles, a planta tem mais sentido para mim do que um livro. Pense na sociedade sem escrita? O que era mais importante?
É... veja os Indus que têm uma vaca como animal sagrado! É sagrado porque é significativo para o povo, para a cultura, para as crenças!
Eu acho que é muito mais interativo um livro, pois leiam este trecho , é lindo. Eu simplesmente interagi!!!!
Sim... você acha que o livro é mais interativo porque você gostou do texto, porque você viajou no texto. Poderia acontecer a mesma reação com todos os sujeitos que leram ou que lerão esse mesmo texto?

Esse papo foi longo. A discussão desencadeou uma rede de palavras entrecruzadas, tranversalizadas, enlouquecidas, devaneadas que trouxeram livros, internet, plantas, vacas, crenças, significados e... sala de aula. Tudo parecia uma grande bagunça. Mas interatividade é isso! É interruptabilidade, é não-linearidade, é potência, é cooperação, é permutablidade e é predisposição do sujeito a falar... ouvir... argumentar... é disponibilizar-se conscientemente para mais comunicação. Ou seja, transitar, transmigrar e desenvolver um modo de pensar e agir segundo uma racionalidade-em-trânsito.

Esse conceito de interatividade é bem mais recente que o conceito de interação, o qual vem sendo utilizado nas mais variadas ciências como “as relações e influências mútuas entre dois ou mais fatores, entes, etc. Isto é, cada fator altera o outro, a si próprio e também a relação existente entre eles” (Primo & Cassol, 1999). Já o termo interatividade surgiu no contexto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC), com a denominada geração digital. Entretanto, o seu significado extrapola esse âmbito. Para Silva (1998:29), a interatividade está na “disposição ou predisposição para mais interação, para uma hiper-interação, para bidirecionalidade - fusão emissão-recepção -, para participação e intervenção”. Portanto, não é apenas um ato de troca, nem se limita à interação digital. Interatividade é a abertura para mais e mais comunicação, mais e mais trocas, mais e mais participação. É a disponibilização consciente de um mais comunicacional de modo expressivamente complexo, e, ao mesmo tempo, atentando para as interações existentes e promovendo mais e melhores interações – seja entre usuário e tecnologias comunicacionais (hipertextuais ou não), seja nas relações (presenciais ou virtuais) entre seres humanos. (Silva, 1999:155)

Essa abertura a um “mais comunicacional” pode e deve ocorrer em todas as formas de relação, sejam elas presenciais ou não, estejam elas utilizando tecnologias hipertextuais ou não, visto que essa predisposição é inerente ao ser humano. A nossa postura frente a uma sessão de cinema, por exemplo, mostra a necessidade que temos de querer retroceder, voltar, adiantar, para que possamos analisar alguma coisa que não entendemos ou saltar algo que não nos interessa, de acordo com a nossa vontade. Apesar do vídeo oportunizar esse avançar e retroceder, expressando algum nível de intervenção, isso ainda não satisfaz a necessidade que temos de redirecionar o fluxo comunicacional. O mesmo ocorre com o controle remoto quando o usuário faz o zapping, alternando entre os canais disponíveis, sejam eles 5 ou 150.

Essas possibilidades advindas com os avanços tecnológicos, apesar de não transformarem o vídeo, a TV, o rádio, em meios interativos, nos instigam a querer transgredir a lógica de comunicação tradicional, unidirecional, predefinida, massiva. Se podemos perceber essa inquietação nos adultos que pertencem à geração da TV, mais acostumados à recepção passiva, o que podemos dizer da nova geração que nasce imersa no contexto das NTIC, onde a lógica comunicacional é a da interatividade?

Para a educação, a compreensão desses conceitos e contextos é de fundamental importância, uma vez que a relação pedagógica é uma relação entre seres humanos imersos numa determinada cultura, por isso mesmo transformadores dela. Logo, a todos os sujeitos da educação deve ser oportunizada essa abertura a um "mais comunicacional".

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