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Assim, surgiram outras argumentações acerca de outros textos. Recorremos a Morin, quando nos fala das estruturas complexas, do caos que desencadeia a ordem, da desordem e da organização, tudo isso permeado pela álea, pelas multiplicidades, incertezas, flutuações, ambiguidades. Isso nos leva a pensar nas inúmeras conexões que nosso grupo fez para tentar definir e entender interatividade e interação nessa complexidade de movimentos. Movimentos que geram o caos conceitual, mas que aos poucos vão sendo significados pelos componentes desse grupo. A ordem e a desordem é necessária, pois “todo o conhecimento procura pôr ordem e unidade num universo de fenômenos que se apresentam com encadeamentos, multiplicidades, singularidades, incertezas, desordem" (Morin, 1999: 236).

Dessa forma, não estamos mais restritos ao pensamento cartesiano, linear, onde todos os processos devem ter a sequência início-meio-fim. O pensar complexo nos oferece uma lógica aberta, como o fim-início-meio do filme Pulp Fiction , ou qualquer outra forma racional que nos permita entendermos qualquer evento. Doll Jr. (1997:185) també foge do cartesianismo ao afirmar que numa boa história existe, exatamente, a quantidade suficiente de indeterminância para incitar o leitor. Para ele, é o elemento de indeterminância que faz com que o texto se comunique com o leitor, o que, por sua vez, induz o leitor a “participar” da história. Isso é talvez o estado de potência, a abertura a outras possibilidades, a predisposição para mais comunicação, a própria interatividade.
Para a educação isso significa uma transformação dos papéis desempenhados por professores e alunos em sala de aula. De acordo com Silva (1999:159), o professor necessita interromper a tradição do falar/ditar, deixando de identificar-se com o contador de histórias. Ele necessita construir um conjunto de territórios a serem explorados pelos alunos e disponibilizar co-autoria e múltiplas conexões, permitindo que o aluno também faça por si mesmo.

Para tanto, é necessário pensarmos em “território” para além da noção espacial. É necessário pensarmos também em “territórios existenciais” (Guattari, 1995:38) como relacionados à maneiras de ser, ao corpo, ao meio ambiente, às etnias, às nações. Esses territórios, que o professor oportuniza a seus alunos explorarem, têm uma organização, um significado dado a eles pelo professor. Entretanto, à medida que os alunos passam a explorá-los, eles se desterritorializam, fogem da organização dada pelo professor, abrem-se a outros significados. No entanto, no trabalho conjunto de professor/aluno deve voltar a ocorrer uma reterritorialização, que por sua vez levará a novas desterritorializações e assim sucessivamente. Com isso, o ato pedagógico passa a ser o de construção de um mapa. “O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social” (Deleuze & Guattari, 1995:22).

Isto significa que o professor precisa ser muito mais do que “um conselheiro, uma ponte entre a informação e o entendimento, (...) um estimulador de curiosidade e fonte de dicas para que o aluno viaje sozinho no conhecimento obtido nos livros e nas redes de computador”. (Silva, 1999:160). Da mesma forma que o professor não é mais o transmissor, também não é “facilitador” – termo empregado atualmente na maioria dos projetos de uso de Novas Tecnologias em Educação. O papel do professor não é facilitar, como se este fosse um papel secundário ou como se o conhecimento fosse algo difícil para o aluno, que necessitasse de um especialista - o professor - para simplificá-lo, tornando-o então acessível ao aluno. Esse conhecimento é apresentado apenas pelo viés do professor, não passando por um processo de significação coletiva.
O papel do professor passa a ser ainda mais importante do que o papel do facilitador ou do transmissor, seja ele crítico ou não. O professor necessita trabalhar num contexto criativo, aberto, dinâmico, complexo. Em lugar da adoção de programas fechados, estabelecidos a priori, passa a trabalhar com estratégias, ou seja, com cenários de ação que podem modificar-se em função das informações, dos acontecimentos, dos imprevistos que sobrevenham no curso dessa ação (Morin, 1996:284-5). Isso implica trabalhar com incertezas, com complexidades. Na relação professor–aluno-conhecimento deve estar presente a interatividade, não como consequência da presença das novas tecnologias, mas como foco, como uma característica, um requisito, para a construção do conhecimento.
Nesse contexto, institui-se uma nova dinâmica: o trabalho do professor intensifica-se, estrutura-se uma nova relação pedagógica e exige-se uma nova plataforma de trabalho, uma nova organização da escola, uma nova competência técnica e política dos professores.

Referências Bibliográficas

DELEUZE, Giles e GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. v. 1. Trad. Aurélio Guerra e Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro : Ed. 34, 1995. 96 p.
DOLL Jr., William E. Currículo : uma perspectiva pós-moderna. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre : Artes Médicas, 1997.
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas, SP : Papirus, 1995.
LEMOS, André. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre interatividade e interafaces digitais. [on line] Disponível: http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/interac.html. [Capturado em 29 de abril de 2000]
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999.
MACHADO, Arlindo. Anamorfoses Cronotópicas ou a Quarta Dimensão da Imgem. In: Imagem Máquina: a era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro: Editora 34, 1996. André Parente (org).
MORIN, Edgar. Epistemologia da complexidade. In: SCHNITMAN, Dora Fried (org.). Novos paradigmas, cultura e subjetividade. Porto Alegre : Artes Médicas, 1996. pp. 274-289.
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. 3a ed., Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 1999.
PRIMO, Alex e CASSOL, Márcio. Explorando o Conceito de interatividade: definições e taxonomias [http://usr.psico.ufrgs.br/~aprimo/pb/pgie.htm] 05/06/00
SILVA, Marco. Que é Interatividade in Boletim Técnico do Senac. Rio de Janeiro, v.24, n.2 maio/ago, 1998
SILVA, Marco. Um convite à interatividade e à complexidade: novas perspectivas comunicacionais para a sala de aula. In: GONÇALVES, Maria Alice Rezende (org.). Educação e cultura: pensando em cidadania. Rio de Janeiro : Quartet, 1999. p. 135-167.

Página produzida nas Oficinas do Laboratório Virtual da FACED/UFBA.

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