Tartarugas Marinhas dos Açores

O ESTUDO DAS TARTARUGAS  MARINHAS  NOS AÇORES

por: Helen Rost Martins

 

A Descoberta das Tartarugas nos Açores

 

No passado, as tartarugas nos mares dos Açores eram um segredo dos pescadores. Eles encontravam-nas nadando à superfície do oceano e, por vezes, capturavam-nas para servirem de alimento ou para ornamentação.

O primeiro cientista a interessar-se pelas tartarugas dos Açores foi o Príncipe Alberto I do Mónaco. Este Príncipe/Cientista explorou os mares dos Açores com os seus iates no fim do século passado e no princípio deste. Muito mais tarde, o cientista holandês Brongersma e o norte-americano Archie Carr questionaram-se acerca da origem das tartarugas que ocorriam nos Açores. Isto depois de terem verificado que não existiam praias de nidificação neste Arquipélago. Começaram por "brincar" com a ideia de que as tartarugas dos Açores seriam transportadas pelo giro do Atlântico Norte. Ainda nos anos 70, Brongersma apontou para a necessidade de se fazer um programa de marcação de forma a descobrir a proveniência destes organismos. Apenas em 1982 foi possível iniciar este Programa.

Foi o Sr. João Carlos Fraga, um natural da cidade da Horta com um interesse especial pela natureza, que me mostrou uma tartaruga pela primeira vez. Visto ser Nórdica, eu nunca tinha visto uma tartaruga marinha viva e ao vivo. Encontrava-me a trabalhar para o Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores e de imediato senti vontade de investigar este grupo de animais.

Tartaruga-careta com garajau-rosado, duas espécies protegidas.

Foto: S Mendes (c) ImagDOP

 

Descobrimos, para nossa surpresa, que um Mariense (natural da Ilha de Santa Maria) já tinha começado, em conjunto com o seu grupo de "Jovens Naturalistas", a marcar tartarugas. Este naturalista amador, de nome Dalberto Pombo, partilhou as suas marcas connosco. O Sr. Fernando Serpa, hoje Comandante do Navio de Investigação "Arquipélago", ajudou-me a marcar as minhas primeiras tartarugas. Nos dois primeiros anos de Programa apenas marcámos quatro indivíduos. No ano seguinte, já conseguimos marcar 41 tartarugas. Nesse mesmo ano, 1984, contactámos a instituição científica que tinha enviado as marcas para Santa Maria. As marcas tinham impresso “Dept.Biol. U.F. Gainesville USA” que é o acrónimo de "Departamento de Biologia da Universidade de Florida, Estados Unidos da América". Este era o local onde trabalhava Archie Carr. Este cientista ficou encantado por saber que também estávamos empenhados em marcar e enviou-nos, não apenas marcas, mas também dinheiro para servir de gratificação aos pescadores que entregassem tartarugas no DOP.

"O Ano Perdido"

A seguir surgiu o primeiro "momento da verdade". Enviámos as medições de carapaças realizadas em paralelo com as marcações para o Archie Carr. Ele sobrepôs esta informação no histograma de comprimentos, por ele obtido nas costas dos Estados Unidos, e o resultado fê-lo pegar no telefone e ligar-me imediatamente. Há anos que ele falava no "ano perdido". As tartarugas nasciam nas praias da Florida, mas os pequenos indivíduos desapareciam pouco depois. Apenas os jovens adultos com 50-55cm de comprimento de carapaça reapareciam. A sua localização durante este período intermédio era um mistério. Os resultados enviados pelo DOP acentavam mesmo na falha do histograma. Não admira que o Archie Carr estivesse entusiasmado !


As tartarugas encontradas nos Açores (azul) tinham exactamente

a medida das tartarugas ausentes da América do Norte
(a amarelo as registadas no Continente Norte-Americano).
Foto: A Bolten
(c) ImagDOP.


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