Magistério
A Doença
Perguntamos admirados como é que ela conseguia dar conta
de tudo, visto que as crises de saúde, que já em 1930
lhe causaram noites de sofrimentos, se iam repetindo cada vez mais.
É certo que nem as Irmãs, nem as alunas ou os pais
delas notavam isso. No dia 29 de dezembro de 1934, Irmã Clara
anota no seu diário: "Poucas horas conheço
em que não tenha alguma coisa suportar por Jesus. Geralmente
os que comigo convivem ignoram tudo. Isso me agrada muito, pois,
só Deus deve conhecer o segredo do sofrimento...".
Por obrigação, apenas as Superioras foram avisadas
e elas se preocupavam. Nas férias do verão de 1934
ela se submeteu a minuciosos exames, no Hospital das Irmãs
Elisabetinas, em Graz. Suspeitou-se tratar de doença do fígado.
Foi feito tratamento correspondente - mas sem resultado. No novo
ano escolar 1934/1935, estava Irmã Clara novamente em plena
atividade. Porém, sentia sempre mais o peso do trabalho.
Em março, durante uma conferência de professores, teve
um colapso. Foi levada dessa vez, ao Hospital distrital em Graz
para tratamento clínico. Eles não deram um diagnóstico
claro e, a única indicação dada pela própria
Irmã Clara levou à constatação de tuberculose
do intestino. Aconteceu o que ela já suspeitava a tuberculose
do pulmão estagnara mas instalou-se mais abaixo. A ciência
médica de então viu-se impotente. Só restava
a cirurgia. A operação foi feita no início
de abril, e constatou-se o estado avançado da doença
e que ela teria apenas mais dois anos de vida.
Em junho Irmã Clara veio para Gröbming (vale Enns)
a fim de repousar. As Irmãs das Escolas possuem uma casa
de veraneio nesse local, que é preferido para férias
por seu clima ameno. Irmã Clara não podia fazer excursões
conjuntas com as outras Irmãs devido a doença. Mas
ela dedicou-se fielmente a vida monástica. Uma irmã
escreve: "De manhã chegando à capela, Irmã
Clara já se achava aí. E, à noite, ao nos retirarmos,
ela ainda ficava. Durante o dia, entrando na capela, quase sempre
a encontrávamos lá. Limpava o sapato das Irmãs,
sempre que possível. À mesa , mostrava-se alegre,
escutando as Irmãs que contavam as suas excursões.
Quando se apresentava o ensejo, ela também ria. Não
consegui descobrir falta nela" - Todos se sentiam bem na sua
presença.
De novo na Casa Mãe
Após as férias Irmã Clara sentiu-se novamente
com forças suficientes para começar o novo ano escolar.
As Superioras contudo, acharam por bem fazê-la morar em Eggenberg,
onde o ar lhe seria mais favorável e onde teria mais contato
com a natureza. A escola destinou-lhe menos horas. As Superioras
não desistiram do plano de confiar futuramente a Irmã
Clara a Direção da Escola.
Em Eggenbergu Irmã Clara era aceita por todas as Irmãs,
particularmente, as Irmãs simples a estimavam, porque conversava
fraternalmente com todas, dispondo de tempo para atender a cada
uma. Suas vizinhas à mesa, por sinal eram Irmãs domésticas,
já mais idosas, encarregadas dos trabalhos da cozinha, da
lavoura e da jardinagem. Com naturalidade servia as outras a mesa.
Assim nem se percebeu o quão pouco comia. Pois não
o conseguia; qualquer alimento sólido lhe causava fortes
dores. Disso, porém a maioria das co-irmãs nada sabiam.
Apesar da dor manteve-se feliz e satisfeita realizando suas funções
sem nunca reclamar. Ninguém sabia realmente do seu sofrimento
e de suas dores. A maioria viu apenas o seu sorriso simpático
e uma preocupação constante em ajudar aos outros.
Na escola secundária em Graz, no encerramento do ano ano
letivo de 1935/1936 pela primeira vez, com os exames finais do Curso
Médio. Doze alunas tinham escolhido Geografia como matéria
de exame - sinal evidente de confiança na "Senhora Professora",
Irmã Clara. Desde a 5ª série ela havia lecionado
essa matéria, acompanhando a classe.
Durante o Capítulo Provincial, ela ficou ciente da eleição
que lhe sobreviria para assumir o cargo de Diretora da Escola! Ficou
muito perplexa com isso, pareceu-lhe um fardo difícil de
suportar. Ela escreve em seu diário sobre sua perplexidade.
Surpreendente é que ainda havia Irmãs que não
conseguiam acreditar e relutavam em aceitar a verdade de que a vida
de Irmã Clara ia chegar a seu termo. Devemos procurar entender
essas Irmãs. Diariamente, viam Irmã Clara convivendo
com elas. Foi a única que nunca se queixava, sempre irradiando
calor, sempre atenta a todas. O médico que a tratava, bem
sabia da seriedade de seu estado. Receitara ele certos comprimidos
contra a febre que a incomodava sempre. Esse medicamento impedia
que a febre subisse, mas o estado de lucidez diminuía. A
perceber isso, Irmã Clara deixou de tomá-los porque
não agiam contra a doença em si , e ela preferia suportar
conscientemente as dores a ficar em estado de sonolência.
Adeus à escola
No final do semestre (final de janeiro de 1937), Irmã Clara
teve que deixar a escola. Embora muito já se falasse abertamente
sobre a preparação para sua morte, ainda não
é bem aceito no mosteiro o verdadeiro estado de sua saúde.
As Superioras estavam ainda com esperança de conseguir recuperar
a saúde de Irmã Clara com um repouso na Estíria
Superior. Ela no entando, repetia seu pedido de transferência
para a Casa Mãe, visto ser um privilégio de toda Irmã
poder morrer alí.
No início de março de 1937, ela é levada para
o Sanatório das Irmãs da Santa Cruz em Graz. Os médicos
finalmente reconheceram o verdadeiro estado da doença. O
médico tendo-lhe servida uma boa refeição,
ficou observando os efeitos da alimentação. Chegou
a se convencer da realidade, afastando-se emocionado. Assim após
a Páscoa, satisfizeram-lhe o pedido: Irmã Clara tornou
à Casa Mãe para aí completar o holocausto.
Partida para a
vida eterna.
Agora, finalmente, todos nós temos de reconhecer que não
há saída e que a vida de Irmã Clara procura
um fim. Desde então, todo mundo tentou fazer algo de bom
para ela. Para conforto dos seus entes queridos ela escreveu uma
saudação de despedida: "No amor não
há separação." Essa foi a saudação
de despedida a todos que lhe eram mais próximos, Irmãs,
alunas, etc..
Perguntada se era penoso ficar sozinha por muito tempo, ela respondeu:
"Nós somos em dois!." Sabia que o Senhor
estava com ela presente. E fez um comentário em uma carta:
"Estou tão feliz de morrer" é uma
expressão do seu amor, e não fugir da vida. Por desejar
tanto o amor, perdeu todo o medo do sofrimento, tornando-se-lhe
a cruz fonte de alegria. Sabia que nisso estava perto de Cristo.
No início da manhã do dia 15 de junho Irmã
Clara sentia a morte se aproximar. A enfermeira perguntou como ela
se sentia à chegada do Senhor. "O coração
de fato teme um pouco ao aproximar-se o limiar da grande - grande
eternidade", foram as palavras de Irmã Clara.
Quando seu Diretor espiritual lhe pedira licença de utilizar
suas cartas, dirigidas a ele como Diretor de alma, caso fosse para
o bem dos outros, ela lhe entregou dois cadernos fininhos, dizendo:
"Se for para a honra de Deus". Era seu Diário,
do qual até aí tinha guardado segredo. O dia de sua
morte foi terrível com fortes dores. O médico, contra
a vontade de Irmã Clara, deu-lhe uma injeção
de morfina. Irmã Clara logo notou e seus olhos se encheram
de lágrimas, pois assim não iria esperar a morte em
plena lucidez. O sono, do qual não ia mais acordar, então
se apoderou dela. Ela morreu aproximadamente às 20:00h. O
sino dos mortos tocou e todos sabiam que Irmã Clara tinha
alcançado a meta. Foi uma perda dolorosa. Mas a certeza de
sabê-la junto a Deus fez desabrochar nos lábios um
Magnificat.
Em 17 de junho Irmã Clara foi enterrada no cemitério
Steinfeld. Um grande número de pessoas acompanharam o trajeto
fúnebre.
Imediatamente após sua morte, começaram
a venerar Irmã Clara. Foi a ela que pediam a intercessão
para as grandes e pequenas necessidades dos devotos da Irmã.
Seu segredo foi descoberto e conhecido pelo seu
diário que deu ao seu Diretor espiritual Monsenhor Lourenço
Brandstätterowi. Ele cobre o período compreendido entre
31 de dezembro de 1933 a 27 de Janeiro 1937, que é apenas
um dos três últimos anos de sua vida.
Na primeira leitura, causou grande surpresa. O
Diretor espiritual não conseguia decifrar. Estava estenografado
pelo sistema "Gabelsberger"
e foi reescrito pela Irmã Amábilis Solar, sua co-irmã,
mostrando tal profundidade mística, tamanho esforço
heróico e virtudes de Irmã Clara que já no
ano de 1941 pôde-se requerer a abertura do Processo Informativo
junto à Cúria Diocesana de Graz.
Assim que foram transpostos em escrita normal,
tornaram-se acessíveis a muitos. Contudo, a princípio,
nem todos souberam aproveitar-se desse tesouro. O diário
tinha aspecto duro e sombrio. Teria sido assim a vida de Irmã
Clara, pessoa tão radiante, de sorriso cativante?
Outros porém, alguns Sacerdotes e particularmente
Religiosos ficaram admirados: "Isso é vôo de águia,
alta mística!" E isso no meio da vída escolar
tão absorvente! E escreveram às Superioras: "Aqui,
as senhoras têm uma santa: Não pode ficar esquecida,
o que, infelizmente acontece sempre com vocês alemães".
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Deus,
Tu és o Amor e queres que todas as pessoas te amem e carreguem
a sua cruz em espírito de penitência. Concede que
tua Serva Irmã Clara, modelo de amor a Deus e ao sofrimento,
alcance a honra dos altares para ganhar assim mais almas para
Ti. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém.
Pai Nosso... Ave Maria...
(Pode-se
imprimir: Cúria Diocesana de Graz, Áustria)
A audiência de orações
e graças recebidas por intercessão de Irmã
Clara Fietz deve ser notificada no seguinte endereço: Avenida
Prudente de Moraes, 659 - Araraquara - SP - Brasil. Maiores detalhes
Clique aqui
Heroicidade
das Virtudes
(12 de janeiro de 1996)
Em 1943 começou
o processo de beatificação.
Em 1959, os
restos mortais de Irmã Clara foram transferidos
para a Igreja do convento em Eggemberg.
Em 1968, concluído o
processo de informação em Graz,
e os autos enviados para Roma,
Em 1989, o postulador
geral, adiciona desde arquivos adicionais no
processo de virtudes heróicas.
Em 1995, a documentação
enviada para Roma, fez um milagre por intercessão
de Clare pp.
Em 12 de janeiro de 1996 o papa
João Paulo II confirma a heroicidade
das virtudes de Ir. Clara Fietz.
Embora o estilo
de piedade de Irmã Clara responde à
época em que viveu. Lamentável
seria, porém, querer afirmar que semelhante
ideal sublime já não signifique
mais nada nos tempos modernos. Deveríamos
na verdade nos alegrar por haver Deus escolhido
almas para serem instrumentos prediletos de
sua graça.Quis Ele, por intermédio
dela, manifestar ao nosso tempo as riquezas
de sua graça.
Informações
sobre o processo de beatificação
em curso podem ser obtidas por escrito para:
Irmãs
Franciscanas da Imaculada Conceição Casa
São José
Avenida Prudente de Morais,
659
Cx. Postal 463
CEP: 14801-970
Araraquara - SP
(Brasil)
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