A Guerra do Contestado |
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A
construção da estrada de ferro
No final do século 19, o governo brasileiro autorizou
a construção de uma estrada de ferro ligando
os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul.
Para isso, desapropriou uma faixa de terra, de aproximadamente
30 km de largura, que atravessava os Estados do Paraná
e de Santa Catarina - uma espécie de "corredor"
por onde passaria a linha férrea.
A responsável pela construção foi a empresa norte-americana Brazil Railway Company, de propriedade do empresário Percival Farquhar, que também era dono da Southern Brazil Lumber and Colonization Company, uma empresa de extração madeireira. A construção da estrada acabou atraindo muitos trabalhadores para a região onde ocorreria a Guerra do Contestado. Com o fim das obras, o grande número de migrantes que se deslocou para o local ficou sem emprego e, conseqüentemente, numa situação econômica bastante precária.
Ao mesmo tempo, os posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina foram expulsos de suas terras. Isso porque, embora estivessem ali já há bastante tempo, o governo brasileiro, no contrato firmado com a Brazil Railway, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras.
Além de construir a estrada de ferro, Farquhar, por meio da Southern Brazil Lumber, passou a exportar para os Estados Unidos a madeira extraída ao longo da faixa de terra concedida pelo governo brasileiro. Com isso, os pequenos fazendeiros que trabalhavam na extração da madeira foram arruinados pelo domínio da Lumber sobre as florestas da região.
Messianismo
A construção da estrada de ferro ligando
São Paulo ao Rio Grande do Sul trouxe consigo
os principais elementos político-econômicos
que levaram à eclosão da Guerra do Contestado.
Afinal, a presença das empresas de Farquhar na
região e os termos do acordo firmado com o governo
brasileiro levaram, de uma só vez, à expulsão
dos posseiros que trabalhavam no local, à falência
de vários pequenos fazendeiros que viviam da
extração da madeira e à formação
de um contingente de mão-de-obra disponível
e desempregada ao fim da construção.
Entretanto, havia também um outro elemento importante para o início do conflito: o messianismo. A região era freqüentada por monges que faziam trabalhos sociais e espirituais e, vez ou outra, envolviam-se também com questões políticas - o que lhes dava certo destaque entre os moradores daquela localidade.
Em 1912, apareceu na região um monge chamado José Maria de Santo Agostinho, nome que mais tarde a polícia descobriria ser falso. José Maria foi saudado pelos habitantes do local como a ressurreição de outro monge que vivera ali até 1908, o monge João Maria: era como se o antigo líder espiritual tivesse voltado.
José Maria rapidamente ganhou fama na região por seu suposto dom de cura. Em meio aos problemas político-econômicos provocados pelas atividades das empresas de Percival Farquhar, o monge passou a envolver-se também com questões que estavam muito além dos problemas espirituais dos seus seguidores.
A guerra
Sob a liderança de José Maria, os camponeses
expulsos de suas terras e os antigos trabalhadores da
Brazil Railway organizaram uma comunidade no intuito
de solucionar os problemas ocasionados pela tomada das
terras e pelo desemprego. Uniram-se ao grupo os fazendeiros
prejudicados pela presença da Lumber na região.
Tudo isso reforçado pelo discurso messiânico
do monge José Maria, que logo declarou a comunidade
sob sua liderança como um governo independente.
A mobilização na região passou a incomodar o governo federal não apenas por crescer rapidamente, com a formação de novas comunidades, mas também porque os rebeldes passaram a associar os problemas econômicos e sociais à República. Ao mesmo tempo, os coronéis locais ficaram incomodados com o surgimento de lideranças paralelas, como José Maria. Já a Igreja, diante do messianismo que envolvia o movimento, também defendeu a intervenção na região.
De forma autoritária e repressiva, os governos do Paraná e de Santa Catarina, articulados com o presidente Hermes da Fonseca, começaram a combater os rebeldes. Embora tenham tido pouco sucesso nos dois primeiros anos do conflito, as forças oficiais obtiveram, a partir de 1914, sucessivas vitórias sobre os revoltosos - graças à truculência das tropas e ao seu numeroso efetivo, que contava com homens do Exército brasileiro e das polícias dos dois estados.
Com quase 46 meses de conflito, a Guerra do Contestado superou até mesmo Canudos em duração e número de mortes. Famintos e com cada vez mais baixas, diante do conflito prolongado, da força e crueldade das tropas oficiais e da epidemia de tifo, os revoltos caminharam para a derrota final, consumada em agosto de 1916 com a prisão de Deodato Manuel Ramos, último líder do Contestado.
Fonte: Uol Educação