Sigmund Freud
 
Sigmund Freud, em retrato de 1931


No Café Freud, em Viena, dois andares abaixo do apartamento onde Sigmund Freud debruçou-se sobre a psique humana, um famoso pôster chama a atenção. É um retrato em papel do carrancudo pai da psicanálise, com o nariz e as sobrancelhas misturando-se à imagem de uma mulher nua. "O que passa pela cabeça de um homem?", diz uma inscrição logo abaixo. A questão, entretanto, poderia ser outra: o que a sua mãe pensaria?

Felicidade e melancolia, soberba e humor - é assim que o mundo gosta de Freud, cujo legado ainda divide opiniões às vésperas de seu 150º aniversário – comemorado no dia 6 de maio. Para cada discussão sóbria e acadêmica a respeito de suas revolucionárias teorias sobre a neurose, narcisismo e Complexo de Édipo, há um cartunista nova-iorquino, uma cena de Woody Allen, uma piada em um seriado ou uma frase memorável de Freud.

O poeta inglês W.H. Auden previu que isso fosse acontecer logo após a morte de Freud, em 1939. "Freud não é mais uma pessoa, mas sim uma opinião geral inteira." "Poucas personalidades tiveram tal impacto fundamental na história cultural moderna como teve Sigmund Freud", disse o presidente austríaco Heinz Fischer, que afirma ter "sempre amado" ler as obras de Freud e que é o administrador dos eventos alusivos ao 150º aniversário.

Uma exibição especial, chamada 'O Divã', foi organizada no apartamento onde Freud viveu em Viena, na Berggasse 19, onde hoje funciona o Museu Sigmund Freud. Há também planos de exibir pinturas de pacientes psiquiátricos e filmes sobre Freud e promover um simpósio internacional sobre psicanálise.

 

Sexo e agressividade
O psiquiatra americano Peter Kramer, ao escrever sobre Freud, resumiu: "Ele tornou a psicologia popular". Freud, disse, tornou fácil para as pessoas falar sobre sexo e agressividade, e suas idéias suscitaram uma onda de interesse público a respeito da satisfação sexual e pessoal na época da Primeira Guerra Mundial.

Muitas das idéias de Freud foram modificadas ou descartadas, e até mesmo psicanalistas divergem sobre o quanto devem seguir o pai de sua profissão. "Mas todos aceitam a noção de que algumas ações do comportamento humano são inconscientemente motivadas, e que as pessoas lutam para manter suas motivações subliminares fora de suas consciências", disse Elizabeth Young-Bruehl, psicanalista de Nova York (EUA).

Mais especificamente, a mão de Freud pode ser vista na popularidade de tais noções, como, por exemplo, ser um pai solidário ao invés de estritamente disciplinador e a idéia de que as experiências na infância vão influenciar como ele ou ela se transforma em adulto, disse o psicólogo James Hansell, da Universidade de Michigan.

A simples idéia de se falar com um terapeuta é vinculada a Freud. "Qualquer forma de terapia falada que existe hoje se baseia nas fundações que ele lançou", disse Hansell. Ainda hoje, completa Kramer, "ele ajuda a milhares de pessoas".

Usuário de cocaína (que ele pensava possuir propriedades terapêuticas), Freud acreditava que a psicanálise poderia, algum dia, ser substituída pela medicação. Hoje, entretanto, a terapia falada não foi suplantada pelos remédios. Na verdade, eles formam uma parceria frutífera.

”Uma forma de terapia falada, a terapia cognitiva-comportamental, em parceria com o uso de antidepressivos, combate melhor a depressão do que apenas as pílulas sozinhas”, disse Joseph Coyle, psiquiatra de Harvard. Não é apenas psicanálise, mas Freud "lançou as fundações para futuros clínicos desenvolverem um tipo de terapia falada, cujas intervenções são bastante eficazes", disse Coyle.

"Freud Light"
Milhões de pessoas ao redor do mundo adaptaram o médico austríaco, criando uma espécie de psicologia pop, um "Freud Light". Quem entre nós nunca se submeteu a uma análise de nossos sonhos de infância, ou deu uma olhada em um livro de auto-ajuda baseado nas idéias freudianas? "Todo mundo brinca que taxistas argentinos lêem Freud - e eles realmente lêem", disse a psicanalista Elizabeth.

Alguns de seus conceitos mais característicos inspiraram gerações de comediantes e cartunistas - o Complexo de Édipo, a inveja do pênis, a sexualidade infantil, a fase anal, o significado dos sonhos. Livreiros, de Boston a Berli, vendem bonecos, representando um Freud de barba branca, que diz em um inglês carregado de sotaque alemão "fale-me sobre sua mãe". Mesmo no Museu de Freud, em Viena, há à venda camisetas com os dizeres "Analise-me".

Freud se ofenderia? Talvez não. Ele claramente tinha senso de humor, como é evidenciado por uma de suas citações mais repetidas: "Às vezes, um charuto é apenas um charuto".

Nem todas as mulheres são fãs de Freud, que uma vez se referiu a elas como um "continente negro". "Meu avô era um homem bom e carinhoso, mas ele não entendia nada de sexualidade feminina", diz a neta de Freud, Sophie, hoje com 82 anos. Ela emigrou para os Estados Unidos em 1942 e se tornou assistente social.

Freud também foi ambivalente a respeito da homossexualidade: ainda que alguns acadêmicos digam que ele classificava esse comportamento como uma perversão, Freud uma vez afirmou que os homossexuais "certamente não têm nenhuma vantagem, mas também nada do que se envergonhar".

Um judeu de nascimento, mas um ateu por convicção, Freud nasceu no que hoje é a República Checa, no antigo Império Austro-Húngaro, em 6 de maio de 1856. Ele passou a maior parte de sua vida em Viena, mas escapou da perseguição nazista em 1938, indo para a Inglaterra, onde morreu de câncer em 23 de setembro de 1939.

Seu amor por charutos era seu ponto fraco. No que pode ser um exemplo macabro de sua própria teoria sobre fixação oral, diz-se que ele fumava uma caixa inteira por dia, mesmo depois de um tumor maligno ter sido removido de sua mandíbula.

Fonte: Terra

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