Ruy Barbosa
   


Ruy Barbosa

Rui Barbosa, que os biógrafos admiram ou atacam

Nome literário: BARBOSA, RUY
Nome completo: OLIVEIRA, RUY BARBOSA DE
Nascimento: 05 de novembro de 1849, Salvador, Bahia
Falecimento: 01 de março de 1923, em Petrópolis, Rio de Janeiro -
CECÍLIA PRADA

De todos os vultos da história brasileira, Rui Barbosa, jurista, diplomata, jornalista, escritor, e sobretudo político e grande orador, é certamente um dos mais controvertidos, talvez o mais difícil de ser avaliado, 76 anos após sua morte e quando se comemora o sesquicentenário de seu nascimento. Tido durante vários decênios como figura de genialidade incontestada, mestre da língua, de espantosa erudição, "o homem mais inteligente do país", sua personalidade de tal modo misturou-se à aura de mito da nacionalidade, que é impossível separar o homem do político, e tarefa ingrata tentar, nos dias de hoje, mergulhar em sua obra e julgar o valor do muito que escreveu – e, principalmente, falou.

 

A extensa bibliografia a ele consagrada forma dois grupos antagônicos. De um lado biógrafos apaixonados – entre os quais se destaca Luiz Viana Filho. O historiador Américo Jacobina Lacombe considerava Rui "o maior líder do país, poliedro de luz e de devoção aos ideais". E Joaquim Nabuco louvava-o, dizendo que "levaria 20 anos a tirar o minério do seu talento, a endurecer e temperar o aço admirável do seu estilo". No entanto, numerosos são também os que o criticaram, desde o início do século. José Veríssimo não hesitou em excluí-lo da sua História da literatura. Agripino Grieco, Humberto de Campos, Lima Barreto, Roberto Lyra, Gilberto Amado, José Honório Rodrigues e Gilberto Freyre, entre muitos, castigaram o seu bizantinismo estilístico e o endeusamento da sua figura. Álvaro Moreyra disse, da sua oratória: "Essa mistura de classicismo e pernosticismo deleitava, impressionava, extasiava. Poucos compreendiam, muitos assistiam, todos aplaudiam".

Assim, atacado por alguns dos próprios colegas de Academia Brasileira de Letras – da qual foi presidente de 1908 a 1918 –, Rui soube defender-se, no discurso em que celebrava o seu jubileu: "Mas qual é, na minha existência, o ato de consagração às letras?... Não sei, de pronto, ou não me lembro. Tudo o mais é política, é administração, é direito, questões morais, questões sociais, projetos, reformas, organizações legislativas..."

Em 1964, o historiador Raimundo de Magalhães Junior lançou uma obra vigorosa, Rui, o homem e o mito, recolocando em exame toda a personalidade, o ideário, a carreira política e a atuação diplomática de Rui Barbosa. Trabalho iconoclasta, que provocou no país uma celeuma que só não foi maior porque outras preocupações, dramáticas e de cunho político, absorveram, nos anos 60, as energias de todos os segmentos intelectuais brasileiros.

Hoje, exageros e polêmicas findos, podemos talvez examinar com distanciamento e mais equilíbrio a figura de Rui, dentro de uma ótica que a relativize, compreendendo-a à luz das circunstâncias da sua época – um intelectual liberal, norteado por uma sede de justiça e liberdade, mas colhido nas contradições da sociedade da sua época. É o que faz o crítico literário Alfredo Bosi, quando diz: "Rui é todo o século 19... é um nome que testemunhou quase miticamente o modo de pensar das elites brasileiras que construíram a República".

Triste e enfermiço

Nascido em Salvador (Bahia) em 5 de novembro de 1849, Rui Barbosa foi, na infância e na adolescência, enfermiço, esquivo, extremamente tímido e calado. Seu pai, João José Barbosa de Oliveira, um médico que abandonou a carreira para tentar, sem sucesso, o jornalismo, a política e o empresariado, era de temperamento sonhador e instável. E incapaz de manter a família sem o auxílio da mulher, Maria Adélia, e de suas habilidades como doceira de qualidade. Rui nunca esqueceu a pobreza do início da vida, e parece ter guardado sempre um ressentimento, uma amargura, pelas dificuldades que teve de enfrentar.

Aos cinco anos sabia ler e escrever, e aprendeu, para grande admiração do mestre, análise gramatical, ordenação de frases e a conjugação de todos os verbos regulares. Era dotado de memória extraordinária e mostrava grande aptidão para línguas. Enquanto os outros meninos brincavam, o pequeno Rui empenhava-se nos estudos, buscando, legitimamente, adquirir os recursos para uma rápida ascensão social.

No curso de direito que iniciou em Recife, em 1866, e terminou em São Paulo, em 1870, foi contemporâneo de Castro Alves, Tobias Barreto, Afonso Pena. Segundo Luiz Viana Filho, Rui teria se sentido um tanto ofuscado pelos seus colegas poetas, pois "as musas não o favoreciam". Um poema de 1868, "Humanidade", em que tentava imitar seu grande ídolo, Victor Hugo, não foi bem recebido. A compensação veio-lhe através da oratória, no mesmo ano, pois ainda em São Paulo pronunciou, diante de José Bonifácio, um brilhante discurso que marcou o início de sua carreira política.

 

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