800
anos da vocação de Santa Clara de Assis (11/08/2012)
por: Frei Vitório Mazzuco Filho
Clara de Assis nasceu Chiara Ofreduccio Favarone,
em 1194, da nobre família assisiense dos Ofreducci,
rica, bela, fidalga e prometida como esposa para pretendente
de estirpe semelhante que pudesse aumentar os bens de seu
pai.
Em 1210, encontra-se com Francisco de Assis,
jovem, louco e santo que revoluciona Assis com a vivência
do Evangelho e com uma vida de total desapego, vivendo pobre
entre os pobres. Em 1211 está nítida a conversão
de Clara: aos 28 de março de 1212, no Domingo de Ramos,
recebe das mãos do bispo um ramo e lê isto como
um sinal da sua decisão e envio. Na madrugada do dia
seguinte, foge da casa da família e vai encontrar-se
com Francisco em Santa Maria dos Anjos.
É o que comemoramos, 1212-2012, a
Vocação de Clara de Assis. São 800 anos!
De jubileu em jubileu se evidencia a história encarnada
de um carisma. Clara de Assis é a expressão
mais cristalina de uma nobre mulher medieval: reclusa em seu
palácio, rica de qualidades, rica de bens materiais,
educada em bons costumes, foco de admiração
pelas virtudes, não passa despercebida pela sua beleza,
no aguardo de um bom dote para um bom casamento. Ela rompe
com tudo isto para viver o Evangelho. Isto é convocação
para existir no Amor Sagrado!
Havia em seu tempo mulheres que não
eram valorizadas como ela, mas todas sonhavam o melhor. Clara
projeta para a sua vida a perfeição cristã.
Século após século não podemos
nos furtar de retomar os modelos vivos de mulheres corajosas
como Joana D'Arc, Catarina de Siena, Hildegard de Bingen,
Brígida da Suécia, Ângela de Foligno,
Tereza D'Ávila. Mulheres que, assim como Clara, nos
mostram que uma coisa é inserir-se na vida das contemporâneas,
outra coisa é trilhar a desafiante senda da perfeição.
Muitas destas mulheres traçaram um
caminho: se não há felicidade na escolha afetiva
do prometido esposo, por que não buscar o Amado que
posso escolher na liberdade sagrada do coração?
Se não há realização na preconceituosa
sociedade de seu tempo, por que não buscar a Fraternidade?
Mulheres audaciosas e fortes nos mostraram a sublimação
da vida e não fracas escolhas. Não há
revolta, mas sim um seguimento apaixonado. Não há
um rompimento com a ilustre tradição familiar,
porém a opção por abraçar uma
família espiritual. Assim foi Clara de Assis. Mulher
de sonhos e projetos, renunciou a suntuosos palácios
e elegantes príncipes para refazer os passos de um
Pobre de Assis que mostrou o caminho do Evangelho. Ela nasceu
dentro de uma família de cavaleiros, buscadores de
títulos de nobreza e patrimônio, aprendeu com
eles a garra e a ousadia; mas direcionou esta força
para uma fortaleza espiritual que venceu as dificuldades e
provações da mais extrema renúncia e
pobreza. Com Francisco ela ajudou, saindo de uma casa, a reconstruir
outra casa: a da civilização cristã.
No silêncio orante do Mosteiro ouviu
o Mestre dos mestres e ouviu Francisco. Criou uma linguagem
própria e uma vocação original de amor
e cuidado. Não deu só presença encantada
no seguimento do Cristo Pobre; deu muito mais: sua riqueza
pessoal, sua saúde, sua vida. Depois da morte de Francisco
de Assis, por 27 anos, cuidou da herança que ele deixou
e da qual ela também era cooperadora. Viveu 42 anos
no Mosteiro de São Damião, junto com suas irmãs
Clarissas, de um modo tão transparente que há
oito séculos sua vida é inspiração
em todos os cantos da história. Fez do seu Mosteiro
um canteiro fecundo de novas sementes contemplativas de Irmãs,
oração, penitência, silêncio, austeridade
e acolhimento. Clara é um exemplo para o mundo mesmo
escondida do mundo. Assim como Francisco tornou-se realidade
e legenda. "A lenda cristã, diz Barbara Brígida,
não se preocupa com o lado humano só santo;
mas só se interessa pelo ouro finíssimo da divindade
que nele brilha". Como diz Joaquim Capela, OFM: "Na
verdade, Clara de Assis foi a glória do feminino. Veio
ao mundo para embelezar e enriquecer com os tesouros da sua
ternura e bondade (
). Como seu guia e pai, São
Francisco, abriu à humanidade novos caminhos de paz
e de ventura. A sua benigna sombra, tão humana e ao
mesmo tempo tão espiritual, paira ainda hoje na doce
terra da Úmbria, toda impregnada da lembrança
dos mais santos mais simpáticos do século XIII
e talvez de todos os tempos" ( in Santa Clara de Assis,
Editorial Franciscana , Braga, 1983).
Que alegria celebrar um jubileu desta Santa
tão brilhante que ilumina há séculos
nosso mundo e nosso caminho. Santa Clara, rogai por nós!
Texto
publicado no Almanaque Santo Antônio 2012, editado pela
Vozes, pág. 140
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