Prof. Dr. Octávio de Freitas
 

Comunicação é Poder
por: Arlete Embacher

MiniWeb Educação - Prof. Octávio, no seu artigo As Palavras, o Sr. inicia o seu artigo, com o seguinte destaque: “de vez em quando temos a desagradável sensação de falarmos com familiares, profissionais, conhecidos e desconhecidos e concluímos que não fomos entendidos. Outras vezes somos nós que não os compreendemos”. Acontece isso com todas as pessoas?

Resposta - Comunicar é o ato da transmissão do pensamento. Nós conhecemos ou pensamos em algo e pretendemos que esse algo que está no nosso pensamento seja entendido pelo nosso receptor, exatamente como foi pensado. Temos então que converter o nosso pensamento em uma mensagem fisicamente constituída, pois ninguém consegue transmitir ou receber diretamente de pensamento para pensamento. É necessário, então, que emissor e receptor tenham conhecimento do código da Língua Portuguesa. A língua portuguesa é o nome próprio que designa o código – língua - que falamos no Brasil e em mais outros seis países. É a mesma situação que a língua francesa, inglesa, chinesa, espanhola etc., têm em relação a seus falantes, também disseminados no mundo todo. Quanto maior for o número de indivíduos que não conhecem perfeitamente o código adotado pelo país onde vivem, eles deixam de usar a gramática formalmente constituída e deixam de usar as palavras com significados definidos pelos dicionários, para inventarem uma linguagem própria que chamamos de regionalismos e, em casos extremos, de gírias.

 

 

Cada receptor terá que conhecer perfeitamente o código usado pelo emissor para poder pegar a mensagem fisicamente constituída, para a traduzir para o pensamento dele, num sentido inverso à primeira colocação. Desta forma, percebe-se que, ao falarmos com pessoas, e se elas não nos entendem, ou nós não as entendemos, é porque ou o emissor ou o receptor usaram códigos diferentes entre si para conhecerem o pensamento do outro. Em casos extremos, é o que acontece quando alguém fala uma língua estrangeira e nada entendemos. Para falantes da mesma língua, basta usar impropriamente a gramática, ou atribuir às palavras significados diferentes aos estipulados na língua portuguesa para estabelecer-se a confusão. Quer um exemplo? Basta ver quando um jovem carioca fala gíria e cumprimenta outro, dizendo: E aí? sangue bom? Uma frase sem verbo cuja tradução jovens paulistas dizem: Tudo em riba?

MiniWeb Educação: Mas a sua explicação versou sobre comunicação inter pessoal, e a comunicação didática? Por exemplo, por que alguns professores não conseguem comunicar plenamente os conhecimentos da matéria a seus alunos; e outros, sim?

Resposta - O maior problema dos professores, em todos os níveis, é que alunos trazem diferentes culturas familiares para os bancos das salas de aula. É certo que professores tentam, ou pelo menos, a maioria tenta aumentar a cultura de seus alunos dando-lhes informações completas sobre os temas propostos e sugerindo-lhes leituras. Todos os alunos, no ensino médio e superior, sabem ler um artigo ou uma apostilha, mas uns a entendem; e outros, não. Nesses casos, a culpa não é tanto do professor, mas familiar, pois se alguns alunos estão habituados a ler jornal e revistas diariamente e outros só pegam no jornal para procurar emprego, isso acaba por se refletir no decorrer do entendimento da aula e muitos alunos não entendem o que os professores falam. Também podemos considerar que há professores que não têm didática. Esse é um tema interessante, pois existem normas para se aplicar didática, mas, basicamente, é a personalidade do professor que influirá de forma decisiva nesse processo de transmissão de conhecimento. Agora, se o professor não detiver o pleno conhecimento da matéria, fica um horror, pois inventa, trapaceia ao promover alunos para que não reclamem. Alunos continuam nesses casos não entendendo nada da matéria, provavelmente, supondo que afinal alguém os reconhece como bons estudantes. Esse é um flagrante caso de polícia, pois são as próprias normas do município e do estado que, para apresentarem melhores estatísticas, sem reprovação de alunos, levam professores a passar de ano alunos desinteressados, relapsos e até mentalmente incapazes.

MiniWeb Educação - Por que um professor é melhor que outro professor, mantendo uma classe empolgada, atenta, na expectativa, e outros, não? É o caso do professor cientista?

É um assunto bem polêmico. Eu diria que é a reunião do conhecimento da matéria, da cultura geral e da personalidade do professor. Professor que prende a atenção de seus alunos, acima de tudo, é um bom ator.

MiniWeb Educação - Um professor é um ator?

Os melhores professores são ótimos atores. O professor ator sabe usar a entonação, a gesticulação, a postura corporal e a dramaticidade para enfatizar conceitos e transmitir informações. O professor entra na aula e assume um comportamento – papel de professor - e só pela postura assumida já é um ator. Todos os indivíduos têm centenas, se não milhares de comportamentos-papéis ao longo de um único dia. Um aluno, em sala de aula, tem um comportamento de aluno. Quando sorri para a garota, ele assume outro comportamento, bem como quando bebe um refrigerante ou cumprimenta um colega ou fala com o professor, com o pai, mãe etc. Qualquer indivíduo tem comportamentos-papéis diferenciados ao assumir uma representação: uma duplicidade, por representar um papel com uma comunicação adequada ao papel desempenhado. Um professor só é um professor em sala de aula porque assume a postura de professor e se comunica como um professor. Assim, quer queira ou não, um indivíduo para ser professor terá que representar e falar um professor em sala de aula - primeiro caminho para ser ator.

MiniWeb Educação - A sua Tese de doutorado versou Publicidade e Propaganda. Encontrou uma fórmula ou técnica vencedora para fazer publicidade?

Não existem técnicas prontas para fazer uma publicidade vencedora. Existem normas que, conjugadas em um anúncio, permitem prever-se um determinado êxito. O que um anúncio deve oferecer é a possibilidade do público-alvo criar um mito ajustado ao produto, marca ou serviço oferecido. Os mitos são formados pela palavra falada, cantada e escrita, mais os símbolos e imagens, numa plena conjugação com um tema para formar o mito que interessa ao publicitário desenvolver. Um dos problemas que muitos publicitários não querem atentar, porque seus anúncios ficam muito bonitinhos, é quando colocam um modelo para ilustrar o anúncio e o desnudam e exageram nos apelos eróticos. Essa é uma forma do publicitário facilitar a criação do mito sexual no público-alvo, sem aliar ou criar um mito para o produto, marca ou serviço. Todos nós conhecemos publicidades lindas, engraçadas e até profundas, que nos fazem lembrar do personagem ou da ação dos personagens, sem nos lembrarmos que produto, marca ou serviço o anúncio se referia.

MiniWeb Educação - Publicidade e Propaganda são a mesma coisa?

Não. Ambas trabalham com ferramentas iguais, mas diferentes nas guerras que travam. A propaganda ensina sem muita responsabilidade com o tempo que gasta e também usa o indivíduo para alcançar a família, a comunidade o grupo ou a sociedade, e trata da disseminação de idéias – políticas, sociais, filosóficas - e até mesmo as do indivíduo. Já a publicidade tem objetivos de venda ou escoamento de produtos, marcas ou serviços, de uma maneira rápida e imediata. A publicidade usa da persuasão conativa e intimidativa, não se preocupa com o ensino e usa a sociedade, a comunidade e o grupo e a família para alcançar o indivíduo.

MiniWeb Educação - Como é o perfil do atual professor universitário?

Podemos dizer que o perfil do professor universitário está mudando. Não é mais aquele tipo de professor fechado em si mesmo, olhando para o seu intelecto pensando que é o centro do mundo. Os professores observam que o mundo está em mudança constante. A modernidade apressa as mudanças e o ensino não está fora dos efeitos da globalização e, principalmente, porque a juventude, hoje, busca um bom aprimoramento profissional. Os pais e avós de nossos alunos provavelmente tiravam um curso de nível superior para prestígio da família ou da empresa onde trabalhavam. Hoje, não é mais assim. Os professores têm que observar que alunos matriculam-se em um curso de nível superior para serem habilitados profissionalmente. O diferencial para ser o melhor profissional, não é o aluno em si, mas a Escola que os ensina. É responsabilidade do coordenador exercer o diferencial em seus professores para que eles possam apresentar melhores ensinamentos a seus alunos. Se assim não for, e como acontece por aí, o aluno será um Office-boy formado com nível superior, trabalhando ao lado de profissionais com o mesmo diploma que ele tem.

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