A ameaça do terrorismo |
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Novas
modalidades de terrorismo
Os atentados contra o World Trade Center
e o Pentágono mostraram que o terrorismo
adotou novas modalidades não consideradas
pelos especialistas: aviões de passageiros
que antes eram alvos de ações de terroristas
foram convertidos em armas de ataque.
Desde o fim da guerra fria, especialistas
advertiram com certa regularidade sobre
as ameaças que poderiam surgir no cenário
internacional, entre elas o terrorismo
por parte de grupos ou países mergulhados
em conflitos internos ou guerras civis,
como ocorre atualmente no Afeganistão.
Alguns acadêmicos levantaram, inclusive,
que "sentiríamos saudade" da ordem da
era bipolar.
Na edição de novembro/dezembro de 1998
da revista americana Foreign Affairs
- especializada em política e economia
internacional - Ashton Carter, John Deutch
e Philip Zelikow (*) escreveram que “se
o artefato que explodiu em 1993 no World
Trade Center tivesse sido nuclear ou dispersado
eficazmente um agente letal, o horror
e o caos resultantes teriam excedido nossa
capacidade para descrevê-los”. Com relação
aos atentados contra as embaixadas americanas
no Quênia e na Tanzânia, no verão de 1998,
os três especialistas afirmaram: "Tal
ato catastrófico de terrorismo foi um
divisor de águas na história americana.
Implicou a perda, sem precedentes em tempos
de paz, de vidas humanas e de bens e abalou
a sólida sensação de segurança dos Estados
Unidos, tal qual ocorrera no passado com
a explosão da bomba atômica soviética
em 1949. Como Pearl Harbor, este acontecimento
dividiria o passado e o futuro em antes
e depois." Sem que fosse necessário recorrer
a armas apocalípticas, os Estados Unidos
já sofreram esse atentado descomunal.
Entretanto, justamente pelo que ocorreu
em Nova York e em Washington D.C., as
advertências em torno de eventuais ataques
terroristas com armas nucleares, químicas
ou biológicas merecem maior atenção. É
o que os especialistas chamam de "terrorismo
catastrófico" e que até agora só havia
sido descrito na ficção.
O relatório Countering the Changing
Threat of International Terrorism ("Neutralizando
a ameaça cambiante do terrorismo internacional"),
da Comissão Nacional sobre Terrorismo
dos Estados Unidos, divulgado em 2 de
agosto de 2000, advertia que "qualquer
ataque terrorista que utilize um agente
biológico, elementos químicos mortais
ou materiais radioativos ou nucleares,
ainda que só tenha êxito parcial, poderia
afetar profundamente a nação inteira."
Para alguns especialistas, esse "superterrorismo"
é possível e se até agora não foi praticado
é porque um mínimo de razão deve haver
na mentalidade terrorista, numa hipótese
otimista, ou porque os terroristas ainda
não têm como realizar tal ataque de proporções
apocalípticas. Mesmo assim, antes dos
atentados ao World Trade Center e ao Pentágono
já havia ocorrido um ataque terrorista
que, ao que tudo indica, fora concebido
com o propósito de causar danos a milhares
de pessoas: a disseminação do gás sarin
no metrô de Tóquio, por parte de um comando
da seita japonesa Verdade Suprema, em
março 1995, que acabou provocando a morte
de dez pessoas e intoxicou outras cinco
mil. Esses especialistas citam as palavras
do ex-secretário de Defesa dos Estados
Unidos William Cohen sobre a possibilidade
de um ataque terrorista em grande escala:
"A pergunta não é se, mas quando isso
acontecerá."
Estratégias antiterroristas futuras
O que fazer agora para enfrentar o desafio
imposto pelo novo terror? Como se preparar
para travar um combate com um inimigo
sem rosto? Segundo um relatório lançado
em 2000 pelo órgão governamental que coordena
as ações antiterror nos Estados Unidos,
o terrorismo está ficando cada vez mais
perigoso, pois, além de eventuais ataques
com armas químicas, biológicas, radioativas
ou nucleares, poderiam ocorrer ataques
cibernéticos.
Com relação a essa última modalidade,
John Deutch, professor do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts, usou o termo
"ciberterror" em um artigo publicado na
Foreign Policy, no outono de 1997.
Deutch ressaltou que "tecnicamente é fácil
penetrar nos sistemas de telecomunicações
e de computação de países e de organizações
privadas e introduzir vírus que levem
ao colapso os sistemas de computadores
ou coloquem esses sistemas sob o controle
de intrusos. Tais ciberterroristas poderiam
não só desviar eletronicamente fundos
bancários, como criar danos ao tráfego
aéreo de um país ou nos sistemas que controlam
as usinas de energia".
Nem todos os grupos terroristas são iguais,
mas, segundo o Departamento de Estado,
os grupos mais perigosos para os Estados
Unidos compartilham algumas características:
operam dentro e fora dos Estados Unidos;
suas redes financeiras e logísticas cruzam
fronteiras; são menos dependentes de países
que os patrocinam; são mais difíceis de
desarticular com sanções econômicas; utilizam
amplamente as tecnologias disponíveis
para comunicar-se rápida e seguramente;
têm objetivos mais mortíferos.
Seguindo o postulado de que a melhor arma
contra o terrorismo internacional é executar
com eficiência a coleta e análise de informações,
o órgão governamental que coordena as
ações antiterror nos Estados Unidos definiu
quatro princípios básicos para a cooperação
antiterrorista internacional: 1) não fazer
concessões aos terroristas e não aceitar
acordos; 2) submeter os terroristas à
justiça por seus crimes; 3) isolar e exercer
pressões contra os Estados que patrocinam
o terrorismo e obrigá-los a mudar sua
conduta; 4) reforçar a capacidade antiterrorista
de alguns países que colaboram com os
Estados Unidos e requeiram assistência.
Combater o terrorismo "exigirá novos mecanismos
de cooperação - tanto nacionais como internacionais",
afirma Deutch, que admite que ações eficazes,
sejam defensivas ou ofensivas, inevitavelmente
implicarão alguma perda das liberdades
civis, num quadro em que a população terá
que se mostrar disposta a submeter-se
a controles aéreos mais restritos ou tolerar
medidas de vigilância.
Ashton Carter, John Deutch e Philip Zelikow
alertam, porém, no referido artigo da
Foreign Affairs que "medidas draconianas,
autorizando a espionagem dos cidadãos,
a prisão dos suspeitos e o uso de forças
mortais", na luta antiterrorista pode
ter um efeito negativo. Isso porque, o
reforço das medidas de segurança e vigilância,
como conseqüência dos atos terroristas,
ameaçaria as liberdades civis. Nesse sentido,
a maior vitória terrorista seria atingir
um sistema de liberdade que desprezam.
Não se deve esquecer que o terrorismo
também é doméstico, ou seja, pode estar
vinculado a grupos que atuam dentro de
suas próprias fronteiras. Antes do ataque
ao World Trade Center e ao Pentágono,
o maior atentado terrorista contra os
Estados Unidos em seu território foi cometido
em Oklahoma, no dia 19 de abril de 1995,
por Timothy McVeight, um cidadão americano
vinculado a grupos de supremacia branca.
Este ataque provocou a morte de 168 americanos.
Também é preciso ter em mente que no combate
ao terrorismo deve evitar-se qualquer
ação discriminatória contra grupos étnicos
ou nacionalidades às quais os grupos terroristas
dizem representar. Como afirmam os especialistas
no assunto, na realidade, os terroristas
são membros de organizações minoritárias,
que operam na clandestinidade, alheios
aos interesses das sociedades onde se
inserem. Lutar contra o terrorismo internacional
supõe uma cooperação internacional em
todos os níveis.
Outubro de 2001
(*)Na
época em que escreveram o artigo, os autores
exerciam os seguintes cargos:
Ashton Carter - professor de ciência
e assuntos internacionais da Escola John
F. Kennedy da Universidade de Harvard
e ex-secretário assistente do secretário
de Defesa.
John Deutch - professor de química
no Instituto de Tecnologia de Massachusetts,
ex-diretor da CIA e subsecretário de Defesa.
Philip Zelikow - ex-membro do Conselho
de Segurança Nacional, professor de história
e diretor do Miller Center of Public Affairs
da Universidade de Virgínia.
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