Flora Brasiliensis
 

Flora Brasiliensis na Internet
Heitor Shimizu
Agência FAPESP

Flora Brasileira

Exatos cem anos após a publicação do último volume da “Flora Brasiliensis” de Carl F. P. von Martius, ela se tornará mais acessível aos cientistas e ao público em geral por meio da Internet. Esse é o resultado do projeto “Flora Brasiliensis On-Line” a ser lançado oficialmente no dia 22/3/06 em Curitiba durante a Oitava Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8).
O projeto “Flora Brasiliensis on-line” – que fora apresentado no Brasil em Setembro de 2003 – propõe a digitalização da monumental obra do cientista alemão Carl F. P. von Martius, editada na Alemanha entre 1840 e 1906. Além do desafio tecnológico de produzir imagens em alta resolução e disponibilizá-las de maneira eficiente, existiu o desafio científico da atualização da nomenclatura das espécies e o desenvolvimento de um sistema que permitisse a utilização da obra por diferentes usuários (incluindo historiadores, educadores e botânicos).

 

Estando digitalizada e disponibilizada de forma integrada na Internet, essa informação servirá de ponto de partida para o desenvolvimento de uma nova “Flora do Brasil” e de referencial para a atual botânica brasileira.
A digitalização das imagens para o site foi feita pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos. Em alta resolução e com grande riqueza de detalhes, os desenhos poderão ser consultados pelo nome científico de cada espécie, pelo volume ou pela página da obra impressa.
O desenvolvimento e gerenciamento do grande banco de dados reunido pelo “Flora Brasiliensis On-Line” está sob a responsabilidade do “Centro de Referência em Informação Ambiental” (CRIA). Um banco de imagens de plantas vivas no campo e de amostras existentes em herbários, associadas às imagens das pranchas digitalizadas, está em andamento. O endereço do “Flora Brasiliensis On-Line” é http://florabrasiliensis.cria.org.br.
O médico e botânico alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) chegou ao Brasil com a “Missão Austríaca”, desembarcou em 15 de Julho de 1817 no porto do Rio de Janeiro e acompanhava a Arquiduquesa Leopoldina, que chegaria em Novembro para se casar com o então príncipe D. Pedro. Com o grupo, que incluiu zoólogos, desenhistas e pintores, o von Martius percorreu, durante três anos, 10 mil quilômetros ao longo do País. Nessa expedição, ele registrou suas observações e recolheu mais de 20 mil espécies de plantas em quatro principais ambientes naturais brasileiros: Cerrado, Caatinga e as florestas Atlântica e Amazônica.
A viagem exploratória marcou o cientista de tal forma que, nos anos seguintes, passou a se dedicar ostensivamente ao estudo da flora brasileira. A partir de 1840, com uma equipe de 65 especialistas em botânica, iniciou o trabalho de organização das informações e de publicação de sua obra de maior fôlego, intitulada “Flora Brasiliensis”.
O roteiro da viagem começou nas imediações da Corte do Rio de Janeiro. Em seguida, continuou para São Paulo e Minas Gerais. A expedição cruzou a Bahia, seguindo depois para os Estados de Pernambuco, Piauí e Maranhão.
De navio, rumou para Belém, no Pará, e subiu o Rio Amazonas até o Solimões. Dali, o zoólogo Johann Baptiste von Spix (1781-1826) continuou pelo Amazonas até os limites do Peru, enquanto von Martius seguiu pelo Rio Japurá até a fronteira com a Colômbia. Os dois se reencontraram e continuaram a viagem pelo Rio Madeira.
De volta à Europa, von Martius foi no-meado curador do Jardim Botânico e professor da Universidade de Munique, presenteou o herbário de Munique com 6.500 dessas amostras e publicou, com von Spix, os três volumes de “Viagens ao Brasil”.
Ainda hoje, esse é o mais completo e abrangente levantamento da flora nacional. Ali estão descritas 22.767 espécies de plantas – 19.629 brasileiras e 5.689 novas para a ciência na época, com texto integralmente em latim – que representaram o conjunto das plantas conhecidas até meados do Século 19. Na obra também estão 3.811 desenhos de plantas, flores, frutos e sementes.
Ainda que a estimativa atual da diversidade de plantas brasileiras seja de 50 mil espécies, a “Flora Brasiliensis” continua sendo uma referência indispensável para os biólogos. Ela permanece até os nossos dias como o único e mais completo levantamento da flora brasileira, sendo utilizado para identificação de plantas e como referência para estudos de botânica não só no Brasil, mas também em outros países da América do Sul.
“A importância da ‘Flora Brasiliensis’ pode ser medida pelo reconhecimento histórico e internacional. Os milhares de gêneros e espécies botânicos, disponibilizados agora em meio eletrônico, permitirão acesso amplo de estudiosos, interessados e da sociedade em geral à riqueza científica e cultural da obra máxima de von Martius”, destacou Carlos Vogt, Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a principal instituição a financiar o projeto “Flora Brasiliensis on-line”.
Outra etapa prevista pelo projeto é o desenvolvimento de um catálogo atualizado com os nomes das espécies brasileiras. Por enquanto, um estudo piloto está sendo feito para a atualização da nomenclatura de um número limitado de famílias, coordenado pelo botânico George Shepherd, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). “Os taxonomistas, que descrevem e classificam organismos, dependem de obras históricas, restritas a bibliotecas e herbários no exterior. O site faz parte de um trabalho de integração de dados de muitos países, num esforço para renovar a taxonomia, derrubando barreiras que impedem o desenvolvimento da área”, afirma Shepherd. “O ‘Flora Brasiliensis On-Line’ é o primeiro passo de um longo processo para elaborar uma lista atualizada e completa das plantas que existem no Brasil”, diz o biólogo. Segundo Shepherd, apenas o trabalho de atualização das nomenclaturas contidas na obra de von Martius levará cerca de cinco anos.
“O projeto conecta um dos maiores trabalhos sobre biodiversidade jamais produzidos com um dos principais programas mundiais de pesquisa em biodiversidade – o Biota/FAPESP –, ao mesmo tempo em que oferece ao público os resultados da obra original”, diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
Na opinião de Vanderlei Canhos, Diretor-Presidente do CRIA, o trabalho de von Martius foi um exemplo de cooperação internacional no Século 19. “No Século 21, o ‘Flora Brasiliensis On-Line’ retoma e atualiza esse tipo de colaboração, em alto nível e larga escala, usando tecnologias de compartilhamento de dados”, afirma.
Para Canhos, os avanços em informática permitiram a montagem não apenas de um site, mas de um ambiente colaborativo que será usado por pesquisadores de diversos países para avançar no conhecimento da diversidade vegetal brasileira. Shepherd concorda e afirma que o projeto não é importante apenas para que o Brasil conheça melhor a sua biodiversidade, mas para que os países vizinhos façam o mesmo. “Plantas não conhecem fronteiras”, diz o pesquisador.
“Flora Brasiliensis” é uma coleção rara e de peso, com 15 volumes constituídos por 40 partes com 130 fascículos. Soma 20.773 colunas de texto e 3.811 pranchas, das quais 1.071 são litografias, com a descrição das espécies que representam o conjunto de plantas brasileiras conhecidas até meados do Século 19.
Patrocinada por Ferdinando I, Imperador da Áustria; Ludovico I, Rei da Baviera e pelo Imperador do Brasil, Dom Pedro I, a obra teve seu primeiro volume publicado em 1840 e o último em 1906, muitos anos após a morte do autor, em 1868.
O botânico Von Martius contou com a colaboração dos editores August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban e de outros 65 especialistas de vários países.
O projeto “Flora Brasiliensis On-Line” foi apresentado originalmente no Brasil em Setembro de 2003 à Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha; uma vez analisado pelo Ministério da Cultura, recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Natura Cosméticos e Vitae Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social.

USP cria cátedra von Martius

A reitora da Universidade de São Paulo (USP), Suely Vilela, e o Secretário-Geral do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), Christian Bode, firmaram o convênio de criação da Cátedra Von Martius de Estudos Alemães e Europeus. É a primeira do gênero em uma universidade brasileira. A assinatura foi feita n o dia 8/3/06, no auditório da Casa de Cultura Japonesa, na Cidade Universitária, em São Paulo. Segundo a USP, ministrada por professores visitantes alemães, a cátedra oferecerá a estudantes, principalmente de pós-graduação, e a pesquisadores a oportunidade de aprofundar conhecimentos em política, economia, cultura e história alemã e européia, além de abrir caminho para um futuro centro de estudos europeus.

Conheça o Projeto: Flora Brasilensis |

Fonte: Revista Eco - 21 - Edição 112

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