Ossos
que entortam
A
artrite reumatóide, uma doença que deforma e causa
dores terríveis, continua a desafiar os médicos. Mas
há boas novidades nessa batalha. (Paula
Neiva )
Não
há doença reumática tão devastadora quanto a artrite
reumatóide. Ela surge quando o sistema imunológico
da pessoa passa a encarar as células das articulações
como inimigas e deflagra um ataque contra elas. A
investida desencadeia uma inflamação. Deixado a seu
próprio curso, esse processo inflamatório destrói
a cartilagem entre as articulações e danifica os ossos
que estão próximos. O resultado são dores terríveis
e deformações, principalmente nas mãos, punhos, joelhos,
tornozelos e pés. Calcula-se que haja quase 2 milhões
de doentes só no Brasil. A ciência ainda não conseguiu
desvendar por completo os mecanismos da artrite reumatóide,
mas tem obtido sucesso no desenvolvimento de drogas
capazes de conter o seu avanço. A mais nova arma desse
arsenal acaba de receber o aval do FDA, a agência
americana de controle de remédios e alimentos, e deve
chegar ao Brasil até o fim do ano. Trata-se do Humira,
do laboratório Abbott.
O
medicamento recém-aprovado pertence a uma classe de
drogas lançada há menos de cinco anos. Além do Humira,
fazem parte desse grupo o Enbrel, fabricado pelo Wyeth,
e o Remicade, da Schering-Plough. Os três remédios
inibem a ação da proteína TNF, responsável pela destruição
das articulações. O Humira, contudo, tem duas diferenças
em relação a esses antecessores. Em vez de ser composto
de anticorpos de origem animal ou sintética, ele é
feito de anticorpos idênticos aos humanos. Com isso,
acreditam os especialistas, diminuem-se os riscos
de rejeição e alergias. Além disso, o Humira é administrado
pelo próprio paciente, sob a forma de injeções subcutâneas,
duas vezes por mês. O Enbrel exige picadas a cada
dois dias. Já o Remicade, o único disponível no Brasil,
requer aplicação endovenosa, feita em hospital, de
dois em dois meses. Como não há estudos comparativos
entre os três medicamentos, é impossível relacionar
a eficácia de um com a de outro. Pesquisas isoladas
mostram que essa nova classe de medicamentos consegue
evitar em até 80% dos casos os danos nas articulações.
Um grande inconveniente é o preço do tratamento. Uma
única aplicação de Remicade pode custar mais de 5.000
reais.
A
artrite reumatóide ataca principalmente entre os 35
e os 55 anos. Para cada homem doente, há três mulheres
na mesma situação. No início da doença, o paciente
é acometido de fadiga, dores musculares, inchaço e
rigidez leve em algumas articulações. "Como as queixas
são vagas, o diagnóstico nessa fase é difícil. Por
isso, muitas pessoas só descobrem que têm a doença
quando ela está em estágios mais avançados", diz a
reumatologista Evelin Goldenberg, professora da Universidade
Federal de São Paulo. Se o diagnóstico for precoce,
é razoável a chance de retardar a progressão dos danos
nas articulações, por meio de remédios mais baratos
do que os da classe do Humira.
Raio X da doença
No Brasil, cerca de 2 milhões
de pessoas sofrem de artrite reumatóide
A doença se manifesta, sobretudo,
entre os 35 e os 55 anos
Para 1 homem doente, há
3 mulheres na mesma situação
A nova classe de drogas contra
o mal evita em até 80% dos casos os danos
nas articulações que caracterizam a doença
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Fonte:
Veja Online