Profa. Dra. Lenise Garcia |
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MiniWeb Educação - Como a equipe técnica administrativa e os professores devem trabalhar os temas transversais no currículo da Escola?
Resposta - Eu diria que em primeiro lugar com coerência. As próprias relações humanas que se estabelecem no ambiente escolar, entre alunos, professores, funcionários e pais podem ensinar muito nessa temática. Seria inútil, inclusive, abordá-la teoricamente sem um reflexo prático nas atitudes das pessoas.
Depois, são necessários estudo e planejamento. Sabemos como infelizmente é frequente que aquilo que é "de todos" acabe por ser considerado "de ninguém".
Muitas escolas estão abrindo "espaços", "momentos" para tratar os temas transversais, com palestras, "Semanas do Meio Ambiente" e correlatos. Sem dúvida já é um avanço, se considerarmos que essas questões muitas vezes encontravam-se ausentes. Mas essas atividades perdem muito da sua eficácia se não estiverem presentes ao longo do ano, em reflexões e atitudes permanentes.
A
pergunta fez referência ao currículo. Os temas transversais
devem estar presentes de modo "curricular" e não "extra-curricular"
- o que não quer dizer que precisem ser aprisionados
nas chamadas "grades curriculares". Pelo contrário,
considero o tratamento concreto dos temas transversais
um excelente modo de superarmos essas grades, dando
um enfoque diferente a toda a aprendizagem.
MiniWeb Educação - Dra. Lenise, todos concordamos com a visão mais moderna e a flexibilidade proporcionada pelos PCN de 1997 quanto ao currículo, deixando com isso um espaço para a criatividade do professor para a elaboração de suas aulas. Perguntamos: Qual deve ser o papel da Direção Escolar e da Coordenação Pedagógica de escola pública, diante do professor ainda resistente e acostumado a utilizar planos anteriores já prontos, ou do professor que pouco tempo tem para desenvolver com criatividade suas aulas devido à sobrecarga de trabalho em várias Escolas pela sua necessidade econômica?
Resposta: A Direção Escolar e a Coordenação Pedagógica tem um papel fundamental. Com frequencia elas é que são as mais resistentes, não abrindo espaço para professores ou alunos que tragam propostas inovadoras.
Não é fácil mudar aquilo que está estabelecido, mesmo que seja por uma prática sem qualquer fundamentação. Todos nós temos resistências. Também não se trata de querer mudar tudo, como se nada do anterior prestasse.
O fato é que todos gostamos de liberdade, mas não da responsabilidade e do trabalho que a liberdade traz consigo. Quando se tenta o novo, também é preciso ter em conta que se correm riscos. Penso que muitas vezes o medo de errar é um dos fatores preponderantes para não se ousar, mais do que o comodismo de usar planos prontos. Mas os professores sabemos, mais do que ninguém, que o erro é algo inerente à aprendizagem.
Tanto a criatividade como a ousadia ficam facilitadas quando se faz um trabalho coletivo. Nesse sentido, a Direção Escolar e a Coordenação Pedagógica podem ajudar muito, facilitando a integração das pessoas e os momentos concretos de planejamento.
MiniWeb Educação - Os educadores compromissados com o Ensino de qualidade, muitas vezes se frustram quando se deparam com as situações reais de nossas escolas, onde alunos não compromissados com o aprendizado ou , o colega ainda resistentes a um trabalho participativo e colaborativo, dificultam ou impossibilitam qualquer mudança de atividade no Ensino. Como deve agir ou atuar o professor nessa situação?
MiniWeb Educação: Dra Lenise, por favor, fale para os Internautas da MiniWeb Educação sobre o trabalho que a Sra. desenvolve na UnB, sobre o "Espaço para o diálogo entre a Universidade e o Ensino Básico".
O bom na Educação é que não perdemos aquilo que damos. Pelo contrário, o partilhar enriquece a todos. Foi neste espírito que propus há alguns anos um programa continuado de Extensão que deu origem ao site "Educação e Ciência on-line". Trabalham nele alguns alunos da UnB, como bolsistas ou voluntários, sob minha coordenação. Estamos abertos a outras participações e contribuições, que serão muito bem-vindas.
Os alunos produzem alguns textos sobre questões de atualidade, com os conhecimentos que adquirem na Universidade e fazendo novas pesquisas. Trabalham também na seleção de links e eventos. Ainda temos um funcionamento bastante artesanal, mas estamos progredindo.
Na seção de Genética, os alunos da UnB vem ajudando apenas na formatação para a Web. O trabalho foi todo produzido por estudantes do Ensino Médio, com uma capacidade de compreensão e aprofundamento que bastante me surpreendeu, embora eu sempre tenha acreditado nas possibilidades dos jovens quando lhes damos a oportunidade de se desenvolverem.
As novas tecnologias proporcionam-nos excelente oportunidade de rever não apenas as metodologias e modalidades como alguns objetivos da Educação. A informação está hoje muito disponível. Os estudantes - tanto no nível Básico como no Superior - precisam desenvolver as competências necessárias para encontrar a informação, selecioná-la, analisá-la, tirar as suas próprias conclusões, compartilhá-la. Estou aprendendo algumas dessas coisas juntamente com eles.
Entrevista com Dra. Lenise Aparecida Martins Garcia - Departamento de Biologia Celular - Universidade de Brasília - Coordenadora do projeto "Um espaço para o diálogo entre a Universidade e o Ensino Básico" - Site Educação e Ciência On-line.