Profa. Adilles C. Branco
 

EAD na atualidade brasileira
por: Arlete Embacher

MiniWeb Educação - Profa. Adylles, qual é a sensação de ser autora de um dos capítulos do livro Educação online organizado por Marco Silva. Livro que reúne 54 autores brasileiros em 37 capítulos e que fornece contribuições ao debate encontrando na educação online o mais novo caminho na direção da educação cidadã?

Resposta - Foi, e está sendo, uma sensação muito agradável por dois motivos: primeiro por, não estando ligada diretamente a nenhuma instituição educacional, poder, sob o comando do professor Marcos Silva, participar de uma coletânea de textos produzidos por nomes tão interessantes e reconhecidos como os que compõem o livro. Em segundo lugar, por poder escrever e levar a um número grande de pessoas reflexões que considero importantes sobre aquilo que faço e gosto, que é a educação a distância.

MiniWeb Educação - Em seu artigo sobre a portaria nº 2.253/2001, a Sra. afirma que essa portaria estimula a ampliação de uma nova maneira de se fazer educação. Qual seria essa nova maneira? Qual o grande desafio dessa portaria para o ensino superior? E como fica o professor nesse contexto?

 

 

Resposta - No meu texto, mais do que uma análise de um instrumento jurídico, tento mostrar as possibilidades que a Portaria nº 2.253/2001 traz para o mundo educacional e acadêmico como um todo. A educação a distância é algo que veio para ficar e que precisa ser incorporado ao dia-a-dia de professores e pesquisadores, principalmente do ensino superior. Não há como desconhecer suas possibilidades num País como o Brasil, tão necessitado de informação, formação e educação. Durante muito tempo, a universidade usou a desculpa da ausência de uma legislação adequada para que a educação a distância fosse adotada de uma maneira sistemática nos diversos cursos de diferentes Faculdades. Com isto, não se criava no mundo acadêmico uma cultura favorável a um trabalho não presencial. Com a Portaria e, esperamos, com as novas legislações que estão chegando, criou-se nas Universidades a necessidade de se discutir EAD e, principalmente, de se formar pessoas para trabalharem com esta modalidade de educação e que, por conseqüência, possibilitarão aos alunos de cursos superiores uma vivência de um trabalho a distância. Deste modo, estaremos criando uma cultura mais favorável a EAD e, ao mesmo tempo, interlocutores inteligentes para questionar e exigir instrumentos jurídicos mais adequados e que favoreçam um trabalho de qualidade com a educação a distância. Para mim, quem mais saiu ganhando com a Portaria foi o professor que terá uma nova forma de desenvolver seu trabalho. Afinal, não dá para que os professores fiquem "vendo a banda passar" por muito tempo mais. A sociedade e, dentro dela, as empresas precisam da educação a distância e a Universidade precisa se adequar para atender a estas necessidades.

MiniWeb Educação - Profa. Adylles, no seu artigo publicado no boletim informativo da USP, V.7 - n.2 - abr./jun. 1999 - ISSN 1516-8905, enquanto coordenadora do Curso Técnico em Biblioteca do Centro de Tecnologia e Gestão Educacional, do SENAC-SP, a Sra analisa a questão da educação técnica como sendo um ponto extremamente interessante dentro da história da educação do Brasil, e que a eterna dicotomia existente entre curso técnico e curso superior e, logicamente, entre egressos de um e outro sistema de ensino: uns são preparados para o fazer e outros para o mandar. Pergunta: Qual a situação hoje dos Técnicos em Biblioteconomia que a Sra.se refere no artigo, passados 4 anos?

Resposta - Toda a área de Biblioteconomia, neste últimos 4 anos, teve modificações muito grandes. A informática e o crescimento da Internet mudou o perfil do bibliotecário. Na ocasião da implantação do Curso Técnico de Biblioteconomia, no SENAC - o primeiro a ser oferecido - houve grande repercussão por não se ter claro quais as funções do Bibliotecário e do Técnico em Biblioteconomia. Hoje em dia estas funções já estão mais definidas e o Técnico tem condições de se inserir muito bem no mercado de trabalho, tanto que houve um incremento grande na oferta deste tipo de cursos. Para mim, a oferta de cursos técnicos bem planejados e implementados é uma grande possibilidade de se melhorar o nível educacional do brasileiro. Principalmente se pudermos agregar ao planejamento dos cursos técnicos também recursos da educação a distância, nos mesmos moldes propostos pela Portaria nº 2.253/2001 para os cursos superiores.

MiniWeb Educação - Profa. Adylles, na sua entrevista concedida à revista T&D a Sra. afirma que a questão do planejamento do curso de Ensino a Distância é muito importante e precisa ser muito mais sistemático do que em cursos presenciais. Por que dessa sua afirmação? Qual é o grande diferencial de um planejamento para cursos presenciais e para cursos online?

Resposta - Acredito que todo curso precisa ser bem planejado. Ressalto esta importância nos cursos a distância por não termos outros recursos que nos indiquem o andamento do curso e sua necessidade de modificação. Em cursos presenciais, pelo contato direto com os alunos, pode-se fazer alterações pontuais quando se percebe que o "rumo da prosa" não está sendo o mais adequado. Na educação a distância, isto é muito mais difícil. Para se substituir as informações que recebemos por meio do contato direto com os alunos, precisa-se ter muito mais cuidado em analisar as variáveis que podem ou não interferir no processo de aprendizagem. E isto só pode ser feito por meio de um bom planejamento que leve em conta os objetivos do curso, seu público alvo e os recursos tecnológicos a serem usados.

MiniWeb Educação - Nessa mesma entrevista a Sra. informa que a ABED foi criada, em 1995, a partir do interesse de alguns professores ligados à Universidade de São Paulo (USP) em discutir e conhecer experiências de e-learning. Pergunta: Qual a grande contribuição que a ABED tem dado para o ensino a distância desde sua criação?

Resposta - Acredito que a maior contribuição dada pela ABED foi de levantar a bandeira da educação a distância e falar sobre ela numa época onde ela era pouco valorizada. Com o trabalho da ABED, mostrando as possibilidades de se fazer um bom trabalho a distância, inclusive trazendo muitos estudiosos estrangeiros para contarem como a EAD era feita fora do Brasil, a ABED começou a interferir numa questão muito séria que até pouco tempo atrás rondava a educação a distância: o preconceito que se tinha contra ela. Não afirmo que este preconceito tenha terminado, mas, já está bem menor, com certeza está. E esta foi um conquista da ABED na medida em que nestes últimos anos foi uma das poucas instituições a dizer que a educação a distância é algo que vale a pena e que é extremamente factível.

MiniWeb Educação - Por favor, fale para os Internautas da MiniWeb Educação sobre o trabalho que a Sra. desenvolve, e quais são as suas expectativas e sonho para o ensino a distância no Brasil? Conte-nos um pouco de sua história.

Resposta - Eu comecei a trabalhar com educação a distância meio que sem querer quando ainda estava no SENAC. Meu primeiro trabalho foi um curso para auxiliares de biblioteca que atuavam nos Núcleos de Comunicação e Informação - as bibliotecas setoriais do SENAC. Aos poucos fui me apaixonando pelo assunto principalmente ao perceber suas grandes possibilidades. Para poder "sentir" como era um curso a distância - principalmente um curso online - participei de uma curso oferecido pela UERJ, com a coordenação do prof. Wilson Azevedo que me fez ver as reais possibilidades desta modalidade de ensino, principalmente quando levada a cabo sob uma forma participativa e integradora. A partir daí, assumi minha opção por este trabalho e, apesar de já aposentada do SENAC, continuo a atuar com EAD em diferentes locais, sempre dentro de uma linha de trabalho colaborativo, na linha da formação de comunidades virtuais de aprendizagem.


Entrevista com Profa. Adylles Castello Branco. Pedagoga com mestrado em Psicologia da Educação, pela PUC/SP e especialização em Educação a Distância, pela UERJ. Consultora para planejamento e implantação de projetos de Educação a Distância. Desenvolvedora de cursos e treinamentos de EAD para uma série de empresas, entre elas: MiniWeb Cursos, ABED - Associação Brasileira de Educação a Distância, Escola do Futuro e Estudo, Estratégia e Informação. Sócia Diretora da empresa Al Farabi - Tecnologia, Informação, Conhecimento.


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