Prof. Dr. Wilson Azevedo |
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Quanto
à pergunta, eu acho que de tudo um pouco,
cada fator interfere a sua maneira. Mas os fatores
que dependem do governo estão até
surpreendentemente sendo eqüacionados: a burocracia
do MEC está andando mais rápido que
há alguns anos, e começam a aparecer
solucões criativas para suprir de recursos
projetos de EaD, como os que envolvem a chamada
UAB, a Universidade Virtual Brasileira.
Agora, o que vai ser mais lento e mais difícil
de superar é mesmo o preconceito. Este a
gente encontra inclusive entre profissionais que
trabalham com EaD. Recentemente participei de um
grupo de discussão que envolvia professores
que trabalham com EaD. Alguém perguntou "o
que você faria se seu filho escolhesse estudar
a distância?". Foi impressionante: a
maioria daqueles professores desestimularia seu
filho para não fazer isto, que EaD exige
maturidade e autonomia, que seu filho não
tinha isso etc. Ou seja, EaD é para os outros,
para o meu filho, não. Isto me impressionou.
O preconceito de quem não tem experiência
própria com EaD a gente até entende
e espera que caia com a expansão da EaD e
com a difusão da experiência social
com EaD. Mas o preconceito na cabeça do próprio
profissional de EaD, isto me parece não só
difícil de aceitar; acho mesmo difícil
de superar. Pode ser coisa para uma geração,
algo que exija talvez uns 20 anos para ser vencido...
Miniweb Educação - Professor Wilson, qual a sua visão e avaliação do Programa da Sociedade da Informação, e do Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo – e-proinfo)?
Resposta
– Conheço
muito pouco deste programa, não muito mais
do que o que sai na imprensa.
Penso que estamos entrando numa fase diferente,
em que não apenas pensamos em pôr computadores
nas escolas, mas passamos a pensar em pôr
computadores pessoais nas mãos das crianças,
para elas levarem para casa como levam livros escolares.
Acho significativa esta mudança. Estamos
entrando num outro nível de tratamento da
informática educativa com isto, com repercussões
não apenas na vida das crianças, mas
também na de seus familiares e vizinhos.
Miniweb Educação
- Segundo a Professora Lúcia Carvalho Pinto
de Melo, diretora do CGEE, um dos objetivos do Livro
Verde (2001) é despertar a sociedade brasileira
para o imenso desafio que temos de enfrentar como
nação para criar condições
de participarmos de forma ativa e mais igualitária
na nova sociedade da informação e
do conhecimento. Cabe a nós buscar estratégias
que propiciem a inclusão do maior número
possível de pessoas às novas tecnologias,
ampliando oportunidades de educação,
promovendo o surgimento de novos negócios,
a valorização de nossa identidade
cultural e da cidadania através da universalização
de acesso e de uma adequada exploração
dos benefícios da ciência e tecnologia.
Pergunta: Como o Ensino a Distância
pode ajudar nesse quesito? Quais os obstáculos
existentes para atingirmos esse desafio proposto
a quatro anos?
Resposta – Acho que nós
que militamos na EaD hoje temos que pensar mais
de forma sintonizada com alguns cenários
possíveis. Um deles é o de termos
muito em breve, em curto para médio prazo,
um número cada vez maior de usuários
de computadores e de Internet vindos das classes
C e D. Acostumamo-nos a pensar que Internet é
coisa de rico e pensamos que projetos de Educação
Online deveriam ser pensados para elites, enquanto
que programas de EaD para os mais pobres não
deveriam ser projetados para usar a Internet. As
coisas mudam rápido nesta área e não
é nada impossível chegarmos ao final
desta década com uma maioria de usuários
de classes C e D na Internet. Portanto, acho que
um primeiro obstáculo a ser vencido é
no olhar dos profissionais de EaD: precisamos vencer
nossa miopia com relação ao futuro,
enxergar um pouco mais longe e deixar de ficar parados
lamentando a exclusão digital. Daqui a pouco
tempo esta exclusão ficará no passado
e se continuarmos nesta historia de lamentar e imaginar
que pobre não tem acesso a Internet vamos
ser pegos pelo futuro...
Miniweb Educação - A palestra do Secretário Nacional de Educação a Distância, Ronaldo Mota, durante a abertura do 12º Congresso Internacional de Educação a Distância, foi marcada por uma visão moderada, mais pedagógica que técnica sobre o assunto. Ele defendeu uma maior atenção educacional ao tema e negou que a educação a distância seja solução para todos os males da educação. Mota citou o educador baiano Anísio Teixeira que, em 1932, já previa a invasão de outros meios de comunicação e da arte na escola, como o cinema, que forçaria uma mudança de papel da educação e do professor. "A crise hoje não é entre a educação presencial e a educação a distância, mas entre a educação tradicional e uma educação moderna, que tenha abrangência de outros meios", analisou. Pergunta: Qual a sua opinião sobre a fala do secretário?
Resposta – Adotamos a mesma perspectiva. E penso que o ensino superior é o terreno em que o embate será mais dramático entre estas posições. É o segmento mais resistente a mudanças metodológicas, com um nível de formação pedagógica específica próximo do zero. Predomina o instrucionismo no ensino superior. O desafio neste segmento é imenso.
Miniweb Educação
- Professor Wilson, muito se tem falado que os professores
ainda resistem ao uso do computador e as novas tecnologias.
Sabemos que sempre houve na maioria das escolas
públicas de São Paulo, tanto estaduais
como municipais, nas décadas de 70, 80 e
90 material didático para utilização
dos professores. Por exemplo: os antigos projetores
de filme em rolo de 16mm, (os filmes eram solicitados
via Delegacia, DREM, ou na USP), projetores de slides,
retroprojetores, gravadores de fita cassete, televisão,
vídeo, sempre foram pouco utilizados pelos
docentes, muitos deles alegando que não “gostavam”
de manusear os aparelhos. Logo, eram deixados em
segundo plano com empobrecimento para a rotina pedagógica.
Em outras situações, eram tão
bem guardados pela equipe administrativa que desestimulava
aqueles que pretendessem utilizá-los. Pergunta:
Até que ponto as inovações
de qualquer época assustam o homem e qual
a visão que deve ter um professor para conviver
e ensinar na Sociedade da Informação
para sermos competitivos num mundo globalizado?
Resposta - Basta observar como
estes professores foram formados. Estes recursos
foram utilizados com eles? Se não foi julgado
útil utilizar outros recursos na formação
destes docentes, por que deveriam eles imaginar
serem estes recursos importantes?
Professores tendem a reproduzir aquilo que vivenciam
nas suas experiências como alunos. Se, como
alunos, eles participam de uma experiência
rica para a aprendizagem utilizando outras tecnologias
que não apenas o giz e o quadro, eles tenderão
a procurar reproduzir estas experiências como
professores. Esta é uma equação
muito simples. Ninguém conseguirá
introduzir inovações tecnológicas
na pratica pedagógica destes docentes no
seu cotidiano sem que estas inovações
estejam presentes na formação destes
professores. O problema é anterior, na formação
do professor, e tem a ver com a resistência
do professor de nível superior que forma
professores de níveis fundamental e médio.
Este professor não adota novas tecnologias
nem novas metodologias. Seus alunos, futuros professores,
também não adotarão porque
não vivenciaram estas coisas na sua experiência
como alunos. O circulo vicioso precisa ser rompido
e o local estratégico para isto é
o nível superior.
Miniweb Educação
- Uma das características que mais respeitamos
no seu trabalho é a sua defesa para o trabalho
colaborativo em EAD. Pergunta: Quais
são os principais fundamentos para um trabalho
colaborativo e participativo, visto que ainda percebemos
a desconfiança em grande parte das pessoas
em partilhar conhecimento? É possível
que as pessoas assumam um comportamento mais inovador
em uma situação de incoerência
no ambiente de trabalho?
Resposta – Colaboramos
não porque sejamos bonzinhos ou bem intencionados.
Colaboramos porque precisamos, porque não
temos outra maneira melhor para vencer as dificuldades,
resolver nossos problemas, aprender mais. Sozinhos
não conseguimos nada. O indivíduo
isolado é uma ficção, um recorte
metodológico feito por algumas disciplinas
científicas que levamos a sério em
demasia. Não existe indivíduo isolado
em estado bruto. Somente encontramos seres humanos
em coletividades, interagindo e colaborando o tempo
todo em todos os lugares.
Até para competir precisamos colaborar. Não
conseguimos enfrentar os adversários sozinhos.
Aliamo-nos a outros que também desejam superar
o mesmo oponente, juntamos esforços e colaboramos
uns com os outros. Pierre Levy nos lembra que competição
e colaboração não são
coisas excludentes: a cooperação competitiva
ou a competição colaborativa são
a forma como colaboramos e competimos.
As pessoas que resistem partilhar saber são
as mais mal sucedidas. E os mais bem sucedidos no
mundo de hoje são os que competem colaborando
e colaboram competindo.
Miniweb
Educação
- Segundo artigo da HSM Management número
52, cujo título é Os blogs, a confiança
e os negócios afirma que: ... “ A maioria
das pessoas, pelo menos nos EUA, está confiando
menos nas “figuras com autoridade” e
mais em “gente como a gente”. É
o que mostra a pesquisa de confiança da Edelman
realizada em 2005, segundo a qual 56% dos norte-americanos
acham que apenas médicos e acadêmicos
podem ter opiniões que mereçam mais
respeito que as suas próprias ou a de seus
amigos.... A informação que aparece
nos blogs pode ser considerada “jornalismo
apaixonado” completamente subjetiva. A maioria
dos blogs permite que outros usuários ou
leitores expressem ali seus próprios comentários,
permitindo uma conversa coletiva. ... Versão
on-line do boca a boca, os blogs se prestam a numerosas
aplicações pelas empresas: pesquisas
de mercado, análise de boatos (ou de forma
pela qual as pessoas com interesses comuns repassam
informações), publicidade disfarçada.”
Pergunta: Qual a importância
dos blogs para a Sociedade da Informação
e do Conhecimento? Quais as vantagens e desvantagens
no seu uso?
Resposta – Eu vejo duas coisas
com relação aos blogs - e falo como
usuário de Internet comum.
Por um lado vejo muita fumaça e pouco fogo.
A blogosfera tem seus usuários e seus freqüentadores.
Mas a maioria dos usuários da Internet não
está ali. O fenômeno ainda é
restrito, tanto em termos de gente que mantém
blogs, quanto em termos de leitores de blogs. E
não vejo sinais de que o número de
usuários de blogs vá crescer tanto
assim. Pelo menos por enquanto os usuários
têm uma atitude menos entusiasmada e apaixonada
em relação aos blogs. Podem acabar
acessando um ou outro blog, mas não os encaram
como coisa muito diferente de uma página
como outra qualquer. Basicamente eu não navego
muito na blogosfera porque não tenho muita
paciência com a profusão de exibição
de egos e de conteúdo de baixa qualidade
que prolifera ali. E não estou isolado nesta
posição. Ninguém agüenta
isto por muito tempo, por mais entusiasmado que
seja com blogs.
Por outro lado, vejo os blogs forçando a
mídia comum a ser mais abrangente e a incluir
mais visões na forma como acompanha os fatos.
Ser desmascarado ou superado por um blog individual
é uma vergonha para um grande veículo.
Blogs que dão furos que a imprensa não
dá, que mostram pontos de vista para os quais
a imprensa não liga, mas que os demais usuários
levam em conta e a sério, são uma
ameaça séria. Por isto estamos vendo
os blogs sendo adotados como estratégia,
a abertura de blogs para colunistas, a inclusão
de mais pontos de vista na imprensa.
Eu acho que blogs dão seqüência
a uma tendência que acompanha a Internet desde
suas origens: há espaço para todos,
de quaisquer tamanhos. A voz do usuário na
Internet pode ser ouvida. Isto está no DNA
da Internet e os blogs são mais uma ferramenta
de apoio a isto.
Miniweb Educação - Para finalizarmos, gostaríamos que o Senhor falasse um pouco de seu trabalho na Aquifolium e dirigisse uma mensagem aos alunos e professores internautas da Miniweb Educação cujo interesse principal é a EAD.
Resposta
- A Aquifolium Educacional vem procurando criar
espaços para a atualização
e a formação continuada de profissionais
de Educação Online. Neste sentido
promovemos cursos online, grupos de estudos online,
workshops virtuais e encontros online que visam
incentivar uma renovação metodológica
para acompanhar a inovação tecnológica.
Ainda agora neste inicio de 2006 estamos com cursos
e grupos de estudos programados para acontecer nesta
direção e convidamos todos a visitarem
http://www.aquifolium.com.br/educacional
para obterem mais informações a este
respeito.
Nossa mensagem aos que buscam se aperfeiçoar
ou querem começar a atuar em EaD é
que não se deixem ofuscar pela tecnologia.
Compreendam que a principal mudança em curso
não é fundamentalmente tecnológica,
mas pedagógica. E esta mudanca precisa ser
liderada e incentivada por educadores que não
se deixam ofuscar pela tecnologia, que mantém
o bom senso, que continuam com a cabeça no
lugar e por isto são capazes, inclusive,
de optar por não adotar tal ou qual tecnologia,
de não cair na conversa de vendedores e de
tomar decisões sensatas com base em sólidos
fundamentos pedagógicos. Manter a serenidade
e o equilíbrio são fundamentais nos
momentos de maior confusão em que o alarido
dos entusiastas e dos vendedores deixam tantos "zonzos",
sem saber distinguir urubu de papagaio.
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