Império Austro-Húngaro
Europa Central - Século XIX

Império Austro - Húngaro - 1797 - 1918

No dia 11 de novembro de 1918, o imperador austríaco Carlos 1º renunciou ao trono, encerrando a dinastia de mais de 600 anos da família Habsburg, que teve ramificações até na América espanhola e no Brasil.

Originária de Aargau, na Suíça, a família Habsburg passou a integrar a nobreza européia no início do século 11. A partir de 1273, quando Rodolfo 1º foi nomeado imperador do Sacro Império Romano-Germânico, a família reinou durante 645 anos sobre vários povos da Europa Central, com ramificações até a América espanhola e o Brasil.

A dinastia ocupou o trono austríaco até o fim da Primeira Guerra Mundial e dominou territórios que se estendiam de Gibraltar à Hungria e da Sicília a Amsterdã, superando em tamanho até mesmo o império de Carlos Magno, 700 anos antes.

Os Habsburg tinham uma habilidade inigualável em aumentar seus territórios por meio de casamentos e heranças. O mentor dessa política foi Maximiliano 1º (imperador da Áustria de 1493 a 1519), que se casou duas vezes: primeiro, com a herdeira dos Países Baixos e do reino de Borgonha (região entre a França e a Espanha) e, depois, com a filha do duque de Milão, que lhe deu acesso ao norte da atual Itália. Numa outra manobra, acrescentou os territórios da Hungria e Boêmia.

A aliança dinástica mais extensa promovida por Maximiliano, porém, foi o casamento de seu filho Filipe com Joana, filha de Fernando e Isabel de Espanha, cuja união havia reunido as possessões de Castela e Aragão (inclusive Nápoles e Sicília). O herdeiro de todos esses acordos matrimoniais foi Carlos 5º (1500-1558).

Recursos Inigualáveis

No livro Ascensão e Queda das Grandes Potências, Paul Kennedy atribuiu a inigualável abundância de recursos da Casa dos Habsburg ao fato de Carlos 5º ter herdado as coroas de quatro grandes dinastias (Castela, Aragão, Borgonha e Áustria), a posterior aquisição das coroas da Boêmia, Hungria, Portugal e temporariamente até mesmo da Inglaterra, e a coincidência desses acontecimentos com a conquista espanhola e a exploração do Novo Mundo.

De 1519 a 1659, os Habsburg tentaram dominar a Europa, mas foram sistematicamente combatidos pelos reis franceses e príncipes germânicos. Calcula-se que, em 1600, cerca de 25 milhões dos 105 milhões de europeus viviam em território governado pelos Habsburg.

Carlos sonhava com um grande Estado europeu e alguns de seus ministros ambicionavam até uma "monarquia mundial", embora não tivessem uma tática para isso. Segundo Paul Kennedy, "os Habsburg simplesmente tinham inimigos demais a combater e frentes demais a defender".

Eles começaram a entrar em decadência com a perda da Europa Central, a partir da conquista de Viena por Napoleão. Com o tratado de paz, os Habsburg perderam suas possessões na Alemanha e na Itália, extinguindo-se o Sacro Império Romano-Germânico.

A partir de 1849, durante o reinado de Francisco José, a Alemanha unificou-se e derrotou as tropas austríacas. A Hungria tornou-se autônoma e os povos eslavos conquistaram sua independência. O golpe final veio na Primeira Guerra Mundial, quando a Áustria perdeu três quartos de seu território e ficou sem saída para o mar. Em 1916, morreu o imperador Francisco José 1º, cujo reinado de 68 anos simbolizou a época áurea da dinastia na Áustria.

Em novembro de 1918, seu sucessor, Carlos 1º, renunciou ao trono. Em abril do ano seguinte, o governo austríaco desapropriou seus bens. A dinastia dos Habsburg também deixou sua marca no Brasil. Após a união das coroas ibéricas, em 1580, a então colônia portuguesa passou ao domínio da Casa da Áustria. Mais tarde, o imperador dom Pedro 1º viveu nove anos (1817 a 1826) com Leopoldina de Habsburg.

Carlos I não conseguiu impedir a desagregação do seu império

1918: Acordo de cessar-fogo sela o fim do Império Austro-Húngaro

O Estado criado pelos Habsburgo no Sudeste da Europa ao longo dos séculos, desintegrou-se definitivamente no final da Primeira Guerra Mundial. No dia 3 de novembro de 1918, foi assinado o acordo de cessar-fogo que acabaria selando o fim do Império Austro-húngaro.

O atentado contra o príncipe herdeiro austríaco Francisco Ferdinando fora a causa imediata para a deflagração da Primeira Guerra Mundial em 1914. Mas o conflito acabaria levando à desestruturação do Estado austríaco.

No começo da Primeira Guerra Mundial, a Áustria-Hungria ainda era um império com uma imensa área territorial: do Lago de Constança à Transilvânia, da Boêmia à Bósnia. Mais de 52 milhões de pessoas viviam no país multiétnico, cuja capital era Viena. No final da guerra, restou um pequeno Estado alpino, uma república com seis milhões de habitantes.

Com tal estrutura multiétnica, a Áustria não podia ser homogênea, nem estava livre de tensões internas antes da Primeira Guerra Mundial. O tratamento desigual dado às diversas províncias e nacionalidades levou freqüentemente a conflitos e movimentos de autonomia, em especial nos Bálcãs, onde a Áustria havia anexado a província da Bósnia-Herzegovina em 1908. Mas foi a guerra que liberou inteiramente tais forças centrífugas, que levaram ao completo desmembramento do Império Austro-húngaro.

Em maio de 1915, a Itália abandonou a sua neutralidade, juntando-se aos países da entente cordiale, a Inglaterra, a França e a Rússia. Com isto, a Áustria passou a lutar na frente sul não apenas contra a Sérvia, mas também contra a Itália: uma guerra de montanha extremamente difícil, em especial na região do Tirol do Sul (hoje, para os italianos Alto Ádige).


Fome, doenças e rebeliões


Já em 1916, a situação de abastecimento no império dos Habsburgo tornara-se catastrófica. Apesar de todas as medidas para a produção agrária de emergência, o governo não conseguiu impedir que a subnutrição e as enfermidades aumentassem cada vez mais entre a população civil. Ao lado das rebeliões por motivo econômico, também as tensões por razões políticas ou nacionalistas tornaram-se freqüentes.

No dia 21 de outubro de 1916, o primeiro-ministro conservador Karl von Stürgkh foi assassinado pelo filho de Viktor Adler, o chefe dos social-democratas austríacos. No mesmo ano, morreu o imperador Francisco José, que personificava a tradicional monarquia austro-húngara.

Ele havia reinado durante mais de 60 anos, mantendo o controle sobre as ações governamentais. Seu sucessor foi o sobrinho Carlos, a respeito de quem o primeiro-ministro de então tinha uma opinião arrasadora: "O imperador Carlos tem 30 anos de idade, uma aparência de 20, e fala como uma criança de 10 anos." Jovem, inexperiente e avesso a reformas, Carlos I não conseguiu impedir a desagregação do seu império.

A partir de 1918 começaram a surgir greves e rebeliões em todas as partes do país. Foram registradas deserções em massa, principalmente entre os integrantes das minorias nacionais.


Manifesto da reforma chega tarde demais


Em outubro de 1918, foi formado em Zagreb (Croácia) um Conselho Nacional Sul-Eslavo, que logo anunciou a unificação dos territórios sul-eslavos com a Sérvia e Montenegro. Em Viena, constituiu-se uma Assembléia Nacional provisória para a "Áustria alemã" e, em Praga, foi proclamado o Estado tchecoslovaco.

Em 16 de outubro, Carlos I ainda tentou impedir uma desintegração do seu império, através da publicação de um manifesto de reforma. Mas já era tarde demais – a autonomia sob a coroa vienense já não era mais uma opção aceitável para as províncias.

Depois do fracasso da última ofensiva militar em Piave, na Itália, a monarquia austro-húngara estava à beira da derrocada. Em fins de outubro começaram as negociações sobre um cessar-fogo. As condições impostas pela entente eram praticamente as de uma capitulação: "Retirada do Tirol até o Passo de Brennero e do Vale do Puster até Toblach, retirada do planalto norte-italiano, da Ístria incluindo Trieste, da Dalmácia e todas as ilhas no Mar Adriático, liberdade de ação para as tropas aliadas em território austríaco, desarmamento de vinte divisões, entrega dos equipamentos bélicos da metade da artilharia".

Após longa hesitação e por falta de alternativa, a delegação austríaca assinou o tratado de cessar-fogo em 3 de novembro de 1918. Com ele ficou selada a desagregação definitiva do tradicional Império do Danúbio.

Tratado de Trianon


O Tratado de Trianon foi assinado em 4 de junho de 1920, no Palácio Petit Trianon, em Versalhes, França. Destinava-se a regular a situação do novo Estado húngaro que substituiu o Reino da Hungria, parte da antiga Monarquia Austro-Húngara, após a Primeira Guerra Mundial.

As partes ao tratado eram as potências vitoriosas, seus aliados e o lado perdedor. As potências vitoriosas incluiam os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a Itália; seus aliados eram a Romênia, a Iugoslávia e a Tchecoslováquia. O lado perdedor estava representado pela Hungria.


Fronteiras da Hungria

Divisão da Áustria-Hungria devido ao Tratado de Trianon. No campo dos derrotados, a Hungria perdeu dois-terços de seu território, que passou de 325.000 km² a apenas 93 000 km² após a assinatura do tratado, e quase dois-terços de sua população, de 19 milhões para 7 milhões de habitantes.

O território perdido foi distribuído da maneira seguinte:

a Romênia recebeu a Transilvânia (102.000 km²);
a Croácia, a Eslavônia e a Voivodina uniram-se à Sérvia (63.000 km²);
a Tchecoslováquia recebeu a Rutênia e a Eslováquia (63 000 km²) ;
a Áustria recebeu a Burgenland (4.000 km²); Sopron voltou à Hungria após o referendo de 1921.

A Hungria perdeu o acesso ao mar que possuía através da Croácia.

O tratado criou expressivas minorias húngaras na Romênia, na Iugoslávia e na Tchecoslováquia. A família Embacher era uma dessas minorias húngaras na Romenia. Esse foi um dos fatores da vinda para o Brasil.

_____________________________________________________________