Japão, o último samurai
 

A rebelião satsuma

Ocorreu que a profundidade daquelas medidas desagradou a casta guerreira. O novo projeto militar aprovado pelo Meiji, implicou na formação de um exército de conscritos, camponeses adestrados com fuzis e canhões, em substituição aos samurais com suas katanas, as espadas longas. Entendendo-os como algo anacrônico no Japão moderno, não tardou com que os que agiam em nome do imperador proibirem aos espadachins exibirem suas armas pelas ruas. Foi a gota d’água que faltava.

Quem liderou a insurgência de 1876 contra as novas restrições, consideradas ultrajantes, foi justamente um dos maiores próceres da Restauração Meiji: Saigo Takamori (1827-1877). Tempos antes, inconformado com o rumo das coisas, rompendo com seus pares e assumindo a bandeira do tradicionalismo contra a rápida ocidentalização, ele retirara-se para o castelo de Satsuma, em Kagoshima, (província que mais cultuava o Bushido, o código de ética do samurai, tida como a Prússia do Japão) , onde ele mantinha uma academia de artes marciais.

Acreditando que o imperador tinha sido eclipsado pela Oligarquia Meiji, o grupo de dirigentes que assumira a reforma, Saigo rebelou o clã Shimazu de Satsuma. Para melhor entender-se o espírito de um samurai nada melhor do que reproduzir um trecho dos "Conselhos ao Samurai":

"O Destino está no Céu, a armadura frente ao peito, o sucesso deve-se à agilidade das pernas. Vá para a batalha confinado na vitória. Entre em combate determinado a morrer e você sairá vivo dele. Se você sai de casa determinado a não voltar a vê-la, você retornará a salvo; se você tiver um só pensamento de que irá retornar certamente você não voltará. Você não esta errado ao pensar que o mundo esta sempre sujeito á mudança, mas o guerreiro não deve distrair-se com tal tipo de pensamento, pois para ele o destino já está determinado" (de Uesugi Kenshin, 1530-1578).

Samurais contra canhões

A batalha de Shiroyama , travada no dia 24 de setembro de 1877, entre o govenro imperial e os guerreiros rebeldes, foi decisiva e emblemática. De um lado do campo estava a Modernidade no outro alinhava-se a Tradição. Trezentos mil homens foram mobilizados para desbaratar os 25 mil samurais insurretos. Seis mil deles foram massacrados pelas novas armas.

O fim de Saigo Takamori assumiu então ares lendários: uns asseguraram que ele, ferido, ao fim da batalha no monte Tahara-zaka, pedira a um seguidor que o decapitasse, outros disseram que ele seguindo a tradição do Bushido que dizia ser a derrota uma desonra teria cometido o seppuku, o suicídio ritual ao ver-se ferido, atingido por uma bala.

O povo, todavia, deu para acreditar que ele, saindo pelos ares, se refugiara num reino distante, na Índia, na China ou mesmo na Rússia, de onde algum dia ele certamente voltaria com sua katana em punho para trazer justiça a todos. Séculos antes um samurai-poeta havia escrito:

Vento do outono ao anoitecer sopra para bem longe as nuvens que cobriam a lua com seu brilho puro/ e a névoa que cobria a nossa mente foi afastada para bem longe/ Agora nós desaparecemos, bem, o que pode-se pensar disto? Do céu nos viemos. Agora precisamos retornar. Hôjô Ujimasa (1538-1590)


Statue of Saigo Takamori in Ueno Park, Tokyo (built in 1897)

Fonte: Terra - Fotos: Miniweb (coletadas na Internet)


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