Japão, o último samurai
 

O último samurai

Os japoneses afirmam que Saigo Takamori, morto aos 50 anos, em 1877, foi o derradeiro samurai, o último grande mestre-de-armas que, com a espada na mão, lutou até o fim para preservar os fundamentos marciais da casta guerreira. A ética do Bushido, o código do guerreiro, que ele representava, estava por desaparecer na avalanche da modernidade, provocada pelas reformas ocidentalizantes radicais adotadas pela Restauração Meiji (1867-1912).

Época de ruptura, em que a pólvora fez desaparecer a espada. Aos olhos do povo, porém, que lhe admirava a bravura, ele sacrificou-se como um herói na defesa da Kokutai, a originalíssima cultura dos japoneses, por isso até hoje não removeram a estátua dele no Parque Central de Tóquio.

O perigo branco

A primeira visão que os japoneses tiveram dos grandes barcos negros do Comodoro M.C. Perry foi atordoante, apavorante. A imagem do “US-Mississippi”, o navio capitania, seguido por três outras carcaças de ferro negro, movidas à vapor, foi terrível para eles. Expelindo fumaça por suas chaminés, singrando pela baia de Tóquio (Edo, na época) sem que nada as pudesse deter, pareceu-lhes a chegada dos infernais dragões dos mares. Outros quatro barcos ainda os seguiam a certa distância.

Logo que ancorado na baia em 8 de julho de 1853, o comodoro praticamente enviou um ultimato ao governo do Xogum. Ou o Japão assinava um tratado com os Estados Unidos ou outras providências seriam tomadas. Para dar um prazo ao Bakufu, o governo xogunal, e ao Rôjô, o grande conselho dos sábios anciãos que de fato conduzia os negócios do império nipônico, Perry retirou-se. Meio ano depois, em fevereiro de 1854 ele estava de volta, arrancando deles o Tratado de Kanagawa, firmado em 8 de março daquele ano. Com ele obteve o direito de ancoragem em dois portos do sul e a promessa dos japoneses não mais deterem marinheiros americanos que por acaso naufragassem no litoral das ilhas.

O Japão então entrou em polvorosa. Durante mais de três séculos, a política do Xogum – o ditador militar do país – visou o total isolamento do arquipélago para evitar que fosse violado ou conquistado pelos colonialistas ocidentais. Agora, com o simples desfile das máquinas de ferro de Perry pela baia de Tóquio, com seus canhões eriçados, toda sensação de segurança se fora. O tão temido Hakka, o “perigo branco”, definitivamente afirmara pé nos portos japoneses.

O fim do xogunato

 
Os barcos negros do Comodoro Perry, julho de 1853.
Não demorou a que o Xogum fosse constrangido a assinar dois outros tratados, um com a Grã-Bretanha e o outro com a Russia Imperial. O pais sentiu-se indignado com os “tratados desiguais”. Com o prestígio do govenro no chão por ter capitulado frente aquelas forças estrangeiras formidáveis, um grupo de reformadores composto por jovens samurais, os guerreiros de elite do país, e de alguns daimyos, poderosos senhores feudais, resolveram agir. Adotando o lema sonnô jôi, “reverenciemos o imperador e expulsemos os bárbaros”, tratou de derrubar o Xogum.

Desde tempos imemoriais o Japão tinha um imperador cujo poder foi em larga parte dos séculos puramente simbólico. O Mandato Divino da coroa real, na verdade, servia mais para dar um sentido de unidade às quatro grandes ilhas do arquipélago nipônico: Honshu, Shikoku, Kyushu e Hokkaido.

Pois os grandes barões reformistas, capitaneados por Sakamoto Ryoma, Katsu Kaishu, Saigo Takamori, Yoshida Shoin, Takechi Hanpeita, Takasugi Shinsaku , Katsuria Kogoro e Shinsengui - alçados contra o Xogum, levaram Tokugawa Yoshinobu à renuncia em 9 de novembro de 1867.

O último integrante da dinastia que governava o país no Período Edo, iniciado em 1603, foi forçado a dar o seu lugar a uma manobra política que visava a reentronização efetiva do imperador. Agiram como se ele, o jovem imperador Mutsohito, tivesse recuperado o poder de fato, unindo o simbólico ao concreto. Para tornar isso mais exposto, transferiram a corte imperial de Kyoto para Edo (rebatizada como Tóquio, a capital do oriente, sede do antigo Xogum)

Eis a razão da época que inauguraram ter sido batizada de Restauração Meiji (o iluminado, o nome que deram ao imperador). Seguiu-se então uma série impressionante de reformas políticas e sociais que, referendadas pelo Gokajyo no Goseimon (o Juramento dos Quatro Artigos, de 1868), visavam prover o Japão do que havia de melhor no mundo do conhecimento e da tecnologia.

Decidiram aprender tudo o que fosse possível sobre as maravilhas estrangeiras para manter a nação livre. Não queriam-na ver reduzida ao triste papel de ser uma colônia ocidental como acontecera com a China depois das duas Guerras do Ópio, a de 1839 e a de 1856. Dessa maneira, recorrendo a estratégia de aprender com o inimigo, seguindo o lema Bummei kaika, "Civilização e ilustração", o Japão, tomando o caminho da industrialização acelerada, tornou-se a única potência asiática ainda no final do século XIX.


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