O
Conto
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Luzia de Maria, no volume O que é conto, da coleção Primeiros Passos, introduz seu leitor na discussão das várias modalidades de conto, começando por distinguir “o conto como forma simples, expressão do maravilhoso, linguagem que fala de prodígios fantásticos, oralmente transmitido de gerações a gerações e o conto adquirindo uma formulação artística, literária, escorregando do domínio coletivo da linguagem para o universo do estilo individual de um certo escritor”. [1]
E surgiram os contos de humor, os contos fantásticos, os contos de mistério e terror, os contos realistas, os contos psicológicos, os contos sombrios, os contos cômicos, os contos religiosos, os contos minimalistas, os contos estruturados de acordo com as técnicas da narrativa.
Ricardo Piglia assegura que o segredo de um conto bem escrito é que, na realidade, todo conto conta duas histórias: uma em primeiro plano e outra que se constrói em segredo. A arte do contista estaria em entrelaçar ambas e, só ao final, pelo elemento surpresa, revelar a história que se construiu abaixo da superfície em que a primeira se desenrola. As duas histórias encontram-se nos pontos de cruzamento que vão dando corpo a ambas, embora o que pareça supérfluo numa seja elemento imprescindível na armação da outra.
A história visível e a história secreta, segundo ele, recebem diferentes tratamentos no conto clássico e no conto moderno. No primeiro, uma história é contada anunciando a outra; nos contos modernos, as duas histórias aparecem como se fossem uma só.
Na forma reduzida do conto, a intensidade da busca: “O conto se constrói para fazer aparecer artificialmente algo que estava oculto. Reproduz a busca sempre renovada de uma experiência única que nos permita ver, sob a superfície opaca da vida, uma verdade secreta.” [2]
As qualidades que lhe são apontadas são a concisão e a brevidade, ou seja, é estruturado com uma linguagem densa, com o máximo de economia de palavras. Sua dimensão se dá no sentido da profundidade.
O conto de feição clássica se organiza numa cadeia de acontecimentos que centralizam o poder de atração, apresentando, conseqüentemente, ação, personagens, diálogos. Caracteriza-se como narração de um episódio, uma única ação, com começo, meio e fim, concentrado num mesmo espaço físico, num tempo reduzido. Destaca-se por sua unidade de tempo e de ação.
O conto
contemporâneo, reflexo da nova narrativa que se foi construindo
nas últimas décadas, substituiu a estrutura clássica
pela construção de um texto curto, com o objetivo
de conduzir o leitor para além do dito, para a descoberta
de um sentido do não-dito. A ação se torna
ainda mais reduzida, surgem monólogos, a exploração
de um tempo interior, psicológico, a linguagem pode, muitas
vezes chocar pela rudeza, pela denúncia do que não
se quer ver. Desaparece a construção dramática
tradicional que exigia um desenvolvimento, um clímax e um
desenlace. Em contrapartida, cobra a participação
do leitor, para que os aspectos constitutivos da narrativa possam
por ele ser encontrados e apreciados. Exige uma leitura que descortine
não só o que é contado, mas, principalmente,
a forma como o fato é contado, a forma como o texto se realiza.
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Fonte: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/ensino/o_conto.htm