Lya Luft
Para
onde estamos
indo?
"Em breve,
pessoas honradas
serão
arrancadas
de suas propriedades,
trabalhadores
honestos serão
maltratados,
famílias
serão
humilhadas,
lares e locais
de trabalho
serão
destruídos"
No
Dia Internacional
da Mulher,
eu participava,
no Rio de
Janeiro, de
uma mesa-redonda
sobre a situação
da mulher
e sobre o
belo filme
Mulheres do
Brasil. Celebrávamos
conquistas
de nossa sociedade
na questão
feminina –
isto é,
na questão
humana –
e comentávamos
o muito que
ainda há
por fazer.
Nisso me chegaram
duas notícias:
uma, não
surpreendente,
mas triste,
outra assustadora.
Melancólica,
embora previsível
na nossa realidade
atual, foi
a absolvição
de mais dois
políticos
brasileiros
operadores
declarados
do famigerado
caixa dois,
considerado
normal por
tantas autoridades
– inclusive,
expressamente,
pelo presidente
da República
em entrevista
em Paris,
tempos atrás.
Mas
foi assustadora
a notícia,
vinda do meu
estado, o
Rio Grande
do Sul, de
que uma horda
de mulheres
ditas campesinas
sem-terra,
de lenço
e máscara
na cara, invadiu
mais um importante
centro de
pesquisa que
trabalhava
pelo crescimento
deste pobre
país.
Nesses mesmos
dias, foi
invadida no
Rio Grande
mais uma propriedade
privada e
produtiva.
Como de costume,
quando os
pseudocolonos
a desocuparam,
restou uma
terra devastada:
sujeira por
toda parte,
frases ameaçadoras
nas paredes,
trincheiras
cheias de
pontiagudas
estacas de
bambu disfarçadas
por ramos
e folhas para
receber quem
viesse tentar
refazer a
ordem e a
decência.
Foram abandonados
por ali montanhas
de sacos de
feijão,
arroz, farinha
e um número
incalculável
de garrafas
vazias de
aguardente.
Se eu e minhas
amigas invadíssemos
a casa de
nosso vizinho,
ali nos instalando
por dias ou
semanas, sujando,
estragando
e aviltando,
ou se entrássemos
num shopping
quebrando
vitrinas e
objetos, seríamos
imediatamente
presas, e
quem nos tivesse
orientado
estaria na
cadeia.
As
chamadas camponesas
arrasaram
o que puderam
encontrar
naquele local
de
estudo e trabalho.
Empurraram
o Brasil com
sua barriga
um bocado
mais para
trás.
Nem a desinformação
nem a ignorância
– mas
talvez a lavagem
cerebral –
explicam essa
violência.
Se fossem
mais informadas,
entenderiam
que seu gesto
significou
mais atraso,
mais sofrimento
na cidade
e no campo,
menos emprego,
menos dinheiro,
menos saúde
e educação,
menos horizontes.
Depois,
foram filmadas
e gravadas
admitindo
tudo, risonhas,
sem a menor
consciência
de que não
apenas cometeram
um crime,
e prejudicaram
definitivamente
o governo
federal e
o PT, partido
a que seu
movimento
sempre esteve
intimamente
ligado, como
aviltaram
a figura do
verdadeiro
colono. Esse
que, em lugar
de optar pela
ilegalidade,
vive de seu
trabalho honrado.
Mesmo assim,
foram publicamente
elogiadas
por seu líder
– também
ainda solto
enquanto escrevo
–, que
as considerou
corajosas
promotoras
de um ato
que deve servir
de aviso à
nação.
Que eu saiba,
não
há
ninguém
preso. Uma
das malfeitoras
proclamou
alto e bom
som: "No
começo
deu um medinho,
mas, quando
a gente começou
a destruir
tudo, foi
muito lindo!"
Os nazistas
também
acharam lindo
queimar em
fogueiras
livros de
Thomas Mann,
Hermann Hesse
e centenas
de outros
grandes escritores
e intelectuais,
nos tempos
de Hitler.
Acharam lindo
estourar cabecinhas
de bebês
nos muros,
espirrando
miolos em
cima das mães.
Foi lindo
ver e ouvir
a agonia de
milhares de
pessoas inocentes
nas câmaras
de gás
e depois aspirar
o cheiro dos
corpos queimados
nos fornos
crematórios.
Os traficantes
devem achar
lindo matar
lentamente
os viciados,
e diretamente
os policiais
ou cidadãos
pacíficos,
incluindo
crianças.
Cuidado:
se as autoridades
deixarem impunes
esses crimes
recorrentes
nas cidades
e no campo
– como
tanta coisa
grave por
aqui é
absolvida
ou considerada
normal –,
em breve nossas
casas, nossas
escolas, hospitais,
creches e
fábricas
serão
invadidos
e arrasados.
Pessoas honradas
serão
arrancadas
de suas propriedades
urbanas ou
rurais, trabalhadores
honestos serão
maltratados,
famílias
serão
humilhadas,
lares e locais
de trabalho
serão
destruídos
entre gritos
de ódio,
enquanto nós
permaneceremos
alheios ou
inertes.
Cuidado:
ou logo, além
de mais miseráveis
do que já
somos, o país
que menos
cresceu no
último
ano (perdendo
apenas para
o Haiti),
seremos um
país
sem lei, cambaleando
em direção
à desobediência
civil generalizada.
O governo
do Rio Grande
do Sul esboçou
uma primeira
reação,
fazendo ver
que ainda
existe alguma
autoridade
para nos proteger.
O Ministério
Público,
sempre a última
esperança
do cidadão,
começa
a tomar providências.
Precisamos
de ações
assim em todo
o país,
urgentes e
rigorosíssimas,
para punir
e evitar que
também
esse crime
seja consagrado.
Ou esses falsos
colonos e
seus mandantes,
nacionais
ou estrangeiros,
inspiram medo
demais?
Lya
Luft é
escritora
Fonte:
Veja
online
Sugestão
de Leitura da
MiniWeb Educação
: Madraçais
do MST