Brasil
Madraçais
do MST
Assim
como os internatos
muçulmanos,
as escolas
dos sem-terra
ensinam o
ódio
e instigam
a revolução.
Os infiéis,
no caso,
somos todos
nós
Monica Weinberg
Liane
Neves
|
Professor
do MST
dá aula
para
crianças
em
assentamento:
cartilha
que
desobedece
às normas
de ensino
|
O
Movimento
dos Trabalhadores
Rurais Sem
Terra (MST)
criou sua
própria versão
das madraçais
– os internatos
religiosos
muçulmanos
em que crianças
aprendem a
recitar o
Corão
e dar a vida
em nome do
Islã. Nas
1.800 escolas
instaladas
em acampamentos
e assentamentos
do MST, crianças
entre 7 e
14 anos de
idade aprendem
a defender
o socialismo,
a "desenvolver
a consciência
revolucionária"
e a cultuar
personalidades
do comunismo
como Karl
Marx, Ho Chi
Minh e Che
Guevara. "Sem-terrinha
em ação, pra
fazer a revolução!",
gritam os
alunos, de
mãos dadas,
ao final de
eventos e
apresentações.
Pelo menos
1.000 dessas
escolas são
reconhecidas
pelos conselhos
estaduais
de educação
– o que significa
que têm status
idêntico a
qualquer outro
estabelecimento
de ensino
da rede pública
e que seus
professores
são pagos
com dinheiro
do contribuinte.
Elas nasceram
informais,
fruto da necessidade
de alfabetizar
e educar os
filhos de
militantes
do movimento
– que chegam
a ficar durante
anos acampados
nas fazendas
que invadem,
à espera da
desapropriação.
No fim dos
anos 80, atendendo
a uma reivindicação
do MST, o
governo passou
a integrar
essas escolas
improvisadas
à rede pública.
Parte delas
funciona nas
antigas sedes
das fazendas
invadidas,
parte foi
construída
pelos Estados
e municípios.
Ao todo, as
escolas do
MST abrigam
160.000 alunos
e empregam
4.000 professores.
Liane
Neves
|
Alunos
da escola
Chico
Mendes,
no Sul:
no pátio
da escola,
a onipresente
bandeira
do MST
e faixa
pela reforma
agrária
|
A
reportagem
de VEJA visitou
duas delas,
ambas no Rio
Grande do
Sul. Tanto
a escola Nova
Sociedade,
em Nova Santa
Rita, quanto
a Chico Mendes,
em Hulha Negra,
exibem, nas
classes e
no pátio,
a bandeira
do MST; no
currículo,
abordagens
ausentes da
cartilha do
Ministério
da Educação
e que transmitem
a ideologia
sem-terra.
Os professores
utilizam,
por exemplo,
uma espécie
de calendário
alternativo
que inclui
a celebração
da revolução
chinesa, a
morte de Che
Guevara e
o nascimento
de Karl Marx.
O Sete de
Setembro virou
o "Dia dos
Excluídos",
e a Independência
do Brasil
é grafada
entre aspas.
"Continuamos
dependentes
dos países
ricos", justifica
o professor
de história
da escola
Nova Sociedade,
Cícero Marcolin.
No ano passado,
seus alunos
aproveitaram
o Dia da Independência,
ou "independência",
para sair
em passeata
pelas ruas
da cidade
carregando
faixas com
críticas à
Área de Livre
Comércio das
Américas (Alca).
Na escola
Chico Mendes,
professores
exibem vídeos
que atacam
as grandes
propriedades
e enaltecem
as virtudes
da agricultura
familiar,
modelo que
o MST gostaria
de ver esparramado
no território
nacional:
"A pequena
propriedade
é oprimida
pelos grandes
latifúndios,
que só fazem
roubar emprego
do povo",
diz um dos
filmes. A
mesma fita
é usada para
ensinar aos
alunos que
os produtos
transgênicos
"contêm veneno".
A reportagem
de VEJA assistiu
a uma dessas
aulas. No
fim da exibição
do filme,
o professor
pergunta quem
da classe
come margarina.
A maioria
das crianças
levanta o
braço. Tem
início o sermão:
"Margarina
é à base de
soja, que
pode ser transgênica
e, por isso,
ter ve-ne-no!"
A atividade
seguinte foi
uma encenação
teatral. No
pátio, carregando
bandeiras
do MST, crianças
entoaram uma
música que
dizia: "Traga
a bandeira
de luta /
Deixe a bandeira
passar / Essa
é a nossa
conduta /
Deixe fluir
para mudar".
Para encerrar,
deram o grito
de guerra
conclamando
para a revolução.
O
MST implementou
um sistema
de ensino
paralelo,
sobre o qual
o poder público
não exerce
quase nenhum
controle.
O Ministério
da Educação
desconhece
até mesmo
quantas são
e onde estão
exatamente
as escolas
públicas com
a grife do
movimento.
E as secretarias
estaduais
e municipais
de ensino,
embora sustentem
as escolas,
enfrentam
dificuldades
até para fazer
com que professores
não ligados
aos sem-terra
sejam aceitos
nas salas
de aula. "O
MST torna
a vida do
educador que
vem de fora
um inferno",
diz Gislaine
do Amaral
Ribeiro, coordenadora
estadual das
escolas de
assentamentos
na região
de Bagé, Rio
Grande do
Sul. Nos assentamentos,
pelo menos
a metade do
corpo docente
vem do MST.
Já nos acampamentos,
todos os professores
pertencem
ao movimento.
Muitos não
têm o curso
de magistério
completo –
pré-requisito
básico para
a contratação
na rede pública
–, e alguns
não chegaram
sequer a terminar
o ensino fundamental.
"A realidade
é que há pessoas
atuando como
profissionais
da educação
nessas escolas
sem o mínimo
de preparo
para exercer
a função",
reconhece
o secretário
estadual de
Educação do
Rio Grande
do Sul, José
Fortunati.
O governo
gaúcho diz
que está de
mãos atadas
diante da
situação,
porque herdou
um grande
número de
professores
contratados
pelo governo
anterior,
do PT. Pela
proximidade
com o MST,
a antiga gestão
teria sido
mais complacente
na contratação
do corpo docente.
A secretaria
diz estar
pleiteando
junto ao MEC
verbas para
implantar
um programa
para dar a
esses professores
o nível básico
de estudo
para que possam
lecionar.
Liane
Neves
|
Roteiro
de peça
teatral
tem condenação
aos transgênicos,
canção
revolucionária
e grito
de guerra:
"Sem-terrinha
em ação,
pra
fazer
a revolução!"
|
Em
seu Caderno
de Educação
de número
8, o MST deixa
claro que
a educação
que pretende
dar a seus
alunos deve
ter "o compromisso
em desenvolver
a consciência
de classe
e a consciência
revolucionária".
A rigor, nada
impede que
uma organização
como o MST
queira propagar
sua ideologia
para crianças
que mal aprenderam
a escrever
o próprio
nome. O problema
é fazer isso
dentro do
sistema de
ensino público
e com dinheiro
do contribuinte.
A legislação
brasileira
preserva a
autonomia
das escolas,
desde que
cumpram o
currículo
exigido pelos
Estados e
estejam em
consonância
com a Lei
de Diretrizes
e Bases da
Educação,
de 1996, que
prega o "pluralismo
de idéias"
e o "apreço
à tolerância"
– elementos
básicos para
que as crianças
desenvolvam
o raciocínio
e o espírito
crítico. Não
são os critérios
adotados no
território
dos sem-terra.
"Essas escolas
estão aprisionando
as crianças
num modelo
único de pensamento",
observa a
pedagoga Sílvia
Gasparian
Colello, da
Universidade
de São Paulo.
Um
modelo, acrescente-se,
falido do
ponto de vista
histórico
e equivocado
do ponto de
vista filosófico.
Está-se falando,
evidentemente,
do marxismo.
Falido porque
levou à instauração
de regimes
totalitários
que implodiram
social, política
e economicamente.
Equivocado
porque, embora
se apresente
como ciência
e ponto final
da filosofia,
nada mais
é do que messianismo.
De fato, o
marxismo não
passa de uma
religião que,
como todas
as outras,
manipula os
dados da realidade
a partir de
pressupostos
não verificáveis
empiricamente.
E, assim também
como as religiões,
rejeita violentamente
a diferença.
"Burgueses
não pegam
na enxada
/ Burgueses
não plantam
feijão / E
nem se preocupam
com nada /
Arrasam aos
poucos a nação",
diz a letra
de uma das
canções ensinadas
aos "sem-terrinha".
Da mesma forma
que os internos
das madraçais,
as crianças
do MST são
treinadas
para aprender
aquilo que
os adultos
que as cercam
praticam:
a intolerância.