FEB
na 2ª Guerra
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A posição geográfica do país que ocupa a parte mais estreita do Atlântico próximo à África, seu tamanho e população tornavam, no mínimo, difícil a manutenção da neutralidade do Brasil. Desde 1940, os EUA nos pressionavam para que fizessem uma ocupação "preventiva" do território nordestino e a instalação, ali, de bases aéreas que permitissem escala para os vôos rumo à África e ao Oriente. Ao mesmo tempo, pretendiam impedir que essa rota aérea e esses locais para bases fossem ocupados por países do Eixo. Em meados de 1941, seis meses antes da entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, essas bases e rotas aéreas já eram uma realidade.
Por aqui, passaram dezenas de milhares de aeronaves armadas e municiadas para combate, rumo aos campos de batalha africano e asiático. Simultaneamente, o Brasil passou a fornecer importantes materiais estratégicos aos Aliados, como minerais, borracha, etc. Diante desses fatos, os alemães perceberam que a neutralidade do Brasil era apenas teórica e passaram a atacar maciçamente nossos navios mercantes. Os sucessivos torpedeamentos de nossos navios é que levaram nosso país a declarar guerra aos países do Eixo.
Qual
era o perfil de nossos soldados e como foi seu treinamento?
Pouquíssimos soldados profissionais, com longo tempo de serviço,
foram aproveitados. Metade dos oficiais subalternos eram reservistas,
e também cerca de metade dos efetivos eram recém-recrutados
(a maioria oriunda da zona rural e com baixos níveis de saúde
e educação). A maior parte do oficialato da ativa
conseguiu escapar do envio para a guerra. Justamente os mais pobres
e menos instruídos, com poucos contatos sociais influentes
que lhes permitissem se evadir, é que foram recrutados. Como
admitiu o chefe do Estado-Maior da Força Expedicionária
Brasileira (FEB) ao embarcar no navio que levaria nosso primeiro
escalão de combatentes para a Europa: "A bordo, só
estavam os que não conseguiram escapar". Dos 25 mil
homens enviados para a luta, menos de 1.500 eram voluntários.
A artilharia teve oportunidade de treinar aqui no Brasil usando
o mesmo tipo de material que seria empregado na linha de frente,
mas a infantaria não teve a mesma sorte. Dos três regimentos
de infantaria enviados, apenas um recebeu treinamento condizente
com a realidade da luta que seria travada (treino esse quase todo
feito por instrutores norte-americanos). Os outros, como admitiu
o próprio comandante da FEB, partiram do Brasil "praticamente
sem instrução". Pior ainda, a FEB jamais realizou
um treino em conjunto, que permitisse detectar falhas na sincronização
das manobras.
Sabe-se
que a maior parte das tropas aliadas que participaram da Segunda
Guerra era segregada, isto é, os negros ficavam de um lado;
e os brancos, de outro. Como era a situação das tropas
brasileiras?
A 1.ª Divisão de Infantaria da FEB que lutou nos campos
da batalha da Itália na Segunda Guerra Mundial foi a única
tropa racialmente integrada que foi empregada em combate naquele
front e em qualquer outro. Naquela mesma
frente, lutaram divisões de infantaria das mais diversas
nacionalidades, como norte-americana, inglesa e francesa. Entre
os primeiros, cabe destacar a política oficial de segregação
que apresentavam: brancos e negros jamais lutavam juntos, havendo
uma unidade específica para os negros (a 92.ª Divisão
de Infantaria) e um regimento inteiramente composto por descendentes
de japoneses (o 442.º Regimental Combat Team). Nessas formações,
os cargos de oficial superior eram preenchidos predominantemente
ou totalmente por brancos, cabendo às outras etnias integrar
“o grosso” do efetivo da tropa. No caso da FEB, está
confirmada a recorrência das ordens para se excluírem
os soldados que não fossem brancos dos desfiles e demonstrações
públicas ou, no caso de isso não ser possível,
colocá-los no interior das fileiras, onde seriam menos vistos.
Havia ainda total exclusão dos negros na formação
de guardas de honra, em particular aquelas que se destinassem à
recepção de autoridades estrangeiras. Enfim, apesar
da integração, a FEB padecia do mesmo tipo de racismo
que era típico da sociedade brasileira naquela época.
Com
relação às operações, sabe-se
que as tropas brasileiras davam apoio ao exército norte-americano.
Nas campanhas de que nosso exército participou, qual foi
a participação brasileira e a americana?
Responder a essa pergunta exigiria uma descrição detalhada
da campanha toda, o que não é possível porque
tomaria muito espaço. Resumindo ao máximo, pode-se
afirmar que, das cinco tentativas de tomar o famoso Monte Castelo,
as três últimas foram feitas exclusivamente com tropa
e comando brasileiros. A tomada de Montese e a captura da 148.ª
Divisão de Infantaria alemã também foram efetuadas
exclusivamente por tropa brasileira. Na fase final da campanha da
Itália, a FEB agia conjuntamente com a 10.ª Divisão
de Montanha norte-americana, levada para esse front justamente para
precipitar o fim da guerra na Itália.
As
enfermeiras brasileiras tiveram participação fundamental
durante a Segunda Guerra, e as que participaram do conflito ganharam
a patente de oficial. Por quê?
Era um procedimento comum no exército norte-americano que
o comando brasileiro achou válido imitar.
Em
Natal (RN), estava instalada a maior base militar americana fora
dos EUA. Qual foi a importância dela e como era o cotidiano
naquele lugar? Existiram outras bases aliadas no Brasil?
Originalmente, os EUA pretendiam construir bases por todo o nosso
continente para impedir a invasão da região por parte
do Eixo. Posteriormente, decidiram concentrar seus esforços
no Nordeste do país porque por ali poderiam enviar aeronaves
diretamente para as frentes de luta. Com o inverno rigoroso no Atlântico
Norte, os aviões que faziam a rota da Groelândia rumo
à Grã-Bretanha tiveram, por causa das horríveis
condições climáticas, que realizar a rota do
Brasil. Enfim, a região teve uma importância fundamental
na vitória dos Aliados na guerra.
Qual
foi o grande feito do Brasil durante a Segunda Guerra?
Houve vários. Por ordem de importância, eu cito os
seguintes: ter servido como ponte aérea para o envio de grandes
aeronaves dos EUA para todas as frentes de batalha; fornecer alimentos
e matérias-primas para o esforço industrial norte-americano;
cooperar com o patrulhamento do Atlântico e ajudar a impedir
o tráfego de navios e submarinos do Eixo naquela área;
e disponibilizar uma divisão de infantaria para lutar na
Itália. No contexto italiano de operações,
gostaria de destacar dois grandes feitos da FEB. O primeiro é
a tomada de Montese, em 14 de abril de 1945, que praticamente salvou
o dia. Tratava-se do primeiro dia da Ofensiva da Primavera, o esforço
final para acabar com a guerra na Itália. A tomada de Montese
atraiu para a área da FEB a maior parte do fogo defensivo
de artilharia do inimigo, aliviando consideravelmente a pressão
sobre a 10.ª Divisão de Montanha, que liderava a ofensiva.
O segundo é a captura em combate da 148.ª Divisão
de Infantaria alemã e dos remanescentes das Divisões
Itália e Monte Rosa (que constituíam o chamado Exército
da Ligúria, última formação importante
ainda em condições de combater na Itália).
A captura dessas formações ajudou a apressar o fim
da guerra na Itália, que se deu poucos dias depois.
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O
Brasil sofreu muitas baixas durante a guerra?
A FEB teve 443 mortos, uns 1.500 feridos e aproximadamente 8 mil
doentes — a maioria vítima do clima pavoroso (até
20 graus negativos) nas montanhas dos Apeninos durante o inverno.
No mar, morreram certa de 900 pessoas em decorrência de torpedeamentos.
São baixas pouco expressivas se comparadas às que
os outros combatentes sofreram. De longe, quem sofreu as maiores
perdas foram os russos, que tiveram aproximadamente 20 milhões
de cidadãos e 5 milhões de combatentes mortos.
E
qual foi o papel da Força Aérea Brasileira (FAB) no
conflito?
Foi enviado um único esquadrão de caça, que
foi inteiramente equipado e treinado pelos norte-americanos e estava
subordinado a um de seus grupos de caça. Composto de cerca
de 60 pilotos, usava aviões de caça monomotores, os
famosos P-47. A inexistência de aeronaves alemãs naquele
front limitou os pilotos às missões de ataque ao solo,
ação muito mais perigosa que o combate entre aeronaves.
A contribuição desse esquadrão para o esforço de guerra na Itália foi notável. Com menos de 6% das aeronaves desse grupo, os brasileiros destruíram mais de 12% dos alvos. Esse desempenho colocou o grupo brasileiro entre os melhores de toda a Segunda Guerra Mundial.
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Como
foi o retorno dos pracinhas brasileiros? Como eles foram recebidos
em nosso país?
A recepção foi eufórica, fazendo dos veteranos
da FEB pessoas muito prestigiadas. Contudo, essa euforia durou pouco,
e aos ex-combatentes restou uma rotina penosa de readaptação
à realidade da vida civil, nem sempre possível para
muitos. Traumas psicológicos de todo tipo e a rotina da luta
pela sobrevivência no mercado de trabalho dificultaram o retorno
de milhares de brasileiros que estiveram nos campos de batalha à
vida normal. As primeiras leis de amparo aos ex-combatentes só
foram aprovadas em 1947. Além disso, na ânsia de se
livrarem da FEB, tida como politicamente não-confiável
pelo presidente Vargas, os pracinhas foram rapidamente desmobilizados
sem que tivessem se submetido a exames médicos, que mais
tarde seriam fundamentais para que obtivessem pensões e auxílios
no caso de doenças ou ferimentos adquiridos no front. Para
provar incapacidade decorrente do serviço na linha de frente
e, assim, receber as pensões, os pracinhas tiveram de se
submeter a todo tipo de vexames e sacrifícios, os quais seriam
dispensáveis se sua desmobilização tivesse
ocorrido de forma racional e planejada. Ao longo do tempo, várias
leis de apoio aos ex-combatentes foram sendo promulgadas, até
chegarmos à famigerada Lei da Praia, criada nos anos 60.
De acordo com essa lei, qualquer pessoa que tivesse sido enviada
à "zona de guerra" teria direito aos auxílios,
pensões e promoções que estavam sendo reservados
para aqueles que, de fato, foram à Itália. Mas acontece
que, em todo o litoral do Brasil, vias navegáveis e cidades
economicamente importantes se encontravam dentro dessa "zona
de guerra". Dessa forma, o sujeito que estava de sentinela
num fox hole (abrigo individual) nos Montes Apeninos, suportando
temperaturas subárticas e todos os riscos de morte e invalidez,
estava na "zona de guerra" tanto quanto o bancário
ou o PM que havia sido transferido para uma cidade litorânea
do Brasil. Ou seja, se essa lei auxiliou de fato os ex-combatentes,
beneficiou também um enorme conjunto de servidores públicos,
civis e militares que, ainda hoje, gozam de polpudas pensões,
que fazem deles autênticos "marajás" entre
os aposentados do serviço público.
Houve
mudanças no Exército brasileiro em decorrência
da guerra?
Não. O Exército fez o possível para marginalizar
e desconsiderar quem esteve na linha de frente. Havia enorme preconceito
e inveja daqueles que estiveram com a FEB e que, com seu sacrifício
e dedicação, conquistaram numerosas glórias
militares. Também o “varguismo” fez o possível
para erradicar a FEB e suas memórias, justamente por causa
do papel que seus membros exerceram na luta contra o nazi-fascismo.
Toda experiência militar adquirida na luta contra o Eixo foi
desprezada, esquecida e inutilizada, contrariando até mesmo
o conselho dos EUA de que se visse a FEB como núcleo de um
esforço de renovação e modernização
de nosso Exército.
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A História da música
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