11/05/2011
Ferramentas
para o ensino digital
Não
gosto muito de escrever artigos-listas,
como este que você está
para ler. Porém, movido
pela enorme discussão que
minha última coluna causou,
achei que seria melhor, só
dessa vez, deixar de lado as especulações
e questionamentos e partir direto
para os exemplos.
Naquele texto defendi que a maioria
das escolas não prepara
seus alunos para exercer as profissões
do século XXI. Minha intenção
não foi crucificar as instituições
de ensino, mas mostrar que elas
não são perfeitas
nem estão imune à
inovação.
Entre aquela coluna e esta tive
a oportunidade de assistir ao
excepcional documentário
Waiting
for Superman, que,
ao mostrar as deficiências
do sistema educacional público
no país líder em
inovação e tecnologias
digitais, me fez ver como o problema
das escolas está distante
de ser exclusividade de países
desprovidos de recursos.
Ao redor do mundo, o aluno que
não gosta da escola muitas
vezes é porque não
vê nela conexão com
a realidade. Até um congestionamento
de trânsito tem mais opções
e estímulos do que um ambientes
de ensino monótono, entediante,
silencioso e autoritário.
O professor que evita a tecnologia
entra em uma relação
perde-perde: se convencer a classe
que o computador e a internet
não prestam, terá
criado analfabetos digitais, despreparados
para viver em um mundo de conexões.
Se fracassar nessa tentativa,
poderá gerar um sentimento
que a escola não presta
para nada, e que tudo pode ser
aprendido em tutoriais na rede.
Não sei qual cenário
é pior.
Mas sou otimista. Muito otimista.
Acredito sinceramente que a maioria
das tecnologias que nos tornam
nerds podem ser usadas, sem muito
esforço, para construir
a escola do futuro. Apresento
a seguir 40 ferramentas, a maioria
gratuitas, que podem ser usadas
para incrementar a qualidade das
aulas, sem demérito do
professor. Não é
preciso conhecimento técnico
para operá-las.
Blogs - Transformam
o professor em material didático
de referência. Podem conter
o programa das aulas, bibliografia,
exemplos e tarefas, abrir espaço
nos comentários para que
os alunos publiquem suas dúvidas
e criar um ambiente de contato
extraclasse. As principais ferramentas
para se construir um Blog são
Wordpress,
Blogger,
MovableType
e TypePad.
Microblogs -
Se a informação
for curta e menos estruturada,
com pequenos conteúdos
dispostos em periodicidade aleatória
(como exemplos de aplicações
práticas do que foi ensinado
em classe), talvez seja melhor
usar formas simplificadas de Blogs,
também chamados de microblogs.
O Tumblr
é a ferramenta mais conhecida
para essa tarefa, mas,
Posterous, Presently
e Xanga
também dão conta
da função.
CMS - Para sistemas
maiores e informações
mais complexas, com várias
funções integradas,
talvez seja melhor usar administradores
de conteúdo, sistemas dinâmicos
de publicação como
Joomla,
Plone,
TextPattern
ou Drupal
--este último é
usado, por exemplo, pelo governo
dos EUA em uma tentativa de aumentar
a transparência de seus
dados.
Sites - Se o
que se precisa é um site
simples, estático, com
algumas informações
estáticas ou que mudam
pouco (como endereços ou
telefones, por exemplo), o mais
fácil é usar um
construtor de sites, ferramenta
que automatiza sua criação
sem precisar de uma linha de código.
Os principais portais do país
têm essas ferramentas, como
o UOL,
Terra
e iG.
Meu predileto é o WebFácil.
Redes sociais
- Se não dá para
ignorar o Facebook,
possível replicá-lo
e criar, em aula, um pequeno sistema
de relacionamento. Escolas, afinal,
sempre foram redes sociais. Digitalizar
as discussões em sala de
aula pode aumentar o contato do
aluno com a disciplina. As melhores
ferramentas para essa tarefa são
SocialGo, Elgg, Lovdbyless e CommunityEngine.
Ambientes - Até mesmo sistemas
completos de ensino à distância
podem ser criados por um professor
qualquer, em uma sala de aula
de qualquer lugar do mundo, desde
que ele tenha um computador mediano
e um acesso à rede. Serviços
como o Moodle, Engrade, Atutor
e Manhattan têm comunidades
fortíssimas que servem
como boas redes de apoio para
qualquer dúvida técnica
ou de aplicação.
Referências - Há
muito material científico
compilado das bibliotecas digitalizadas
pelo Google Acadêmico. O
Projeto Gutenberg compila vários
livros de acesso público
e gratuito. Sites como o Scribd
são boas alternativas para
a busca de conteúdo. E
se você tem medo que seus
alunos copiem o material da rede,
pode desmascará-los com
o CopyScape.
Fóruns e debates -As precursoras
da Internet eram quase só
compostas por sistemas de mensagens
e grupos de discussão.
Mesmo hoje, ferramentas que estimulam
a troca de idéias são
bastante populares e fáceis
de usar. Nelas o professor pode
criar um tópico e deixar
que os alunos discutam suas aplicações.
Não se preocupe se os alunos
terão alguma dificuldade
em operá-los: boa parte
dos repositórios de pirataria
tem esse formato, eles devem estar
habituados. Boas ferramentas para
a criação de fóruns
são PHPbb, IP Board, SimpleMachines
e Bbpress --este feito pelos mesmos
criadores da ferramenta de blogs
Wordpress, e tão fácil
de usar quanto ele.
Wikis - Os trabalhos de alunos
não precisam mais ser impressos.
Eles podem ser transformados em
verbetes de uma Wiki, um sistema
de produção de conteúdo
colaborativo como se fosse sua
versão própria da
Wikipédia. O sistema usado
pela enciclopédia mundial
é o MediaWiki, mas o Twiki
e o WikiSpaces também são
muito bons. . Existem muitos serviços
parecidos, que podem ser comparados
no site WikiMatrix.
Podcasts - Para encerrar a lista,
podcasts, ou arquivos em áudio
transmitidos pela rede. Já
que boa parte dos alunos têm
celulares e que passam o tempo
todo com eles, nada melhor do
que gravar as aulas ou conteúdos
associados e torná-las
portáteis. Audacity é
uma ótima ferramenta para
gravar e editar som, SoundCloud
é muito boa para levar
o som para as redes, LiveMocha
para aprender e ensinar línguas
e TreinaTOM para criar web-aulas.
Essas são só algumas
ferramentas. Não seria
difícil listar serviços
gratuitos para gerar formulários
de pesquisa, compartilhar documentos,
mostrar vídeos educativos,
criar e-Books, organizar projetos
coletivos, fazer listas de tarefas,
estruturar mapas conceituais,
mostrar frisas do tempo, promover
eventos, compartilhar websites,
textos e planilhas com contribuição
remota... a lista não tem
fim.
Até mesmo quem não
quer ou não pode lidar
com as ferramentas novas pode
usar as redes conhecidas para
gerar conteúdo de qualidade.
Twitter pode ser usado pelos alunos
para matar dúvidas ou para
coordenar equipes, como mostra
esta professora do Texas. Grupos
privados no Orkut ou Facebook
respondem melhor e mais rápido
às mensagens que seus equivalentes
por e-mail (além de serem
muito mais fáceis de configurar).
O YouTube pode ser o melhor recurso
para expandir os horizontes de
salas de aulas com poucos recursos.
Por ele se pode mostrar Paris,
uma gráfica ou movimentos
de ginástica olímpica.
Só não se pode ignorá-lo.
A Internet, enfim, não
é o inimigo. A resistência
ao progresso e a recusa em aprender
é que o são.
Luli
Radfahrer é Ph.D.
em Comunicação Digital
pela ECA (Escola de Comunicações
e Artes) da USP, onde é
professor há 18 anos. Trabalha
com internet desde 1994 e já
foi diretor de algumas das maiores
agências de publicidade
do país. Hoje é
consultor em inovação
digital, com clientes no Brasil,
Estados Unidos, Europa e Oriente
Médio. Mantém um
blog com seu nome www.luli.com.br,
em que discute e analisa as principais
tendências da tecnologia.
Escreve quinzenalmente no caderno
Tec da Folha e na Folha.com.