Continuamente
temos presenciado a uma verdadeira
avalanche de
mudanças que diretamente têm impactado
o curso normal não só das
economias mundiais, além é claro
das próprias empresas. A relação
capital X trabalho também tem se
alterado de forma muito significativa.
Na
verdade, mudanças sempre existiram.
Porém, hoje as mudanças são constantes
e a velocidade em que elas ocorrem
é cada vez mais rápida. Como bem
observa Peter Drucker, a atual regra
dos negócios é estarmos preparados
para competir com competência, mesmo
porque o passado não mais vai se
repetir. O sucesso de ontem já não
garante mais o sucesso de hoje e
conseqüentemente não sustentará
o sucesso de amanhã.
Edward Lawler que é fundador e diretor
do Centro para Organizações Eficientes,
um centro de investigação da Escola
de Administração de Empresas da
Universidade da Califórnia do Sul,
foi o palestrante responsável em
abordar o tema Recursos Humanos
durante a Expo Management 1998,
evento realizado em Buenos Aires
nos dias 9, 10, 11 de Setembro.
E. Lawler, com muita propriedade
apontou as principais forças que
vêm regulando o cenário atual seja
ele econômico ou empresarial. (Tabela
1).
O sistema econômico mundial está
hoje fortemente inserido no domínio
do sistema privado sobre a propriedade
governamental, do mercado livre
sobre um controle central, o capitalismo
se sobrepondo ao socialismo, a democracia
ao comunismo, e, por último, os
mercados abertos praticamente eliminando
os mercados fechados.
Vale lembrar que numa economia cada
vez mais globalizada a arena é o
mundo, o que nos faz concluir que
hoje os desafios são bem maiores.
Os muros caíram. O paternalismo
está dando lugar à competência a
ao profissionalismo.
Por outro lado, grandes mudanças
também têm ocorrido no cenário empresarial.
As empresas necessitam rapidamente
ajustar-se a estes novos tempos
sob o risco de não mais se manterem
competitivas e não serem eliminadas
pela concorrência.
Em meio a toda esta turbulência
o ser humano, principal fator capaz
de tornar a empresa permanentemente
competitiva passa a ser o centro
das atenções, pois somente seres
humanos competentes e devidamente
qualificados poderão produzir ou
prestar serviços com qualidade.
Vivemos ainda o processo de transição
de modelos administrativos em muitas
empresas. O dinossauro corporativo,
burocrático pesado, extremamente
hierarquizado, com baixo valor agregado
está dando lugar a um novo modelo
de administração; mais ágil, rápido,
com poucos níveis hierárquicos,
focado no cliente com a revisão
permanente dos processos e com melhorias
contínuas.
Bem ou mal é verdade que muitas
empresas já fizeram ou passaram
por seus processos de dowsizing,
reengenharia, qualidade total etc.
É verdade também que a tecnologia
hoje está muito mais disseminada
por todos os cantos do planeta a
custos cada vez mais baixos.
É verdade também que hoje não seria
exagero nenhum se firmar que o mundo
está menor por decorrência de uma
intensa rede de telecomunicação.
TABELA 1 - Novos Paradigmas
do Cenário Empresarial
|
DE: |
PARA: |
Pouca
Competitividade |
Competição
Global |
Estabilidade |
Mudanças |
Previsibilidade |
Incertezas |
Individualismo |
Parceria |
Rigidez
Hierárquica |
Flexibilidade |
Poder
Centralizado |
Empowerment |
Relação
Ganha X Perde |
Relação
Ganha X Ganha |
Crescimento
da População |
Diminuição
da População |
Motivação
do tipo "Dilbert" |
Competência
e Profissionalismo |
Segurança
no Emprego |
Empregabilidade |
Diploma |
Educação
Continuada |
Carreira
Definida pela Empresa |
Carreira
como Responsabilidade do
Individuo |
Cargos |
Espaço
Organizacional |
A
própria Internet com cerca de 200
milhões de usuários pelo mundo afora
também está dando a sua contribuição
neste processo. Os consumidores
estão cada vez mais exigentes. O
comércio eletrônico tende a transformar
as regras do comércio convencional.
Estamos passando de uma força de
trabalho braçal para uma força de
trabalho intelectual. A gestão do
conhecimento na empresa é algo que
deva ser tratado com bastante atenção,
pois ela será um fator estratégico
não só contribuindo para a sobrevivência
das organizações mas, também pelo
seu crescimento sustentável.
Todos esses fatores devidamente
combinados estão acontecendo tão
rapidamente que as pessoas do topo
já quase não conseguem mais acompanhar,
definir e saber exatamente o que
ocorre na linha de frente, daí o
empowerment seja pela própria redução/
eliminação dos níveis hierárquicos
seja pela necessidade de buscar
uma agilidade que até então não
era exigida no passado.
Algumas conclusões são oportunas
à luz deste novo cenário. A capacitação
das pessoas será um dos fatores
críticos de sucesso para a sobrevivência
das empresas nestes novos tempos.
A prontidão para agir é outro ponto
importante, ou seja, necessitamos
de pessoas pró-ativas que possam
ousar, correndo riscos calculados
é verdade, mas que tentem buscar
novas soluções para antigos problemas
e que se sintam motivadas a fazerem
isto.
O conhecimento está em alta nesta
era do capital humano, porém conhecimento
só não basta. É preciso que este
conhecimento possa ser colocado
em prática, pois são as ações provenientes
do conhecimento que gerarão as soluções
de que necessitamos. Resultados
são conseqüências do nosso poder
de criar soluções para os problemas
ou desafios que nos são apresentados.
Evidentemente que deve haver também
por parte das empresas não só um
"habitat" propício, favorável
e encorajador a estas práticas como
uma política de incentivos que possa
recompensar todo este movimento
mesmo porque mão-de-obra barata
já deixou de ser vantagem competitiva
há algum tempo.
O que está ocorrendo no mundo dos
negócios é a forte convicção que
a qualidade de vida terá
importância cada vez maior para
as empresas interessadas em atrair
e manter talentos.
Em se tratando da área de Recursos
Humanos (R.H), a organização do
futuro deve alinhar suas estratégias
de R.H. a quatro pontos chave para
o aumento das qualificações dos
seus colaboradores.
O primeiro ponto está associado
ao conhecimento do trabalho,
do negócio e de todo o sistema que
envolve as operações. Um segundo
ponto é a informação sobre
os processos, qualidade, retroalimentação
do cliente, eventos e resultados
comerciais.
O terceiro ponto está relacionado
ao poder para agir e tomar
decisões sobre o trabalho em todos
os seus aspectos e, por último,
o quarto ponto diz respeito ao sistema
de recompensas praticado
pela empresa que deve estar ligado
aos resultados comerciais e ao crescimento
em capacidade de contribuições,
ou seja, no próprio desempenho das
pessoas.
"Algumas empresas perguntam
a seus clientes o que eles desejam.
As líderes de mercado procuram saber
o que seus clientes desejam antes
mesmo deles". Esta máxima colocada
por Gary Hammel C. K. Prahalad enfoca
bem o senso de pró-atividade que
hoje as empresas necessitam.
Para competir neste cenário às empresas
de alto desempenho procuram manter
pessoas com alta taxa de empregabilidade.
Empregabilidade sendo entendida
como a capacidade de desenvolver
novas competências para estar em
condições de atender as contínuas
exigências e desafios impostos no
mercado de trabalho.
No passado, um justo dia de trabalho
era recompensado por um justo pagamento
diário. A relação era a seguinte:
se você fosse leal, trabalhasse
duro e obedecesse as ordens, a empresa,
em troca, lhe ofereceria um trabalho
seguro e aumento de salário que
de certa forma gerava uma certa
segurança financeira. Hoje o novo
contrato de trabalho está inserido
dentro de uma nova formatação. O
que se busca é uma associação mutuamente
proveitosa entre empresa e colaboradores.
A nova regra é a seguinte: se você
desenvolve continuamente suas habilidades,
aplica-as de modo que possa ajudar
a companhia a ter sucesso, se você
efetivamente agrega valor ao negócio,
a empresa apoiará o seu desenvolvimento,
propiciará um local de trabalho
desafiante e lhe recompensará pela
suas contribuições. Esta é a nova
regra do jogo.
Na verdade a palavra emprego está
em extinção, bem como quase tudo
o que dela decorre. Hoje o que devemos
buscar é um trabalho. Antigamente
o importante era você ter um emprego
para toda vida. Hoje o que importa
é você ser empregável pela vida
toda. Daí a importância de investirmos
constantemente na nossa carreira,
com ou sem subsídios por parte da
empresa, não importa. O que importa
mesmo é que hoje o novo conceito
de carreira diz que é mais importante
você ser empregável do que ter um
emprego e portanto, parar de estudar
e de se atualizar é parar no tempo.
O sucesso da empresa está diretamente
ligado a seu pessoal, seu principal
ativo, responsável pelo aumento
da qualidade de seus produtos e
serviços, responsável no mercado
pela sua competitividade.
As organizações de alta performance,
além de manterem pessoas com alta
taxa de empregabilidade, também
visam construir e manter equipes
sinérgicas e competentes.
Dentre as características que definem
uma equipe de alta performance podemos
citar: liderança, alinhamento de
propósitos, comunicação afetiva,
uma visão comum do futuro, foco
no cliente, talentos criativos,
rapidez de respostas, responsabilidades
compartilhadas, senso de justiça,
ética, etc.
Vale lembrar ainda que cada gerente
da empresa também é um gerente de
recursos humanos na medida em que
ele direta e continuamente interage
com sua equipe de trabalho. Sendo
assim, cada gerente também é responsável
pela administração do capital humano.
Cada gerente da empresa, independente
de sua área de atuação, deve liderar
sua equipe, recrutar e treinar o
seu pessoal, deve comunicar e orientar
o curso das ações, deve avaliar
o desempenho de cada funcionário,
propor mobilizações etc.
Vivemos numa sociedade espantosamente
dinâmica, instável, desafiadora
e ao mesmo tempo evolutiva. Este
é o nosso tempo.
Correrá sérios riscos quem decidir
ficar esperando para ver o que acontece.
Cada tempo de espera é um tempo
perdido.
A adaptação a essa realidade, será
cada vez mais uma questão de sobrevivência.
Hoje os sistemas de informação disponíveis
nos oferecem uma infinidade de informações,
cabe a nós, saber filtrá-las extraindo
o que há de melhor e o que nos interessa
para as nossas tomadas de decisão.
Temos que saber diferenciar o
que é informação e o que é poluição.
Competir na era do capital
humano exige muito trabalho,
esforço e determinação.
O ser humano com toda a sua potencialidade,
é a figura principal na formatação
destes novos tempos e efetivamente
pode fazer a diferença no sentido
de construir não só empresas mais
ágeis e lucrativas, mas também e
principalmente um mundo justo e
humano pois só assim terá valido
à pena ter vivido estes novos tempos
em que o capital humano é
personagem principal desta nossa
história.
Roberto
de Oliveira Loureiro, é Professor
universitário e Coordenador de Treinamento
e Desenvolvimento Corporativo da
Duratex S.A.
roberto.loureiro@duratex.com.br
Fonte:
http://www.guiarh.com.br/p91.htm