| "As
angústias nascidas da técnica abalam todos os valores da civilização. O desenvolvimento
descontrolado das técnicas está à beira de se transformar no problema essencial
do mundo contemporâneo." Este
conceito está completando 50 anos. Trata-se da base temática do livro Aonde
vai o trabalho humano, escrito em 1950 por Georges Friedmann. Numa época em
que a globalização não existia, a informática e a automação das plantas industriais
eram absolutamente incipientes e a organização do trabalho ainda não havia sido
influenciada pelo modelo de divisão em células e práticas como a qualidade total
(desenvolvida a partir da explosão econômica japonesa) e ISO 9000, já se manifestavam
a preocupação e a angústia relativas à exigência de o ser humano, enquanto profissional,
manter-se atualizado diante da ebulição tecnológica. Hoje,
num mundo em que a tecnologia renova-se em velocidade fulminante e que a informação
é o mais importante diferencial das empresas, organizações e indivíduos, o problema
essencial indicado há 50 anos por Friedmann continua a desafiar a sociedade
humana, agora potencializada pela competitividade compulsiva da globalização.
Nesse contexto, a educação, genericamente, torna-se o paradigma essencial. Esta
afirmação é referendada, categoricamente, pelo economista Robert B. Reich, secretário
do Trabalho dos Estados Unidos no primeiro mandato de Bill Clinton, considerado
um dos mais influentes pensadores modernos sobre o futuro do trabalho e responsável
pela recuperação do nível de empregos em seu país. Reich, professor catedrático
da Universidade de Harvard, sempre deixou claro que a educação e a constante reciclagem
e aperfeiçoamento dos profissionais são fatores essenciais no contexto da nova
configuração do mercado de trabalho.
Essa questão crucial tem preocupado estudiosos e organizações internacionais.
Em 1993, quando a globalização e as transformações periféricas que suscitou já
se manifestavam de forma mais contundente, a Unesco (Organização das Nações Unidas
para a Cultura e a Educação) constituiu a Comissão Internacional sobre Educação
para o Século XXI. A missão do colegiado era exatamente a de delineara missão
dos educadores e do ensino de maneira geral na passagem do milênio, considerando,
basicamente, a internacionalização das economias e a necessidade de democratizar
o conhecimento para reduzir as desigualdades. O
grupo foi liderado pelo francês Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Européia.
As conclusões da comissão, conhecidas como Relatório Delors, foram apresentadas
em 1996. O texto reconhece o ensino como direito fundamental do homem, o que se
constitui em avanço conceitual importante para o novo século. Em outro segmento,
contudo, indica que, mais do que nunca, é necessário buscar respostas eficientes
para pôr fim à antiga angústia do homem profissional diante do avanço ininterrupto
e cada vez mais veloz das tecnologias e do conhecimento. O próprio Delors responde,
de forma incisiva, à questão: "O conceito de educação ao longo de toda a vida
aparece como uma das chaves de acesso ao século XXI". Ou seja, a educação continuada
é fator condicionante ao sucesso dos indivíduos na nova ordem econômica mundial.
É por isso que
o ensino à distância tem avançado geometricamente em todo o mundo. Afinal, é a
única forma capaz de conciliar a necessidade da educação continuada com a falta
de tempo e as dificuldades cada vez maiores de um profissional estar fisicamente
presente em uma sala de aula. Hoje, a tela do computador é uma sala de aula mundial,
infinita, na qual é possível fazer cursos de alto nível. Até pouco tempo atrás,
fazer qualquer curso ministrado por gurus internacionais do management, por exemplo,
exigia alguns meses de exílio numa ala residencial de campi como os de Harvard,
Columbia e MIT e o desembolso de considerável volume de dólares.
As tecnologias de informação e, mais recentemente, a Web constituem a chave para
o século XXI explicitada por Delors. Ou seja, são as ferramentas que viabilizam
a eficácia e qualidade dos novos modelos de educação continuada à distância. Dentre
todas as virtudes e problemas, a rede mundial de computadores assume papel fundamental
ao ampliar o acesso ao conhecimento, que se transforma no centro da competitividade
e na principal riqueza da sociedade contemporânea. Saber é o verbo que melhor
decodifica a senha do sucesso profissional no novo século.
* Carlos Alberto Júlio é CEO da HSM do Brasil e professor
dos cursos de MBA do ITA, da ESPM e da FEA/USP. |