Plano
Real: 19 anos depois, qual foi o maior legado?
(01/07/2013)
Análise
No dia em que ele completa 19 anos, economistas, analistas
e professores falam ao blog sobre o maior legado do
Plano Real. Leiam abaixo:
Simão Davi Silber, professor da FEA/USP: O maior
legado foi o de acabar com o imposto inflacionário,
a forma mais perversa que o governo utilizou para tributar
os mais pobres, já que eles não tinham
como se defender do crescimento diário dos preços
de 1% a 2%. Contribuiu para reduzir drasticamente a
desigualdade na distribuição de renda
do país. Foi a melhor política social
das duas últimas décadas. Nós não
teríamos a nova classe médiasem
a estabilidade dos preços.
Mauro Rochlin, professor de Economia Brasileira no
Ibmec-RJ: A estabilidade de preços é o
maior legado. Mas os desdobramentos disso também
devem ser contabilizados. O ganho de renda da parcela
mais pobre da população, a construção
de um ambiente macroeconômico mais propício
ao investimento (menor grau de incerteza) e a própria
queda do chamado Risco-Brasil compõem esta equação.
Luis Roberto Cunha, economista e professor da PUC-Rio:
O grande beneficiário da inflação
alta era o Estado; os grandes prejudicados, os brasileiros
que não tinham aplicações indexadas.
O Plano Real aprendeu com os fracassos anteriores, conseguiu
eliminar a indexação e deixou como legado
a importância do equilíbrio das contas
públicas para a inflação não
voltar.
Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco
ABC Brasil: O brasileiro passou a dar valor ao dinheiro
que carrega no bolso. Isso é importante em termos
econômicos e de cidadania. Hoje, quando os preços
sobem demais, ficamos indignados.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB:
O maior legado é, sem dúvida, a estabilidade
dos preços, que favoreceu o desenvolvimento do
mercado de crédito e de capitais do país.
Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria
e professora da PUC Rio: É ter dado à
sociedade a segurança de que o flagelo inflacionário
não é uma condição insuperável,
que a bagunça macroeconômica que nos afligiu
durante tantos anos pode ser arrumada e não deve
ser posta em risco. Esse reconhecimento generalizado
da população é parte do que vemos
nas manifestações das ruas. O momento
atual é demasiado complexo para ter a economia
como única explicação. Mas não
resta dúvida de que o brasileiro não quer
ver suas conquistas ameaçadas. O Plano Real pôs
em marcha todo o processo de inclusão social
que se viu nas últimas duas décadas ao
garantir a estabilidade macroeconômica. Graças
a ele, a revolução da classe média
foi possível. Agora, é preciso completá-la
com saúde, segurança, saneamento, transporte,
educação. Sem brincar com a inflação.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados: O maio
legado foi tirar o Brasil do curto prazo e levar para
o longo prazo. Ao trazer previsibilidade para o sistema
de preços permitiu que as empresas pudessem planejar
investimentos de forma mais adequada. Mas o Real por
si só não se sustentaria se não
tivesse um fundamento macro forte por trás que
foi se construindo nos anos seguintes até o início
do governo Lula. De lá para cá estamos
desmontando o que foi feito. Há muito o que comemorar,
mas há muito a temer, pois o edifício
do Real está com rachaduras profundas.
André Perfeito, economista-chefe da Gradual
Investimentos - A maior contribuição foi
no campo da política. O governo de FHC conseguiu
fazer um ajuste severo nas contas públicas. Este
novo pacto permitiu trazer maior racionalidade ao conjunto
da economia, mas impôs um desafio: tornar a política
fiscal funcional sem necessitar de uma Selic extremamente
elevada. Com o Real, o Brasil conseguiu seguir num rumo
mais firme. PT e PSDB deram substância ao Estado
democrático brasileiro e isso se expressa na
credibilidade da moeda. É justamente esse Estado
democrático forte que permitirá atravessarmos
as manifestações sem maiores sobressaltos.
Fonte:
Blog
Miriam Leitão
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