Meias Verdades
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Interessa ao contribuinte o aumento no número de estudantes que têm acesso ao ensino superior público e gratuito, o de maior qualidade no Brasil. Segundo os dados publicados, o governo FHC criou condições para que mais brasileiros entrassem no ensino superior público federal a cada ano -em relação ao que Lula tem feito. Nos anos FHC, o crescimento anual nas matrículas nas federais foi de 5,2% ao ano, bem mais alto do que os 3,3% do primeiro ano (o único para o qual a administração atual foi capaz de mostrar os dados) de Lula. A política que atende ao contribuinte e aumenta o acesso à educação pode não ser a mesma que alegra os reitores. O amor ao contraditório -do qual, em geral, nasce mais conhecimento- exigiria a menção, quando se faz referência ao crescimento dos recursos federais para financiamento à pesquisa do FNDCT, que tal crescimento se deve aos Fundos Setoriais, uma criação do Ministério da Ciência e Tecnologia no período FHC. Um governo posterior constrói sobre o que o anterior deixou. Os recursos do FNDCT aumentaram, mas, infelizmente, em relação ao PIB, o valor do investimento em P&D no país vem diminuindo desde 2001.
O manifesto dos reitores, preocupado com
a educação dos brasileiros,
poderia ter lembrado também que,
no governo FHC, a descentralização
de recursos e o Fundef permitiram ao Brasil
-e aqui, sim, pela primeira vez em sua história-
universalizar o ensino fundamental. Foi
uma conquista marcante para o país
e para todos os que se preocupam com o avanço
da educação; e especialmente
importante para os brasileiros mais pobres,
para os pretos e pardos, que formavam o
maior contingente fora da escola. Ajudaria
a ampliar o debate sobre o nevrálgico
tema da educação e do ensino
superior se os reitores explicitassem que
o candidato Alckmin governou o Estado onde
estão as melhores universidades públicas
do país: USP, Unicamp e Unesp, as
três com regime de autonomia e vinculação
orçamentária. Regime que nenhuma
universidade federal tem, e ao qual a "reforma
universitária" do governo Lula
nem sequer aludiu. Nos últimos cinco
anos, o crescimento nas matrículas
em São Paulo tem sido de 5% por ano
-50% maior do que o governo Lula tem conseguido.
Na pós-graduação, o
crescimento nos últimos dez anos
foi de 68%. São Paulo faz o maior
esforço nacional em pós-graduação
e pesquisa, sendo o estado que mais forma
doutores. Larga proporção
deles vem dos outros estados e a eles retorna
para desenvolver as instituições
locais. Nas universidades paulistas, mais
de um terço das matrículas
é no período noturno, aumentando
as chances de estudo em boas universidades
para os que precisam trabalhar durante o
dia. Nas federais, esse percentual é
de somente 23% -mas parece ser considerado
bom pelos reitores signatários e
pelo candidato Lula. Também nesse
assunto, a "reforma universitária"
do governo Lula é tímida.
Em São Paulo, é a Constituição
que preconiza o terço de vagas no
período noturno. No apoio à
pesquisa, o governador Geraldo Alckmin honrou
com precisão o estabelecido na Constituição
quanto ao financiamento da Fapesp. Nunca
houve nenhum contingenciamento, como o governo
FHC fez e o governo Lula continua fazendo,
com os recursos dos Fundos Setoriais e do
FNDCT. Fernando Brant escreveu: "E
o que foi feito é preciso conhecer,
para melhor prosseguir. Falo assim sem tristeza.
Falo por acreditar. Que é cobrando
o que fomos. Que nós iremos crescer".
Está na hora de o Brasil crescer.
Crescer no respeito a outras opiniões,
à verdade, ao debate límpido
e claro sobre os destinos do país,
sem demagogia, sem rotulações
e sem simplificações. Senão
só o que resta é a tristeza
do pensamento único.
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CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ, 50, engenheiro de eletrônica graduado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e doutor em física pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), entidade que presidiu de 1996 a 2002. Foi reitor da Unicamp (2002-2005).
Comentário de ROBERTO ROMANO DA SILVA :
Excelente
artigo postado acima. Desde o título:
se os Magníficos adulões falaram
meias verdades, é porque invocaram
meias mentiras. Como não existe verdade
ou mentira pela metade (é o mesmo
caso da virgindade...) o título já
mostra que os Magníficos estão
longe de merecer um cargo de orientador
das pesquisas e do ensino. Estes, sem verdade,
são apenas charlatanismo. O artigo
também indica o caminho que deveria
ter sido trilhado pelas oposições
no confronto com o PT. Dados sólidos,
argumentos fortes, definição
de alvos inquestionáveis. Note-se
que a reação do Dr. Carlos
Henrique Brito Cruz contra os Magníficos
Bajuladores vem no mesmo dia em que a Dra.
Maria Sylvia Carvalho Franco os questiona,
na página 2 da Folha (reproduzido
abaixo). Trata-se de pessoas que sabem o
que fazer na Universidade, prezam o saber
e não se deixam intimidar pelos ataques
ou pelas ofertas de cooptação.
O Dr. Brito é cotado para uma Secretaria
do Governo Serra. Excelente escolha. Esperemos
que ele mantenha no cargo a mesma segurança
e firmeza que o marcou até hoje,
para bem de São Paulo e do Brasil.
Roberto Romano
PS:
Na página 03 da Folha, mesmo lugar
onde foi publicado o artigo do Dr. Brito,
lemos hoje uma peça brilhante que
expõe a tática do "morde
e assopra" inagurada no PT por Tarso
Genro. A ex-prefeita Suplicy fala em "lacerdismo"
para o setor tucano comandado por FHC e
joga dengos, zumbaias e rapapés para
Aécio Neves e José Serra.
A desfaçatez é grande, esperemos
que os adulados agora não caiam na
cilada. É perfeitamente possível
administrar como governadores da oposição,
exigindo da presidência da república
o respeito pelo país, sem necessidade
de rastejar diante do Noço Líder
(para usar a saborosa expressão de
Alvaro Caputo, do Blog Pérolas).
Se algum político, eleito para representar
a inconformidade cidadã contra os
crimes (caixa dois é crime, sim senhor!)
do PT, se arvorar em áulico do Planalto,
pode ter a certeza: nem será mais
acolhido pelos eleitores, nem será
respeitado pelos donos do poder. Se escutarem
os que neles votaram, terão futuro
digno, mesmo perdendo eleições.
Se aceitarem os conselhos da sereia lullista,
estarão jogados na abjeção
política.
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Fonte: Filosofia Política