Revolta dos Cidadãos
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A
maioria das pessoas já nem presta mais
atenção nos índices de
inflação. Demorou muito tempo
para que se visse, com clareza, que o pobre
era a maior vítima dos preços
altos e, mais ainda, que o rigor dos gastos
públicos era fundamental para controlar
a inflação.
Ninguém seriamente teria a coragem de
propor hoje um crescimento com preços
subindo, até porque o presidente não
conseguiria se sustentar.
Também já não se valoriza
tanto o sistema democrático, afinal virou
rotina. Foram necessários, porém,
20 anos para que ninguém, com um mínimo
de importância, defendesse a idéia
de que coibir as liberdades é um jeito
de proteger uma nação. Quem conseguiu
derrotar a praga inflacionária não
foram os militares tão fortes, mas os
civis, obrigados a convencer pelo diálogo.
Demorou ainda mais para se tornar visão
dominante a crença de que, com todos
os seus defeitos, a economia de mercado, desde
que equilibrada com investimento público
em educação e saúde, é
mais eficiente e mais justa. O dirigismo estatal
se prestou a cenas explícitas de corrupção
e incompetência. Não é à
toa que Lula e Delfim Neto quase falam hoje
a mesma língua. O presidente aprendeu
sobre os valores do capitalismo -e Delfim sobre
a importância de investimentos maciços
em capital humano.
Se
a democracia foi eficiente para enfrentar a
inflação, ainda não obteve
bons resultados em termos de crescimento econômico
-um desastre que, entre idas e vindas, perdura
há mais de duas décadas, espalhando
miséria por todos os lados.
Tanto tempo produzindo tanto desemprego levou
ao aprendizado de que, na raiz do baixo crescimento,
está um Estado que gasta muito e, pior,
gasta mal, cobrando muito imposto e forçando
altas taxas de juros.
O desmonte da máquina estatal, tornando-a
estímulo, e não trava à
produção e à geração
de empregos, estará para o futuro como
a batalha pela volta da democracia esteve no
passado.
A reação à proposta de
duplicação dos salários
dos parlamentares e a qualquer aumento de imposto
integra a percepção sobre o poder
destrutivo do Estado.
A mais importante das visões que vão se tornando dominantes é a de que a democracia, o crescimento e a distribuição de renda são limitados sem educação de qualidade. Nunca, como neste ano, o assunto mereceu tanta atenção de tanta gente poderosa, a ponto de os principais empresários do país terem feito um pacto pela educação.
Com
qual rapidez iremos aproveitar todo esse aprendizado
é ainda dúvida. O fato é
que, se Lula não souber gerar mais crescimento
com distribuição de renda, sua
vida será um inferno como a de qualquer
outro presidente, até porque o clima
de guerra civil só tende a aumentar.
Mas nunca tivemos tanta gente convergindo para
um mesmo diagnóstico sobre nossos problemas
e para um projeto de país -por isso,
o Brasil nunca esteve tão bem.
PS - Neste momento, estou em Barcelona, um dos melhores exemplos de competência pública mundial ao sair da rota da degradação. Tornou-se uma cidade modelo, exuberante, rica, porque seus governantes e moradores decidiram trabalhar em torno de um projeto comum.
gdimen@uol.com.br