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Artigo: Arlete Embacher
Esperança imortal

Confesso a tristeza que sinto a cada notícia divulgada sobre os acontecimentos ocorridos na vida política desse país, quando constato que representantes do povo (Congresso Nacional) que deveriam ser punidos, cassados, por terem roubado o nosso dinheiro, por terem se apropriado das coisas públicas ao seu bel prazer, simplesmente são absolvidos por acordos mafiosos e corporativos entre aqueles que estão ali para representar o povo e que deveriam honrar o voto que receberam. Não antevejo mobilização de ação coletiva popular que poderia minimizar a minha indignação. Não enxergo nenhuma manifestação de ação ou de mudança no quadro. Dá-me a impressão de uma conivência silenciosa. Não quero crer que as manifestações coletivas estejam fadadas ao fracasso.

A minha tristeza chega a doer quando, conversando com outras pessoas comuns sobre caixa dois, valerioduto, políticos que se "vendem" para trocar de partido, transferências de dólares, enfim, os roubos ocorridos no governo, deparo-me com pessoas, assim como eu - do povo - dentre os quais: feirantes, manicures, entregadores de pizza, operacionais da telefônica, estudantes, argumentando, com a maior simplicidade: "Eles foram espertos, roubaram. Se eu estivesse no lugar deles, faria a mesma coisa." Ou, ainda, "Eles foram burros. Deixaram-se pegar". "Não é só esse partido que rouba. Todos roubam". Ainda mais... "Peguei sim o CD da escola. Os donos são mais ricos que eu." Ou, "Só pobre tem de dar exemplo neste país?" Neste último caso, uma mãe justificando furto de filha.

Nesse momento paro para pensar em meu trajeto de trinta anos como educadora. O que fiz? Como pode uma geração mais jovem tratar com tanto descaso a coisa pública e privada? Como o senso comum aceita e reproduz condutas desonestas, comportamentos reprováveis dessa magnitude?

Mas, tal qual Ana Carolina, na leitura do texto de Eliza Lucinda: "Não admito. A minha esperança é imortal. Ouviram? IMORTAL."

Nem tudo pode estar perdido. Existem pessoas sóbrias, honestas e que se recusam à pratica usurpadora. São filhos de famílias honestas, que dão valor ao trabalho duro e que sabem o quanto é difícil ganhar o dinheiro que é colocado na mesa de sua casa. Famílias que nos passaram o significado de ética, honra e valores. Nesse momento agradeço a Deus a família que tive. Sou privilegiada. A minha esperança também é imortal.

Demorei 20 anos para votar para presidente, sonhava com a democracia, não posso deixar de exercer o meu papel de cidadã nesse momento. Não posso permitir que a democracia corra riscos por causa desse grupo corporativista de políticos que, enredados na lama da corrupção, ignoram a ideologia que pregaram para atingir o poder, que execram o voto que receberam e protegem-se nas sombras uns dos outros contra qualquer tentativa de desestabilização do status quo que atingiram através do discurso; discurso este que hoje tem sido produzido, encenado e dirigido por competentes marqueteiros políticos que transformam o trágico candidato num produto vendável, desejável, envolto numa deliciosa ilusão que fascina através dos raios luminosos dos out-doors, do colorido cenário da televisão e do discurso produzido em laboratório que distorce a realidade.

Quando vejo culpados negando a verdade já apurada, tentando desqualificar a mídia, jogando a culpa na oposição, percebo como os jogos de palavras são perigosos; de repente a mentira passa a ter uma conotação "verdadeira" na boca dos culpados. Estamos em estágio de Alerta.

Faremos a nossa parte: a partir de hoje a MiniWeb Educação terá uma seção com textos reflexivos sobre filosofia e política, enfocando, evidentemente, a atual situação do país.

08/03/2006

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