Para construir o futuro
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Vamos aos fatos: Até a criação do Plano Real, a economia brasileira sofria de inflação crônica, que consumia os salários. Qual foi a atitude de Lula ante o Plano Real? Combateu-o ferozmente, afirmando que se tratava de uma medida eleitoreira para durar três meses.
À
outra medida, que veio consolidar o equilíbrio
de nossa economia, a Lei de Responsabilidade
Fiscal, Lula e seu partido se opuseram radicalmente,
a ponto de entrarem com uma ação
no Supremo para revogá-la. Do mesmo
modo, Lula se opôs à política
de juros do Banco Central e ao superávit
primário, providências que complementaram
o combate à inflação
e garantiram o equilíbrio econômico.
Essas medidas, sim, mudaram o Brasil, preservando
o valor do salário e conquistando a
confiança internacional.
Lembro-me do tempo em que o preço do pão e do leite subia de três em três dias.
Quem tinha grana, aplicava-a no overnight e enriquecia; quem vivia de salário comia menos a cada semana.
Se dependesse de Lula e seu partido, nenhuma daquelas medidas teria sido aplicada, e o Brasil -que ele viria a presidir- seria o da inflação galopante e do desequilíbrio financeiro. Teria, então, achado fácil governar?
Após três tentativas frustradas de eleger-se presidente, abandonou o discurso radical e virou Lulinha paz e amor. Ao deixar o governo, com mais de 80% de aprovação, afirmou que "é fácil governar o Brasil, basta fazer o óbvio". Claro, quem encontra a comida pronta e a mesa posta, é só sentar-se e comer o almoço que os outros prepararam.
A verdade é que Lula não introduziu nenhuma reforma na estrutura econômica e social do país, mas teve o bom senso de dar prosseguimento ao que os governos anteriores implantaram. A melhoria da sociedade é um processo longo, nenhum governo faz tudo. Inteligente, mas avesso aos estudos, valeu-se de sua sagacidade, já que é impossível conhecer a fundo os problemas de um país sem ler um livro; quem os conhece apenas por ouvir dizer não pode governar.
Por isso acho que quem governou foi sua equipe técnica, não ele, que raramente parava em Brasília. Atuou como líder político, não como governante, e, se Dilma fizer certas mudanças, pouco lhe importará, pois nem sabe ao certo do que se trata. Para fugir a perguntas embaraçosas, jamais deu uma entrevista coletiva.
Afinal, ninguém, honestamente, acredita que com programas assistencialistas e aumento do salário mínimo se muda o Brasil.
O tempo se encarregará de pôr as coisas em seu devido lugar. O presidente Emílio Garrastazu Médici também obteve, em 1974, 82% de aprovação.
FONTE: Entrevista do poeta Ferreira Gullar à Folha Ilustrada. Data 02/06/2010.
http://adm-pub-ufop.blogspot.com/2011/03/plano-real-lula-ferreira-gullar-folha.html
Poeta
maranhense de riquíssima obra literária,
Ferreira Gullar foi, em 2002, indicado por
9 professores de diversas universidades dos
Estados Unidos, do Brasil e de Portugal para
o Prêmio Nobel de Literatura. Em sua
biografia, consta ter-se filiado em 1964 ao
Partido Comunista Brasileiro, onde, ao lado
de Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes, Thereza
Aragão e outros, fundou o "Grupo
Opinião". Entrando em 1970 para
a clandestinidade, esteve exilado em Moscou,
Santiago, Lima e Buenos Aires, período
em que foi colaborador do semanário
"O Pasquim". Absolvido, por unanimidade,
pelo STF, das acusações que
lhe foram imputadas, regressou ao Brasil em
1977. Doutor Honoris Causa pela UFRJ, recebeu
o Prêmio Jabuti (2007) e o Prêmio
Camões (2010), exercendo atualmente
intensa atividade literária e jornalista.
Colaborador permanente da Folha de São
Paulo e de outros órgãos da
imprensa, foi este ano candidato a membro
da Academia Brasileira de Letras