Escola pública da Grande SP obriga alunos a rezar antes da aula

Ricardo Gallo, na Folha de S.Paulo (06/04/2012)
Após denuncia de aluno Diretora é afastada

Os alunos se postam enfileirados na quadra da escola estadual Gertrudes Eder, em Itapecerica da Serra, Grande SP. Uma professora pede silêncio: é a hora do pai-nosso. Lá, é assim todo dia; antes de entrar na sala de aula, os estudantes têm de orar. A regra vale para os turnos da manhã e da tarde. À noite, não.

Obrigar alguém a rezar em escola pública é inconstitucional. Funcionários da instituição dizem não haver obrigação: é possível ficar em silêncio na hora do pai-nosso. Mas o fato é que todos os alunos têm que ouvir a oração.

A Folha acompanhou dois dias de oração na escola, do lado de fora. A professora que comandava a reza ameaçou reduzir o intervalo dos que demorassem a ficar quietos e perguntou quem se dispunha a ir na frente puxar a oração.

Só depois de orar é que eles eram autorizados a ir para a sala, o que significa perder até dez minutos de aula.

VERGONHA

“Antes, rezava porque tinha vergonha de ficar quieto. Agora não tenho rezado mais”, afirma Guilherme Marçal, 13, do 9º ano, que se declara ateu.

Ele contou à mãe (católica) e ao irmão mais velho (ateu) que se sentia constrangido com o olhar de reprovação dos colegas e professores diante do seu silêncio -o que os levou a reclamar à escola; como resposta, disseram ter ouvido que a maioria concordou “democraticamente”.

O irmão de Guilherme, o professor de história Wanderson Marçal, 21, afirma que a oração diária acontece ao menos desde o ano passado.

Mães disseram que o pai-nosso foi combinado pela direção quando o ano letivo começou. A iniciativa da reza é da diretora Rosa Machado, que, indagada, orientou a reportagem a falar com a Secretaria de Estado da Educação.

O 9º ano, o mesmo de Guilherme, ficou abaixo da média no último Idesp (índice de avaliação do governo).

SEM PAI-NOSSO

Ontem, procurada pela Folha, a Secretaria da Educação proibiu a prática do pai-nosso e decidiu afastar a diretora “preventivamente” para apurar o fato.

“A secretaria não compactua com o desrespeito ao preceito constitucional da laicidade do Estado e do ensino público, que acarreta o desrespeito ao direito de liberdade de escolha religiosa por parte dos alunos e familiares”, diz a pasta, que não permitiu que a diretora falasse.

Na terça, a Folha revelou que um aluno de uma escola estadual de Miraí (MG), ateu, disse que uma professora o perseguia por ele não rezar. A professora não quis falar.

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