Mainardi
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Eu sei que em tempos de populismo rasteiro não pega bem afirmar algo assim, mas o voto popular não é necessariamente o melhor método para escolher nossos governantes. Eu não escolheria Lula, por exemplo, nem para abrir e fechar o portão da garagem do meu prédio. O seu José é melhor. É mais eficiente. É mais honesto. O eleitor erra. Quase sempre. Em todos os lugares.
O que torna a democracia incomparavelmente superior a todos os outros sistemas não é o método de escolha dos governantes, e sim a possibilidade que ela dá de nos livrarmos deles. Um professor Luizinho pode embolsar 30 000 reais, mas uma democracia sempre irá dispor de mecanismos para puni-lo. Quando esses mecanismos deixam de funcionar, a democracia não serve para mais nada. Ela perde o sentido. Foi exatamente o que aconteceu conosco. O país poderia ter dado certo. Não deu. Pena.
O importante é não se abater com isso. Eu não me abato. Tenho uma receita. Ninguém é tão patologicamente impermeável à realidade quanto eu. Imite o mestre. Minha regra é muito simples: nunca me distancio mais de 800 metros de casa, para um lado ou para o outro. Pouco tempo atrás, eu disse que pagaria para não ter de ir a Cuiabá, mas o fato é que acabei criando minha própria Cuiabá, aqui no Rio de Janeiro. Meu contato com o resto do país é limitado ao que me é mais familiar. Uns quarteirões para cá, uns quarteirões para lá. Recorro também a uma rotina excepcionalmente rígida. De manhã, leio os jornais e as mensagens das "Mainardetes do Orkut". Trata-se de uma página na internet em que algumas leitoras reclamam do meu corte de cabelo. À tarde, levo meu filho mais velho à escola, brinco com o mais novo, penso distraidamente num assunto para a coluna, tiro um cochilo, vou buscar meu filho na escola. Todos os dias, no mesmo horário, o professor Luizinho toca insistentemente a campainha de casa. Eu não abro a porta.
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Veja
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