Artigo:
Gilberto Dimenstein
A
bela história de Cristovam
03/10/2006
Cristovam Buarque teve menos de 3% dos votos
válidos, o que deveria colocá-lo
na condição de um inexpressivo
candidato. Mas é um vencedor.
Venceu,
inicialmente, porque foi o primeiro candidato
presidencial em toda a história do
Brasil a colocar a educação
como a prioridade das prioridades. Durante
toda a campanha, bateu na mesma tecla, apesar
de saber que isso lhe faria parecer chato.
Disse o que acreditava; e, diga-se, não
é uma invenção de campanha,
afinal ele sempre acreditou na educação
com uma chave para o desenvolvimento nacional.
Está na sua biografia ter sido um dos
principais criadores de uma das melhores idéias
sociais brasileiras, a bolsa-escola.
Venceu,
também, porque ele está navegando
em uma onda contemporânea, que, com
a eleição, lhe deu visibilidade
e o fez recuperar o desgaste de ter sido ministro
de Lula, demitido por telefone. Numa campanha
de poucas idéias, Cristovam se apresentou
como defensor de um projeto não apenas
viável mas indispensável para
o país.
Com
seus 3%, que significam cerca de 2,5 milhões
de votos, ele apenas adiantou o que, mais
cedo ou mais tarde, um presidente terá
de fazer se quiser mesmo tirar o Brasil da
indigência mental e da pobreza material.
Ter idéias, e lutar e ficar sozinho
por elas, talvez não renda votos. Mas
dá uma bela história. Já
é uma coisa neste país de gente
com muitos votos, poucas idéias --e
quase nenhuma história.
Gilberto
Dimenstein, 48, é membro do
Conselho Editorial da Folha e criador da ONG
Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de
jornalismo comunitário da Folha. Escreve
para a Folha Online às terças-feiras.
Fonte:
Folha Online