O
Estado de S.Paulo - 30 de outubro
de 2010
(Grifos MiniWeb Educação)
Quem suceder ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva só
poderá construir o futuro
e consolidar o Brasil como grande
economia se for capaz, em
primeiro lugar, de proteger a
estabilidade conquistada a partir
dos anos 90. Precisará
cumprir uma longa agenda para
modernizar o País, torná-lo
tão competitivo quanto
as economias mais dinâmicas
e garantir seu lugar entre as
potências. Mas, para isso,
o governo terá de abandonar
o voluntarismo, renunciar à
farra com dinheiro público
e retomar o caminho da responsabilidade.
Esse caminho foi claramente abandonado
e a mais nova comprovação
desse fato é a escandalosa
manipulação das
contas públicas.
Nenhum
avanço teria sido possível,
nos últimos oito anos,
sem a base construída até
2002. O combate à
pobreza teria sido muito menos
eficiente se a inflação
desenfreada continuasse corroendo
cada aumento salarial e cada centavo
das políticas sociais.
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva reconheceu esse
fato e por isso respeitou a ação
do Banco Central, mesmo contra
as pressões dos companheiros
e aliados. Mas seu compromisso
com a política responsável
tem sido cada vez mais frouxo
- tanto mais frouxo quanto maior
a sua dedicação
ao jogo eleitoral e ao seu projeto
de poder.
O
próximo governante deverá,
portanto, enfrentar uma dupla
tarefa, se não quiser condenar-se
ao fracasso. Terá de afastar
o risco de um retrocesso, preservando
o tripé da estabilidade:
uma política realista de
metas de inflação,
respeito à responsabilidade
fiscal e câmbio flutuante.
Para manter esse rumo, terá
de corrigir uma série de
desvios.
Precisará conter a expansão
do gasto corrente, abandonar a
demagogia com os salários
do setor público, renunciar
ao empreguismo e ao aparelhamento
do governo. Deverá buscar
a eficiência do setor público
- inaceitável para a ideologia
petista - e buscar o máximo
retorno para cada centavo do orçamento.
Uma
efetiva poupança pública
será indispensável
tanto para o crescimento seguro
da economia quanto para a adoção
de uma política anticíclica
digna desse nome, como a adotada,
por exemplo, no Chile: economizar
em tempos de prosperidade para
gastar nas fases difíceis.
Com
o manejo responsável e
eficiente do dinheiro público,
realizar a decantada reforma tributária
será muito mais fácil.
Será necessária,
naturalmente, uma complicada negociação
com Estados e municípios,
uma tarefa evitada, durante oito
anos, pelo presidente Lula.
Se
o próximo governo fracassar
nesse item, por incompetência
ou indisposição
para missões difíceis,
o empresário brasileiro
continuará em séria
desvantagem no jogo internacional.
Mais que isso, poderá encontrar
dificuldade crescente para competir
e, portanto, para produzir e criar
empregos. Todos os candidatos
prometeram trabalhar por essa
reforma. Nenhum, no entanto, detalhou
a promessa nem disse como enfrentará
a tarefa.