Antigamente,
se mentia com bons álibis; hoje, as tramoias e as patranhas
são deslavadas; não há mais respeito nem
pela mentira. Está em andamento uma "revolução
dentro da corrupção", invadindo o Estado em
nossa cara, com o fito de nos acostumar ao horror. Gramsci foi
transformado em chefe de quadrilha.
Nunca antes nossos vícios ficaram tão explícitos,
nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Já
sabemos que a corrupção no País não
é um "desvio" da norma, não é um
pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos
e nas almas. Nosso único consolo: estamos aprendemos muito
sobre a dura verdade nacional neste rio sem foz, onde as fezes
se acumulam sem escoamento. Por exemplo: ganhamos mais cultura
política com a visão da figura da Erenice, a burocrata
felliniana, a "mãe coragem" com seus filhos lobistas,
com o corpinho barbudo do Tuminha (lembram?), com o "make-over"
da clone Dilma (que ama a ex-Erenice, seu braço direito
há 15 anos), com o silêncio eufórico dos Sarneys,
do Renan, do Jucá... Que delícia, que doutorado
sobre nós mesmos!
Ao menos, estamos mais alertas sobre a técnica do desgoverno
corrupto que faz pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas
leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele,
tudo proclamado como plano de aceleração do crescimento
popular.
Nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação,
aberta ao meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura
de novidades imundas, mas fecundas como um adubo sagrado, belas
como nossas matas, cachoeiras e flores.
Os canalhas são mais didáticos que os honestos.
Temos assistido a um show de verdades mentirosas no chorrilho
de negaças, de cínicos sorrisos e lágrimas
de crocodilo. Como é educativo vermos as falsas ostentações
de pureza para encobrir a impudicícia, as mãos grandes
nas cumbucas e os sombrios desejos das almas de rapina. Que emocionante
este sarapatel entre o público e o privado: os súbitos
aumentos de patrimônio, filhinhos ladrões, ditadura
dos suplentes, cheques podres, piscinas em forma de vaginas, despachos
de galinhas mortas na encruzilhada, o uísque caindo mal
no Piantela, as flatulências fétidas no Senado, as
negaças diante da evidência de crime, os gemidos
proclamando "honradez" e "patriotismo".
Talvez esta vergonha seja boa para nos despertar da letargia de
400 anos. Através deste escracho, pode ser que entendamos
a beleza do que poderíamos ser!
Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda,
que enquanto houver 20 mil cargos de confiança no País,
haverá canalhas, enquanto houver estatais com caixa-preta,
haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo
perdido, haverá canalhas. Com esse código penal,
nunca haverá progresso.
Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são
pilhados das escolas, hospitais, estradas, sem saneamento, com
o Lula brilhando na TV, xingando a mídia e com todos os
mensaleiros, sanguessugas e aloprados felizes em seus empregos
e dentro do ex-partido dos trabalhadores. E é espantoso
que este óbvio fenômeno político, caudilhista,
subperonista, patrimonialista, aí, na cara da gente, seja
ignorado por quase toda a intelligentsia do País, que antes
vivia escrevendo manifestos abstratos e agora se cala diante deste
perigo concreto que nos ronda. No Brasil, a palavra "esquerda"
ainda é o ópio dos intelectuais.
A única oposição que teremos é o da
imprensa livre, que será o inimigo principal dos soviéticos
ascendentes. O Brasil está evoluindo em marcha à
ré! Só nos resta a praga: malditos sejais, ó
mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas,
que vossas línguas mentirosas se transformem em cobras
peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços,
e vos devorem a alma.
Os soviéticos que sobem já avisaram que revistas
e jornais são o inimigo deles.
Por isso, "si vis pacem, para bellum", colegas jornalistas.
Se quisermos a paz, preparemo-nos para a guerra.
Fonte
- O
Estado de São Paulo