Desacreditados
com a política, jovens prometem anular o voto
(18/4/2006
- Aldrin Willy)
O
crescente descontentamento da sociedade, especialmente
dos jovens, com a política está gerando
e fortalecendo um movimento nacional pela anulação
do voto nas próximas eleições.
Na Internet, a rede mundial de computadores, proliferam
sítios que defendem o voto nulo nas eleições
deste ano. Mensagens eletrônicas com a idéia
são enviadas aos milhares, formando correntes
por todo país e fora dele.
Cansadas
de intermináveis escândalos de corrupção,
hipocrisia, cinismo e toda sorte de mau caratismo político,
milhares de pessoas, mais jovens do que adultos, vêm
escolhendo essa forma para expressar sua indignação.
No
Orkut – o maior sítio de relacionamentos
na Internet – existiam, até 10 de abril,
284 comunidades criadas a respeito do voto nulo. Cerca
de 90% delas favoráveis à idéia.
As
comunidades são tão variadas quando seu
número, com títulos muitas vezes esdrúxulos,
como esse: “Voto nulo – 88 esse não
rouba!” ou “Voto nulo mas não voto
no Lula”.
REVOLUÇÃO
PACÍFICA
Na
maior parte dos casos, a idéia dos organizadores
é promover uma “revolução
pacífica” através da anulação
de seus votos.
A
tática se baseia na tese de que se o número
de votos nulos for muito grande (mais da metade) as
eleições são então canceladas
e uma nova é convocada, com outros candidatos.
De
fato, o artigo 224 do Código Eleitoral reza:
“se a nulidade atingir a mais de metade dos votos
do país nas eleições presidenciais,
do Estado nas eleições federais e estaduais
ou do município nas eleições municipais,
julgar-se-ão prejudicadas as demais votações
e o Tribunal marcará dia para nova eleição
dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.”
Mas,
de acordo com o advogado paulista Fernando Beltrão
Lemos Monteiro, a tese do cancelamento das eleições
pelo voto nulo não se sustenta. Isso porque,
segundo Monteiro, no mesmo Código Eleitoral,
outro artigo (220) define os termos em que a eleição
poderá ter sua nulidade decretada.
De
tal maneira que, escreve o jurista, afasta-se “sobremaneira
a hipótese de anulação da votação
em face da incidência dos votos nulos em mais
da metade dos votos do país.”
CONTROVÉRSIA
Em
todos os meios – universitário, jurídico,
político, filosófico etc. – existe
grande controvérsia sobre a possibilidade de
se encarar o voto nulo como voto de protesto.
Para
alguns, ele é sim um voto de protesto na medida
em que expressa o desânimo da população
com os agentes públicos.
Mas
para outros, anular o voto significa um retrocesso.
É o mesmo que dar um tiro no pé de quem
sabe quão árduas foram as lutas pela conquista
do direito de escolher seus dirigentes, do mais baixo
ao presidente da República.
(Publicado
na edição nº 79, de 11 a 20 de abril
de 2006)
Fonte:
Imprensa
Popular
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