O
USO DA LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA
EM TEMPO REAL NA INTERNET
GILMAR
GRESPAN
Trabalho
dissertativo apresentado para obtenção
do grau de especialização
em Estudos Avançados de Língua
Portuguesa e Lingüistica (Pós-Graduação
"Lato Sensu"), na Faculdade
de Educação, Ciências
e Letras Urubupungá, uma das
escolas superiores da FIU (Faculdades
Integradas Urubupungá), de
Pereira Barreto (SP), sob a orientação
das Prof.as Anésia Sodré
Coelho e Édima Aranha Silva.
Pereira
Barreto (SP), dezembro de 1998.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
1. GLOBALIZAÇÃO E INTERNET
2. MODALIDADES DA LÍNGUA
2.1 Língua escrita e língua
falada
2.2. A língua escrita
2.3. Breve história da escrita
2.4. A língua falada
3. A LÍNGUA ESCRITA E QUASE
FALADA DA INTERNET
3.1. A língua dos internautas
3.2. Emoticons
3.3. Conversando na Internet
3.4. Pequeno glossário do "internetês"
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO
Durante
algum tempo, mantivemos correspondência
com o ilustre gramático Luiz
Antonio Sacconi. Na época,
entre 1986 e 1989, ele publicava uma
revista chamada "Gafite"
e mantinha uma caixa postal à
disposição de seus leitores,
para consultas atinentes à
língua portuguesa. Nossas consultas
ao ilustre mestre não eram
poucas, e ele as respondia prontamente,
e com seu conhecido bom humor. Certa
feita, indagamos-lhe sobre se ele
era a favor de mudanças ortográficas
no português. Estava em evidência,
na época, uma proposta de unificação
da ortografia da língua portuguesa..
O Prof. Sacconi afirmou que era a
favor de algumas alterações
em nossa ortografia. Sobre a acentuação
gráfica das palavras, sua resposta
tem, para nós, valor histórico.
Vejamos o que ele disse:
"Sou
a favor da eliminação
de todos os acentos gráficos:
em informática não se
usam acentos, e todos entendemos as
palavras sem confusão nenhuma.
Ninguém lerá CODIGO
onde estará na verdade CÓDIGO;
quem lerá AMBULANCIA em lugar
de AMBULÂNCIA?" (carta
datada de 22/09/1998).
Estávamos,
então, em 1988. A informática
começava a se aproximar do
cotidiano das pessoas comuns. Os softwares
que começavam a despontar no
mercado brasileiro de informática,
que, aliás, estava vários
anos atrasado em relação
a outros países, em virtude
da nefasta "reserva de mercado",
eram, ainda, bastante rudimentares
e funcionavam todos no ambiente DOS.
Os processadores de textos não
dispunham de recursos que possibilitassem
acentuar graficamente as palavras.
Maravilhados com o início da
invasão dos computadores pessoais
nas empresas e já em muitos
lares, todos achávamos que
a informática iria desbancar
a gramática e fazer com que
os sinais diacríticos se tornassem
coisas do passado. Enfim, os acentos
gráficos teriam de ser abolidos
porque, no mundo da informática,
não haveria lugar para eles.
O
tempo passou e, hoje, em informática
já se usam acentos. Aliás,
os modernos processadores de textos,
já nos ambientes gráficos
do Windows, Mac, Linux, etc., oferecem
uma gama enorme de recursos para se
redigir, com clareza e uma excelente
aparência, um bom texto. Em
suma: ao contrário do que se
previa dez anos atrás, a informática
se rendeu à gramática.
Em
1995, começaram a surgir no
Brasil os primeiros provedores de
aceso à rede mundial de conexão
de usuários de computadores,
denominada Internet. O Brasil começava,
então, a se conectar com o
resto do mundo por essa fantástica
rede de computadores. Começava
a surgir uma nova comunidade em nosso
meio social: a comunidade dos internautas,
isto é, dos usuários
da Internet. Hoje, mais de um milhão
de pessoas no Brasil estão
ligadas a essa rede mundial de conexão
de computadores. Pode parecer exagero,
mas se trata de mais um segmento em
nossa sociedade.
Essa
comunidade, evidentemente, passou
a se comunicar entre si. Começaram
a surgir um grande número de
softwares de comunicação
pela Internet. Desde as "salas"
de "bate-papo" até
o festejado ICQ, milhares e milhares
de pessoas, pelo Brasil afora, se
comunicam diariamente pela Internet,
usando, na maioria das vezes, um instrumento
que estava sendo deixado de lado pela
maioria das pessoas comuns: a língua
escrita. Por meio de e-mails, chats,
ICQ, mIRC e outros programas de comunicação,
milhares de pessoas, todos os dias,
trocam mensagens, piadas, fofocas,
receitas, confidências pessoais,
etc., usando a língua escrita.
1.
A GLOBALIZAÇÃOE E A
INTERNET
Não se pode falar em Internet
nem em nenhum outro meio moderno de
comunicação sem antes
falarmos de um termo que se tornou
corrente em diversos segmentos da
atividade humana, principalmente nas
atividades econômicas; globalização.
Essa
palavra tão em moda nos dias
atuais resume o que está acontecendo
pelo mundo afora, em todos os segmentos
da atividade humana. Atenhamo-nos,
porém, à comunicação.
Milhões de pessoas por todo
o planeta estão em busca de
mais e mais informação
e em permanente contato com as últimas
novidades e os acontecimentos, Na
verdade, o termo globalização,
no presente caso, está intimamente
vinculado com a já famosa expressão
"aldeia global", no qual
se pretende integrar todos os povos
usando como instrumento os modernos
meios de comunicação
disponíveis.
Desses
meios de comunicação
do mundo moderno, não há
dúvida de que a Internet, pelas
suas características, tem uma
correlação muito forte
com o processo de globalização.
É a globalização
da informação.
Consideremos
a seguinte situação:
um homem, em Pereira Barreto, Estado
de São Paulo, ou seja, em pleno
interior do Brasil, acorda de manhã
e senta-se em frente ao seu microcomputador.
Inicialmente, consulta a sua conta
bancária. Faz algumas operações,
como transferências da conta
corrente para a caderneta de poupança,
deposita um determinado valor na conta
de uma pessoa a quem estava devendo.
Em seguida dá uma olhada nas
manchetes dos principais jornais do
mundo. Depois disso, resolve encomendar
um livro que há muito quer
ler em uma livraria no Rio de janeiro.
Tudo isso sem sair de sua casa, apenas
manuseando o teclado e o mouse de
seu computador.
Dez
anos atrás, tudo isso poderia
ser apenas cenas de um desses filmes
de ficção científica.
Hoje, já são fatos corriqueiros.
Milhões de pessoas pelo mundo
afora compram, vendem, negociam, lêem
jornais, visitam bibliotecas e museus,
fazem pesquisa, visitam cidades e
lugares turísticos, conversam,
trocam informações,
etc. Tudo isso sem saírem de
suas casas ou de seus escritórios
ou locais de trabalho. Ler um jornal
diário francês hoje,
na mesma hora em que está indo
às bancas em Paris, não
é mais nenhuma novidade para
aqueles que acessam a Internet.
Segundo
nos expõe Cavalcanti E.P..
em seu artigo "Revolução
da Informação: Algumas
Reflexões, publicado no Caderno
de Pesquisa em Administração
PPGA/FEA/USP, volume 01, n.º
01, pg. 40-46 (1995), publicada, também,
na Internet, no endereço http://terra.npd.ufpb.br/~elmcav/epcpa002.htm,
a história humana apresenta
duas grandes e fundamentais mudanças:
a primeira se deu com o surgimento
da agricultura, que o autor chama
de " Revolução
Agrícola", há cerca
de dez mil anos; a segunda foi a Revolução
industrial, iniciada em 1776, com
a invenção da máquina
a vapor.
Evidentemente,
foram dois passos importantes para
o progresso da humanidade. No primeiro
caso, o homem deixa de ser uma criatura
nômade, errante, fixando-se
em um determinado local. Foi nesse
momento que se criaram as raízes
da sociedade humana como a concebemos
hoje. A Revolução Industrial,
por sua vez, teve com principal conseqüência
a substituição do serviço
artesanal pela produção
em massa das fábricas.
Agora,
neste exato momento, estamos diante
de uma terceira mudança. Alguns
teóricos a chamam de "Revolução
da Informação",
outros, de "Revolução
da comunicação".
Com o rápido avanço
da tecnologia, das comunicações,
da informática e, principalmente,
da telemática, o mundo começa
a se transformar em uma "aldeia
global".
A
globalização, em todos
os setores da atividade humana, abre
um mercado quase inesgotável
de trabalho e de conhecimento para
quem usa diariamente a Internet. Ou
mesmo para quem vive à beira
da infovia.
A
possibilidade de acesso imediato e
praticamente sem nenhuma restrição
a informações importantes,
das mais variadas áreas do
conhecimento humano, em qualquer lugar
do mundo, começou gradativamente
a moldar parâmetros iguais em
regiões muito diversas entre
si. As regras de gerenciamento de
negócios em grandes empresas
mudaram muito, uma vez que se viram
obrigadas a se adaptarem ao modelo
vigente na maioria das empresas do
resto do mundo, pois só assim
poderiam competir com as outras que
já haviam se adaptado ou estavam
no meio do processo. Com isso, os
funcionários dessas empresas
também têm de se reciclar,
recorrendo a cursos técnicos
de aprimoramento. Novos equipamentos
exigem intenso aprendizado e formação
de instrutores aptos a passar esse
conhecimento de forma rápida
e confiável, pois a velocidade
das mudanças não permite
perda de tempo.
Esse
é um dos aspectos da globalização
da informação e do crescimento
da Internet em nosso meio e de sua
íntima relação
com a chamada globalização.
Na verdade, globalização
e Internet foram duas coisas que nasceram
separadamente. Mas ambas são
filhas órfãs da "Guerra
Fria".
2.
MODALIDADES DA LÍNGUA
O
ensino da língua portuguesa
nas escolas está direcionado
mais especificamente para a escrita.
Cagliari (1992) afirma que há
mais preocupação coma
a aparência da escrita do que
com o que ela realmente faz e representa.
Tal postura nos parece totalmente
errada e fora de propósito.
Faz-se necessário mostrar que
a língua escrita é mais
uma modalidade da língua a
ser aprendida. Não se pode,
de forma nenhuma, desprestigiar e
desconsiderar as modalidades orais
que estão em uso nos diversos
segmentos da sociedade, em todos os
seus níveis. Nesse contexto,
há que se considerar a questão
da adequação
cada situação exige
de quem nela está envolvido
comportamento, vestimenta e linguagem
adequados.
Há
que se considerar, ainda, a questão
do preconceito lingüístico.
Na maior parte das vezes, o ensino
de nossa língua é feito
de forma bastante rígida, como
se tudo que fosse diferente do que
está registrado ou codificado
nas gramáticas tradicionais
fosse inteiramente errado. É
nesse aspecto que deparamos com os
conceitos de "certo" e "errado"
no uso da língua. Explicitamente,
o ensino da gramática normativa
tem o objetivo de banir de nossa língua
formas consideradas "empobrecedoras",
"desviantes", "indignas"
de uma língua bem falada, não
adequada ao uso das pessoas "de
bem". Essa é uma prática
que deve ser eliminada de vez em nossas
escolas. Trata-se de uma postura preconceituosa,
pois em nome da "boa língua"
pratica-se a injustiça social
humilhando o ser humano por meio da
não-aceitação
do seu mais importante meio de expressão
cultural, isto é, o sistema
de comunicação próprio
da comunidade ao seu redor.
A
existência de diferentes modalidades
no uso da língua e o domínio
da norma culta são questões
que preocupam todos os envolvidos
com o ensino do idioma. Claro que,
apesar da aceitação
dos diferentes níveis do uso
da língua, o domínio
do padrão culto escrito é
condição indispensável
para o aprimoramento cultural, moral
e intelectual do indivíduo
e o crescimento do País e de
nosso povo. Cabe à escola,
portanto, ensinar a normal culta escrita
sem menosprezar as demais modalidades
da língua consideradas "erradas"
por alguns segmentos tradicionalistas
do sistema educacional.
2.1.
Língua escrita e língua
falada.
O
que diferencia as modalidades oral
e escrita da língua é
o planejamento. O que vem a ser isso
exatamente?
O
texto falado, de forma geral, é
criado no momento da conversação,
não possuindo rascunho, como
geralmente ocorre no texto escrito.
A língua ora apresenta uma
tendência para o plane o não
planejamento. Poderíamos dizer
que é planejada localmente,
isto é, planejada passo a passo,
à medida que se desenvolve
a conversação. O texto
escrito pode ser planejado, revisto,
rascunhado. O texto conversacional
se apresenta pouco elaborado em comparação
com a elaboração presente
no texto escrito. Quando falamos,
vamos construindo nosso texto. De
acordo com a ração de
nosso interlocutor, repetimos a informação,
mudamos o tom, reformulamos nossa
explicação. Em decorrência
disso, as idéias são
menos complexas. Além disso,
do ponto de vista sintático,
o texto conversacional é bastante
fragmentado, uma vez que as frases
são cortadas, havendo, assim,
por vezes, rupturas na construção
à medida que a frase se desvia
de sua trajetória, tomando
outra direção sintática.
Essa forma fragmentada da modalidade
oral presença de anacoluto,
frases truncadas, etc. é
um aspecto que diferencia em muito
as duas modalidades.
Por
seu lado, o texto escrito, embora
possa ser refeito, não deixa
perceber, ao ser dado como pronto,
as marcas de sua elaboração.
Ele se apresenta acabado, coeso, com
seqüência temporal. Há,
ainda, a questão do planejamento,
que na escrita vai desde o tema a
ser desenvolvido, chagando ao planejamento
lingüístico. A modalidade
escrita da língua pressupõe
a articulação de idéias
e de aspectos lingüísticos.
Conforme
consta no texto "Modalidades
do Uso da Língua", de
autoria conjunta de Maria da Aparecida
Meirelles de Pinilla, Maria Cristina
Ruigoni Costa e Maria Thereza Indiani
de Oliveira, texto hospedado no site
da Secretaria da Educação
do Estado do Rio de janeiro, denominado
"Rede Escola" (http://www.sectec.rj.gov.br/redescola/especialistas/portugues/tema03/portm03.html),
foi apontado por Ochs (1979) quatro
níveis de planejamento no discurso:
falado não planejado, falado
planejado, escrito não planejado
e escrito planejado.
2.2.
A língua escrita.
Estamos
tão acostumados a ler e a escrever
em nossa vida diária, que não
percebemos que nem todos escrevem
e lêem como nós. Em muitas
famílias de classe social baixa,
escrever pode se restringir a assinar
o próprio nome ou, no máximo,
a redigir listas de palavras ou recados
cursos. Para as pessoas que vivem
nesse mundo restrito, escrever como
a escola propõe pode ser algo
estranho, fora de sua realidade, inútil.
Contudo, as pessoas que vivem num
meio social onde se lêem jornais,
revistas, livros, etc. e que escrevem
freqüentemente, num ambiente
em que as crianças, desde cedo,
tomam contato com o texto escrito,
acham muito natural o que a escola
ensina, pois isso representa uma continuação
do que essas pessoas já faziam
e já esperavam que a escola
propusesse esse mesmo procedimento.
Para Cagliari (1992), alfabetizar
grupos sociais que encaram a escrita
como uma simples garantia de sobrevivência
é diferente de alfabetizar
grupos sociais que consideram a escrita,
além de necessária,
uma forma de expressão individual
de arte, de cultura e de passatempo.
Afirma
Cagiari (1992) que ninguém
escreve ou lê sem motivação.
É justamente por isso que em
determinadas culturas o uso da escrita
se apresenta como algo secundário
e dispensável. Em outros grupos
sociais, contudo, a escrita é
algo absolutamente imprescindível.
Essa atitude perante a escrita não
se observa só comparando, por
exemplo, a cultura européia
com a cultura dos indígenas.
Atitudes conflitantes com relação
à escrita podem ser observadas
em uma grande cidade. Entre seus habitantes,
sem dúvida alguma, todos necessitam,
de um modo ou de outro, saber ler
certas coisas. No entanto, o número
cai enormemente quando se conta os
que necessitam produzir a escrita.
Muitas pessoas podem até ler
jornais, revistas, etc., mas escrevem
muito pouco.
Não
basta saber escrever. É preciso
ter uma motivação para
isso. A maioria da população
de uma cidade trabalha em atividades
que não exigem diretamente
o uso da escrita. Por essa razão
os programas de alfabetização,
principalmente aqueles voltados para
adultos, precisam ser elaborados de
acordo com as reais necessidades de
cada um, e não em função
de uma cultura julgada ideal.
A
escrita tem por objetivo primeiro
a leitura, que é uma interpretação
da escrita que consiste em traduzir
os símbolos escritos em fala.
Alguns tipos de escrita se preocupam
com a expressão oral e outros
simplesmente com a transmissão
de significados específicos.
que devem ser decifrados por quem
é habilitado. Nesse caso, os
aspectos fonológico, lexical,
sintático, que marcam a linearidade
do discurso lingüístico,
não têm indicação
específica, ficando a cargo
do leitor encontrar a forma mais adequada
de realizá-los. Muitas vezes,
esse tipo de escrita se serve de palavras-chave
para a sua decifração.
Seus exemplos mais comuns são
os sinais de trânsito.
Um
desenho não participa necessariamente
de um tipo de escrita. A escrita,
para ser qualificada como tal, precisa
de um objetivo bem definido, que é
fornecer subsídios para que
alguém leia. Um desenho não
precisar ser feito para que alguém
o leia. Claro está que se pode
entender o valor dos temas leitura,
ler, dizendo que se pode "ler"
a natureza, o mundo, as pessoas, etc.
Nesse sentido, qualquer desenho ou
fotografia pode ser decifrado, comentado
lingüisticamente, sem que seja
necessariamente um sistema de escrita,
sem que ocorra uma leitura propriamente
dita.
Historicamente,
muitos sistemas de escrita se desenvolveram
a partir de desenhos. A escrita começou
a existir no momento em que o objetivo
do ato de representar pictoricamente
tinha como endereço a fala
e como motivação fazer
com que, por meio da fala, o leitor
se informasse a respeito de alguma
coisa. É claro que as informações
da escrita não se restringem
somente à informação
do leitor. A função
informativa é a primeira cronologicamente,
mas não é a única
e nem sempre a principal.
2.3.
Breve história da escrita.
Podemos
dividir a história da escrita
em três fases: pictórica,
ideográfica e alfabética.
Contudo, nessa divisão, não
se pode seguir uma linha cronológica.
A
fase pictórica se distingue
pela escrita por meio de desenhos
ou pictogramas, que aparecem em inscrições
antigas, mas podem ser vistos de maneira
mais elaborada nos cantos Ojibwa da
América do Norte, na escrita
asteca e, mais recentemente, nas histórias
em quadrinhos. Os pictogramas não
estão associados a um som,
mas à imagem daquilo que se
quer representar. Consistem em representações
bem simplificadas dos objetos da realidade.
A
fase ideográfica se caracteriza
pela escrita por meio de desenhos.
Especiais denominados ideogramas.
Esses desenhos foram, ao longo de
sua evolução, perdendo
alguns dos traços mais representativos
das figuras retratadas e tornaram-se
uma simples convenção
de escrita. As letras de nosso alfabeto
vieram desse tipo de evolução.
O a, por exemplo, era a representação
da cabeça de um boi na escrita
egípcia, o b era a representação
de uma casa egípcia, o d era
a figura de uma porta, o m era o desenho
das ondas da água, o n era
o desenho de uma cobra, o o era a
figura de um olho, o x representava
um peixe, e assim por diante.
As
escritas ideográficas mais
importantes são a egípcia
(também chamada de hieroglífica),
a mesopotâmica (suméria),
as escritas da região do mar
Egeu (a cretense, por exemplo) e a
chinesa (de onde provém a escrita
japonesa).
A
fase alfabética se caracteriza
pelo uso de letras. Estas tiveram
sua origem nos ideogramas, mas perderam
o valor ideográfico, assumindo
uma nova função de escrita:
a representação puramente
fonográfica. O ideograma perdeu
seu valor pictórico e passou
a ser simplesmente uma representação
fonética.
Podemos
destacar, dentro os sistema de escrita
fonética mais importantes,
o semítico, o indiano e o greco-latino.
Deste último, provém
o nosso alfabeto e o cirílico,
que originou o atual alfabeto russo.
Antes
que o nosso alfabeto tomasse a forma
que conhecemos atualmente que hoje
conhecemos, passou por inúmeras
transformações. Inicialmente,
surgiram os silabários, que
se consistiam num conjunto de sinais
específicos para representar
cada sílaba. Os desenhos usados
referiam-se às características
fonéticas da palavra.
Os
fenícios fizeram uso de vários
sinais da escrita egípcia formando
um inventário muito reduzido
de caracteres, cada qual exercendo
um determinado som consonantal. Em
virtude das características
próprias das línguas
semíticas, não era muito
importante escrever as vogais. , sendo
as palavras facilmente reconhecidas
pelas consoantes, como encontramos
hoje num dos modos como se pode escrever
em árabe e em hebraico.
Os
gregos, por sua vez, adaptaram o sistema
de escrita fenícia acrescentando-lhe
vogais. Isso porque em grego as vogais
têm uma função
lingüística muito importante
na formação e no reconhecimento
de palavras. Desse modo, os gregos,
escrevendo consoantes e vogais, criaram
o sistema de escrita alfabética.
A principal característica
da escrita alfabética é
que ela possui um inventário
bem mais reduzido de símbolos
em relação aos outros
sistemas de escrita. Isso permite
uma maior possibilidade combinatória
de caracteres na escrita.
Posteriormente,
a escrita grega foi adaptada pelos
romanos, e esta forma modificada constitui
o sistema greco-latino, do qual provém
nosso alfabeto.
Os
caracteres das escritas pictográficas
e ideográficas podem se basear
na representação semântica
correspondente a unidades morfológicas
e, mais raramente, a unidades maiores
ou menores que as palavras. Os caracteres
dos sistemas ideográficos podem
ser usados para representar sílabas,
adquirindo, então, um caráter
fonográfico. Contudo, uma sílaba
pode ser também representada
por uma letra do alfabeto, fazendo
com que a característica típica
fonográfica da escrita alfabética
comece a se perder. Somente os caracteres
do sistema alfabético conseguem
formar sistemas fonográficos,
representando os sons da fala em unidades
menores do que a sílaba. Em
suma, o sistema de escrita alfabético
é o mais detalhado quanto à
representação fonética.
Nem
todos escrevem da direita da esquerda
para a direita e de cima para baixo.
como nós o fazemos. muito embora
esse seja o modo mais comum entre
os sistemas de escrita. Os chineses
e japoneses escrevem da direita para
a esquerda e em colunas verticais.
Os árabes escrevem da direita
para a esquerda, mas não em
colunas, e sim em linhas de cima para
baixo. O grego antigo era escrito
de um modo chamado bustrofédon,
isto é, começava-se
a escrever numa linha em cima, à
direita,, e ia-se até o fim;
a linha seguinte ia da esquerda para
a direita, invertendo a direção
das letras. A terceira linha era igual
à primeira, e a quarta, igual
à segunda, e assim por diante,
em relação à
direção da escrita.
Em
verdade, a escrita, seja ela qual
for, sempre foi uma forma de representar
a memória coletiva de uma comunidade,
seja no campo científico, religioso,
político, artístico,
cultural, etc. São grandes
marcos na História da humanidade
a invenção dos livros,
dos jornais e da imprensa de modo
geral. Mais importante, no entanto,
foi a invenção da escrita,
que, nos seus primórdios, era
dominada por poucos, mas que, pouco
a pouco, passou para um número
maior de pessoas, até chegar
ao público em geral. O interessante
é que mais pessoas usam a escrita
mais para a leitura de textos do que
para sua produção.
2.4
Língua falada.
A
modalidade falada de nossa língua
é vista, muitas vezes, de uma
forma errada. Já afirmamos
que a escola direciona o ensino da
língua à língua
escrita. Conseqüentemente, a
gramática normativa está
voltada para a língua escrita,
mesmo quando tenta abordar assuntos
específicos da língua
falada. Faz-se necessário separar
o que pertence à língua
escrita e o que pertence à
língua falada. Não vamos,
aqui, nos alongar com considerações
teóricas sobre fonologia. Esse
não é o objetivo de
nosso trabalho. O que queremos demonstrar
nesta fase preambular de nossa dissertação
é que é demonstrar que
há vários modos de usarmos
a língua, e que a língua
oral é apenas uma delas. Além
disso, há diversas formas de
usarmos a língua falada. Em
suma, há diferentes modos de
se falar uma língua.
Um
aspecto a ser levantada é o
fato de se criarem valores de certo
e errado para tais disparidades no
uso da língua de acordo com
uma gramática normativa preestabelecida
por estudiosos. Depreende-se disso
um comportamento preconceituoso da
sociedade com relação
a essas diferenças. Cagliari
(1992) afirma que a escola, como representante
da sociedade, costuma incorporar tais
preconceitos, mesmo sem ter consciência
disso. É importante entendermos
os casos de variação
lingüística e como ela
ocorre em nossa sociedade.
Na
verdade, as línguas evoluem
com o tempo, se transformam e vão
adquirindo peculiaridades próprias
em função de seu uso
por comunidades específicas.
Todas as variedades do ponto de vista
estrutural-lingüístico
são perfeitas e completas em
si. O que as diferencia são
os valores sociais que seus membros
têm na sociedade. Dessa forma,
um baiano falará como um baiano,
e não como um gaúcho;
uma pessoa de classe social alta não
falará como uma pessoa de classe
social baixa, e assim por diante.
As
formas diferentes de falar ocorrem
porque as línguas, ao longo
do tempo, transformam-se, assumindo
peculiaridades características
de grupos sociais diferentes, e os
indivíduos aprendem a língua
ou o dialeto da comunidade em que
vivem. O latim vulgar, por exemplo,
foi, em certa época, considerado
um dialeto das classes pobres, e,
por isso, desprestigiava-se que o
falava. Paulatinamente, a sociedade
da época foi substituindo o
latim clássico pelo latim vulgar,
que, aos poucos, transformou-se nas
línguas românicas.
As
considerações acima
têm como objetivo demonstrar
que, ao contrário do que muita
gente diz, as línguas, quando
se transformam com o passar do tempo,
não se degeneram, não
se tornam imperfeitas, estragadas,
mas adquirem novos valores sociolingüísticos,
ligados às novas perspectiva
da sociedade, que também muda.
Nessas transformações,
não aparece o "certo"
e o "errado" lingüístico,
mas o diferente. Certo e errado são
conceitos pouco honestos que a sociedade
usa para marcar os indivíduos
e classes sociais pela maneira de
falar e para os rotular. Essa atitude
da sociedade revela seus preconceitos,
pois marca as diferenças lingüísticas
com marca de prestígio ou estigma.
.
Para
finalizar este tópico deste
trabalho, convém fazermos algumas
considerações sobre
o que se costuma chamar de variedade-padrão
ou dialeto-padrão. É
preciso dizer o que significa isso
exatamente.
Cagliari
(1992) nos mostra o exemplo do Reino
Unido. Lá, além de se
falarem cinco línguas diferentes:
o inglês, o gaélico,
o gaulês, o córnico e
o irlandês, existe um número
enorme de dialetos da língua
inglesa. São semelhantes entre
si, mas diferentes em muitos aspectos.
Por isso, são variedades diferentes
da língua inglesa. Há,
no entanto, uma variedade ou dialeto
conhecido como "inglês
da rainha", conhecido também
como "inglês da BBC"
ou, como o denominam os lingüistas,
received pronunciation, que é
considerada a variedade-padrão
ou dialeto-padrão no Reino
Único. Regionalmente, as pessoas
falam com sotaque local, usando a
variedade típica de sua região.
Contudo, quando não querem
revelar suas origens, passam a usar
o "sotaque da rainha" ou
o inglês-padrão, sejam
elas de que região forem ou
pertençam elas a que classe
social. Quando um inglês ou
escocês falam o inglês
padrão, todos os seus valores
de prestígio e desprestígio,
revelados pelo modo diferente de falar
a língua, ficam, de certo modo,
"neutralizados".
No
Brasil, a situação é
diferente. Aqui, não existe
um português do presidente da
República ou equivalente. Quando
observamos o comportamento da sociedade,
notamos que, em São Paulo existe
uma maneira de falar que goza de grande
prestígio e várias outras
maneiras que, em graus diferentes,
são estigmatizados, chegando
até ao dialeto caipira. No
Rio de Janeiro, há um modo
de falar que também é
de prestígio, mas que é
diferente do modo de falar de prestígio
de São Paulo. Em outras regiões
ocorre a mesma coisa.
Com
a entrada dos meios de comunicação
de massa, principalmente o rádio
e a TV, nas casas das pessoas, criou-se,
conforme nos aponta Cagliari (1992),
um novo conceito de fala de prestígio
em nosso país. Com a forte
influência da TV Globo, o chamado
"padrão global" está
penetrando nas falas das pessoas e
das comunidades.
Claro
está que a questão da
variedade lingüística
é muito mais complexa do que
o aqui exposto. Em resumo, porém,
podemos dizer que a variação
lingüística provém
não só da evolução
do idioma, mas de raízes locais,
geograficamente delimitadas, Ela também
na aparece na sociedade estratificada
à maneira das classes sociais.
É comum também no comportamento
lingüístico de uma pessoa,
em diferentes circunstâncias
de sua vida, independentemente da
classe social ou região a que
pertença. Uma pessoa fala com
diferenças às vezes
notáveis quando numa conversa
informal ou em público. Observamos
que uma pessoa que lê procura
uma pronúncia que nem sempre
corresponde à sua pronúncia
na fala coloquial. Isso é o
que os lingüistas chamam de "variação
estilística". Na verdade,
todos nós falamos mais de um
dialeto, que usamos de acordo com
as circunstâncias.
3.
A LÍNGUA ESCRITA E QUASE FALADA
DA INTERNET
Chegamos
ao cerne de nosso trabalho. Passaremos
a abordar um assunto praticamente
não explorado pelos estudiosos:
o uso da língua escrita na
comunicação em tempo
real pela Internet. Apesar de hoje
termos já milhões de
pessoas pelo Brasil afora conversando,
trocando mensagens pela Internet e
criando uma nova e interessante forma
de comunicação, pouco
ou quase nada se falou a respeito
do assunto ainda.
A
comunicação por voz,
isto é, usando a linguagem
falada, na Internet ainda se encontra,
hoje, final de 1998 e início
de 1999, em estágio bastante
rudimentar. Por isso, a comunicação
na Grande Rede, atualmente, é
predominantemente feita, ainda, por
mensagens escritas, enviadas pelo
correio eletrônico (e-mail)
e trocadas por meio do uso de softwares
de comunicação, como
o mIRC, ICQ, Netmeeting e, principalmente,
nas "salas" de bate-papo
O que nos interessa mais no presente
trabalho são as mensagens trocadas
no chamado "tempo real",
isto é, os "bate-papos"
entre os internautas. O que caracteriza
essa forma de comunicação
é a informalidade. Como se
tratam de uma conversa, de um bate-papo,
entre duas ou mais pessoas, as mensagens
são trocadas de um computador
para o outro com uma certa velocidade.
Isso faz com que os interlocutores
se expressem da forma mais informal
possível, fazendo com que a
língua escrita por ele usada
no momento da conversação
se pareça bastante com a língua
falada informal.
A
primeira atitude do internauta nesse
instante é fugir o mais possível
das rígidas normas da língua
escrita. Podemos dizer que a despreocupação
com as regras gramaticais e a informalidade
fazem das mensagens que os internautas
trocam entre si uma simulação
quase perfeita da língua falada.
Para tanto, os internautas se utilizam
de uma gama enorme de recursos da
própria linguagem escrita,
obtendo, assim, um resultado bastante
satisfatório e comunicativo.
As mensagens trocadas por meio do
correio eletrônico (e-mail)
fogem um pouco ao objetivo de nossa
pesquisa, uma vez que, nesse caso,
os textos são elaborados já
obedecendo às normas da língua
escrita padrão, pois o internauta,
quando redige um e-mail dispõe
de tempo para elaborar seu texto.
As conversações no chamado
"tempo real", no entanto,
são mais interessantes pelo
fato de os interlocutores não
disporem de tempo para fazer um planejamento
prévio de seu discurso. Nesse
caso, a troca de mensagens tem de
ser rápida, sem perda de tempo.
Isso faz com que os internautas tenham
que criar abreviações,
símbolos e sinais que tornem
mais rápida a comunicação.
A
questão que colocamos aqui
é se estaria essa linguagem
do mundo virtual, do ciberespaço,
prestes a invadir também o
mundo real. A resposta a essa questão,
evidentemente, só o tempo poderá
nos fornecer. Todavia, com o avanço
da Internet em nossa sociedade, palavras
ou expressões criadas pelos
internautas podem vir a integrar o
vocabulário de pessoas que
nunca tiveram o menor contato com
a Internet.
Como
em todo jargão que se cria,
a chamada comunidade dos internautas
tem o seu lado hermético, sua
linguagem particular, que, de certa
forma, assusta um pouco aquelas pessoas
que não têm acesso ao
ciberespaço. Contudo, pouco
a pouco, as barreiras que separam
o mundo virtual do mundo real começam
a ser rompidas. Cada vez, mais e mais
pessoas se conectam à badalada
rede mundial de conexão de
usuários de computadores.
3.1.
A língua dos internautas.
Já
abordamos aqui a questão das
variações da língua,
isto é, das diversas formas
como se usa uma determinada língua.
Essas variações, como
já vimos, ocorrem por diversos
razões. Os internautas também
criaram a sua variante da língua,
a sua forma de se comunicar. Todo
novato em Internet, quando acessa
pela primeira vez uma "sala"
de "bate-papo" se vê
diante de um linguajar novo, que ele
desconhece. Por que, afinal, o internauta
não se comunica de forma normal,
escrevendo as palavras corretamente,
obedecendo ao máximo às
regras de nossa ortografia?
Para
respondermos à pergunta acima,
temos que levar em conta que a Internet
é um meio de comunicação
abrangente. Uma página na Internet
pode ser visualizada em qualquer parte
do mundo. Outro fator é a questão
da velocidade. A comunicação
no chamado "tempo real"
tem de ser ágil, dinâmica.
O internauta, quando conversa com
alguém pelo ICQ, mIRC, ou em
uma "sala" de "bate-papo",
não pode perder tempo digitando
as palavras de forma rigorosamente
correta, consultando dicionários,
etc., pois o tempo na Internet custa
dinheiro. Além disso, nem todo
internauta tem um domínio completo
da língua escrita. A maioria
das pessoas tem dificuldade em redigir
um texto seguindo, rigorosamente,
as normas da língua escrita
culta. Outro fator interessante, e
talvez menos observado, são
as variações semânticas
que existem de uma região para
a outra. Um gaúcho, por exemplo,
quando conversa, numa "sala"
de "bate-papo" com um cearense,
tem de tomar certos cuidados ao digitar
as mensagens, pois as disparidades
semânticas de uma região
para a outra podem suscitar mal-entendidos.
Contudo, o fator que julgamos preponderante
é o desejo de informalidade,
isto é, de fazer com que a
língua escrita se torne o mais
parecido possível com a língua
falada informal.
Em
um artigo publicado na revista Internet.br
do mês de novembro de 1998,
uma publicação mensal
dirigida aos usuários da Internet,
Monica Miglio apresenta uma questão
bastante interessante sobre o assunto.
A primeira questão apresentada
pela articulista é se não
estaria esse linguajar tipicamente
virtual transgredindo a norma culta
de nossa língua e prestes a
invadir o mundo real. A outra questão,
mais preocupante, é com relação
ao fato de que as crianças
e adolescentes freqüentadores
das "salas" de "bate-papo"
estaria poderiam estar aprendendo
a escrever errado, em virtude da forma
de escrever na Internet.
Claro
que a forma de escrever desses internautas
subverte, sim, a norma culta de nosso
língua. No artigo acima citado,
contudo, há um parecer do Prof.
Sérgio Nogueira, responsável
pela coluna "Língua Viva",
do Jornal do Brasil. Veja o que ela
diz:
"Na
Internet o usuário escreve
como fala, esta é uma característica
própria do meio. Não
acredito que essa linguagem vá
passar para a vida real, onde existe
uma barreira natural das pessoas que
não entendem nem falam esse
jargão."
Para
o Prof. Sérgio Nogueira, tudo
é uma questão do meio
onde se processa a conversação.
Segundo ele, mesmo na vida real as
pessoas não costumam ficar
atenta à norma culta do idioma
num "bate-papo" informal.
As
opiniões dos internautas consultados
pela autora da matéria acima
citada são contraditórias.
Há quem não acredite
que a Internet não está
"descaracterizando" nossa
língua, mas somente incorporando
ao idioma novos termos. Outros internautas,
no entanto culpam a globalização
e afirmam que esse linguajar é
um sinal da perda de nossa identidade
lingüística.
Mas
o internauta "viciado" no
uso dessa linguagem do mundo virtual
tem de tomar um certo cuidado na hora
em que está escrevendo um texto
fora do mundo virtual. Em um trabalho
dissertativo, em uma redação,
em um requerimento ou ofício,
o uso desse tipo de linguagem seria
inadmissível, pelo menos nos
padrões lingüísticos
de hoje.
Outro
aspecto bastante interessante é
que internautas "viciados,
acostumados a fazer uso dessa linguagem
muitas vezes abreviada do mundo virtual,
passem a usar também no mundo
real essa forma de escrever. Pessoas
que freqüentam muito as "salas"
de "bate-papo" têm
de se policiar para não usar
a língua da Internet em trabalhos
de escolas, redação,
documentos, etc.
3.2.
Emoticons.
Um
componente muito interessante da linguagem
dos internautas são os emoticons,
que são símbolos que
representam os sentimentos e o tom
de quem está falando. Nem todos
os internautas fazem uso desse recurso.
Veja o exemplo abaixo
Puxa!
Isso é muito bom :-)
Que
ótimo!!!! :-))))))
O
símbolo :-) significa que a
pessoa que está falando está
feliz. Mas quando o internauta quer
transmitir um sentimento de felicidade
mais intenso, aumenta o número
de fechamentos de parênteses,
como no segundo exemplo.
Vamos
expor a seguir uma relação
com a maioria dos emoticons conhecidos:
&:-) Pessoa com o cabelo enrolado
X-) Com vergonha ou
tímido
:-) Estou feliz
B-) Estou feliz e de
óculos
:-( Triste ou com raiva
:-)))) Estou gargalhando
<:-) Você fez perguntas
bobas
(:-... Mensagem de
partir o coração
(:-O Assustado de chapéu
:-/ Estou perplexa
:-0 Estou impressionada
:-P Dando língua
d:-) De boné
d:-P De boné, dando
língua
(:-( Estou muito triste
:-x Mandando beijo
(:-x Mandando beijo
:-D Rindo
|-( de madrugada
:'-( Chorando
:-o Oh,não!!
[]'s (abraços)
:-|| zangado
(:-) careca
:-) feliz
:-( triste
B-) Batman
:-)> barbudo
%+( espancado
?-) olho roxo
:-)X gravata borboleta
R-) óculos quebrados
:^) nariz quebrado
|:-) sombrancelhas
espessas
<|-) chinês
3:-) vaca
:-t mal-humorado
X-) estrábico
:'-( chorando
i-) detetive
:-e desapontado
:-)' babando
{;V pato
<:-) pergunta estúpida
5:-) Elvis
>:-) sorriso malicioso,
maldoso
:'''-( inundação de
lágrimas
/:-) francês
::-) usuário de óculos
8-) usuário de óculos
8:) gorila
_m (o_o) m_ Espiando
por cima do muro
:-} + :-) = (_)> Vamos
tomar um chopinho
|
:-') resfriado (1)
:*) resfriado (2)
:-| hmmmph!
:-C queixo caído
:-# beijo (1)
:-* beijo (2)
:-X beijo (3)
:+) nariz grande
:-D gargalhando
:-} olhando maliciosamente
p/ alguém
(-: canhoto
:-9 lambendo os lábios
:-| macaco
:-{ bigode (1)
:-#) bigode (2)
(-) precisando de um
corte de cabelo
:^) nariz deslocado
:8) porco
:-? fumante de cachimbo
=:-) punk
:-" lábios franzidos
|-] Robocop
O:-) santo
:-@ gritando
:-O chocado
:-V berro
|-) dormindo
:-i fumante (1)
:-Q fumante (2)
:-j fumante sorrindo
:-6 gosto azedo da
boca
:-V falando
*-) drogado
:-T lábios selados
:-p língua na bochecha,
brincadeira
:-/ indeciso
:-[ vampiro (1)
:-|< vampiro (2)
:-< vampiro (3)
:-)= vampiro (4)
:-)) muito feliz
:-(( muito triste
:-c muito infeliz
Cl:-) usando chapéu
coco
d:-) usando boné
[:-) usando headfones
:-(#) usando aparelho
dentário
;-) piscando
:-7 sorriso irônico
I-O bocejando
@}—enviando uma rosa
para alguém
_,,,^._.^,,,_ Espiando
por cima do muro
|
3.3.
Conversando na Internet.
As
conversas nas "salas" de
"bate-papo" da Internet
se dão da forma mais informal
possível, usando a língua
escrita como código e, de uma
certa forma, a língua falada
como forma de expressão. Vejamos,
pois, alguns exemplos de frases tiradas
diretamente de uma "sala"
de "bate-papo" do provedor
ZAZ, da Rede Brasil Sul de Comunicação
(RBS):
sorte
sua q. vc ainda consegue desconectar...o
meu nem conecta.....buáááááááááááá´.
Note
que o internauta nem se deu ao trabalho
de iniciar o período com inicial
maiúscula. Além disso,
abrevia que por q., você por
vc. Usa reticências como indicação
de pausa, simula um choro de mentirinha,
de forma irreverente, usando a expressão
onomatopéica "buááááá".
Veja
outro exemplo interessante, extraído
da mesma sala:
É....
De vez enqdo ele demora a estabilizar......
O meu demorou um pouquinho, mas está
normal agora.
Nesse
caso, o que nos chama a atenção
é a forma como a internauta
que escreveu essa mensagem abrevia
a expressão "em quando".
gargalhadas........
Ficou lindinho assim.....O ZAZ nem
vai perceber quem és!!!
Quando
quer demonstrar uma risada ou gargalhada,
o internauta faz uso de diversos recursos.
No exemplo acima, ele escreve textualmente
"gargalhadas", como poderia
ter escrito "risos". Veja
estes outros exemplos:
Beijocas
nas alfaces..... HIHIHIHIIIIIII........
Seu filho me adora????????? Que bom!!!!!!!
Qual a idade dele........ HIHIHIHIHIIIIIIII
só que qd eu cai eu levei o
Lala junto...hehehehehehe
HAHAHAHAHAHAHA.
respondendo o que.... *r*r*r*r*r*
É brincadeirinha... *rrrrrr*
Veja
outra forma interessante que o internauta
usa para abreviar as palavras:
Tà
ñ........buááááááááááá..............
Nesse
caso, o internauta abreviou a palavra
não.
O
que caracteriza a linguagem dos internautas
usuários das "salas"
de "bate-papo" é
a expressividade, a forma despreocupada
com que usam e abusam da língua
escrita, sem se importarem com as
rígidas normas da língua
escrita formal. Veja um outro exemplo
interessante:
O
que foi?????????????????????
O
internauta, autor da frase acima,
usa uma sucessão de pontos
de interrogação como
forma de expressão enfaticamente
sua pergunta ao interlocutor, como
numa forma de espanto. Veja, agora,
que construção rica
em expressividade:
ai
naum dá, prá passar
por ela tenho que fazer um discurso
premero, ela tá esnobando cuesse
palavreado todo aí...
Novamente,
o internauta não inicia o discurso
com inicial maiúscula. Mas
o que nos chama a atenção
aí são dois casos interessantes:
o uso de "naum" em lugar
de não e "cuesse"
no lugar de com esse.
Outra
forma interessante de expressão
dos internautas é que, quando
querem demonstrar um grande apelo
ou gritas, usam letras maiúsculas:
ALGUÉM
TECLA COMIGO, POR FAVOR????????
A
informalidade e a forma descontraída
com que os internautas costumam se
comunicar entre si é a marca
principal de seu estilo.
risos...vê
se ñ some...p/ gente poder
marcar..tá????
eu ???? magina .
Ops...se escutar me conta.....
Então coma ALFACES!!!!!!!!!!!!!!.....**rrr**
Na
primeira frase dos exemplos acima,
notamos que o internauta abrevia não
e para. O "ops" na segunda
frase muitas vezes funciona como uma
forma de demonstrar que o internauta
cometeu uma gafe e está corrigindo
ou coisa assim. Na última frase,
o autor dá destaque, usando
letras maiúsculas, à
palavra alface, finalizando sua assertiva
com uma risada, demonstrada pelos
símbolos **rrr**.
Os
internautas usam e abusam das palavras
onomatopéicas. É muito
interessante a forma como eles demonstram
o beijo:
Smacksssssssssssssss
Muitas
vezes o que vale na comunicação
entre os usuários de CHATs
e de programas de "bate-papo"
é a criatividade na hora de
expressar as idéias, encurtando
palavras, abreviando-as, usando expressões
onomatopéicas. Veja neste exemplo,
como o internauta abrevia o verbo
poder de forma criativa, tal qual
o fazemos muitas vezes na língua
falada:
pó
ficar com ele entao ...
Em
vez de a internauta que digitou essa
mensagem ter usado o verbo poder em
sua forma normal, na terceira pessoa
do imperativo afirmativo, ela abreviou
como se estivesse falando (pó
= pode). Isso demonstra que o internauta
quer fazer com que suas mensagens
sejam escritas como se eles a tivessem
falando numa reunião informal
entre amigos.
Veja
o próximo exemplo:
Vixe!!!!!!Assiste
o Chaves.........gargalhadas.
O
trecho acima é interessante
pela sua expressividade. No entanto,
há um aspecto nele que nos
chama a atenção. Note
que a internauta que o digitou escreve
"...gargalhadas". Parece-nos
incoerente que o internauta use e
abuse das formas reduzidas, palavras
onomatopéicas, etc., mas, na
hora de demonstrar uma risada ou gargalhada,
escreva, ás vezes, as palavras
por extenso, em vez de usar formas
como "hahahaha", "hehehehe",
"hihihi".
Às
vezes, podemos até chegar à
conclusão de que os internautas
usuários das "salas"
de "bate-papo" são
os subversivos da língua. Veja
esse exemplo:
não
se preocupe...eu também sabo
fazer spaggetti
Note
que, no caso acima, sei, verbo saber
na primeira pessoa do singular do
presente do indicativo, é substituído
por "sabo". Essa forma de
conjugação por analogia,
muito usada por crianças nos
primeiros anos do aprendizado da língua
portuguesa, é utilizada, de
forma irreverente, por muitos internautas.
Vejamos,
agora, outros casos curiosos:
Que
booooooommmmmm!!!!! TCDF
Só você mesmo... MDTR
Pára com isso!!!!...FXXDTR
Muitas
vezes, ao entrarmos em uma "sala"
de "bate-papo", deparamos
com determinadas abreviaturas que
mais parecem siglas de alguma autarquia
ou empresa. Mas tudo faz parte do
exótico e misterioso modo de
expressão dos internautas.
No primeiro exemplo, o internauta
simplesmente quis dizer que está
chorando de felicidade ("Tô
Chorando De Felicidade"). No
segundo caso, a pessoa está
dizendo que está morrendo de
tanto rir ("Morrendo De Tanto
Rir"). Já no terceiro
exemplo, a irreverência chega
ao extremo, pois o internauta está
dizendo que está fazendo xixi
de tanto rir ("Fazendo XiXi De
Tanto Rir").
A
criatividade dos internautas é
algo, a nosso ver, bastante interessante
para aqueles que se dedicam ao estudo
do idioma. Vejamos outros exemplos
oriundos da criatividade dos cibernautas,
extraídos das "salas"
de "bate-papo":
Oiiiiiiiiiiiiiiii.Beijkissssssssss
O QUEEEEEEEEEEEEEEEEE??????????????
oi genteeeeeeeeee.
oizinho.... smacks... bem vindo.
Eita tchurma grande de boa sô...
:o) vo me perder tentando saber p/
quem to
É
importante ressaltar que as expressões,
palavras, abreviações
e abreviaturas utilizadas nesse mundo
virtual não seguem uma forma
rígida. O internauta tem todo
o direito de se expressar da forma
que melhor lhe convier. Nem mesmo
existe a necessidade de se utilizar
esse modo informal e reduzido de escrever.
O internauta pode, se quiser, usar
a língua escrita padrão.
Ninguém, na Internet é
discriminado por ser um pouco mais
formal.
3.4.
Pequeno glossário do "internetês".
Segue
uma tabela com alguns dos termos e
símbolos mais usados nas conversações
on line;
4U
= for you = para você
Falow = adeus, até mais!
AKI ou aki = aqui
hahahaha = tipo de risada
AWAY = estar away significa estar
on line, mas longe do microcomputador
DCC-Foto = pede para a pessoa enviar
uma foto pelo comando DCC
B4 (before) = depois
hehehehehe = tipo de risada
Beijaum = beijam
HUMPF = demonstra desagrado
BLZ ou blz ou Blz = beleza
Ixi, putz, = exclamações
BUÁÁÁÁ
= choro
Lammer = pessoa idiota
CHUIF = choro
Naum = não
SNIFF ou sniff!! = choro
Nomidade = nome e idade
CD,cd, kd, KD = cadê
Otoh (On the other han) = por outro
lado
Chatear = conversar com alguém
no CHAT
PVT-me (Private me) = chamar alguém
para a sala.
Cool = legal (o mesmo que rulez)
Sacmskssssss = representa beijo
CONCLUSÃO
A
língua, em suas diversas formas
e variantes, é uma entidade
viva, dinâmica e é o
código utilizado pelo ser humano
para se comunicar com seus semelhantes,
trocar informações,
difundir suas idéias e conceitos.
O domínio da língua
escrita marca o início da História
humana. Cada povo tem a sua língua,
seu modo de falar. Cada segmento de
nossa sociedade, assim como cada indivíduo,
tem a sua forma de se expressar. A
Internet, a maior rede de comunicação
e informação criada
pelo homem, também criou sua
variante da língua. Hoje, mais
de um milhão de pessoas no
Brasil utiliza a Internet. Todos os
dias, milhares de novos brasileiros
se conectam a essa enorme rede. Cada
vez, mais e mais pessoas estão
acessando as chamadas "salas"
de "bate-papo". Cada vez
mais pessoas vão aprendendo
o "internetês", o
linguajar dos internautas.
Ante
essa realidade, algumas questões
se nos apresentam: estaria essa língua
do mundo virtual prestes a invadir
de vez o mundo real e influenciar
o modo de falar de pessoas que nunca
sequer se sentaram à frente
de um microcomputador? Poderia esse
tipo de linguagem acarretar a degeneração
da normal culta de nosso idioma? Estaríamos
a caminho da perda da nossa identidade
lingüística por causa
da Internet?
Em
primeiro lugar, creio que a língua
utilizada pelos internautas, salvo
algumas exceções, não
teria uma utilidade prática
no mundo real. A abreviação
de certas palavras talvez seja adotada
futuramente, em virtude da evolução
da língua escrita e da constante
busca de agilidade no processo de
comunicação pela língua
escrita. Quanto ao uso das expressões
típicas do mundo virtual, cremos
que elas devam ficar restritas ao
ambiente do ciberespaço. Em
mais de três anos de Internet
no Brasil, pouco ou quase nada influiu
a Internet no modo de escrever das
pessoas.
A
língua escrita exige certa
precisão. A língua escrita
dos internautas não tem essa
precisão. Trata-se de uma linguagem
hermética, utilizada por uma
minoria que, em sua grande maioria,
sabe o que está fazendo e conhece
razoavelmente bem a língua
portuguesa em seu nível culto.
Muitas
vezes, ouvimos algumas pessoas dizerem
que estão degenerando a língua
portuguesa, que, por causa das gírias,
da TV e do modo de falar da juventude
de hoje, estamos perdendo a identidade
lingüística.
Ora,
isso é um raciocínio,
ao nosso ver, totalmente torto e sem
nenhum fundamento. A língua
é uma instituição
viva, presente no cotidiano de cada
um de nós. Ela está
em constante transformação.
A língua, pois, não
se deteriora, não se degenera.
Ela se transforma, adquire novos elementos
e põe em desuso outros; Esse
é um processo normal que faz
com que as línguas evoluam
e acompanhem as transformações
sociais, econômicas e culturais
dos povos.
A
língua escrita e quase falada
dos internautas é mais uma
das inúmeras variantes de uso
de nossa língua. Não
há dúvida de que esse
segmento poderia influir nas futuras
transformações por que
a língua irá passar
nos próximos anos. Mas isso
não significa deterioração,
mas evolução do idioma.
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Thereza Indiani de, PINILLA, Maria
da Aparecida Meirelles de. Modalidades
do uso da língua. Rede Escola
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CAVALCANTI,
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O que é isso?. Internet: http://www.aol.com.br/magcap/globali.html
MÍGLIO, Monica. Conversando
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PRETI,
Dino, Análise de textos orais,
São Paulo, Edusp, 1993.
ZAGO,
Rodrigo do Prado, Knowledge Home Page.
Internet: http://www.terravista.pt/FerNoronha/2312/index23.htm
AGRADECIMENTOS
Agradeço
aos meus colegas e professores do
Curso. Àqueles, pelo companheirismo;
a estes pelo profissionalismo e dedicação.
Agradeço também às
minhas colegas de Curso Tome Matuda
Hosota e Juliana de Freitas Grespan
(esta última minha sobrinha
querida), pela união e coleguismo
nas horas das dificuldades. Não
posso deixar de agradecer também
à minha grande amiga e colega
do curso de graduação
em Letras Ivandra Maurutto Guimaães,
pela sua valiosíssima colaboração
no decorrer do meu curso de pós-graduação.
Finalmente, não poderia me
esquecer das minhas amigas de Internet
(que, infelizmente, não conheço
pessoalmente até esta data)
Leida Sibertal e Francesli Cristina
Jatte, pela relevante colaboração
de ambas durante a elaboração
deste trabalho.
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Gilmar
Grespan é licenciado em Letras
pela Faculdade de Educação,
Ciências e Letras Urubupungá,
de Pereira Barreto - Estado de São
Paulo - Brasil, e é Escrevente
Técnico Judiciário do
quadro do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, exercendo
suas funções na comarca
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