O uso da Língua portuguesa

O USO DA LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA EM TEMPO REAL NA INTERNET

GILMAR GRESPAN

Trabalho dissertativo apresentado para obtenção do grau de especialização em Estudos Avançados de Língua Portuguesa e Lingüistica (Pós-Graduação "Lato Sensu"), na Faculdade de Educação, Ciências e Letras Urubupungá, uma das escolas superiores da FIU (Faculdades Integradas Urubupungá), de Pereira Barreto (SP), sob a orientação das Prof.as Anésia Sodré Coelho e Édima Aranha Silva.

Pereira Barreto (SP), dezembro de 1998.


ÍNDICE

INTRODUÇÃO
1. GLOBALIZAÇÃO E INTERNET
2. MODALIDADES DA LÍNGUA
2.1 Língua escrita e língua falada
2.2. A língua escrita
2.3. Breve história da escrita
2.4. A língua falada
3. A LÍNGUA ESCRITA E QUASE FALADA DA INTERNET
3.1. A língua dos internautas
3.2. Emoticons
3.3. Conversando na Internet
3.4. Pequeno glossário do "internetês"
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
AGRADECIMENTOS

INTRODUÇÃO

Durante algum tempo, mantivemos correspondência com o ilustre gramático Luiz Antonio Sacconi. Na época, entre 1986 e 1989, ele publicava uma revista chamada "Gafite" e mantinha uma caixa postal à disposição de seus leitores, para consultas atinentes à língua portuguesa. Nossas consultas ao ilustre mestre não eram poucas, e ele as respondia prontamente, e com seu conhecido bom humor. Certa feita, indagamos-lhe sobre se ele era a favor de mudanças ortográficas no português. Estava em evidência, na época, uma proposta de unificação da ortografia da língua portuguesa.. O Prof. Sacconi afirmou que era a favor de algumas alterações em nossa ortografia. Sobre a acentuação gráfica das palavras, sua resposta tem, para nós, valor histórico. Vejamos o que ele disse:

"Sou a favor da eliminação de todos os acentos gráficos: em informática não se usam acentos, e todos entendemos as palavras sem confusão nenhuma. Ninguém lerá CODIGO onde estará na verdade CÓDIGO; quem lerá AMBULANCIA em lugar de AMBULÂNCIA?" (carta datada de 22/09/1998).

Estávamos, então, em 1988. A informática começava a se aproximar do cotidiano das pessoas comuns. Os softwares que começavam a despontar no mercado brasileiro de informática, que, aliás, estava vários anos atrasado em relação a outros países, em virtude da nefasta "reserva de mercado", eram, ainda, bastante rudimentares e funcionavam todos no ambiente DOS. Os processadores de textos não dispunham de recursos que possibilitassem acentuar graficamente as palavras. Maravilhados com o início da invasão dos computadores pessoais nas empresas e já em muitos lares, todos achávamos que a informática iria desbancar a gramática e fazer com que os sinais diacríticos se tornassem coisas do passado. Enfim, os acentos gráficos teriam de ser abolidos porque, no mundo da informática, não haveria lugar para eles.

O tempo passou e, hoje, em informática já se usam acentos. Aliás, os modernos processadores de textos, já nos ambientes gráficos do Windows, Mac, Linux, etc., oferecem uma gama enorme de recursos para se redigir, com clareza e uma excelente aparência, um bom texto. Em suma: ao contrário do que se previa dez anos atrás, a informática se rendeu à gramática.

Em 1995, começaram a surgir no Brasil os primeiros provedores de aceso à rede mundial de conexão de usuários de computadores, denominada Internet. O Brasil começava, então, a se conectar com o resto do mundo por essa fantástica rede de computadores. Começava a surgir uma nova comunidade em nosso meio social: a comunidade dos internautas, isto é, dos usuários da Internet. Hoje, mais de um milhão de pessoas no Brasil estão ligadas a essa rede mundial de conexão de computadores. Pode parecer exagero, mas se trata de mais um segmento em nossa sociedade.

Essa comunidade, evidentemente, passou a se comunicar entre si. Começaram a surgir um grande número de softwares de comunicação pela Internet. Desde as "salas" de "bate-papo" até o festejado ICQ, milhares e milhares de pessoas, pelo Brasil afora, se comunicam diariamente pela Internet, usando, na maioria das vezes, um instrumento que estava sendo deixado de lado pela maioria das pessoas comuns: a língua escrita. Por meio de e-mails, chats, ICQ, mIRC e outros programas de comunicação, milhares de pessoas, todos os dias, trocam mensagens, piadas, fofocas, receitas, confidências pessoais, etc., usando a língua escrita.

1. A GLOBALIZAÇÃOE E A INTERNET

Não se pode falar em Internet nem em nenhum outro meio moderno de comunicação sem antes falarmos de um termo que se tornou corrente em diversos segmentos da atividade humana, principalmente nas atividades econômicas; globalização.

Essa palavra tão em moda nos dias atuais resume o que está acontecendo pelo mundo afora, em todos os segmentos da atividade humana. Atenhamo-nos, porém, à comunicação. Milhões de pessoas por todo o planeta estão em busca de mais e mais informação e em permanente contato com as últimas novidades e os acontecimentos, Na verdade, o termo globalização, no presente caso, está intimamente vinculado com a já famosa expressão "aldeia global", no qual se pretende integrar todos os povos usando como instrumento os modernos meios de comunicação disponíveis.

Desses meios de comunicação do mundo moderno, não há dúvida de que a Internet, pelas suas características, tem uma correlação muito forte com o processo de globalização. É a globalização da informação.

Consideremos a seguinte situação: um homem, em Pereira Barreto, Estado de São Paulo, ou seja, em pleno interior do Brasil, acorda de manhã e senta-se em frente ao seu microcomputador. Inicialmente, consulta a sua conta bancária. Faz algumas operações, como transferências da conta corrente para a caderneta de poupança, deposita um determinado valor na conta de uma pessoa a quem estava devendo. Em seguida dá uma olhada nas manchetes dos principais jornais do mundo. Depois disso, resolve encomendar um livro que há muito quer ler em uma livraria no Rio de janeiro. Tudo isso sem sair de sua casa, apenas manuseando o teclado e o mouse de seu computador.

Dez anos atrás, tudo isso poderia ser apenas cenas de um desses filmes de ficção científica. Hoje, já são fatos corriqueiros. Milhões de pessoas pelo mundo afora compram, vendem, negociam, lêem jornais, visitam bibliotecas e museus, fazem pesquisa, visitam cidades e lugares turísticos, conversam, trocam informações, etc. Tudo isso sem saírem de suas casas ou de seus escritórios ou locais de trabalho. Ler um jornal diário francês hoje, na mesma hora em que está indo às bancas em Paris, não é mais nenhuma novidade para aqueles que acessam a Internet.

Segundo nos expõe Cavalcanti E.P.. em seu artigo "Revolução da Informação: Algumas Reflexões, publicado no Caderno de Pesquisa em Administração PPGA/FEA/USP, volume 01, n.º 01, pg. 40-46 (1995), publicada, também, na Internet, no endereço http://terra.npd.ufpb.br/~elmcav/epcpa002.htm, a história humana apresenta duas grandes e fundamentais mudanças: a primeira se deu com o surgimento da agricultura, que o autor chama de " Revolução Agrícola", há cerca de dez mil anos; a segunda foi a Revolução industrial, iniciada em 1776, com a invenção da máquina a vapor.

Evidentemente, foram dois passos importantes para o progresso da humanidade. No primeiro caso, o homem deixa de ser uma criatura nômade, errante, fixando-se em um determinado local. Foi nesse momento que se criaram as raízes da sociedade humana como a concebemos hoje. A Revolução Industrial, por sua vez, teve com principal conseqüência a substituição do serviço artesanal pela produção em massa das fábricas.

Agora, neste exato momento, estamos diante de uma terceira mudança. Alguns teóricos a chamam de "Revolução da Informação", outros, de "Revolução da comunicação". Com o rápido avanço da tecnologia, das comunicações, da informática e, principalmente, da telemática, o mundo começa a se transformar em uma "aldeia global".

A globalização, em todos os setores da atividade humana, abre um mercado quase inesgotável de trabalho e de conhecimento para quem usa diariamente a Internet. Ou mesmo para quem vive à beira da infovia.

A possibilidade de acesso imediato e praticamente sem nenhuma restrição a informações importantes, das mais variadas áreas do conhecimento humano, em qualquer lugar do mundo, começou gradativamente a moldar parâmetros iguais em regiões muito diversas entre si. As regras de gerenciamento de negócios em grandes empresas mudaram muito, uma vez que se viram obrigadas a se adaptarem ao modelo vigente na maioria das empresas do resto do mundo, pois só assim poderiam competir com as outras que já haviam se adaptado ou estavam no meio do processo. Com isso, os funcionários dessas empresas também têm de se reciclar, recorrendo a cursos técnicos de aprimoramento. Novos equipamentos exigem intenso aprendizado e formação de instrutores aptos a passar esse conhecimento de forma rápida e confiável, pois a velocidade das mudanças não permite perda de tempo.

Esse é um dos aspectos da globalização da informação e do crescimento da Internet em nosso meio e de sua íntima relação com a chamada globalização. Na verdade, globalização e Internet foram duas coisas que nasceram separadamente. Mas ambas são filhas órfãs da "Guerra Fria".

2. MODALIDADES DA LÍNGUA

O ensino da língua portuguesa nas escolas está direcionado mais especificamente para a escrita. Cagliari (1992) afirma que há mais preocupação coma a aparência da escrita do que com o que ela realmente faz e representa. Tal postura nos parece totalmente errada e fora de propósito. Faz-se necessário mostrar que a língua escrita é mais uma modalidade da língua a ser aprendida. Não se pode, de forma nenhuma, desprestigiar e desconsiderar as modalidades orais que estão em uso nos diversos segmentos da sociedade, em todos os seus níveis. Nesse contexto, há que se considerar a questão da adequação — cada situação exige de quem nela está envolvido comportamento, vestimenta e linguagem adequados.

Há que se considerar, ainda, a questão do preconceito lingüístico. Na maior parte das vezes, o ensino de nossa língua é feito de forma bastante rígida, como se tudo que fosse diferente do que está registrado ou codificado nas gramáticas tradicionais fosse inteiramente errado. É nesse aspecto que deparamos com os conceitos de "certo" e "errado" no uso da língua. Explicitamente, o ensino da gramática normativa tem o objetivo de banir de nossa língua formas consideradas "empobrecedoras", "desviantes", "indignas" de uma língua bem falada, não adequada ao uso das pessoas "de bem". Essa é uma prática que deve ser eliminada de vez em nossas escolas. Trata-se de uma postura preconceituosa, pois em nome da "boa língua" pratica-se a injustiça social humilhando o ser humano por meio da não-aceitação do seu mais importante meio de expressão cultural, isto é, o sistema de comunicação próprio da comunidade ao seu redor.

A existência de diferentes modalidades no uso da língua e o domínio da norma culta são questões que preocupam todos os envolvidos com o ensino do idioma. Claro que, apesar da aceitação dos diferentes níveis do uso da língua, o domínio do padrão culto escrito é condição indispensável para o aprimoramento cultural, moral e intelectual do indivíduo e o crescimento do País e de nosso povo. Cabe à escola, portanto, ensinar a normal culta escrita sem menosprezar as demais modalidades da língua consideradas "erradas" por alguns segmentos tradicionalistas do sistema educacional.

2.1. Língua escrita e língua falada.

O que diferencia as modalidades oral e escrita da língua é o planejamento. O que vem a ser isso exatamente?

O texto falado, de forma geral, é criado no momento da conversação, não possuindo rascunho, como geralmente ocorre no texto escrito. A língua ora apresenta uma tendência para o plane o não planejamento. Poderíamos dizer que é planejada localmente, isto é, planejada passo a passo, à medida que se desenvolve a conversação. O texto escrito pode ser planejado, revisto, rascunhado. O texto conversacional se apresenta pouco elaborado em comparação com a elaboração presente no texto escrito. Quando falamos, vamos construindo nosso texto. De acordo com a ração de nosso interlocutor, repetimos a informação, mudamos o tom, reformulamos nossa explicação. Em decorrência disso, as idéias são menos complexas. Além disso, do ponto de vista sintático, o texto conversacional é bastante fragmentado, uma vez que as frases são cortadas, havendo, assim, por vezes, rupturas na construção à medida que a frase se desvia de sua trajetória, tomando outra direção sintática. Essa forma fragmentada da modalidade oral — presença de anacoluto, frases truncadas, etc. — é um aspecto que diferencia em muito as duas modalidades.

Por seu lado, o texto escrito, embora possa ser refeito, não deixa perceber, ao ser dado como pronto, as marcas de sua elaboração. Ele se apresenta acabado, coeso, com seqüência temporal. Há, ainda, a questão do planejamento, que na escrita vai desde o tema a ser desenvolvido, chagando ao planejamento lingüístico. A modalidade escrita da língua pressupõe a articulação de idéias e de aspectos lingüísticos.

Conforme consta no texto "Modalidades do Uso da Língua", de autoria conjunta de Maria da Aparecida Meirelles de Pinilla, Maria Cristina Ruigoni Costa e Maria Thereza Indiani de Oliveira, texto hospedado no site da Secretaria da Educação do Estado do Rio de janeiro, denominado "Rede Escola" (http://www.sectec.rj.gov.br/redescola/especialistas/portugues/tema03/portm03.html), foi apontado por Ochs (1979) quatro níveis de planejamento no discurso: falado não planejado, falado planejado, escrito não planejado e escrito planejado.

2.2. A língua escrita.

Estamos tão acostumados a ler e a escrever em nossa vida diária, que não percebemos que nem todos escrevem e lêem como nós. Em muitas famílias de classe social baixa, escrever pode se restringir a assinar o próprio nome ou, no máximo, a redigir listas de palavras ou recados cursos. Para as pessoas que vivem nesse mundo restrito, escrever como a escola propõe pode ser algo estranho, fora de sua realidade, inútil. Contudo, as pessoas que vivem num meio social onde se lêem jornais, revistas, livros, etc. e que escrevem freqüentemente, num ambiente em que as crianças, desde cedo, tomam contato com o texto escrito, acham muito natural o que a escola ensina, pois isso representa uma continuação do que essas pessoas já faziam e já esperavam que a escola propusesse esse mesmo procedimento. Para Cagliari (1992), alfabetizar grupos sociais que encaram a escrita como uma simples garantia de sobrevivência é diferente de alfabetizar grupos sociais que consideram a escrita, além de necessária, uma forma de expressão individual de arte, de cultura e de passatempo.

Afirma Cagiari (1992) que ninguém escreve ou lê sem motivação. É justamente por isso que em determinadas culturas o uso da escrita se apresenta como algo secundário e dispensável. Em outros grupos sociais, contudo, a escrita é algo absolutamente imprescindível. Essa atitude perante a escrita não se observa só comparando, por exemplo, a cultura européia com a cultura dos indígenas. Atitudes conflitantes com relação à escrita podem ser observadas em uma grande cidade. Entre seus habitantes, sem dúvida alguma, todos necessitam, de um modo ou de outro, saber ler certas coisas. No entanto, o número cai enormemente quando se conta os que necessitam produzir a escrita. Muitas pessoas podem até ler jornais, revistas, etc., mas escrevem muito pouco.

Não basta saber escrever. É preciso ter uma motivação para isso. A maioria da população de uma cidade trabalha em atividades que não exigem diretamente o uso da escrita. Por essa razão os programas de alfabetização, principalmente aqueles voltados para adultos, precisam ser elaborados de acordo com as reais necessidades de cada um, e não em função de uma cultura julgada ideal.

A escrita tem por objetivo primeiro a leitura, que é uma interpretação da escrita que consiste em traduzir os símbolos escritos em fala. Alguns tipos de escrita se preocupam com a expressão oral e outros simplesmente com a transmissão de significados específicos. que devem ser decifrados por quem é habilitado. Nesse caso, os aspectos fonológico, lexical, sintático, que marcam a linearidade do discurso lingüístico, não têm indicação específica, ficando a cargo do leitor encontrar a forma mais adequada de realizá-los. Muitas vezes, esse tipo de escrita se serve de palavras-chave para a sua decifração. Seus exemplos mais comuns são os sinais de trânsito.

Um desenho não participa necessariamente de um tipo de escrita. A escrita, para ser qualificada como tal, precisa de um objetivo bem definido, que é fornecer subsídios para que alguém leia. Um desenho não precisar ser feito para que alguém o leia. Claro está que se pode entender o valor dos temas leitura, ler, dizendo que se pode "ler" a natureza, o mundo, as pessoas, etc. Nesse sentido, qualquer desenho ou fotografia pode ser decifrado, comentado lingüisticamente, sem que seja necessariamente um sistema de escrita, sem que ocorra uma leitura propriamente dita.

Historicamente, muitos sistemas de escrita se desenvolveram a partir de desenhos. A escrita começou a existir no momento em que o objetivo do ato de representar pictoricamente tinha como endereço a fala e como motivação fazer com que, por meio da fala, o leitor se informasse a respeito de alguma coisa. É claro que as informações da escrita não se restringem somente à informação do leitor. A função informativa é a primeira cronologicamente, mas não é a única e nem sempre a principal.

2.3. Breve história da escrita.

Podemos dividir a história da escrita em três fases: pictórica, ideográfica e alfabética. Contudo, nessa divisão, não se pode seguir uma linha cronológica.

A fase pictórica se distingue pela escrita por meio de desenhos ou pictogramas, que aparecem em inscrições antigas, mas podem ser vistos de maneira mais elaborada nos cantos Ojibwa da América do Norte, na escrita asteca e, mais recentemente, nas histórias em quadrinhos. Os pictogramas não estão associados a um som, mas à imagem daquilo que se quer representar. Consistem em representações bem simplificadas dos objetos da realidade.

A fase ideográfica se caracteriza pela escrita por meio de desenhos. Especiais denominados ideogramas. Esses desenhos foram, ao longo de sua evolução, perdendo alguns dos traços mais representativos das figuras retratadas e tornaram-se uma simples convenção de escrita. As letras de nosso alfabeto vieram desse tipo de evolução. O a, por exemplo, era a representação da cabeça de um boi na escrita egípcia, o b era a representação de uma casa egípcia, o d era a figura de uma porta, o m era o desenho das ondas da água, o n era o desenho de uma cobra, o o era a figura de um olho, o x representava um peixe, e assim por diante.

As escritas ideográficas mais importantes são a egípcia (também chamada de hieroglífica), a mesopotâmica (suméria), as escritas da região do mar Egeu (a cretense, por exemplo) e a chinesa (de onde provém a escrita japonesa).

A fase alfabética se caracteriza pelo uso de letras. Estas tiveram sua origem nos ideogramas, mas perderam o valor ideográfico, assumindo uma nova função de escrita: a representação puramente fonográfica. O ideograma perdeu seu valor pictórico e passou a ser simplesmente uma representação fonética.

Podemos destacar, dentro os sistema de escrita fonética mais importantes, o semítico, o indiano e o greco-latino. Deste último, provém o nosso alfabeto e o cirílico, que originou o atual alfabeto russo.

Antes que o nosso alfabeto tomasse a forma que conhecemos atualmente que hoje conhecemos, passou por inúmeras transformações. Inicialmente, surgiram os silabários, que se consistiam num conjunto de sinais específicos para representar cada sílaba. Os desenhos usados referiam-se às características fonéticas da palavra.

Os fenícios fizeram uso de vários sinais da escrita egípcia formando um inventário muito reduzido de caracteres, cada qual exercendo um determinado som consonantal. Em virtude das características próprias das línguas semíticas, não era muito importante escrever as vogais. , sendo as palavras facilmente reconhecidas pelas consoantes, como encontramos hoje num dos modos como se pode escrever em árabe e em hebraico.

Os gregos, por sua vez, adaptaram o sistema de escrita fenícia acrescentando-lhe vogais. Isso porque em grego as vogais têm uma função lingüística muito importante na formação e no reconhecimento de palavras. Desse modo, os gregos, escrevendo consoantes e vogais, criaram o sistema de escrita alfabética. A principal característica da escrita alfabética é que ela possui um inventário bem mais reduzido de símbolos em relação aos outros sistemas de escrita. Isso permite uma maior possibilidade combinatória de caracteres na escrita.

Posteriormente, a escrita grega foi adaptada pelos romanos, e esta forma modificada constitui o sistema greco-latino, do qual provém nosso alfabeto.

Os caracteres das escritas pictográficas e ideográficas podem se basear na representação semântica correspondente a unidades morfológicas e, mais raramente, a unidades maiores ou menores que as palavras. Os caracteres dos sistemas ideográficos podem ser usados para representar sílabas, adquirindo, então, um caráter fonográfico. Contudo, uma sílaba pode ser também representada por uma letra do alfabeto, fazendo com que a característica típica fonográfica da escrita alfabética comece a se perder. Somente os caracteres do sistema alfabético conseguem formar sistemas fonográficos, representando os sons da fala em unidades menores do que a sílaba. Em suma, o sistema de escrita alfabético é o mais detalhado quanto à representação fonética.

Nem todos escrevem da direita da esquerda para a direita e de cima para baixo. como nós o fazemos. muito embora esse seja o modo mais comum entre os sistemas de escrita. Os chineses e japoneses escrevem da direita para a esquerda e em colunas verticais. Os árabes escrevem da direita para a esquerda, mas não em colunas, e sim em linhas de cima para baixo. O grego antigo era escrito de um modo chamado bustrofédon, isto é, começava-se a escrever numa linha em cima, à direita,, e ia-se até o fim; a linha seguinte ia da esquerda para a direita, invertendo a direção das letras. A terceira linha era igual à primeira, e a quarta, igual à segunda, e assim por diante, em relação à direção da escrita.

Em verdade, a escrita, seja ela qual for, sempre foi uma forma de representar a memória coletiva de uma comunidade, seja no campo científico, religioso, político, artístico, cultural, etc. São grandes marcos na História da humanidade a invenção dos livros, dos jornais e da imprensa de modo geral. Mais importante, no entanto, foi a invenção da escrita, que, nos seus primórdios, era dominada por poucos, mas que, pouco a pouco, passou para um número maior de pessoas, até chegar ao público em geral. O interessante é que mais pessoas usam a escrita mais para a leitura de textos do que para sua produção.

2.4 Língua falada.

A modalidade falada de nossa língua é vista, muitas vezes, de uma forma errada. Já afirmamos que a escola direciona o ensino da língua à língua escrita. Conseqüentemente, a gramática normativa está voltada para a língua escrita, mesmo quando tenta abordar assuntos específicos da língua falada. Faz-se necessário separar o que pertence à língua escrita e o que pertence à língua falada. Não vamos, aqui, nos alongar com considerações teóricas sobre fonologia. Esse não é o objetivo de nosso trabalho. O que queremos demonstrar nesta fase preambular de nossa dissertação é que é demonstrar que há vários modos de usarmos a língua, e que a língua oral é apenas uma delas. Além disso, há diversas formas de usarmos a língua falada. Em suma, há diferentes modos de se falar uma língua.

Um aspecto a ser levantada é o fato de se criarem valores de certo e errado para tais disparidades no uso da língua de acordo com uma gramática normativa preestabelecida por estudiosos. Depreende-se disso um comportamento preconceituoso da sociedade com relação a essas diferenças. Cagliari (1992) afirma que a escola, como representante da sociedade, costuma incorporar tais preconceitos, mesmo sem ter consciência disso. É importante entendermos os casos de variação lingüística e como ela ocorre em nossa sociedade.

Na verdade, as línguas evoluem com o tempo, se transformam e vão adquirindo peculiaridades próprias em função de seu uso por comunidades específicas. Todas as variedades do ponto de vista estrutural-lingüístico são perfeitas e completas em si. O que as diferencia são os valores sociais que seus membros têm na sociedade. Dessa forma, um baiano falará como um baiano, e não como um gaúcho; uma pessoa de classe social alta não falará como uma pessoa de classe social baixa, e assim por diante.

As formas diferentes de falar ocorrem porque as línguas, ao longo do tempo, transformam-se, assumindo peculiaridades características de grupos sociais diferentes, e os indivíduos aprendem a língua ou o dialeto da comunidade em que vivem. O latim vulgar, por exemplo, foi, em certa época, considerado um dialeto das classes pobres, e, por isso, desprestigiava-se que o falava. Paulatinamente, a sociedade da época foi substituindo o latim clássico pelo latim vulgar, que, aos poucos, transformou-se nas línguas românicas.

As considerações acima têm como objetivo demonstrar que, ao contrário do que muita gente diz, as línguas, quando se transformam com o passar do tempo, não se degeneram, não se tornam imperfeitas, estragadas, mas adquirem novos valores sociolingüísticos, ligados às novas perspectiva da sociedade, que também muda. Nessas transformações, não aparece o "certo" e o "errado" lingüístico, mas o diferente. Certo e errado são conceitos pouco honestos que a sociedade usa para marcar os indivíduos e classes sociais pela maneira de falar e para os rotular. Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois marca as diferenças lingüísticas com marca de prestígio ou estigma. .

Para finalizar este tópico deste trabalho, convém fazermos algumas considerações sobre o que se costuma chamar de variedade-padrão ou dialeto-padrão. É preciso dizer o que significa isso exatamente.

Cagliari (1992) nos mostra o exemplo do Reino Unido. Lá, além de se falarem cinco línguas diferentes: o inglês, o gaélico, o gaulês, o córnico e o irlandês, existe um número enorme de dialetos da língua inglesa. São semelhantes entre si, mas diferentes em muitos aspectos. Por isso, são variedades diferentes da língua inglesa. Há, no entanto, uma variedade ou dialeto conhecido como "inglês da rainha", conhecido também como "inglês da BBC" ou, como o denominam os lingüistas, received pronunciation, que é considerada a variedade-padrão ou dialeto-padrão no Reino Único. Regionalmente, as pessoas falam com sotaque local, usando a variedade típica de sua região. Contudo, quando não querem revelar suas origens, passam a usar o "sotaque da rainha" ou o inglês-padrão, sejam elas de que região forem ou pertençam elas a que classe social. Quando um inglês ou escocês falam o inglês padrão, todos os seus valores de prestígio e desprestígio, revelados pelo modo diferente de falar a língua, ficam, de certo modo, "neutralizados".

No Brasil, a situação é diferente. Aqui, não existe um português do presidente da República ou equivalente. Quando observamos o comportamento da sociedade, notamos que, em São Paulo existe uma maneira de falar que goza de grande prestígio e várias outras maneiras que, em graus diferentes, são estigmatizados, chegando até ao dialeto caipira. No Rio de Janeiro, há um modo de falar que também é de prestígio, mas que é diferente do modo de falar de prestígio de São Paulo. Em outras regiões ocorre a mesma coisa.

Com a entrada dos meios de comunicação de massa, principalmente o rádio e a TV, nas casas das pessoas, criou-se, conforme nos aponta Cagliari (1992), um novo conceito de fala de prestígio em nosso país. Com a forte influência da TV Globo, o chamado "padrão global" está penetrando nas falas das pessoas e das comunidades.

Claro está que a questão da variedade lingüística é muito mais complexa do que o aqui exposto. Em resumo, porém, podemos dizer que a variação lingüística provém não só da evolução do idioma, mas de raízes locais, geograficamente delimitadas, Ela também na aparece na sociedade estratificada à maneira das classes sociais. É comum também no comportamento lingüístico de uma pessoa, em diferentes circunstâncias de sua vida, independentemente da classe social ou região a que pertença. Uma pessoa fala com diferenças às vezes notáveis quando numa conversa informal ou em público. Observamos que uma pessoa que lê procura uma pronúncia que nem sempre corresponde à sua pronúncia na fala coloquial. Isso é o que os lingüistas chamam de "variação estilística". Na verdade, todos nós falamos mais de um dialeto, que usamos de acordo com as circunstâncias.

3. A LÍNGUA ESCRITA E QUASE FALADA DA INTERNET

Chegamos ao cerne de nosso trabalho. Passaremos a abordar um assunto praticamente não explorado pelos estudiosos: o uso da língua escrita na comunicação em tempo real pela Internet. Apesar de hoje termos já milhões de pessoas pelo Brasil afora conversando, trocando mensagens pela Internet e criando uma nova e interessante forma de comunicação, pouco ou quase nada se falou a respeito do assunto ainda.

A comunicação por voz, isto é, usando a linguagem falada, na Internet ainda se encontra, hoje, final de 1998 e início de 1999, em estágio bastante rudimentar. Por isso, a comunicação na Grande Rede, atualmente, é predominantemente feita, ainda, por mensagens escritas, enviadas pelo correio eletrônico (e-mail) e trocadas por meio do uso de softwares de comunicação, como o mIRC, ICQ, Netmeeting e, principalmente, nas "salas" de bate-papo O que nos interessa mais no presente trabalho são as mensagens trocadas no chamado "tempo real", isto é, os "bate-papos" entre os internautas. O que caracteriza essa forma de comunicação é a informalidade. Como se tratam de uma conversa, de um “bate-papo”, entre duas ou mais pessoas, as mensagens são trocadas de um computador para o outro com uma certa velocidade. Isso faz com que os interlocutores se expressem da forma mais informal possível, fazendo com que a língua escrita por ele usada no momento da conversação se pareça bastante com a língua falada informal.

A primeira atitude do internauta nesse instante é fugir o mais possível das rígidas normas da língua escrita. Podemos dizer que a despreocupação com as regras gramaticais e a informalidade fazem das mensagens que os internautas trocam entre si uma simulação quase perfeita da língua falada. Para tanto, os internautas se utilizam de uma gama enorme de recursos da própria linguagem escrita, obtendo, assim, um resultado bastante satisfatório e comunicativo. As mensagens trocadas por meio do correio eletrônico (e-mail) fogem um pouco ao objetivo de nossa pesquisa, uma vez que, nesse caso, os textos são elaborados já obedecendo às normas da língua escrita padrão, pois o internauta, quando redige um e-mail dispõe de tempo para elaborar seu texto. As conversações no chamado "tempo real", no entanto, são mais interessantes pelo fato de os interlocutores não disporem de tempo para fazer um planejamento prévio de seu discurso. Nesse caso, a troca de mensagens tem de ser rápida, sem perda de tempo. Isso faz com que os internautas tenham que criar abreviações, símbolos e sinais que tornem mais rápida a comunicação.

A questão que colocamos aqui é se estaria essa linguagem do mundo virtual, do ciberespaço, prestes a invadir também o mundo real. A resposta a essa questão, evidentemente, só o tempo poderá nos fornecer. Todavia, com o avanço da Internet em nossa sociedade, palavras ou expressões criadas pelos internautas podem vir a integrar o vocabulário de pessoas que nunca tiveram o menor contato com a Internet.

Como em todo jargão que se cria, a chamada comunidade dos internautas tem o seu lado hermético, sua linguagem particular, que, de certa forma, assusta um pouco aquelas pessoas que não têm acesso ao ciberespaço. Contudo, pouco a pouco, as barreiras que separam o mundo virtual do mundo real começam a ser rompidas. Cada vez, mais e mais pessoas se conectam à badalada rede mundial de conexão de usuários de computadores.

3.1. A língua dos internautas.

Já abordamos aqui a questão das variações da língua, isto é, das diversas formas como se usa uma determinada língua. Essas variações, como já vimos, ocorrem por diversos razões. Os internautas também criaram a sua variante da língua, a sua forma de se comunicar. Todo novato em Internet, quando acessa pela primeira vez uma "sala" de "bate-papo" se vê diante de um linguajar novo, que ele desconhece. Por que, afinal, o internauta não se comunica de forma normal, escrevendo as palavras corretamente, obedecendo ao máximo às regras de nossa ortografia?

Para respondermos à pergunta acima, temos que levar em conta que a Internet é um meio de comunicação abrangente. Uma página na Internet pode ser visualizada em qualquer parte do mundo. Outro fator é a questão da velocidade. A comunicação no chamado "tempo real" tem de ser ágil, dinâmica. O internauta, quando conversa com alguém pelo ICQ, mIRC, ou em uma "sala" de "bate-papo", não pode perder tempo digitando as palavras de forma rigorosamente correta, consultando dicionários, etc., pois o tempo na Internet custa dinheiro. Além disso, nem todo internauta tem um domínio completo da língua escrita. A maioria das pessoas tem dificuldade em redigir um texto seguindo, rigorosamente, as normas da língua escrita culta. Outro fator interessante, e talvez menos observado, são as variações semânticas que existem de uma região para a outra. Um gaúcho, por exemplo, quando conversa, numa "sala" de "bate-papo" com um cearense, tem de tomar certos cuidados ao digitar as mensagens, pois as disparidades semânticas de uma região para a outra podem suscitar mal-entendidos. Contudo, o fator que julgamos preponderante é o desejo de informalidade, isto é, de fazer com que a língua escrita se torne o mais parecido possível com a língua falada informal.

Em um artigo publicado na revista Internet.br do mês de novembro de 1998, uma publicação mensal dirigida aos usuários da Internet, Monica Miglio apresenta uma questão bastante interessante sobre o assunto. A primeira questão apresentada pela articulista é se não estaria esse linguajar tipicamente virtual transgredindo a norma culta de nossa língua e prestes a invadir o mundo real. A outra questão, mais preocupante, é com relação ao fato de que as crianças e adolescentes freqüentadores das "salas" de "bate-papo" estaria poderiam estar aprendendo a escrever errado, em virtude da forma de escrever na Internet.

Claro que a forma de escrever desses internautas subverte, sim, a norma culta de nosso língua. No artigo acima citado, contudo, há um parecer do Prof. Sérgio Nogueira, responsável pela coluna "Língua Viva", do Jornal do Brasil. Veja o que ela diz:

"Na Internet o usuário escreve como fala, esta é uma característica própria do meio. Não acredito que essa linguagem vá passar para a vida real, onde existe uma barreira natural das pessoas que não entendem nem falam esse jargão."

Para o Prof. Sérgio Nogueira, tudo é uma questão do meio onde se processa a conversação. Segundo ele, mesmo na vida real as pessoas não costumam ficar atenta à norma culta do idioma num "bate-papo" informal.

As opiniões dos internautas consultados pela autora da matéria acima citada são contraditórias. Há quem não acredite que a Internet não está "descaracterizando" nossa língua, mas somente incorporando ao idioma novos termos. Outros internautas, no entanto culpam a globalização e afirmam que esse linguajar é um sinal da perda de nossa identidade lingüística.

Mas o internauta "viciado" no uso dessa linguagem do mundo virtual tem de tomar um certo cuidado na hora em que está escrevendo um texto fora do mundo virtual. Em um trabalho dissertativo, em uma redação, em um requerimento ou ofício, o uso desse tipo de linguagem seria inadmissível, pelo menos nos padrões lingüísticos de hoje.

Outro aspecto bastante interessante é que internautas "viciados“, acostumados a fazer uso dessa linguagem muitas vezes abreviada do mundo virtual, passem a usar também no mundo real essa forma de escrever. Pessoas que freqüentam muito as "salas" de "bate-papo" têm de se policiar para não usar a língua da Internet em trabalhos de escolas, redação, documentos, etc.

3.2. Emoticons.

Um componente muito interessante da linguagem dos internautas são os emoticons, que são símbolos que representam os sentimentos e o tom de quem está falando. Nem todos os internautas fazem uso desse recurso. Veja o exemplo abaixo

Puxa! Isso é muito bom :-)

Que ótimo!!!! :-))))))

O símbolo :-) significa que a pessoa que está falando está feliz. Mas quando o internauta quer transmitir um sentimento de felicidade mais intenso, aumenta o número de fechamentos de parênteses, como no segundo exemplo.

Vamos expor a seguir uma relação com a maioria dos emoticons conhecidos:

&:-) Pessoa com o cabelo enrolado
X-) Com vergonha ou tímido
:-) Estou feliz
B-) Estou feliz e de óculos
:-( Triste ou com raiva
:-)))) Estou gargalhando
<:-) Você fez perguntas bobas
(:-... Mensagem de partir o coração
(:-O Assustado de chapéu
:-/ Estou perplexa
:-0 Estou impressionada
:-P Dando língua
d:-) De boné
d:-P De boné, dando língua
(:-( Estou muito triste
:-x Mandando beijo
(:-x Mandando beijo
:-D Rindo
|-( de madrugada
:'-( Chorando
:-o Oh,não!!
[]'s (abraços)
:-|| zangado
(:-) careca
:-) feliz
:-( triste
B-) Batman
:-)> barbudo
%+( espancado
?-) olho roxo
:-)X gravata borboleta
R-) óculos quebrados
:^) nariz quebrado
|:-) sombrancelhas espessas
<|-) chinês
3:-) vaca
:-t mal-humorado
X-) estrábico
:'-( chorando
i-) detetive
:-e desapontado
:-)' babando
{;V pato
<:-) pergunta estúpida
5:-) Elvis
>:-) sorriso malicioso, maldoso
:'''-( inundação de lágrimas
/:-) francês
::-) usuário de óculos
8-) usuário de óculos
8:) gorila
_m (o_o) m_ Espiando por cima do muro
:-} + :-) = (_)> Vamos tomar um chopinho

:-') resfriado (1)
:*) resfriado (2)
:-| hmmmph!
:-C queixo caído
:-# beijo (1)
:-* beijo (2)
:-X beijo (3)
:+) nariz grande
:-D gargalhando
:-} olhando maliciosamente p/ alguém
(-: canhoto
:-9 lambendo os lábios
:-| macaco
:-{ bigode (1)
:-#) bigode (2)
(-) precisando de um corte de cabelo
:^) nariz deslocado
:8) porco
:-? fumante de cachimbo
=:-) punk
:-" lábios franzidos
|-] Robocop
O:-) santo
:-@ gritando
:-O chocado
:-V berro
|-) dormindo
:-i fumante (1)
:-Q fumante (2)
:-j fumante sorrindo
:-6 gosto azedo da boca
:-V falando
*-) drogado
:-T lábios selados
:-p língua na bochecha, brincadeira
:-/ indeciso
:-[ vampiro (1)
:-|< vampiro (2)
:-< vampiro (3)
:-)= vampiro (4)
:-)) muito feliz
:-(( muito triste
:-c muito infeliz
Cl:-) usando chapéu coco
d:-) usando boné
[:-) usando headfones
:-(#) usando aparelho dentário
;-) piscando
:-7 sorriso irônico
I-O bocejando
@}—enviando uma rosa para alguém
_,,,^._.^,,,_ Espiando por cima do muro

 

3.3. Conversando na Internet.

As conversas nas "salas" de "bate-papo" da Internet se dão da forma mais informal possível, usando a língua escrita como código e, de uma certa forma, a língua falada como forma de expressão. Vejamos, pois, alguns exemplos de frases tiradas diretamente de uma "sala" de "bate-papo" do provedor ZAZ, da Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS):

sorte sua q. vc ainda consegue desconectar...o meu nem conecta.....buáááááááááááá´.

Note que o internauta nem se deu ao trabalho de iniciar o período com inicial maiúscula. Além disso, abrevia que por q., você por vc. Usa reticências como indicação de pausa, simula um choro de mentirinha, de forma irreverente, usando a expressão onomatopéica "buááááá".

Veja outro exemplo interessante, extraído da mesma sala:

É.... De vez enqdo ele demora a estabilizar...... O meu demorou um pouquinho, mas está normal agora.

Nesse caso, o que nos chama a atenção é a forma como a internauta que escreveu essa mensagem abrevia a expressão "em quando".

gargalhadas........ Ficou lindinho assim.....O ZAZ nem vai perceber quem és!!!

Quando quer demonstrar uma risada ou gargalhada, o internauta faz uso de diversos recursos. No exemplo acima, ele escreve textualmente "gargalhadas", como poderia ter escrito "risos". Veja estes outros exemplos:

Beijocas nas alfaces..... HIHIHIHIIIIIII........ Seu filho me adora????????? Que bom!!!!!!! Qual a idade dele........ HIHIHIHIHIIIIIIII
só que qd eu cai eu levei o Lala junto...hehehehehehe
HAHAHAHAHAHAHA.
respondendo o que.... *r*r*r*r*r*
É brincadeirinha... *rrrrrr*

Veja outra forma interessante que o internauta usa para abreviar as palavras:

Tà ñ........buááááááááááá..............

Nesse caso, o internauta abreviou a palavra não.

O que caracteriza a linguagem dos internautas usuários das "salas" de "bate-papo" é a expressividade, a forma despreocupada com que usam e abusam da língua escrita, sem se importarem com as rígidas normas da língua escrita formal. Veja um outro exemplo interessante:

O que foi?????????????????????

O internauta, autor da frase acima, usa uma sucessão de pontos de interrogação como forma de expressão enfaticamente sua pergunta ao interlocutor, como numa forma de espanto. Veja, agora, que construção rica em expressividade:

ai naum dá, prá passar por ela tenho que fazer um discurso premero, ela tá esnobando cuesse palavreado todo aí...

Novamente, o internauta não inicia o discurso com inicial maiúscula. Mas o que nos chama a atenção aí são dois casos interessantes: o uso de "naum" em lugar de não e "cuesse" no lugar de com esse.

Outra forma interessante de expressão dos internautas é que, quando querem demonstrar um grande apelo ou gritas, usam letras maiúsculas:

ALGUÉM TECLA COMIGO, POR FAVOR????????

A informalidade e a forma descontraída com que os internautas costumam se comunicar entre si é a marca principal de seu estilo.

risos...vê se ñ some...p/ gente poder marcar..tá????
eu ???? magina .
Ops...se escutar me conta.....
Então coma ALFACES!!!!!!!!!!!!!!.....**rrr**

Na primeira frase dos exemplos acima, notamos que o internauta abrevia não e para. O "ops" na segunda frase muitas vezes funciona como uma forma de demonstrar que o internauta cometeu uma gafe e está corrigindo ou coisa assim. Na última frase, o autor dá destaque, usando letras maiúsculas, à palavra alface, finalizando sua assertiva com uma risada, demonstrada pelos símbolos **rrr**.

Os internautas usam e abusam das palavras onomatopéicas. É muito interessante a forma como eles demonstram o beijo:

Smacksssssssssssssss

Muitas vezes o que vale na comunicação entre os usuários de CHATs e de programas de "bate-papo" é a criatividade na hora de expressar as idéias, encurtando palavras, abreviando-as, usando expressões onomatopéicas. Veja neste exemplo, como o internauta abrevia o verbo poder de forma criativa, tal qual o fazemos muitas vezes na língua falada:

pó ficar com ele entao ...

Em vez de a internauta que digitou essa mensagem ter usado o verbo poder em sua forma normal, na terceira pessoa do imperativo afirmativo, ela abreviou como se estivesse falando (pó = pode). Isso demonstra que o internauta quer fazer com que suas mensagens sejam escritas como se eles a tivessem falando numa reunião informal entre amigos.

Veja o próximo exemplo:

Vixe!!!!!!Assiste o Chaves.........gargalhadas.

O trecho acima é interessante pela sua expressividade. No entanto, há um aspecto nele que nos chama a atenção. Note que a internauta que o digitou escreve "...gargalhadas". Parece-nos incoerente que o internauta use e abuse das formas reduzidas, palavras onomatopéicas, etc., mas, na hora de demonstrar uma risada ou gargalhada, escreva, ás vezes, as palavras por extenso, em vez de usar formas como "hahahaha", "hehehehe", "hihihi".

Às vezes, podemos até chegar à conclusão de que os internautas usuários das "salas" de "bate-papo" são os subversivos da língua. Veja esse exemplo:

não se preocupe...eu também sabo fazer spaggetti

Note que, no caso acima, sei, verbo saber na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, é substituído por "sabo". Essa forma de conjugação por analogia, muito usada por crianças nos primeiros anos do aprendizado da língua portuguesa, é utilizada, de forma irreverente, por muitos internautas.

Vejamos, agora, outros casos curiosos:

Que booooooommmmmm!!!!! TCDF
Só você mesmo... MDTR
Pára com isso!!!!...FXXDTR

Muitas vezes, ao entrarmos em uma "sala" de "bate-papo", deparamos com determinadas abreviaturas que mais parecem siglas de alguma autarquia ou empresa. Mas tudo faz parte do exótico e misterioso modo de expressão dos internautas. No primeiro exemplo, o internauta simplesmente quis dizer que está chorando de felicidade ("Tô Chorando De Felicidade"). No segundo caso, a pessoa está dizendo que está morrendo de tanto rir ("Morrendo De Tanto Rir"). Já no terceiro exemplo, a irreverência chega ao extremo, pois o internauta está dizendo que está fazendo xixi de tanto rir ("Fazendo XiXi De Tanto Rir").

A criatividade dos internautas é algo, a nosso ver, bastante interessante para aqueles que se dedicam ao estudo do idioma. Vejamos outros exemplos oriundos da criatividade dos cibernautas, extraídos das "salas" de "bate-papo":

Oiiiiiiiiiiiiiiii.Beijkissssssssss
O QUEEEEEEEEEEEEEEEEE??????????????
oi genteeeeeeeeee.
oizinho.... smacks... bem vindo.
Eita tchurma grande de boa sô... :o) vo me perder tentando saber p/ quem to

É importante ressaltar que as expressões, palavras, abreviações e abreviaturas utilizadas nesse mundo virtual não seguem uma forma rígida. O internauta tem todo o direito de se expressar da forma que melhor lhe convier. Nem mesmo existe a necessidade de se utilizar esse modo informal e reduzido de escrever. O internauta pode, se quiser, usar a língua escrita padrão. Ninguém, na Internet é discriminado por ser um pouco mais formal.

3.4. Pequeno glossário do "internetês".

Segue uma tabela com alguns dos termos e símbolos mais usados nas conversações on line;

4U = for you = para você
Falow = adeus, até mais!

AKI ou aki = aqui
hahahaha = tipo de risada

AWAY = estar away significa estar on line, mas longe do microcomputador
DCC-Foto = pede para a pessoa enviar uma foto pelo comando DCC

B4 (before) = depois
hehehehehe = tipo de risada

Beijaum = beijam
HUMPF = demonstra desagrado

BLZ ou blz ou Blz = beleza
Ixi, putz, = exclamações

BUÁÁÁÁ = choro
Lammer = pessoa idiota

CHUIF = choro
Naum = não

SNIFF ou sniff!! = choro
Nomidade = nome e idade

CD,cd, kd, KD = cadê
Otoh (On the other han) = por outro lado

Chatear = conversar com alguém no CHAT
PVT-me (Private me) = chamar alguém para a sala.

Cool = legal (o mesmo que rulez)
Sacmskssssss = representa beijo

CONCLUSÃO

A língua, em suas diversas formas e variantes, é uma entidade viva, dinâmica e é o código utilizado pelo ser humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar informações, difundir suas idéias e conceitos. O domínio da língua escrita marca o início da História humana. Cada povo tem a sua língua, seu modo de falar. Cada segmento de nossa sociedade, assim como cada indivíduo, tem a sua forma de se expressar. A Internet, a maior rede de comunicação e informação criada pelo homem, também criou sua variante da língua. Hoje, mais de um milhão de pessoas no Brasil utiliza a Internet. Todos os dias, milhares de novos brasileiros se conectam a essa enorme rede. Cada vez, mais e mais pessoas estão acessando as chamadas "salas" de "bate-papo". Cada vez mais pessoas vão aprendendo o "internetês", o linguajar dos internautas.

Ante essa realidade, algumas questões se nos apresentam: estaria essa língua do mundo virtual prestes a invadir de vez o mundo real e influenciar o modo de falar de pessoas que nunca sequer se sentaram à frente de um microcomputador? Poderia esse tipo de linguagem acarretar a degeneração da normal culta de nosso idioma? Estaríamos a caminho da perda da nossa identidade lingüística por causa da Internet?

Em primeiro lugar, creio que a língua utilizada pelos internautas, salvo algumas exceções, não teria uma utilidade prática no mundo real. A abreviação de certas palavras talvez seja adotada futuramente, em virtude da evolução da língua escrita e da constante busca de agilidade no processo de comunicação pela língua escrita. Quanto ao uso das expressões típicas do mundo virtual, cremos que elas devam ficar restritas ao ambiente do ciberespaço. Em mais de três anos de Internet no Brasil, pouco ou quase nada influiu a Internet no modo de escrever das pessoas.

A língua escrita exige certa precisão. A língua escrita dos internautas não tem essa precisão. Trata-se de uma linguagem hermética, utilizada por uma minoria que, em sua grande maioria, sabe o que está fazendo e conhece razoavelmente bem a língua portuguesa em seu nível culto.

Muitas vezes, ouvimos algumas pessoas dizerem que estão degenerando a língua portuguesa, que, por causa das gírias, da TV e do modo de falar da juventude de hoje, estamos perdendo a identidade lingüística.

Ora, isso é um raciocínio, ao nosso ver, totalmente torto e sem nenhum fundamento. A língua é uma instituição viva, presente no cotidiano de cada um de nós. Ela está em constante transformação. A língua, pois, não se deteriora, não se degenera. Ela se transforma, adquire novos elementos e põe em desuso outros; Esse é um processo normal que faz com que as línguas evoluam e acompanhem as transformações sociais, econômicas e culturais dos povos.

A língua escrita e quase falada dos internautas é mais uma das inúmeras variantes de uso de nossa língua. Não há dúvida de que esse segmento poderia influir nas futuras transformações por que a língua irá passar nos próximos anos. Mas isso não significa deterioração, mas evolução do idioma.

Bibliografia.

COSTA. Maria Cristina Rigoni, OLIVEIRA, Maria Thereza Indiani de, PINILLA, Maria da Aparecida Meirelles de. Modalidades do uso da língua. Rede Escola – Site da Secretaria da Educação do Estado do Rio de Janeiro:: http://www.sectec.rj.gov.br/redeescola/especialistas/portugues/tema03/por-tm03.html

CAGLIARI, L. E., Alfabetização e lingüística, São Paulo, Scipione, 1992, 5. Ed.

CAVALCANTI, E.P., Revolução da Informação: Algumas Reflexões, Internet: http://terra.npd.ufpb.br/~elmcav/epcpa002.htm

MAGCAP HOME PAGE. Globalização. O que é isso?. Internet: http://www.aol.com.br/magcap/globali.html
MÍGLIO, Monica. Conversando em internetês. Internet.br, Rio de Janeiro, p. 32-35, novembro 1998.

PRETI, Dino, Análise de textos orais, São Paulo, Edusp, 1993.

ZAGO, Rodrigo do Prado, Knowledge Home Page. Internet: http://www.terravista.pt/FerNoronha/2312/index23.htm

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus colegas e professores do Curso. Àqueles, pelo companheirismo; a estes pelo profissionalismo e dedicação. Agradeço também às minhas colegas de Curso Tome Matuda Hosota e Juliana de Freitas Grespan (esta última minha sobrinha querida), pela união e coleguismo nas horas das dificuldades. Não posso deixar de agradecer também à minha grande amiga e colega do curso de graduação em Letras Ivandra Maurutto Guimaães, pela sua valiosíssima colaboração no decorrer do meu curso de pós-graduação. Finalmente, não poderia me esquecer das minhas amigas de Internet (que, infelizmente, não conheço pessoalmente até esta data) Leida Sibertal e Francesli Cristina Jatte, pela relevante colaboração de ambas durante a elaboração deste trabalho.


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Gilmar Grespan é licenciado em Letras pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras Urubupungá, de Pereira Barreto - Estado de São Paulo - Brasil, e é Escrevente Técnico Judiciário do quadro do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, exercendo suas funções na comarca de Pereira Barreto (SP).


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Página desenvolvida por GILMAR GRESPAN,
E-mail: mailto:gilgresp@clubinter.com.br
Pereira Barreto - SP - Brasil


 

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