Que
marcos históricos melhor representam
a década de 90?
|
Até
1990, a política internacional
era regida por uma dinâmica que
punha em confronto os blocos Oriental
e Ocidental. Essa confrontação
Leste-Oeste era centrada em duas principais
ideologias, que entendiam de diferentes
formas a vida, a economia e o papel do
indivíduo na sociedade. Após
a queda do muro de Berlim, o mundo se
deparou com conflitos que estavam eclipsados
pela Guerra Fria. Problemas étnicos,
religiosos, separatistas e nacionalistas
renasceram com força na África,
no mundo islâmico e também
na Europa. A América Latina continuou
sua difícil luta pela construção
e afirmação da identidade.
|
Torre
de comunicações de
Collserola, Barcelona
|
Por
outro lado, a globalização avança,
ultrapassando as antigas fronteiras territoriais.
A revolução tecnológica,
em especial na informática e nas telecomunicações,
continua causando mudanças nas formas
de trabalhar e de se relacionar.
C1.
A Nova Ordem e a globalização
da economia
No início da década de 90, o fim
do confronto político-ideológico
entre capitalismo e socialismo criou um cenário
mundial com novas forças desestabilizadoras,
substituindo a bipolarização pela
multipolarização. Crises econômicas,
nacionais, separatistas e étnico-culturais
em todos os continentes confirmaram que o século
XX será encerrado dentro de um contexto
tão tenso quanto começou. O jogo
de forças mudou, pendendo das questões
político-ideológicas e militares
da Guerra Fria para as econômico-tecnológicas
da Nova Ordem. Isso demostra que, mais do que
uma nova distribuição de forças,
a última década do século
XX alterou a própria natureza do poder.
1a.
Novas relações
A nova situação exigiu que os
Estados buscassem outras formas de relações,
norteadas por novas regras dentro da esfera
mundial, por associações com as
grandes potências (via áreas de
influência) ou pela formação
de blocos econômicos. O panorama de mudanças
se completou com a tendência cada vez
maior da internacionalização da
economia e do capital, integrando mercados mundiais
dentro de um contínuo processo de globalização
econômica. A globalização
apresenta a tendência à liberalização
da economia como um de seus elementos, exigindo
que os Estados diminuam progressivamente as
barreiras alfandegárias e permitam uma
maior entrada de fluxos internacionais de capitais,
serviços e bens. Homogeniza-se também,
progressivamente, a cultura e o comportamento.
2.
A formação de blocos econômicos
A dinâmica multipolar gerou associações
de países de um mesmo espaço geográfico,
com relações privilegiadas político-econômicas
entre si, buscando uma ação conjunta
dentro das novas relações capitalistas.
Os principais exemplos são a União
Européia (EU), o North American Free
Trade Agreement (Acordo Norte-Americano de Livre
Comércio – Nafta), a Cooperação
Econômica da Ásia e do Pacífico
(Apec) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul).
2a.
União Européia
A União Européia, primeiro e melhor
estruturado dos blocos, tem sua origem na Comunidade
Econômica Européia (CEE), fundada
em 1957. Mas foi o Tratado de Maastricht (1991),
em vigor desde 1993, que garantiu sua formalização.
Os países membros são: Alemanha,
Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha,
Finlândia, França, Grécia,
Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda,
Portugal, Reino Unido e Suécia. A UE
possui ainda mais dois tratados, o de União
Política e o de União Econômica
e Monetária, tendo como destaque a adoção
de uma moeda única, o Euro. O lançamento
do Euro ocorreu em 1º de janeiro de 1999,
sendo utilizado, inicialmente, em transações
bancárias. Sua circulação
formal só ocorrerá em 2002, quando
substituirá as antigas moedas nacionais.
2b.
Nafta
O Nafta, bloco da América do Norte, entrou
em vigor em janeiro de 1994, com o prazo de
quinze anos para a completa eliminação
de todas as barreiras alfandegárias de
seus países membros: Estados Unidos,
Canadá e México.
2c.
Mercosul
Criado em 1991, o Mercado Comum do Sul começou
a vigorar em 1º de janeiro de 1995, estabelecendo
uma zona de livre comércio com eliminação
progressiva das barreiras alfandegárias
entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
A maior parte dos produtos passou a ser negociada
sem tarifas de importação, mantendo-se
algumas limitações alfandegárias
que devem ser gradualmente extintas. Visando
aumentar o comércio intra-regional e
ampliar o mercado comum, o Mercosul vem ganhando
novos parceiros, como Chile e Bolívia.
Esses dois países são considerados
membros associados, pois participaram da zona
de livre comércio, mas não da
integração aduaneira.
2d.
Apec
A Apec é o bloco econômico asiático
e tem como objetivo promover a abertura de mercados
entre os países associados e Hong Kong.
A Cooperação Econômica da
Ásia e do Pacífico foi oficializada
em 1993, tendo o ano de 2002 como data limite
para estabelecer a livre troca de mercadorias
entre seus membros. É formada por Austrália,
Brunei, Canadá, Indonésia, Japão,
Malásia, Nova Zelândia, Filipinas,
Cingapura, Coréia do Sul, Tailândia,
Estados Unidos, China, Hong Kong, Taiwan, México,
Papua Nova Guiné, Chile, Peru, Federação
Russa e Vietnã.
3.
A revolução das comunicações
As novas tecnologias da informação
foram o destaque da década de 90. Em
qualquer ponto da cena internacional, os acontecimentos
são transmitidos de imediato pela televisão.
Catástrofes, guerras, eventos musicais
ou esportivos são vistos simultaneamente
por centenas de milhões de pessoas. Os
profissionais da área de finanças
obtêm informações diretas
das cotações das principais bolsas
de valores do mundo. Os cientistas, médicos
e educadores podem acessar bancos de dados das
maiores universidades do mundo por meio da internet.
O mundo se transformou em um espaço mais
inter-relacionado. Agora, o homem viaja por
estradas virtuais; e-mails ocupam cada vez mais
o lugar de cartas e telefonemas; a rede mundial
de computadores liga, em minutos, lugares diferentes
e permite grande rapidez no acesso à
informação.
4.
O fundamentalismo islâmico
Entende-se por fundamentalismo islâmico
uma interpretação particular e
literal da sharia (a lei do Corão), aplicada
a fins políticos. Em oposição
às idéias leigas, modernas e ocidentais,
essa interpretação afirma que,
a fim de formar um Estado islâmico puro,
os valores da tradição e religião
islâmica devem desempenhar um papel central
na vida econômica, social e política.
Vários movimentos fundamentalistas iniciados
na década de 70 procuraram e ainda procuram
lutar para obter e manter o controle do Estado
nos países com maioria da população
de religião muçulmana e ali aplicar
seus princípios. Em alguns casos, essa
luta resultou em revoltas populares, como no
Irã em 1979 e na Argélia, Tunísia,
Egito, Afeganistão, Daguestão
e Turquia nos anos 90.
4a.
Argélia
Na ex-colônia francesa, em meados da década
de 90, o partido islâmico foi impedido
de assumir o poder após vencer as eleições
devido ao golpe de Estado desfechado pelos militares.
O fundamentalismo provocou uma violenta guerra
civil. Os choques entre forças oficiais
e integrantes da Frente Islâmica de Salvação
e do rival Grupo Islâmico Armado já
causaram mais de 60 mil mortes, com reflexos
em Paris, onde ocorreram atentados.
4b.
Cáucaso
Na Ásia, o fundamentalismo islâmico
vem influenciando muitos conflitos religiosos
e étnicos. Em 1999, no Cáucaso,
russos atacaram a Chechênia sob a alegação
de destruir bases guerrilheiras dos separatistas
muçulmanos do Daguestão, acusados
de atentados a bombas em Moscou. Para a Federação
Russa o objetivo é evitar a qualquer
preço o avanço do nacionalismo
separatista, reprimindo violentamente todas
as ações. A "nova" Guerra
da Chechênia de 1999 faria parte de uma
estratégia política, visando as
eleições parlamentares e presidenciais
do final de 1999 e 2000, respectivamente. Junto
aos interesses políticos estão
os econômicos – a ambição
russa de controlar as fontes de abastecimento
de petróleo e de gás iranianos
e da bacia do mar Cáspio.
4c.
Líbano
Durante a Guerra Fria, devido à longa
guerra civil, o Líbano, ex-colônia
francesa, viveu um quadro de tensão permanente.
A disputa pelo poder entre a minoria cristã
(maronita, armênia católica, ortodoxa
e protestante), que controla a economia e possui
a hegemonia política, e a maioria muçulmana
(xiita e sunita) manifestou-se logo após
a saída dos franceses em 1946. O conflito
se agravou nos anos 70, quando os palestinos,
expulsos da Jordânia, decidiram se fixar
no sul do país. A OLP (Organização
pela Libertação da Palestina)
tornou-se importante aliado dos muçulmanos
libaneses, enquanto os cristãos passaram
a receber o apoio de Israel. A guerra aberta
começou em 1975, preocupando a Síria
que, no ano seguinte, decidiu intervir na região
norte do país. A situação
piorou em 1982 quando tropas israelenses ocuparam
o sul do Líbano como represália
aos atentados terroristas contra o governo de
Israel. A meta dos israelenses era expulsar
os guerrilheiros da OLP e combater a milícia
islâmica do Hezbollah, formada por dissidentes
xiitas ligados ao Irã. Em 1999, o fortalecimento
da via diplomática para resolver as tensões
no Oriente Médio possibilitou a aproximação
entre Israel e Síria. Nessas negociações,
um dos principais pontos de discussão
foi a retirada das tropas israelenses do sul
do Líbano até julho de 2000 (fato
antecipado para 24 de maio).
4d.
Afeganistão
Devastado pela guerra contra a União
Soviética, que ocupou a região
entre 1979 e 1989, o Afeganistão assistiu
à ascensão da milícia Taleban
("estudante", em persa), grupo fundamentalista
financiado pelo Paquistão que, em 1996,
assumiu o controle de 70% do país, porcentagem
que logo subiu para 90%. Orientados pelo rigor
da sharia, os talebans acreditam ser possível
estabelecer "o paraíso de Alá
na Terra", impondo severas restrições
ao dia-a-dia e punições à
população, em particular às
mulheres. O governo do Taleban sofre sanções
econômicas determinadas pela ONU desde
novembro de 1999 e é reconhecido somente
pela Arábia Saudita, pelos Emirados Árabes
Unidos e pelo Paquistão. O contexto limita
as possibilidades de sucesso do acordo de paz
firmado em 1999 entre o Taleban e as facções
opositoras, ficando cada vez mais distante a
chance de pacificar o país, em guerra
civil há duas décadas.
5
O auge dos nacionalismos
Em muitos países do mundo, o fim da Guerra
Fria provocou uma verdadeira crise de identidade
coletiva. Diante de tendências econômicas
que visam integrar um número cada vez
maior de países em grandes mercados mundiais,
surge a necessidade de uma recuperação
do sentido coletivo de grupo.
5a.
Bélgica e Quebec francês
Enquanto Suécia, Finlândia e Áustria
entraram na União Européia, em
1992, a Bélgica instituiu um Estado federal
que delegou ao governo central os assuntos de
defesa, previdência social, política
monetária e relações exteriores.
Três federações tiveram
a autonomia garantida – Valônia,
Flandres e Bruxelas. Paralelamente, o Quebec
francês afirmou sua identidade num simpósio,
mas a proposta de autonomia não foi aprovada
em plebiscito.
5b.
A questão da Irlanda
A católica Irlanda foi anexada ao Reino
Unido no século XIX. O nascimento do
Estado Livre da Irlanda, na década de
20, aconteceu após violentos conflitos.
Em 1949, surgiu a católica República
da Irlanda (Eire). Na década de 60, a
minoria católica do Ulster (Irlanda do
Norte) passou a reivindicar maiores direitos
e a reunificação com o Eire. Alternando
luta armada e pacífica, o IRA –
o Exército Republicano Irlandês
– partiu para o terrorismo, sob forte
repressão britânica. O processo
de paz começou na década de 90,
com o estabelecimento do Acordo da Sexta-Feira
Santa (1998). Católicos e protestantes,
rivais históricos, aceitaram o desafio
de governarem juntos a Irlanda do Norte, aguardando
o desarmamento do IRA e de grupos paramilitares
protestantes.
Para
lembrar: |
O
nacionalismo democrático, bem representado
nos casos irlandês e canadense,
não é o único: o
velho nacionalismo intolerante também
ressurge em algumas zonas da Europa, como
o basco na Espanha e o sérvio na
ex-Iugoslávia. |
5c. O País Basco
Os bascos sempre defenderam sua independência,
resistindo à incorporação
pela Espanha e França. A ditadura de
Francisco Franco (1939-1975) reprimiu as manifestações
autônomas regionais e a cultura basca.
Surgiu então a ETA que, na década
de 60, passou à luta armada. Com a
redemocratização espanhola,
foi concedida autonomia política e
cultural às províncias bascas,
mas, embora a maioria da população
deseje uma solução pacífica,
a facção extremista da ETA intensificou
o terrorismo. Em 1998, a ETA declarou um cessar-fogo
aceito pelo governo central, devido ao seu
isolamento e às pressões do
impacto do avanço da via político-diplomática
na Irlanda. Apesar disso, os conflitos retornaram
no início de 1999.
|
6.
As etnias da Iugoslávia
A Iugoslávia era integrada por
várias etnias distintas. Os grupos
majoritários eram sérvios,
croatas, macedônios, eslovenos e
montenegrinos. Quanto à religião,
aproximadamente 41% pertenciam à
Igreja ortodoxa, 32% eram católicos
e 12% muçulmanos. Passaram a existir
cinco Estados bem diferenciados: Eslovênia,
Croácia, Bósnia-Herzegovina,
Macedônia e Sérvia-Montenegro.
A estas se acrescentam os territórios
autônomos de Kosovo (albaneses)
e Vojvodina (húngaros).
|
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|
|
6a.
Guerras nos Bálcãs, um
histórico "barril de pólvora"
No final da Segunda Guerra Mundialm, consolidou-se,
nos Bálcãs, a Iugoslávia,
federação que agrupava sob um
regime comunista peculiar povos de diversas
nacionalidades, com diferentes línguas,
culturas e religiões. Após a morte
do marechal Tito, que governou o país
desde 1945, o sistema político comunista
entrou em crise e a federação
iugoslava se desagregou. O país ficou
limitado à Sérvia e Montenegro.
No final da década de 80, a tentativa
dos sérvios de impor sua hegemonia ao
país deflagrou o rompimento. A Macedônia,
a Eslovênia e a Croácia proclamaram
a independência. Em 199,1 o conflito estourou
com enorme violência e crueldade na Bósnia-Herzegovina.
Proclamou-se um modelo de convivência
multirracial, frente ao critério de "limpeza
étnica" dos sérvios e aceitaram-se
as condições da ONU para o fim
do conflito armado. Em novembro de 1995, foi
assinado em Dayton (Estados Unidos) um acordo
de paz que manteria a Bósnia como um
único Estado, formado por duas entidades:
uma sérvia e outra croato-muçulmana.
Apesar disso, novos conflitos se seguiram.
6b.
A Guerra de Kosovo
Deportações e "limpezas étnicas"
envolvendo tensões entre sérvios
– cristãos ortodoxos de origem
eslava – e muçulmanos – bósnios
(eslavos) e kosovares (origem albanesa) –
são antigos nos Bálcãs.
A suspensão, em 1989, da autonomia de
Kosovo (província sérvia de maioria
albanesa à qual o marechal Tito dera
certa liberdade) gerou um movimento separatista,
logo transformado em luta armada com a formação
do Exército de Libertação
de Kosovo (ELK), apoiado pela Albânia.
Recusando-se a perder mais territórios,
o líder sérvio Milosevic intensificou
a repressão à província
em 1998, com a justificativa de proteger os
sérvios. Uma nova "purificação
étnica" aconteceu. Fracassadas as
negociações de paz em 1999, a
OTAN realizou bombardeios e ocupou Kosovo. Uma
missão de paz da ONU vem organizando
a administração, repatriando refugiados,
desarmando o ELK e protegendo a minoria sérvia.
7.
A CEI e o Leste europeu
Em 1991, o golpe frustrado de membros
da burocracia conservadora e a independência
das Repúblicas Bálticas
(Estônia, Lituânia e Letônia)
enfraqueceram ainda mais o governo de
Mikhail Gorbatchev na União Soviética.
Bóris Yeltsin aproveitou-se da
situação e, com outras lideranças,
assinou o Acordo de Minsk, que marcava
o início da Comunidade dos Estados
Independentes (CEI). Instabilidade político-econômica
e tensões étnico-separatistas
foram constantes durante toda a década
de 90. Na Chechênia, a guerra com
a Rússia (1994-1996) não
garantiu a independência desejada
pelos chechenos, mas, após
|
Exército
russo sufoca revolta nacionalista na Chechênia
|
violentos
confrontos armados, os russos concederam-lhes
autonomia. Os conflitos no Cáucaso demonstram
que o separatismo, uma das heranças do
fim da União Soviética que tanto
assombrou Bóris Yeltsin, continua a preocupar
o governo de Vladimir Putin. Na era da globalização,
a Rússia e o "novo" Leste europeu
convivem, simultaneamente, com o pior do socialismo
e do capitalismo: atraso, burocracia, desemprego,
inflação, além da fragmentação.
8. A Questão Palestina
Negociações entre israelenses
e palestinos abriram caminho para o regresso
dos refugiados palestinos, o exercício
do direito de autodeterminação
e a criação de um Estado independente.
Pelos acordos de Oslo (1993), houve o reconhecimento
mútuo entre Israel (governado pelo primeiro-ministro
Yitzhak Rabin) e OLP (liderada por Yasser Arafat).
Também foram iniciadas negociações
para a retirada de tropas israelenses, a devolução
de áreas e a transferência do poder
à Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Em 1994, os palestinos obtiveram autonomia limitada
nos territórios de Gaza e Jericó.
8a.
Limitação do processo
de paz
O processo de paz ficou limitado pelas contínuas
radicalizações político-religiosas,
pelo assassinato de Rabin (1995) e pela vitória
eleitoral, em Israel, do direitista Benjamin
Netanyhu (1996). As dificuldades políticas
para Netanyhu cumprir suas propostas eleitorais,
a recessão econômica e o fortalecimento
do caminho diplomático para as tensões
no Oriente Médio colaboraram para o retorno
do Partido Trabalhista ao poder israelense com
a vitória de Ehud Barak em 1999. A recusa
de Israel em desocupar territórios e
a fundação de novas colônias,
além de ataques terroristas de judeus
radicais e do Hamas (guerrilha extremista palestina)
criaram mais problemas no Oriente Médio,
retardando a criação de um Estado
Palestino. No entanto, a retomada do diálogo
entre sírios e israelenses e, em 24 de
maio de 2000, a retirada de Israel do sul do
Líbano, encerrando 22 anos de ocupação,
são passos importantes para a concretização
e o avanço do
processo de paz.
Nelson
Mandela, presidente da África do Sul
9. O fim do apartheid
A palavra apartheid denomina o conjunto de leis
e decretos restritivos impostos, a partir de
1948, pela minoria branca da África do
Sul ao restante da população.
O apartheid jogou na ilegalidade o Congresso
Nacional Africano (CNA) e, em 1963, encarcerou
seu líder, Nelson Mandela. Em 1976, a
opinião pública internacional
indignou-se com a brutal repressão policial
que custou a vida de 700 jovens manifestantes
nas ruas de Soweto. Um ano depois, a tortura
e a morte de um jovem advogado negro, Steve
Biko, acelerou o isolamento da África
do Sul nos tribunais internacionais. O apartheid
chegou ao fim em 1990, quando o presidente Frederik
de Klerk legalizou todos os partidos políticos
proibidos. O CNA negociou com o governo de minoria
branca o fim do apartheid e Nelson Mandela,
líder da maioria negra sul-africana,
foi libertado. As eleições gerais,
realizadas após sua liberdade, foram
vencidas pelo CNA. Em abril de 1994, Nelson
Mandela assumiu a presidência da África
do Sul e formou um governo multirracial. As
eleições parlamentares de 1999
garantiram a manutenção do CNA
no comando do país, confirmando a escolha
de Thabo Mbeki, indicado por Mandela, para a
presidência. Seu atual desafio é
fortalecer a democracia e minimizar os graves
problemas internos (diferenças sociais
entre brancos e negros, Aids, oposição
branca etc.).
10.
A situação da África
A região conhecida como África
Negra – território ao sul do Saara
– está associada a massacres entre
etnias, guerrilhas, tribalismo, governos opressores,
atraso, miséria, epidemias e endemias.
Com o fim da Guerra Fria, devido ao abandono
internacional, conflitos étnico-tribais
explodiram, reforçados pela marginalização
social e estagnação econômica
dos países recém-emancipados.
10a.
As ex-colônias portuguesas
Após a independência, estouraram
guerras civis nas ex-colônias portuguesas.
Em Moçambique, o grupo socialista Frente
de Libertação de Moçambique
(Frelimo) assumiu o poder, enfrentando a oposição
da anticomunista Resistência Nacional
Moçambicana (Renamo). Os conflitos continuaram
na década de 90, embora a Frelimo tivesse
abandonado o marxismo. Em Angola, confrontaram-se
três grupos guerrilheiros de ideologias
e etnias diferentes. De um lado, o Movimento
Popular pela Libertação de Angola
(MPLA), de orientação socialista,
apoiado por Cuba e União Soviética.
De outro, a União Nacional pela Independência
Total de Angola (Unita) e a Frente Nacional
de Libertação de Angola (FNLA
– dissolvida no fim dos anos 70), ambas
de alinhamento pró-ocidental e auxiliadas
pelos Estados Unidos e pela África do
Sul. Apesar de reconhecida por vários
países, a vitória do MPLA nas
eleições de 1992 não foi
aceita pela Unita. Os choques entre etnias e
seus grupos políticos já causaram
1,5 milhão de mortos e, a cada ano, cresce
o número de vítimas dos campos
minados pelos rivais . Embora tenham feito um
acordo de paz, forças do governo (MPLA)
e guerrilheiros da Unita ainda combatem pelo
controle de áreas do país.
Refugiados fogem dos conflitos
raciais em Ruanda
10b.
Os enfrentamentos étnicos na
África Central
Os embates entre hutus e tutsis, na África
Central, criaram um quadro de massacres e instabilidade
política em Ruanda, Burundi e República
Democrática do Congo (ex-Zaire, antigo
Congo Belga). O conflito em Ruanda provém
de uma longa história de rivalidades
tribais e étnicas. Após a Segunda
Guerra Mundial, o grupo hutu se rebelou contra
a monarquia tutsi e desencadeou uma guerra civil.
Vitorioso, mas carente de ideologias, o governo
hutu organizou o Estado baseado em critérios
étnicos: os tuas se ocupariam das tarefas
artesanais, os tutsis da criação
de gado e os hutus da propriedade da terra.
Em 1982, o general Juvenal Habyarimana abriu
novos rumos, numa gestão mais democrática
e com melhorias sociais. O assassinato de Habyarimana,
em1994, foi o estopim para os ataques entre
hutus e tutsis. A violenta guerra civil em Ruanda
levou ao genocídio de tutsis por extremistas
hutus. A vitória dos tutsis, no entanto,
provocou o êxodo de civis e combatentes
hutus para o leste do Zaire (atual República
Democrática do Congo), onde ficaram em
campos de refugiados. Rebeldes tutsis que queriam
derrubar o governo do Zaire – controlado
pelo ditador Mobutu – dominaram a região
e expulsaram os refugiados hutus. Os civis voltaram
a Ruanda. Os combatentes, temendo represália
tutsi, foram para as florestas. Massacres e
instabilidade política espalharam-se
nos países vizinhos. No Zaire, após
décadas de luta guerrilheira, o ditador
Mobutu, no poder desde 1995, foi deposto por
Kabila, em 1997. No final de 1999, tropas ruandesas
e ugandenses, que entraram no país para
ajudar os oposicionistas, começaram a
lutar entre si pelo controle das áreas
produtoras de diamantes. Em fevereiro de 2000,
buscando encaminhar a paz, o Conselho de Segurança
da ONU autorizou o envio de uma força
militar ao país para tentar aplicar o
acordo de paz firmado no ano anterior.
11. Problemas na Ásia
Tensões e conflitos também abalam
a Ásia. Na China, apesar da forte repressão,
o regime comunista vem enfrentando movimentos
nacionalistas e religiosos no Tibete (budista),
submetido desde 1950, e em Xinjiang (muçulmano).
Desde 1947, a Índia, de maioria hindu,
disputa com o muçulmano Paquistão
o território fronteiriço da Caxemira.
A tensão serve como pano de fundo para
que os dois lados ampliem seu poderio bélico,
trazendo novamente para o cenário mundial
a ameaça de uma guerra nuclear, diante
dos testes militares de Índia e Paquistão
em 1998 e 1999. A vitória indiana, em
1999, não significa o fim das disputas,
apenas um intervalo de uma antiga rivalidade.
11a.
A República Popular da China
Na Nova Ordem mundial, a importância da
China tem sido destacada por vários fatores:
elevados índices de crescimento, amplo
mercado consumidor, mão-de-obra abundante,
proximidade dos Tigres Asiáticos e o
sucesso da integração territorial.
A incorporação pacífica
de Hong Kong (colônia britânica),
em 1997, e de Macau (possessão portuguesa),
em 1999, baseia-se na teoria de Deng Xiaoping:
"um só país, dois sistemas",
ou seja, uma só China, em grande parte
socialista, com dois enclaves capitalistas e
democráticos. A China ainda oferece a
mesma fórmula para Taiwan (ou República
Nacionalista da China), fundada na ilha de Formosa
pelos nacionalistas em 1949, após a derrota
na guerra civil. Considerada "província
rebelde", Taiwan ainda rejeita a reunificação,
apesar da pressão militar continental
e do diálogo iniciado em 2000. Para os
próximos anos, a China ainda tem alguns
desafios a enfrentar: contrastes entre o litoral
e o interior, o êxodo rural, a concentração
de renda, o desemprego, a corrupção
na burocracia estatal, as dissidências
e a ausência de liberdades democráticas,
entre outros.
11b.
O despontar do Japão
Após a Segunda Guerra, o Japão
entrou para a área de influência
norte-americana, exportando produtos industrializados
e importando produtos agrícolas. Iniciado
no final dos anos 50, o "milagre japonês"
garantiu ao país a segunda colocação
dentro do mundo capitalista durante a década
de 80. Graças à oferta de mão-de-obra,
investimentos em educação e tecnologia,
poucos gastos militares e alta taxa de poupança
interna, o país conseguiu superávit
na balança comercial com os Estados Unidos
e, nos anos 80, ultrapassou os norte-americanos
na produção de automóveis,
conseguindo também firmar seu comércio
exterior na Ásia. Essa situação
foi alterada algum tempo depois, por causa de
problemas internos e pelos problemas econômico-financeiros
mundiais, efeitos da globalização.
O desaquecimento da economia japonesa levou
muitos analistas a considerarem os anos 90 como
uma "década perdida".
11c.
Timor Leste
O problema no Timor Leste explodiu após
a crise econômica asiática de 1997,
que causou a queda do ditador Suharto. Seu sucessor,
Habibie, anunciou um plebiscito para definir
o destino de Timor Leste, pondo em risco a unidade
do arquipélago indonésio. Após
o resultado do plebiscito de agosto de 1999,
a favor da independência timorense, desencadeou-se
um massacre organizado por milícias armadas
pró-Indonésia. A capital, Dili,
foi destruída, forçando a população
ao êxodo. Sob pressões, a Indonésia
aceitou o envio de uma força multinacional,
sob comando da Austrália. O país
busca a reconstrução e o principal
líder da resistência, Xanana Gusmão,
tem participado no processo.
11d.
A futura reunificação
da Coréia
O acordo firmado em entre os líderes
das duas Coréias, em junho de 2000, representou
um importante avanço para a paz e a segurança
no leste asiático. O acordo determina
a necessidade do país funcionar como
uma federação durante um período
intermediário antes de sua completa reunificação.
12.
A América Latina
As guerrilhas, inspiradas no socialismo e ativas
na América Latina nas décadas
de 60 e 70, perderam o sentido na Nova Ordem
mundial. Mas suas causas persistem, em especial
a miséria e a desigualdade social. Alguns
países ainda registram atividades guerrilheiras,
alimentando radicalismos.
12a.
Os Zapatistas no México
No México, o Exército Zapatista
de Libertação Nacional sublevou
o pobre estado de Chiapas em 1994, exigindo
"pão, saúde, educação,
autonomia e paz" para os camponeses, em
sua maioria indígenas. Além disso,
o PRI (Partido Revolucionário Institucional),
depois de sete décadas no poder, perdeu
a hegemonia, pois as eleições
de 2000, coordenadas por uma instituição
independente do governo (Instituto Federal Eleitoral),
foram marcadas por uma disputa apertada entre
o candidato priista Francisco Labastida e o
oposicionista Vicente Fox.
12b.
O PRI
No poder desde 1929, o Partido Revolucionário
Institucional deteve o controle da burocracia
estatal e dos sindicatos, em meio ao nepotismo
e à corrupção. Em contrapartida,
realizou a reforma agrária e afastou
os militares da política. Essa "ditadura
perfeita" era referendada periodicamente
por votações fraudadas. No final
da década de 80, o PRI empreendeu reformas
neoliberais que, embora modernizadoras, levaram
o país à crise financeira e ao
aumento da corrupção. Na histórica
eleição de 2000, a derrota do
PRI acaba com o seu monopólio do poder,
passo decisivo para a democracia mexicana.
12c.
Peru e Colômbia
No Peru, o movimento Sendero Luminoso, inspirado
no maoísmo e alicerçado na guerrilha
rural, é o grupo mais violento. O Movimento
Revolucionário Tupac Amaru, influenciado
pelo guevarismo, concentrou sua ação
nas cidades, como a invasão da embaixada
japonesa em 1997. O presidente Alberto Fujimori,
responsável por um autogolpe em 1992,
foi reeleito para um terceiro mandato em 2000,
num processo eleitoral bastante polêmico.
Na Colômbia, as Forças Armadas
Revolucionárias (FARCs) e o Exército
de Libertação Nacional têm
prejudicado o fortalecimento democrático
no país, sabotando eleições
e realizando inúmeros seqüestros,
inclusive de crianças. As FARCs, inclusive,
dominam parte do território colombiano.
12d.
Atuação na legalidade
Alguns grupos abandonaram os confrontos. A Frente
Sandinista na Nicarágua e o colombiano
M-19 tornaram-se partidos políticos para
atuar na legalidade. Outros selaram acordos
de paz com o governo: a Frente Farabundo Martí
de El Salvador e as guerrilhas da Guatemala.
12e.
A situação na América
do Sul
Em 1999, na América do Sul, coalizões
de partidos de esquerda chegaram ao poder democraticamente
e com programas moderados. Defendendo a privatização,
a economia de mercado e a integração
em blocos, essas coalizações inovaram
com outras prioridades: emprego, redistribuição
de renda e política social. As urnas
argentinas proclamaram a vitória de Fernando
de la Rúa, candidato da Aliança
União Cívica Radical (UCR) e Frente
País Solidário, encerrando a "era
Menem" (1989-1999). O modelo neoliberal,
a dolarização, a neutralização
dos sindicatos e dos militares afastaram Carlos
Menem das bases do peronismo e do poder. De
la Rúa enfrenta o desafio de reajustar
a economia. No Chile, as eleições
proclamaram a vitória de Ricardo Lagos,
do Partido Socialista, candidato da coalizão
governista Concertación, no poder desde
1990, com o fim da ditadura do general Augusto
Pinochet.
Para lembrar: |
Preso
em Londres, em 1998, a pedido de um juiz
espanhol, Augusto Pinochet está
sendo acusado de violação
dos direitos humanos durante sua presidência
(1973-1990). O retorno ao Chile, em 2000,
não garantiu ao velho general o
fim das acusações, especialmente
após perder a imunidade parlamentar.
Julgar os crimes do ex-ditador é
um dos primeiros desafios para a administração
do presidente socialista Lagos.
|
12f. Canal do Panamá
Na passagem para o ano 2000, o canal passou
a ser administrado pelo Panamá. Independente
da Colômbia em 1903, o país teve
de aceitar um tratado que, dentro da política
do Big Stick, criava a zona do canal, sob controle
perpétuo norte-americano. Nos anos 70,
pressões nacionalistas panamenhas levaram
a negociações para sua devolução.
12g.
Cuba
Na Nova Ordem, Cuba constitui um grande enigma.
O fim da União Soviética e do
Comecon provocou crise na economia da ilha.
Para recuperá-la, o governo admitiu a
propriedade privada, empresas associadas com
o capital estrangeiro, zonas francas e parques
industriais, além de acabar com o monopólio
estatal sobre o comércio exterior. Os
investimentos estrangeiros vêm crescendo
no país e o turismo destaca-se cada vez
mais. Apesar disso, ainda restam algumas dúvidas.
As conquistas sociais da Revolução
poderão ser mantidas diante da crise
generalizada? Como ficará Cuba sem Fidel
Castro? Para os Estados Unidos, como encarar
um país socialista em seu "quintal"
e administrar o problema da grande leva de refugiados
cubanos?
13.
Desafios na Nova Ordem
Os valores que emergiram com a Nova Ordem se
defrontam com uma onda de conservadorismo e
nacionalismo, representados em especial por
partidos e grupos neonazistas. Com o fim do
comunismo na Europa, em 1989, tendências
nacionalistas de direita reprimidas vieram à
tona, espalhando ódio étnico e
racial pelo continente e fora dele. A Alemanha
– o mais rico, populoso e influente país
da União Européia – ainda
convive com as conseqüências da divisão
e da reunificação: disparidades
socioeconômicas e diferenças políticas,
além de preconceitos e do "fantasma"
do neonazismo. Jovens, principalmente, temem
que seu futuro seja sacrificado por ideais liberais
e se agrupam em gangues. A mais famosa é
a dos skinheads: violentos e reacionários,
considerados "soldados" desse movimento.
13a.
A crise no conceito de nacionalidade
O neonazismo não se limita à Alemanha,
aparecendo de forma marcante em outros países,
como a Áustria, onde em 1999 e 2000,
o Partido do Povo Austríaco (OVP), representado
pela liderança do direitista Jorge Haider,
tornou-se a segunda força política
no país. Isso representa mais um desafio
para as instituições democráticas
neste final de milênio. A chegada de africanos,
asiáticos e outros à Europa gerou
tensões e impôs a necessidade de
novos conceitos de nacionalidade e de Estado-nação.
Considerados "cidadãos de segunda
categoria", os habitantes das ex-colônias
e seus descendentes tornaram-se alvo de ultranacionalistas.
Políticas racistas e xenófobas
vêm ganhando espaço em alguns países.
O tratamento dispensado a argelinos na França,
a turcos na Alemanha e a estrangeiros em geral
nos países europeus ilustra as tensões
geradas pelas novas migrações.
Atentados, preconceitos e discriminações
contra imigrantes acirram as tensões
sociais na Europa.
Fonte:
Klickeducação