Luciana
Aparecida Leite Costa - Cirurgiã
Dentista
Introdução
Historicamente,
a prática do piercing (do inglês:
perfuração) tem sido
realizada por várias civilizações.
Há relatos de uso entre os
egípcios, romanos, maias, tendo
conotações espirituais,
sexuais, estéticas e de rituais
de passagem. Na sociedade atual ele
apresenta uma ligação
com a adolescência e a vontade
de ser diferente. A moda do piercing
ganhou força com o movimento
Hippie dos anos 60 e 70 e posteriormente
com os Punks nos anos 80 e 90.
Vários
locais do corpo, face e boca têm
sido escolhidos em função
da estética. Os piercings de
língua e regiões periorais
tornaram se mais populares
com o passar do tempo (CANTO et al.
2002). Atualmente, eles são
motivo de preocupação
e discussão pelos odontólogos,
devido suas interferências prejudiciais
na cavidade oral e complicações
que podem ter origem infecciosa ou
não.
Revisão de Literatura
1.
Sobre os piercings
São encontrados em vários
tamanhos e tipos. Podem ser confeccionados
em aço inoxidável, ouro,
prata, teflon, acrílico ou
titânio (CANTO et al., 2002)
-
Labial: Podem ser colocados central,
lateral ou bilateralmente. Medem aproximadamente
17 mm. Geralmente são circunferênciais
externamente e achatados internamente,
para minimizar o traumatismo. Fig.
1 e 2
-
Lingual: Geralmente são colocados
na linha média (pois lateralmente
a ela passam nervos e vasos), à
metade da distância da ponta
da língua ao freio lingual.
Medem aproximadamente 30 mm. O mais
utilizado é o circunferencial
em ambas extremidades. Fig. 3
2.
Colocação da jóia
A
técnica consiste na determinação
do local pelo usuário, higiene
com gaze embebida em PVPI (polivinil
pirrolidona iodo) e bochechos com
solução antisséptica.
Uma pinça, semelhante à
de mucocele, é utilizada na
preensão do lábio ou
língua. O piercing é
encaixado na agulha, que tem o mesmo
calibre da jóia. A agulha é
inserida. Pinça e agulha são
removidas. A outra parte do piercing
é então rosqueada. Na
língua, uma haste mais longa
é utilizada para melhor acomodação
da jóia durante o período
em que a jóia estivesse edemaciada.
Após a cicatrização,
uma jóia menor substituiria
a primeira (BOARDMAN & SMITH,
1997).
O
tempo médio de cicatrização
no lábio é de aproximadamente
5 semanas e na língua, de 4
semanas. Se o paciente apresentar
dor, inflamação e conseqüentemente
aumento do período de cicatrização,
deve se realizar debridamento
local, uso de clorexidina e antibióticoterapia.
Neste caso o paciente deverá
ser acompanhado e o piercing removido
(BOARDMAN & SMITH, 1997).
Discussão
Várias
complicações decorrentes
do uso do piercing têm sido
relatadas na literatura. Os dentistas
devem estar atentos a esta prática
e aos problemas causados pelos mesmos.
Dor
e edema são as complicações
mais comuns. São decorrentes
do procedimento, que é feito
sem anestesia, pois os aplicadores
não possuem licença
para utilização de anestésico
local e nem para prescrição
de medicação pós
operatória. Quanto ao
edema, devemos ficar atentos, principalmente
os relacionados ao piercing lingual,
pois em casos extremos poderão
comprometer as vias aéreas
superiores. Sangramento prolongado
e / ou parestesia podem ocorrer se
a perfuração na língua
não coincidir com a linha média
(paralelamente a esta passam os feixes
vásculo nervoso lingual).
Fratura
dental, trauma à mucosa, gengiva
e palato também são
comuns. O usuário tem o hábito
de brincar com a jóia ou mesmo
o simples ato da mastigação
pode causar dano aos tecidos adjacentes.
Interferência
na mastigação e deglutição,
hipersalivação e dificuldades
na fala são relatadas pelos
autores, mas os usuários afirmam
não ter problemas deste tipo.
A
transmissão de doenças
como hepatite, HIV entre outras é
uma realidade pois os locais onde
são feitas as perfurações
nem sempre apresentam as condições
mínimas de biossegurança,
favorecendo a transmissão de
doenças.
Em
entrevista ao site da APCD o estomatologista
da Unisa, Arthur Cerri, relata que
quanto mais tempo o usuário
permanecer com a jóia na boca,
maior a chance do mesmo contrair doenças
que variam de processos inflamatórios
crônicos a lesões que
podem levar ao câncer. O Instituto
Nacional do Câncer (INCA) coloca
o trauma contínuo e de baixa
intensidade como cancerizável,
potencializado pelo uso do fumo e
álcool.
Outras
complicações descritas
na literatura são: aspiração
da jóia, incorporação
de corpo estranho no local da perfuração,
formação de cálculo
na superfície do metal, obstrução
de imagens radiográficas, hipersensibilidade
ao metal.
Considerações finais
Existe
um consenso entre os pesquisadores
que os estabelecimentos destinados
aa colocação do piercing
deveriam passar por inspeções
e fiscalização, podendo
atuar unicamente mediante licença
ou alvará.
Os
colocadores de piercing deveriam receber
instruções para minimizar
os riscos a que expõem o usuário
e alertálos sobre possíveis
complicações.
E
nós dentistas devemos considerar
os danos causados pelos piercings,
pois podemos ser solicitados para
tratamento dos mesmos.
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www.lincx.com.br
Data de Publicação do
Artigo:
1 de Abril de 2004
Fonte:
MedCenter.com Odontologia
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