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Não há dúvida, também, de que o trabalho no futuro será feito em grupo, com indivíduos de formações diversas juntando-se a outros profissionais com características complementares, de modo a fornecer, como equipe, produtos ou serviços solicitados por terceiros (organizações ou outros indivíduos) . No Brasil em geral não se leva a sério a questão de ensinar técnicas e comportamentos adequados à atividade grupal. Todo os especialistas em "team-building" (construção de equipes) trabalham exclusivamente no âmbito empresarial, enquanto as escolas acreditam que trabalho-em-grupo realiza-se de forma natural, espontânea e intuitiva; e não é o caso.

A preparação de professores tem que incluir técnicas que incentivem os alunos à cooperação, ao "trabalho em grupo". Em sua estratégia na sala de aula, o papel do professor é abrir mão do poder, fazendo parte do time com os alunos.8

Provavelmente não haja nesta segunda metade do século 20 uma teoria tão importante para a Educação, em todos os seus níveis e em todas as suas formas, quanto o conjunto de idéias sobre "múltiplas inteligências" formuladas por Howard Gardner, psicólogo da Faculdade de Educação da Harvard University.9 Como toda boa teoria, fornece explicações e levanta novas questões sobre como os aprendizes são diferentes uns dos outros, apontando a necessidade de se modificar as atuais estratégias educacionais atuais que representam uma "linha de montagem" na qual todos os inputs e outputs são iguais. As novas tecnologias de comunicação nos permitem individualizar a aprendizagem, deixando cada aluno navegar sobre vastos repositórios de informação textual, imagética e sonora: isolando os assuntos de seu interesse, ele se aprofunda nas categorias de informação que se afinam com o seu "sabor" individual de aprendizagem. Desde que não se interprete erradamente as idéias de Gardner, fazendo o aluno se conformar com um padrão prestabelecido pelo professor, os conceitos em questão podem servir como um excelente prisma refratando a luz que surge das disciplinas acadêmicas.10 Nosso passado industrial exigia que todos os alunos tivessem o mesmo tipo de educação (principalmente capacitação linguística e lógica-matemática); a sociedade atual exige pessoas detentoras de muitos tipos diferentes de capacitação, com talentos variados, sobrepostos e mutáveis. Como o prisma no laboratório de óptica, que distribui a luz num amplo espectro, a teoria das múltiplas inteligências, usada no planejamento educacional, cria condições para a formação de pessoas diferenciadas. Ela nos mostra como levar o aluno do material acadêmico, que serve de suporte, até as metas finais, permitindo que cada um adquira, manifeste seu próprio estilo individual de aprendizagem. Assim, como se fosse sua impressão digital, seu timbre de voz, aprender de um modo único, com uma identidade própria é parte das capacitações cognitivas e dos conhecimentos gerais que nós, educadores, consideramos importantes e colocamos diante do aprendiz--em última análise, o principal responsável por sua própria educação.

O que dizer das disciplinas acadêmicas, cujo domínio não pode ser mais a meta da Educação? Acredito que o seu lugar continua sendo importante em todo o processo, mas apenas se for bem interpretado. Na porta de entrada da Biblioteca da Indiana University, onde fiz pós-graduação, está gravada a seguinte frase do filósofo norteamericano do início do século, Josiah Royce: "Educação é aquilo que você lembra depois que você esqueceu tudo que aprendeu na escola". No meu tempo de estudante, falávamos do valor intrínseco de conhecimento. Sou mais cético hoje devido às mudanças sociais e tecnológicas que apareceram, fazendo com que a sobrevivência de cada um, como unidade econômica, esteja mais precária. As disciplinas acadêmicas tradicionais têm sua justificativa hoje por duas razões: primeiro, para servir de matéria-prima para os exercícios intelectuais formativos, representados pelas capacitações básicas e as competências já discutidas acima; e segundo, pela preparação não-vocacional do futuro cidadão, isto é, para que tenha um vida rica em experiências não relacionadas ao seu trabalho. Sabemos que no futuro muitas pessoas terão uma jornada de trabalho mais curta do que a atual; sobrará tempo para o lazer, estruturado ou não. Tendo sido exposto na escola à literatura, às artes, à historia e geografia e às ciências, o futuro cidadão terá condições de acrescentar mais à sua vida em termos de prazer, crescimento emocional e sabedoria.

Acredito que este modelo, apresentado na Figura 1 , seja útil para orientar nossas ações no planejamento de aprendizagem em qualquer nível. Mas é provisório e efêmero, porque já estão surgindo novas idéias fundamentais na ágora onde essas questões são debatidas, tendo em vista que certamente mudarão os pilares dos nossos conceitos sobre o papel e o funcionamento da Educação na sociedade. Capra, em The Web of Life, argumenta convincentemente que o paradigma ditado pela Física (cartesianismo) determinava a visão-de-mundo de todo o Ocidente--o universo visto como um sistema mecânico composto de tijolos fundamentais de construção; o corpo humano visto como uma máquina; a vida em sociedade vista como uma luta competitiva pela existência a partir da crença no progresso material sem limites, alcançado através de crescimento econômico e tecnológico. Segundo Capra, essa perspectiva está sendo substituída rápidamente por um novo paradigma ditado pela Biologia: o universo visto como um e muitos organismos, entes auto-reprodutivos, se auto-organizando, levando ao exame das coisas quanto a seus relacionamentos externos, seus contextos, sua conectividade, seu crescimento e evolução. Essas idéias complementam duas outras correntes intelectuais que têm implicações fortes nas mudanças em Educação: a inteligência artificial e a vida artificial. No primeiro caso, trata-se de um campo de investigação, já com quarenta anos de atuação, examinando os processos cognitivos no ser humano e suas possíveis aplicações na construção de máquinas "inteligentes". Seria fácil demais descartar as conclusões das pesquisas desse campo como sendo anti-humanísticas; ao contrário, os estudos que tenho lido são difíceis mas absolutamente humanísticos, tanto nos seus pontos de partida quanto nas suas conclusões.11 No segundo caso, a vida artificial, trata-se do estudo de sistemas criados artificialmente (robôs que exploram e constroem, vírus de software que matam outros vírus), incluindo pelo menos algumas características, ou propriedades, de "vida real" (por exemplo, crescimento, reprodução, auto-manutenção, auto-regulamentação, exigência de nutrientes e energia). Uma série de investigações foi publicada recentemente, com conclusões que questionam uma multitude de pre suposições sobre evolução e comportamento humano.12 Por seu caráter inovador, merecem nossa atenção e discussão, porque apontam novas direções para a Educação, obrigando-nos a reconsiderar os modelos usados no passado, permirtindo explicar e justificar nossas ações em relação aos modelos que estamos criando para o futuro.

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MiniWeb Educação - 2001
 
 
 

Ilustração do Artigo: MiniWeb Educação