MUITO
ALÉM DO JARDIM DE INFÂNCIA
O desafio do preparo de alunos e professores on-line
Wilson Azevêdo
Abstract
The
paper, based on the author's experience, since 1997, in
the Presbyterian Theological Seminary of Rio de Janeiro,
starts by characterizing a new (virtual) space and a new
(multisynchronous) time order. From there it goes on to
show the importance of: (a) the previous preparation of
students to work in online learning environments, and
(b) the development, by the teachers / professors who
are to work with distance teaching systems employing new
technologies, of community building and animation abilities.
Keywords
Distance
Education. Online Learning. Virtual Learning Environments.
Computer-Mediated Education.
A
Educação a Distância recebeu notável
impulso a partir da aplicação de novas tecnologias,
notadamente aquelas que envolvem a Internet. A intensa
capilarização das redes interconectadas
de computadores vem ampliando o público desta modalidade
de ensino ao mesmo tempo em que confronta aqueles que
trabalham em educação com novos desafios
dentro de uma nova realidade.
Novas
tecnologias, ao se disseminarem pela sociedade, levam
a novas experiências e a novas formas de relação
com o outro, com o conhecimento e com o processo de ensino-aprendizagem.
Foi assim, no passado, com a disseminação
da escrita que, como lembrou muito bem Walter Ong, é
uma tecnologia (ONG:1998). A própria origem da
Educação e da Escola, tal como as concebemos
hoje, depende fundamentalmente desta tecnologia de registro
e recuperação de informação
que é a escrita. E o desenvolvimento desta tecnologia
promoveu grandes transformações na prática
educativa. Hoje, para nós, é praticamente
inconcebível ensinar e aprender sem livros, objetos
que somente começaram a ser usados em larga escala
com o advento da máquina de imprimir e da técnica
de corte de papel que permitiu que os livros se tornassem
portáteis.
Atualmente,
as novas tecnologias, especialmente as que estão
ligadas às chamadas "mídias interativas",
estão promovendo mudanças na Educação,
num processo que parece estar apenas começando.
Para a maioria dos educadores elas são absolutamente
desconhecidas. Uma parcela muito pequena teve algum contato
ou usa com alguma freqüência estas tecnologias.
E, mesmo para estes, elas representam uma imensa novidade.
Num
primeiro momento, novas tecnologias são uma novidade
que requer adaptação em termos operacionais.
É preciso aprender a mexer com equipamentos, a
trabalhar com programas e assimilar conceitos e vocabulário
próprios de uma nova área. Mas, além
disto, estas tecnologias levam a novas experiências
em um sentido mais profundo. No mundo da comunicação
mediada por computador vive-se num outro espaço
e num outro tempo, diverso do tempo e do espaço
vividos no mundo da comunicação de oralidade
primária e da cultura escrita.
O
novo espaço tem sido chamado de "ciberespaço",
mas também de "mundo virtual" ou ainda
"espaço virtual". É um espaço
que não se define por coordenadas geográficas
nem por seus elementos materiais concretos. A localização
de uma "sala virtual" é um endereço
lógico, uma seqüência de caracteres
que identifica um conjunto de arquivos binários
num disco de computador. O espaço de interação
dos grupos de discussão na Internet, materialmente
falando, seria a soma das microscópicas áreas
de disco magnético que armazenam as mensagens circuladas
em seu interior nas máquinas de cada participante
e no servidor que as distribui. Ou seja, definir materialmente
este "espaço virtual" é não
definir nada de substantivo a seu respeito. Quando, numa
sala de aulas virtual, alguém afirma "estamos
aqui", este "aqui" refere-se na verdade
a um espaço puramente relacional, cuja realidade
material ou localização geográfica
não tem a menor importância. Assim como uma
nova representação do espaço surge
sob a influência da tecnologia da escrita, as novas
tecnologias fazem aparecer um novo espaço onde
é preciso aprender a se movimentar.
Mas
também as novas tecnologias dão origem a
uma nova temporalidade. Elas intensificam uma experiência
já conhecida da cultura escrita, a da correspondência
através de cartas. O próprio nome "correio
eletrônico" expõe a afinidade entre
estas experiências. Tecnicamente define-se esta
modalidade de comunicação como "assíncrona",
isto é, como uma comunicação que
acontece de forma independente da simultaneidade no tempo.
A comunicação entre duas pessoas num contexto
presencial, ou numa conversa telefônica, ou ainda
através do rádio, depende de um determinado
momento para acontecer. Se eu tomo um telefone e ligo
para alguém e este não se encontra naquele
momento no mesmo lugar em que se encontra o aparelho para
o qual estou ligando, a comunicação não
acontece. Ao escrever para esta mesma pessoa, no entanto,
eu aproveito uma característica da escrita, sua
disponibilidade no tempo, e a comunicação
poderá então acontecer, independente do
lugar e do horário em que a carta for recebida.
Aliás, é aqui interessante notar que, à
primeira vista, o "correio eletrônico"
parece apenas acelerar a troca de mensagens. Mas, ao promover
esta aceleração, o e-mail está, na
verdade, promovendo uma nova experiência com o tempo,
como também com o espaço. Pessoas que se
correspondem por carta quando escrevem "estamos aqui"
não estão se referindo a um espaço
comum, compartilhado por ambas. Elas não experimentam
um outro espaço. Acelere, porém, a distribuição
de mensagens e crie a possibilidade de rapidamente várias
cópias de uma mesma mensagem chegarem a várias
pessoas que desta forma se correspondem entre si e você
passará a ter um novo espaço - mas igualmente
um novo tempo. Um "multílogo" (SHANK
& CUNNINGHAM:1996), isto é, uma conversa com
dezenas de intervenções pode ser sustentada
por vários dias através do e-mail. Duas
ou mais pessoas cujas agendas dificilmente permitiriam
se encontrar sequer ao lado de um telefone no mesmo horário,
podem se comunicar como se estivessem sentadas por horas
numa mesa de bar ou numa sala de estar.
Ambientes
virtuais sustentados pelas novas tecnologias de informação
e de comunicação combinam recursos síncronos
e assíncronos. São ambientes "multissíncronos"
(MASON: 1998), Em ambientes assim é possível
dar início a uma conversa através da troca
assíncrona de mensagens via e-mail e, posteriormente,
continuá-la num encontro virtual "em tempo
real" numa sala de chat, para, em seguida, concluí-la
novamente através do e-mail. A temporalidade que
é experimentada em tais ambientes é de natureza
diversa daquela introduzida pela escrita e que permitiu
que nossas sociedades se sentissem participantes de uma
única História. Como também difere
daquela vivida por sociedades orais, um tempo cíclico
em que o passado não se marca por datas. É
um tempo "esticado" por dentro da temporalidade
histórica, uma sensação de contiguidade
sem simultaneidade, um estar sempre "aqui" independente
do "agora" de cada. Uma nova temporalidade que
se precisa aprender a administrar e a agendar.
Este
novo espaço e este novo tempo colocam um desafio
para a prática educativa que utiliza novas tecnologias.
Em primeiro lugar é preciso acentuar o fato de
serem novidade. E toda novidade requer que se trabalhe
um processo de adaptação. É preciso
promover a ambientação de professores e
alunos no espaço virtual e no tempo multissíncrono
dos sistemas online de educação a distância.
A expansão que se prevê para esta modalidade
de ensino nos próximos anos (conferir a este respeito
o relatório do International Data Corporation,
"Distance Learning Takes Off, Fueled by Growth in
Internet Access", publicado em 9/2/99 em http://www.idc.com/Data/Consumer/content/CSB020999PR.htm.
Romiszowiski afirma que "não avançaremos
muito no próximo século antes que haja mais
estudantes à distância do que em campi universitários
convencionais". In CASTRO:1998) tornam o desafio
ainda mais dramático. Se as projeções
estiverem corretas, milhões de pessoas em todo
o mundo estarão sendo colocadas em ambientes virtuais
de ensino-aprendizagem, precisando aprender, antes de
mais nada, a se movimentar no novo espaço e a se
programar na nova temporalidade. Como encarar este desafio?
Para
saber mais sobre esse tema consulte o livro do autor.
Vide abaixo.
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Wilson
Azevedo , Ed. Armazem Digital. Este
livro traz artigos de autoria do prof. Wilson
Azevêdo tratando de temas diversos de
Educação a Distância via
Internet tais como recursos humanos e tecnológicos,
evasão, comunidades virtuais, aprendizagem
colaborativa e design instrucional. Além
de textos já publicados na Internet o
livro inclui alguns capítulos inéditos.
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