A
Era do Conhecimento já começou
PAULO
ANCONA LOPES
Engenheiro
industrial, consultor e sócio-diretor da Alec Engenharia
e Consultoria.
O
momento atual é de fato muito crítico para as empresas
e consequentemente para a sociedade como um todo.
As mudanças, em todos os campos, vêm acontecendo numa
velocidade tal que é quase impossível entendê-las,
acompanhá-las e absorvê-las de forma total.
Visão
e estratégias continuam sendo fundamentais, mas não
bastam, caso não exista muito preparo, agilidade,
coragem e recursos, para mudar no ritmo necessário,
o que nos colocaria sempre acompanhando a evolução
dos fatos e do ambiente. Ao conseguir acompanhar essas
mudanças, com um esforço imenso, as empresas somente
estariam andando na velocidade delas, sem conseguir
evoluir relativamente às suas concorrentes - e hoje
suas concorrentes estão em qualquer parte do mundo
e são de qualquer tamanho. É uma guerra de guerrilhas.
A
globalização e a informatização trazem milhares de
oportunidades, mas mudam completamente as regras de
um jogo para o qual estávamos preparados. De repente
entramos em campo sem conhecer o adversário e nem
tido tempo de realizar sequer um treino coletivo.
Mais: sem saber ao certo quais serão as regras e em
que momento da partida poderão ser alteradas de novo.
Isso
posto, olhemos para nossas empresas, aquelas do "país
real" que não tiveram ainda condições e recursos para
conseguir uma velocidade mínima de mudanças que possa
garantir seu futuro.
O dilema dessas empresas é sério. Começa pela falta
de conscientização para olhar de frente o problema
e concluir que ele é muito mais sério do que possa
parecer, até porque está apenas começando; passa pela
coragem de se estar disposto a mudar radicalmente
tudo o que foi feito até hoje, se isso for preciso,
e termina na falta atual de recursos para alavancar
as mudanças.
Não
se pode, entretanto, enfiar a cabeça na areia e esperar
que a morte venha, lenta e segura, porque é isso o
que acontecerá com as empresas que não ousarem mudar,
apesar das dificuldades para isso. Pode parecer estranho,
mas a dificuldade para mudança ainda é forte em nossas
empresas, até porque muitas não sabem para onde dirigir
seus esforços.
Todas essas previsões e análises que vêm sendo feitas
garantem que a sociedade como um todo estará passando
por transformações tão radicais que será preciso apagar
o passado e iniciar um novo caminho.
Na
verdade a Era do Conhecimento já começou e muitos
não se deram conta.
Sabe-se
que a cada dois séculos, aproximadamente, o mundo
passa por transformações profundas e assim tem sido,
pelo menos desde o Renascimento até hoje. Esse momento
é aquele de mais uma transformação drástica, em que
os valores e a cultura são varridos para dar lugar
a outros, absolutamente novos e ainda desconhecidos
em grande parte.
Hoje
já estamos perto do momento em que mão-de-obra, terra
e capital não serão mais os melhores recursos em termos
de retorno.
A
riqueza virá do conhecimento. As oportunidades serão
daqueles que souberem usá-lo e a partir dele encontrar
uma nova forma de atuação e relação com a sociedade.
Isso
pode parecer um tanto esotérico para os não iniciados
no estudo dessas transformações e é natural que assim
seja. Por outro lado vejamos alguns aspectos práticos
e que comprovam o que falamos:
-
está cada vez menor a necessidade da mão-de-obra tradicional,
de manufatura, e maior a necessidade de pessoal de
conhecimento, como provam os dados de aumento de produção
e diminuição de empregos nos países desenvolvidos.
- por outro lado, tem caído a produtividade do pessoal
de serviços e soluções, usuários de sistemas de dados
e informações, como mostra o crescimento de seus quadros,
maior do que o crescimento da economia, o que vale
dizer que se deve investir muito ainda no aprimoramento
do conhecimento desse pessoal.
-
a produtividade desse pessoal está caindo por causa
da implementação de novas técnicas e sistemas sem
um completo treinamento e sem que se tenham abandonado,
de fato, todas as ações anteriores, sobrecarregando
os funcionários e gastando-se recursos em tarefas
que não acrescentam valor.
Poderíamos
citar dezenas de exemplos, fatos e análises que comprovam
a necessidade urgente de alterar profundamente a forma
de trabalho das empresas. O fato é que na organização
tradicional as chefias não "gerenciam" e sim dão ordens
para baixo e informações para cima. No momento em
que a informação está disponível, como está e estará
cada vez mais, o trabalho desses homens se torna redundante
e caro demais.
Na
empresa da Era do Conhecimento, a base é a responsabilidade
de seu pessoal, pois sua chefia nunca ocupa aquela
função.
Essa
transformação implica em passar a ter pessoas muito
mais preparadas e atualizadas, com a capacidade de
visão e que ajam e se sintam como donos daquele negócio,
ou seja, uma parceria completa e profunda.
A
educação, ou reeducação, deverá ser muito mais voltada
para o futuro provável do que para a certeza do que
já ocorreu no passado. As pessoas terão que aprender
a aprender, em lugar de repetir as lições ensinadas.
Não
se fala aqui, por ser um capítulo à parte, quais são
as perspectivas que a globalização vai trazer em relação
à mudança de perfil de mercado, sejam fornecedores
ou cliente, e que já estão afetando o equilíbrio conhecido
até hoje.
A nova realidade abriga a que as empresas avaliem
o quanto de trabalho e de mudanças deve ser feito,
a partir de sua cultura, passando por estratégias
(cada vez mais flexíveis e próximas do nível operacional),
até a sistematização dos novos procedimentos, em função
unicamente do atendimento à satisfação do mercado.
Ao
tomar consciência dessa realidade, a empresa, porém,
esbarra com o aspecto prático de como fazer essa série
enorme de mudanças, seja pelo aspecto de preparo de
seu pessoal, seja pelo investimento que isso pode
representar. A primeira análise nesse momento deve
ser quanto ao custo x benefício entre sobreviver (até
quando?) ou partir para um programa de mudanças, com
amplo envolvimento de sua diretoria e de seus colaboradores.
O uso de consultorias externas, visando obter metodologias
e acelerar as mudanças, além de não expor a diretoria
a grandes embates com seu pessoal, é a prática mais
usada no Primeiro Mundo, caso a empresa não possua
recursos próprios e pessoal que possa cuidar desses
aspectos de gestão de forma profissional e atualizada.
Um bom planejamento pode permitir à empresa ousar
uma solução, que seja passo a passo, enquanto começam
a ser colhidos os resultados do trabalho.
O
importante é que as nossas empresas estejam abertas
para absorver tudo o que existe de novo e que possa
representa uma melhoria ou um salto em direção a uma
condição de maior atualidade, porque o resto do mundo
não irá esperar por nós.
O
recomeço de tudo está na mudança da visão, da percepção
de futuro e consequentemente na cultura. Sem dúvida,
o primeiro grande passo a ser dado é assumir que não
existirá mais lugar para empresas administradas conforme
padrões tradicionais, com visão paternalista, atitudes
intimidadoras, ou chefias que não tenham competência
para liderar e facilitar. Isso posto é preciso que
se inicie uma verdadeira maratona em busca de equipes
de trabalho que possam participar ativamente dessas
mudanças e semear os novos paradigmas.
A mudança não é mais um fato especial e deve ser a
única certeza incorporada à vida das empresas e das
pessoas, as quais tem a responsabilidade de definir
para que rumo irão suas empresas e suas próprias empresas
e suas próprias vidas.