Geração Google e as bibliotecas 2.0 Máteria publicada na Folha de S.Paulo (aqui ou reproduzida abaixo) deste sábado discute um estudo realizado na Inglaterra sobre os impactos das ferramentas de busca nos hábitos de pesquisa das crianças e adolescentes que compõem a "Geração Google" (segundo os autores, nascidos após 1993). Os pesquisadores do CIBER's Virtual Scholar research programme, responsáveis pelo pdf Information Behaviour of the Researcher of the Future (ou o Comportamento Informacional do Pesquisador do Futuro), são críticos quanto à acelerada substituição das consultas a fontes "confiáveis" disponíveis em bibliotecas por pesquisas superficiais e em fontes duvidosas realizadas na Web. O comportamento de busca de informações na internet, dizem, é marcado pela superficialidade (lêem poucas páginas, rapidamente e dificilmente voltam ao documento encontrado) e inquietude (passam mais tempo navegando em busca das informações do que lendo-as). Nas palavras do estudo, "os usuários são promíscuos, diversificados e voláteis e é claro que estes comportamentos representam sérios desafios para os provedores tradicionais de informação". Fui uma das fontes entrevistas pela repórter Andrea Murta e reafirmo aqui a posição lá apresentada: o modelo de busca, seleção e leitura de informações proposta pela Web2.0 exige de todos uma mudança de postura ao lidar com a disseminação do conhecimento. Ao privilegiar critérios sociais, as ferramentas de busca escancaram o jogo de poder entre usuário/leitor, autor e o profissional da informação (bibliotecário) e obrigam-nos a assumir uma postura crítica e ativa perante informações tão facilmente encontradas. Ao longo do estudo, os pesquisadores do CIBER afirmam considerar os e-books o produto salvador para as bibliotecas do futuro, a despeito do crescimento das ferramentas e práticas da web2.0, consideradas ainda imaturas ("the real issue that the library community should be concerned about is the rise of the e-book, not social networking"). Não concordo. O profissional da informação que se negar a ser também um mediador das práticas informacionais que se passam nas redes sociais já corre sério risco de perder o contato com seu público e, lamentavelmente, tornar-se irrelevante. No futuro, esta habilidade me parece imprescindível (o que não elimina muitas das práticas tradicionais, que fique claro). Para mais sugiro a leitura do artigo Colaboração e interação na Web 2.0 e Biblioteca 2.0, de Ursula Blattmann e Fabiano Couto Corrêa da Silva , da máteria Buscas procuram lado humano da web . Estudo
destrói mito de que Geração Google é melhor
no mundo virtual Geração Google, Net Generation, Nativos Digitais -há muitos nomes para quem não se lembra do mundo pré-internet. Mas, apesar do sucesso do rótulo, a idéia de que a Geração Google tem facilidades especiais para lidar com a informação virtual não passa de mito. É o que afirma o estudo "Comportamento Informativo do Pesquisador do Futuro", liderado por Ian Rowlands, da University College de Londres. De acordo com ele, o uso da internet é superficial, promíscuo e rápido, e respostas com pouca credibilidade encontradas por ferramentas de busca como Google ou Yahoo prevalecem. "Acadêmicos mais jovens não estão usando conteúdo de bibliotecas de uma maneira séria. Usam o Google, porque é mais conveniente. Isso vai limitar seus horizonte de pesquisa", afirmou Rowlands à Folha, por telefone, de Londres. A pesquisa define como Geração Google os nascidos depois de 1993. Ela foi feita pela revisão de estudos já publicados sobre mecanismos de busca e análise de informação, associando-os com dados sobre como o público usa hoje sites como o da Biblioteca Britânica. Rowlands afirma que ficou rapidamente claro que não é possível generalizar as crenças sobre habilidades da Geração Google. Até a idéia de que jovens gastam mais tempo on-line do que os mais velhos foi relativizada. Mas
foram detectadas tendências preocupantes. "A sociedade está
emburrecendo", diz o estudo. "Passam os olhos por títulos,
índices e resumos vorazmente, sem leitura real". O estudo vê uma possível ameaça às bibliotecas. "Meu instituto gasta uns US$ 4 milhões por ano em publicações acadêmicas, mas os alunos preferem ferramentas simplistas. É frustrante", diz Rowlands. Na era da enciclopédia No Brasil, acadêmicos ouvidos pela Folha divergem sobre as conclusões da pesquisa. Para Renato Rocha Souza, do Departamento de Organização e Tratamento da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais, é mesmo problemática a primazia do Google em atividades acadêmicas. "A arquitetura dessa ferramenta privilegia páginas mais citadas na internet, e essa relevância nem sempre é real", diz. Para ele, "alunos não sabem distinguir um site de artigos acadêmicos do "blogue do joãozinho'". "E não têm pudor em citá-lo. Falta juízo de valor." Contudo,
ele não acha que a tendência tenha surgido com a internet.
"Não era tão diferente quando pesquisávamos
nas enciclopédias. O que mudou foi a oferta de informação",
afirma. Para Lawrence Shum, especialista em mídias digitais da PUC de São Paulo, "a internet tem problemas, mas está no caminho da auto-regulação". E muitos vêem vantagens na busca pelo Google. Segundo Carlos Frederico D'Andrea, coordenador do Laboratório de Comunicação Digital do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, "a biblioteca dá a ilusão de que o conhecimento está todo ali e é inquestionável". "Na internet, o resultado é sabidamente instável e não vai ser usado cegamente. Mas é preciso treino adequado." Fonte: (Folha de S. Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001.) |