Juscelino Kubitschek |
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É importante, no entanto, que não se deixe passar a imagem de um "santo". Juscelino também tinha seus problemas pessoais. Um exemplo é a postura que mantinha em relação ao jornalista Carlos Lacerda, seu maior rival. Mesmo depois de extinguir a censura prévia da imprensa, herança do governo Getúlio Vargas, JK proibiu Lacerda de falar no rádio. Naturalmente, para impedir o crescimento do adversário, uma vez que, em meados dos anos 50, a TV ainda engatinhava na sociedade brasileira - o rádio é que tinha força.
Sua postura política pode ser classificada, sem juízo de valores, como a de uma "raposa". Habilíssimo na política, sabia dobrar seus adversários e manter por perto seus aliados. Construía alianças e amizades que o permitiam trafegar entre as mais diversas camadas da política mineira, no início de carreira, e brasileira, no auge. Era também um empreendedor. Ao assumir o governo de Minas, chacoalhara com a estrutura econômica do estado, o que faria também à frente do país.
"O empreendedorismo e a habilidade política eram muito bem conjugadas em sua personalidade. Nesse aspecto, ele inaugurou também um período moderno na política nacional, que seria reproduzido muitas vezes no futuro", relata o professor do Departamento de História da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) João Pinto Furtado. "Juscelino era um político habilíssimo. As coisas não aconteciam por acaso. Na série (JK, exibida pela TV Globo), os dilemas pessoais dele estão muito romanceados. Pelo perfil que traçou a vida inteira, a última coisa que se vê nele é um médico."
Simpatia derrotada
Nem toda a simpatia e o carisma de Juscelino, no entanto, foram suficientes para bater o fenômeno Jânio Quadros na eleição de 1961. Em meio a um crescente descontentamento popular motivado pela alta da inflação e pela falta de ações sociais, JK não conseguiu 'transferir' seu carisma e popularidade para seu candidato, Henrique Lott. De certa forma, nem a derrota de Lott o abalou muito, pois estava de olho no pleito seguinte, as eleições de 1965.
"Juscelino Kubitschek era uma liderança muito carismática, mas era personalista, uma imagem ligada à pessoa dele. E isso ele não conseguiu transferir", explica Furtado. "JK cumpriu seu mandato sem restrições e transmitiu legalmente o cargo a Jânio Quadros. Ele perdeu as eleições para o sucessor, mas isso não o impediu que tivesse um comportamento exemplar ao passar a faixa a ele", complementa Nogueira.
Ao mirar antecipadamente a sucessão de Jânio, JK já começava a preparar sua nova campanha para o governo. Seu slogan não seria mais o memorável "50 anos em 5", mas passaria a ser "5 anos de agricultura para 50 anos de fartura". As alianças em torno da nova candidatura ainda não estavam prontas, mas a caminho. Os possíveis adversários também já estavam traçados (o pior deles deveria ser Carlos Lacerda, da UDN). Juscelino, no entanto, não contava com a renúncia de Jânio Quadros e o conseqüente golpe militar. Ali, sim, sofreu sua mais dura derrota.
"Depois do Jânio Quadros, com aquela renúncia estapafúrdia, veio o João Goulart, que foi um ator que tentou se amparar muito no carisma que possuía junto às classes trabalhadoras. Mas isso não era o suficiente para ele estabilizar o país, certamente não", explica Furtado. "Juscelino, assim como Getúlio (Vargas), conseguia lidar bem com as demandas populares, com o imaginário da massa. E, ao mesmo tempo, conseguia circular com muita desenvoltura em meio às elites, e isso fazia com que ele fosse um candidato forte para as eleições de 65."
Essa percepção sobre a popularidade de JK parece ter sido a mesma da ditadura militar. Em 8 de junho de 1964, Juscelino Kubitschek teve o mandato de senador por Goiás cassado por ordem do presidente Castello Branco. Suas esperanças de voltar à Presidência se diluíram e sua carreira política terminou. Por três anos, ficou exilado em Lisboa. Quando voltou, foi preso e proibido de entrar em Brasília, a cidade que ele havia tirado do papel.
"Talvez JK tenha sido a principal vítima do golpe de 64. A sociedade inteira foi vitimada pelo golpe, mas o foco inicial era uma possível reeleição de JK, coisas que os militares não desejavam", comenta o professor Furtado. "Ele era um candidato com muita força, sobretudo, em função do desastre que se seguiu a ele, quer dizer, o desastre que tem nome: Jânio Quadros. Foi uma gestão muito tumultuada, confusa e que simbolicamente já apontava isso, porque Jânio não foi sequer receber a faixa do presidente."
O estadista
Após sua morte, em um acidente na Rodovia Presidente Dutra, em 1976, JK foi ainda mais rechaçado pelo governo militar, que o tachava de corrupto e o culpava pela crescente dívida externa. Sua imagem, no entanto, começou a ser recuperada nos anos seguintes, retomando o status de estadista. Neste ano, completam 50 anos da posse e 30 anos de sua morte. Para o professor Nogueira, da UnB, as seguidas homenagens estão fazendo justiça a JK.
"Sua
história contribui para fazer de
Juscelino, nesse período da vida
política de 1945 em diante, realmente
um estadista. Ao meu ver, ele não
tem sido injustiçado. Em vida,
sim, foi injustiçado", explica
Nogueira. "O valor dele hoje está
sendo, aos poucos, recuperado. Essa pecha
de ladrão acabou maculando muito
sua presença no imaginário
simbólico nacional. JK foi a melhor
expressão desse período
democrático do Brasil. Governou
até o fim do mandato e conseguiu
debelar duas grandes ameaças militares
sem precisar recorrer a regimes de exceção.
Isso, por si só, já é
um qualificativo interessante."
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Fonte: Universia Brasil