O
apelido dado à usina de Itaipu na ocasião da sua construção,
durante a década de 1970, era pejorativo. A população
não apoiava o projeto, que só foi levado adiante devido
à mão de ferro dos governos militares. Hoje, depois
de três décadas de existência e duas de funcionamento,
a hidrelétrica, localizada no rio Paraná, na divisa
entre o Brasil e o Paraguai, é responsável pelo fornecimento
de 25% da energia consumida por brasileiros e por 95%
da demana paraguaia. Em 2005, as últimas turbinas geradoras
previstas no projeto original serão instaladas.
Dezenas
de operários acompanharam a instalação da roda que irá
mover nova turbina de Itaipu. Foto Divulgação-Itaipu
A
usina hidrelétrica de Itaipu foi construída no rio Paraná
na década de 1970 sob grande desconfiança da população.
Naqueles anos ainda não havia a consciência ecológica
dos tempos de hoje, mas mesmo assim a obra, atualmente
considerada inviável devido ao impacto ambiental causado,
só foi possível porque os governos militares da época
não recuaram diante dos protestos por todo o país. Em
1982, quando começou o enchimento do lago, cerca de
doze mil estudantes e manifestantes de movimentos rurais
acamparam em torno da represa para protestar.
Vinte anos após o início das operações, com trinta anos
de existência, a usina é um exemplo de projeto de sucesso.
A hidrelétrica é responsável pelo fornecimento de um
quarto de toda energia consumida no Brasil e por 95%
da demanda paraguaia. O potencial de Itaipu põe a usina
no topo das hidrelétricas de todo o mundo, com uma capacidade
de gerar até noventa bilhões de quilowatts/hora por
ano. Esse status será mantido mesmo depois da construção
da usina chinesa de Três Gargantas que, mesmo com capacidade
total de 18.200 megawatts, terá condições de gerar 86,7
bilhões de quilowatts/hora por ano.
Graças a dados como esse, em 1995 Itaipu foi listada
pela Associação Americana de Engenheiros Civis como
uma das sete maravilhas do mundo moderno, em pesquisa
publicada pela revista americana Popular Mechanics.
A obra de Itaipu figurou ao lado dos seguintes projetos
realizados: a ponte Golden Gate (EUA); o canal do Panamá,
que liga o oceano Atlântico ao Pacífico; o Eurotúnel,
que une França e Grã-Bretanha sob o canal da Mancha;
os Projetos do Mar do Norte para o Controle das Águas
(Países Baixos); o edifício Empire State (EUA) e a torre
da Canadian National (Canadá). A idéia dos editores
da revista era elaborar uma espécie de versão moderna
das sete maravilhas do mundo, listadas pelo grego Antípater
no ano 240 antes de Cristo.
Apesar do reconhecimento dentro e fora do país, a Itaipu
Binacional, empresa gerida por representantes do Brasil
e do Paraguai que administra a usina, não está satisfeita
e prepara o mais recente plano de expansão. Estão em
fase de instalação duas novas turbinas, que aumentarão
em 1.400 megawatts a capacidade da hidrelétrica, potência
suficiente para abastecer uma cidade com dois milhões
de habitantes. “Itaipu continuará sendo a maior geradora
de energia do mundo, porque temos volume de água e 135.000
hectares de reservatório”, explica o brasileiro Jorge
Samek, um dos que acamparam para protestar na década
de 1970 e hoje ocupa o cargo de diretor-geral da companhia.
“Cada coisa tem seu tempo. Sou nascido em Foz do Iguaçu
e hoje tenho orgulho de dirigir a empresa”, conta.
Histórico
A usina de Itaipu resultou de negociações entre Brasil
e Paraguai que ganharam impulso na década de 1960. A
Ata do Iguaçu, assinada em 1966 pelos ministros das
Relações Exteriores do Brasil, Juraci Magalhães, e do
Paraguai, Sapena Pastor, assegurou o uso bilateral dos
recursos hidráulicos do trecho do rio Paraná onde hoje
está a usina. Em 1970, um consórcio formado por uma
parceria entre empresas dos Estados Unidos e da Itália
venceu a licitação para elaboração do projeto, que entrou
em fase de construção quatro anos depois. Em 1978, o
rio Paraná foi desviado, abrindo-se um canal que permitiu
secar um trecho do leito original, onde foi construída
a barragem de concreto.
Um acordo assinado em 1979 pelos dois países pioneiros
no projeto mais a Argentina estabeleceu novos parâmteros
de uso dos recursos hidráulicos no trecho do rio Paraná,
desde Sete Quedas até a foz do rio da Prata. O Acordo
Tripartite regulou os níveis do rio e as variações permitidas
para os diferentes empreendimentos hidrelétricos na
bacia comum aos três países. Em 1982 teve início a formação
do reservatório da usina. Em apenas duas semanas, o
lago de Itaipu, com 1.350km², foi totalmente preenchido,
fazendo com que as águas subissem 100m. Durante o enchimento,
dezenas de equipes salvaram espécies de animais da região,
numa operação que ficou conhecida como Mymba Kuera (“pega-bicho”,
em tupi-guarani).
A usina entrou em operação em 5 de maio de 1984, quando
começaram a funcionar as duas primeiras unidades geradoras.
Desde então até 1991, foram instaladas novas unidades
ao ritmo de duas a três por ano, até chegar às atuais
dezoito unidades, responsáveis por toda potência da
hidrelétrica. Mas o projeto original da usina previa
a instalação de até vinte unidades geradoras, de acordo
com as necessidades do Brasil e do Paraguai. O contrato
para instalação das duas novas turbinas, no próximo
ano, foi assinado em novembro de 2000 pelos presidentes
do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, e do Paraguai,
Luis González Macchi. O “elefante branco”, como foi
chamado durante a fase de construção, se expande para
fornecer energia elétrica a milhões de brasileiros e
paraguaios, levando progresso e industrialização aos
dois países.
Fonte:
Barsa Planeta Internacional
maio - 2004
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