A Crise de 1929 |
|
|
|
Franklin Roosevelt acreditava nos mercados administrados e no controle do capitalismo. O New Deal era visto, naturalmente, com horror por J.P. "Jack" Morgan, o júnior. Em 1935, a multidão de desempregados e empobrecidos vivia dos programas de obras públicas e de assistência social do Estado. Ao desembarcar de uma viagem à Europa, ainda a bordo do Queen Mary, o desastrado herdeiro de John Pierpont, proclamou: "Todos os que ganham dinheiro nos Estados Unidos trabalham oito meses por anos para sustentar o governo". A indignação popular quase incendiou o país.
O historiador Ron Chernow escreve em seu livro "The House of Morgan" que John Pierpont deixou de ser uma pessoa para tornar-se o símbolo político dos ricos e reacionários que se opunham à justiça social. Advogado formado em Harvard, o conselheiro legal de Roosevelt (mais tarde juiz da Suprema Corte), Felix Frankfurter, escreveu ao presidente: "Quando os homens mais proeminentes do mundo da finança escancaram atitudes moralmente obtusas e anti-sociais, chega-se à conclusão de que o verdadeiro inimigo do capital não é o comunismo, mas os capitalistas e sua corte de escribas e advogados".
A Era Progressiva e o New Deal foram momentos de rebelião democrática e ascensão econômica das massas. Não há como negar que os newdealers estenderam sua influência até os anos 50 e 60, o período da "era dourada" do capitalismo. Desde Reagan, a alta finança voltou a ocupar uma posição de predomínio na hierarquia dos interesses que se digladiam no interior do Estado americano. É deste ponto de vista que devem ser analisadas as mudanças ocorridas no pensamento econômico e nas recomendações de política.
Nos 90, as proezas do capitalismo destrambelhado foram cantadas em prosa e verso. Nos Estados Unidos, a população remediada se comportou como sempre: tentou surfar na onda do enriquecimento fácil e ilimitado. Os tempos não podiam ser mais benfazejos para os vigaristas, encantadores de serpente, pitonisas e oráculos de todo o gênero.
A conversa mole de transparência e austeridade encobriu o movimento real das coisas: sob o véu da racionalidade econômica esgueirava-se a mão que iria promover a desvalorização da riqueza e colocar em risco a saúde do sistema financeiro americano. Os gênios da "nova economia" estão dispostos a utilizar quaisquer métodos para desqualificar as resistências aos seus anseios. Imobilizaram homens e mulheres nas teias do pensamento uniformizado e repetitivo: "não há alternativa".
Os últimos acontecimentos protagonizados pelos mercados mostram que é preciso conter a mula-sem-cabeça da finança desregulada. Sob pena das economias nacionais e seus cidadãos serem atormentados periodicamente pelas tropelias da mão invisível.
Luiz Gonzaga Belluzzo é economista, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, professor titular aposentado da Unicamp, consultor editorial da revista Carta Capital e vencedor do prêmio Juca Pato em 2005.
Mais sobre o tema: Veja comparação entre a crise de 1929 e a crise atual (2009) - Fonte Planeta Educação