Manifesto Comunista
 

Quando Proudhon publicou o livro Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da Miséria, em outubro de 1846, seis meses depois – abril de 1847 –, Marx já respondia em uma obra que fazia seu juízo na própria inversão do título proudhoniano, de Filosofia da miséria para A miséria da filosofia. Diante das reformas propostas pelo pensador francês, Marx sentenciava: "O Sr. Proudhon é, da cabeça aos pés, filósofo e economista da pequena burguesia".

O Comitê combinava à questão teórica duas metas principais: "liquidar o espírito sectário e dogmático" e "desembaraçar o movimento operário das limitações nacionais".

A estratégia inaugurada por Marx teve prosseguimento com Engels. Em agosto de 1846, ele fundou o Comitê de Correspondência em Paris. Nas suas palavras, "Marx constatou os enormes obstáculos que as doutrinas socialistas utópicas constituíam para a união das forças proletárias de vanguarda. Impediam a superação das divergências ideológicas". No geral, defendiam o "comunismo adocicado, baseado no amor", o "comunismo cristão" e o "comunismo igualitário francês, de caráter primitivo".

As permanentes críticas dos Comitês de Correspondência Comunista aos governos provisórios e às legiões formadas em Paris por revolucionários que pretendiam libertar seus países de origem, principalmente demonstrando que essas práticas decorriam de concepções teóricas, foram estreitando a relação com a Liga dos Justiceiros. Além dos permanentes artigos nos jornais e a imensa produção de cartas, de 1844 a 1847, Marx e Engels escreveram nesse período obras importantes, como Os anais franco-alemães, os Manuscritos filosóficos – que apareceu em livro somente em nosso século –, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, A sagrada família, A ideologia alemã e A miséria da filosofia.

Desta forma, 1847 seria o ano de fusão entre os justiceiros e os comunistas. A Liga dos Justiceiros convidou os Comitês de Correspondência para o seu congresso de verão deste ano, em Londres. Wolff, amigo de Marx, representou Bruxelas; e Engels, Paris. Em diversas sessões se discutiu aquilo que se passava a chamar genericamente de Nova Teoria, cuja centralidade partia da afirmação que não era o Estado que determinava a sociedade, mas sim o contrário. O Estado passava a ser classificado como um aparelho de governo e opressão a serviço das classes dominantes. Engels apresentou um texto didático, para discussão com os congressistas, utilizando uma exposição de questionário, onde formulava as perguntas sobre as idéias principais e ele mesmo respondia. Esse texto encontra-se publicado com o título de Princípios do comunismo.

Como resultado dos debates, os delegados tomaram duas medidas importantes. Uma, no plano estrutural da Liga; e, outra, no seu programa. A nova estrutura passou a ser constituída por instâncias democráticas, numa concepção formal muito parecida com as dos PCs do século vinte. Todavia, a nomenclatura era diferente. O seu fluxo organizacional compunha-se por seções, círculos, círculos dirigentes, direção central e congresso. As direções passaram a ser eleitas e revogáveis.

Essa ruptura determinou que fosse convocado imediatamente outro congresso, para decidir sobre os estatutos e aprofundar a questão teórica. O II Congresso foi marcado para os meses de novembro-dezembro, ainda em Londres, em 1847. A ele compareceu Marx. Estava com vinte e nove anos; e Engels, vinte e sete. Durante dez dias debateram prioritariamente a Nova Teoria. Marx centralizou as discussões e constituiu-se em um verdadeiro professor, proferindo, dia após dia, longas palestras.

O II Congresso aprovou o Estatuto e, sob a influência de Marx e Engels, mudou a sua divisa. A frase "Proletários de todos os países, uni-vos!" se transformaria em uma bandeira de utopia social, apesar dos crimes que viriam a ser cometidos sob seu estandarte. A viragem na Liga foi assinalada estaturiamente: "A Liga tem por finalidade a derrocada da burguesia, o domínio do proletariado, a supressão da velha sociedade burguesa, baseada nos antagonismos de classes, e a criação de uma nova sociedade, sem classes e sem propriedade privada". Com tal alteração, não tinha mais sentido manter o nome justiceiro. Então, o congresso adotou o de Liga dos Comunistas.

Os delegados encarregaram Marx e Engels de escrever um manifesto divulgando os princípios da nova teoria e as tarefas estrategicamente revolucionárias assumidas pela Liga reformada. Utilizando partes dos Princípios Comunistas, elaborado por Engels, Marx redigiu a obra hoje mundialmente conhecida como o Manifesto Comunista. Escrito em dezembro de 1847, foi publicado em janeiro de 1848. No mês seguinte foi deflagrada a Revolução de Fevereiro, que reinstaurou a República na França. A Liga expediu para Paris mil exemplares.

O texto anônimo, imediatamente, foi difundido também na Alemanha. Diversas organizações encontraram no Manifesto certas identificações com suas propostas. Rapidamente, as edições clandestinas se reproduziram. Entretanto, conforme o grupo que a imprimia, alterava o título. Os mais comuns, além do original da Liga, eram Voz do Comunismo, Declaração do Partido Comunista e a hilariante adaptação da edição polaca dos socialistas utópicos: A voz do povo é a voz de Deus.

Os nomes dos autores foram revelados apenas dois anos após, em 1850, pela revista Republicano Vermelho. Possivelmente a história do Manifesto seja uma das mais fantásticas do mundo editorial. Demonstra inclusive a quase impossibilidade de prever os caminhos tomados por uma idéia.

Fonte: http://intervox.nce.ufrj.br/~ballin/mani.htm

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